Os filmes de super-herói são uma potência hoje, responsáveis por grande parte do lucro na indústria de Hollywood. É seguro dizer que a maior porcentagem deste êxito deve ser creditada aos estúdios Marvel, que conseguiu construir um universo megalômano, transpondo em grande estilo sua linha editorial de quadrinhos para o mundo através das telonas. Antes dela, o maquinário de tais produções funcionava de forma esporádica, entre erros e acertos, longe do verdadeiro império construído que temos hoje.
Todos querem uma fatia deste mercado, com obras interligadas e pertencentes ao mesmo mundo. Nem todos conseguem. Enquanto alguns tentam com todo afinco, outros ainda engatinham, tentando uma escalada mais simbólica. Seja como for, espanta pensar que há dez anos não tínhamos nada disso. É claro que filmes do gênero já eram uma realidade, mostrando que produções do tipo podiam ser muito lucrativas. No entanto, longe de qualquer unificação como temos hoje.
Para comemorar uma década de alguns dos grandes filmes do gênero, que marcaram época e serviram para mudar o jogo de alguma forma – além de provar que estamos ficando a cada dia mais velhos! – resolvemos formular nossa nova lista. Nela, fazem parte adaptações de quadrinhos de super-heróis, desenhos animados clássicos, quadrinhos de ação e até mesmo sátiras e produções originais sobre o tema. Sem mais delongas, estes são os dez filmes de super-heróis que completam 10 anos!
Batman: O Cavaleiro das Trevas
Lançado de forma simultânea nos EUA e Brasil (numa época em que as estreias nacionais também ocorriam nas sextas-feiras) no dia 18 de julho de 2008, o segundo filme da trilogia do homem-morcego de Christopher Nolan surgia para se tornar um verdadeiro fenômeno. Batman Begins (2005), o primeiro filme do personagem que o diretor comandou, foi enaltecido como o melhor já produzido até então com o personagem. Já a continuação deu o passo além, quebrando os moldes possíveis e imagináveis para um filme do subgênero e transcendendo como um dos melhores filmes dos últimos dez anos. O maior sucesso de bilheteria de seu respectivo ano, O Cavaleiro das Trevas foi o primeiro filme do gênero a ultrapassar a absurda marca do US$1 bilhão. Fora isso, dez anos depois, é difícil encontrar uma lista que não incluía o longa dentre os melhores.
O que dizer sobre a obra que já não tenha sido dito. Heath Ledger deu a vida pela performance no papel do vilão Coringa, igualmente entrando para a história e recebendo um Oscar póstumo. O filme elevou tanto o nível que fica difícil para qualquer um planejar um filme do personagem depois disso. As participações de Batfleck em BVS (2016), Esquadrão Suicida (2016) e Liga da Justiça (2017) que o digam. Mas não fique triste Ben, pois mesmo para Nolan foi difícil seguir esta obra-prima dentro da própria trilogia. O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012) foi o mais criticado dos três filmes, apesar de igualmente bom.
Homem de Ferro
Lançado alguns dias antes no Brasil (30 de abril) em relação aos EUA (2 de maio) – mostrando que já era um fato conhecido a aceitação de tal gênero em nosso país como uma das maiores do mundo – Homem de Ferro dava o pontapé inicial no MCU, mesmo de que forma inadvertida. A ideia surge na cena pós-créditos meio que na forma de uma brincadeira, com a aparição de Samuel L. Jackson como Nick Fury. Até então, Homem de Ferro era só mais um filme de super-herói, como X-Men (2000), Homem-Aranha (2002) e Hulk (2003).
Bem, talvez não exatamente igual aos outros. Já que o longa, embora não tão bem sucedido nas bilheterias quanto outros filmes recentes do gênero, era elogiado pela imprensa em especial devido ao desempenho “tomado” do ressurgido Robert Downey Jr., que mesclava sua persona à de Tony Stark, o bilionário incorreto em busca de redenção. Downey também conquistava a sua e voltava ao topo da cadeia alimentar de Hollywood. Enquanto O Cavaleiro das Trevas era sóbrio, sombrio e muito realista, Homem de Ferro era sua antítese, caprichando muito mais nos elementos que formam não apenas um filme de quadrinhos, mas a pureza do blockbuster divertido.
