A edição de 2024 do Rock In Rio veio com a comemoração dos 40 anos do festival. No entanto, apesar de melhorias na organização, o festival vinha sofrendo – justas – críticas nas redes sociais por conta de seu line-up abaixo do esperado para uma edição que marca uma data tão significativa quanto os 40 anos de um dos maiores festivais de música do planeta.
Só que o dia 20 de setembro talvez tenha ficado para a história do RIR. É difícil definir momentos históricos em festivais. Há shows que o público sente durante sua própria realização – como foi no caso dos show do Coldplay em 2022, mas também há casos em que apenas o tempo indicará se ficará eternizado na memória do povo ou não. Ainda assim, só de bater o olho no line-up da sexta (20), já é possível imaginar que em algum tempo será um dia celebrado por futuras gerações e recordado com carinho por quem estava presente.
Apelidado pela organização do festival de ‘Dia Delas’, a sexta-feira trouxe ícones do passado e do presente da música pop mundial, dando destaque a Cyndi Lauper, Katy Perry, Gloria Gaynor, Ivete Sangalo, Karol G e Iza. Sem contar um pocket show especial realizado pelo Itaú, que trouxe Xuxa e suas Paquitas para incendiar um público já exausto ao fim da programação oficial do Rock In Rio. Embalada pela nostalgia, a Rainha dos Baixinhos foi a sintetização perfeita desse dia.
No alto do palco, Xuxa se disse grata por estar ali e refletiu sobre sua importância na vida de milhões de brasileiro. “Eu entendo e fico muito feliz de ter feito parte do seu passado, mas estamos aqui marcando o presente e o futuro de vocês”, disse. E é justamente por isso que esse ‘Dia Delas’ foi tão marcante.
Comandado pelas artistas femininas, o dia 20 pode ser definido como um dia de todos. E foi muito curioso ver as diferentes gerações interagindo e se comportando de formas diferentes pela Cidade do Rock. No auge, Katy Perry era zombadas por alguns por adotar uma estética mais colorida e supostamente infantil em seus clipes e shows. E os fãs daquela época já estão com filhos, e foi realmente divertido ver as Katycats passando esse amor pela cantora para a molecada de agora.
Havia muitas crianças um pouco mais velhas, então também havia muitos pais presentes. E aí que entraram Gloria Gaynor e Cyndi Lauper para equilibrar. Se a galera mais da antiga não engajou tanto na Karol G, essas duas lendas dos anos 80 lavaram a alma dos fãs com hits e muita energia.
Sem playback, Cyndi tomou os palcos de forma dominante. Seus hits emocionaram e encantaram em meio ao domínio sensacional que Lauper ainda tem sobre o público. Já Gloria, embora não tão ativa quanto Cyndi por conta da idade, mostrou que basta uma voz impecável e uma setlist lendária para fazer um show impecável. Ela transformou o Palco Sunset em uma pista de dança que reuniu ao menos três gerações diferentes para dançarem e cantarem com a diva do Disco.
Mas é preciso falar sobre a força da natureza que é a Iza. Gravidíssima, a carioca montou um espetáculo marcado por figurinos absurdos e seus maiores sucessos. Com 8 meses e três semanas de gravidez, Iza fez questão de subir ao palco e se apresentar. “Em respeito ao amor de vocês, eu tinha que estar aqui”, disse.
E não dá para falar desse show sem falar de amor. O coro do público era de arrepiar. Poucas vezes uma apresentação do Palco Sunset teve tanta cara de Palco Mundo na história do festival. E é interessante ver como suas letras de luta e batida marcantes conseguiram furar a bolha geracional. Todos sabiam as letras, todos estavam no ritmo, todos queriam cantar com e para a Iza. Foi um show realmente espetacular. E em um dia que teve outro showzaço da Ivete Sangalo – com direito a Veveta voando sobre o público -, é mesmo muito significativo que Iza tenha conseguido fazer um show ainda mais marcante, que também contou com a presença de Ivete em uma participação especial para homenagear a pequena Nala, que virá ao mundo muito em breve.
Por fim, não tinha como não falar da diversidade. Chamamos do dia 20 de ‘Dia de Todos’, porque o público integrou o espetáculo. Após furar a bolha no último carnaval, os leques empunhados formaram uma bateria especial presente no meio do público. Principalmente em hits historicamente celebrados pela comunidade LGBTQIA+, os leques ditaram o ritmo de quem estava nos gramados.
Eram sons fortes, sincronizados e muito característicos. Pela Cidade do Rock, os diferentes e ousado visuais traziam cor e liberdade de expressão. Foi muito marcante.
Então, por mais que seja realmente difícil definir um dia como histórico ou não, esse diálogo geracional do dia 20 e a reunião de ícones de passado, presente e futuro dá fortes indícios de que, sim, o ‘Dia Delas’ está marcado na história do Rock In Rio como um dos mais especiais dos últimos tempos, fazendo justiça a essa edição de 40 anos.