O Incrível Hulk
Poucos meses depois do primeiro filme do recém-lançado estúdios Marvel, O Incrível Hulk estreava nos cinemas. No dia 13 de junho de 2008, de forma simultânea, o longa chegava aos EUA e Brasil. Aqui era onde o estúdio tinha seu primeiro desafio. Hulk (2003) já havia sido adaptado na forma de uma superprodução da Universal há cinco anos. O filme não emplacou como deveria e, embora alguns digam que é uma obra subestimada (como este que vos fala), é seguro apontar esta produção de Ang Lee como fracasso – tanto de crítica quanto de público.
Pouco tempo depois e a Marvel via os direitos do personagem serem revertidos de volta para ela – embora exista um acordo no qual o gigante verde é dito estar apenas “emprestado”. Seja como for, era necessário reformular e o estúdio não perdeu tempo. Assim, apostou-se em um novo diretor e um elenco novo, incluindo o protagonista nas formas de Edward Norton. Os problemas causados pelo difícil astro principal não foram os mais graves que o filme viria a encarar. O público não comprou muito a ideia e a Marvel logo percebeu que o grandalhão esverdeado não funcionava num filme solo. Alguns anos depois, já nas formas de Mark Ruffalo, o personagem monstruoso se mostrou um excelente coadjuvante, roubando todos os holofotes de seus protagonistas nos filmes dos Vingadores.
O Justiceiro: Em Zona de Guerra
Se existe um personagem da Marvel mais problemático no cinema do que o Hulk, este personagem é o Justiceiro. Problema principal: a história do ex-policial, cuja família foi inteiramente assassinada por criminosos, que parte em busca de vingança, é uma premissa muito batida e reprisada incansavelmente nas telonas. Então, se funciona bem nos quadrinhos, nos cinemas eram outros quinhentos. Lançado no dia 5 de dezembro de 2008 nos EUA, O Justiceiro: Em Zona de Guerra, o terceiro filme do anti-herói para o cinema, estreou direto no mercado de vídeo brasileiro.
Antes disso, no entanto, a primeira aparição do personagem data de 1989, no qual foi vivido por Dolph Lundgren numa versão descaracterizada, cujo único propósito era pegar clara carona no sucesso estrondoso de Batman, de Tim Burton – filme que mostrou todo o potencial deste tipo de material. Passados os anos 1990, os produtores tentaram novamente levar o matador às telonas, desta vez pegando carona no novo boom de obras do tipo em 2004. Servido por uma participação de John Travolta como o antagonista, O Justiceiro, com Thomas Jane, igualmente foi lançado direto no mercado de vídeo de nosso país. Jane demonstrou grande vontade de voltar ao papel, protagonizando até mesmo um curta na pele do personagem. No entanto, o novo Justiceiro agora era Ray Stevenson, no filme da diretora Lexi Alexander. Em Zona de Guerra usou uma abordagem e estética mais próximas dos quadrinhos, não poupando na violência.
The Spirit – O Filme
Com Samuel L. Jackson e Scarlett Johansson, Os Ving… bem, ainda ia demorar mais alguns anos para os atores conhecerem o sucesso absoluto na Marvel. Antes disso, porém, precisariam amargar este fracasso para a Sony. Lançado no dia 25 de dezembro nos EUA e no dia 20 de março de 2009 no Brasil, The Spirit é baseado nos quadrinhos de Will Eisner, sobre um dos primeiros super-heróis de todos os tempos, datando da década de 1940.
O longa, escrito e dirigido por Frank Miller – outro papa dos quadrinhos, que resolve homenagear o lendário autor e mentor – nada tem a ver com o material original, mostrando-se apenas uma cópia em estilo e narrativa do sucesso Sin City – A Cidade do Pecado (2005), de Robert Rodriguez, o qual Miller havia codirigido. O mais triste é saber que as cores foram apagas, assim como a vida do material, e que o elenco de peso foi totalmente subutilizado – entre eles, além de Johansson e Jackson, Sarah Paulson e Eva Mendes.
Hellboy II – O Exército Dourado
Baseado nos quadrinhos underground de Mike Mignola, o primeiro Hellboy foi um projeto de paixão do diretor Guillermo del Toro, apaixonado por HQs e pelo personagem. O filme, lançado em 2004, não rendeu o resultado que se esperava em bilheteria, colocando um ponto final nos planos para uma continuação. Bem, ao menos na Sony, estúdio que serviu como casa da produção. Numa verdadeira epopeia que durou quatro anos – tempo demais para um filme desses ficar engavetado – a possibilidade de um novo Hellboy finalmente tornava-se realidade, desta vez lançado pela Universal.
Hellboy II – O Exército Dourado é igualmente incrível e ainda mais fantástico. O resultado, no entanto, novamente minguou. Obviamente, del Toro queria continuar neste universo, mas agora de fato as chances eram próximas a zero e o cineasta decidiu seguir por filmes mais renomados, vindo a ganhar seu primeiro Oscar com… bom, um longa de monstros. O Exército Dourado teve lançamento no dia 11 de julho nos EUA e 5 de setembro do mesmo ano no Brasil. Um novo Hellboy, sem del Toro, ou qualquer envolvido dos primeiros filmes, será lançado no dia 11 de janeiro de 2019 nos EUA, sem um grande estúdio por trás.
Hancock
Este é o primeiro item da lista que não é baseado num quadrinho. De fato, Hancock não é baseado em nada, sendo um roteiro original. Seguindo a trilha da febre do momento, mas igualmente a satirizando, dando um enfoque fresco e original ao tema, o filme fez enorme sucesso, se tornando uma das maiores bilheterias de seu respectivo ano. Hancock estreava no dia 2 de julho de 2008 nos EUA, chegando dois dias depois, em 4 de julho no Brasil.
Hancock mostrava que Will Smith, na época, ainda tinha força e gás para dar e vender. O interessante da obra é que ela dividi-se em duas – em sua primeira metade sendo puramente uma comédia, que tira sarro com os filmes de super-heróis que infestavam os cinemas já na época, trazendo para o jogo um Superman incorreto e beberrão. E na segunda parte, se torna um longa mais dramático e emocional, uma vez que a reviravolta sobre o passado e identidade do herói entravam em cena, incluindo a personagem da bela Charlize Theron no meio do histórico. Esta é uma história de origem às avessas, na qual apenas conhecemos o protagonista de verdade no ato final.
O Procurado
Aqui fazemos uma troca com Hancock. Temos o elemento HQ, mas não o item super-herói. Quer dizer, a menos que você não considere saltos a longas distâncias e habilidade de fazer curvas em balas um dom ou superpoder. O verão norte-americano pegava fogo e O Procurado chegava para se juntar ao lote. Lançado no dia 27 de junho de 2008 nos EUA e em 22 de agosto do mesmo ano no Brasil, o thriller de ação falava sobre um jovem, papel de James McAvoy, que se descobre parte de um clã de assassinos lendários.
Baseado nos quadrinhos de Mark Millar (o mesmo de Kick-Ass e Kingsman), o filme marcou a exportação do russo Timur Bekmambetov para Hollywood. Além disso, o acelerado longa trazia a musa Angelina Jolie toda tatuada na pele da mentora Fox – que todos pediram a Deus – e Morgan Freeman como o líder Sloan. Não sei quanto a vocês, mas está na hora deste que vos fala rever este blockbuster.
Speed Racer
Nem quadrinhos, nem uma ideia original, o piloto de carro mais famoso dos cartoons ganhou seu primeiro longa-metragem com atores reais há dez anos. Capitaneado pelas hoje irmãs Wachowski – na época os irmãos Wachowski – Speed Racer chegava acelerando aos cinemas no dia 9 de maio de 2008, tanto nos EUA quanto por aqui. Superprodução de cores berrantes, visual chamativo e muita energia, o filme dividiu a opinião dos críticos, mas se mostrou uma bilheteria morna, para dizer no mínimo. Seja como for, uma coisa é indiscutível, Speed Racer merecia a telona, por ser extremamente imersivo.
O personagem e seu universo nasceram de um programa animado japonês datando da década de 1960, criado por Tatsuo Yoshida. Todos os principais elementos foram respeitados na versão das Wachowski, mas, infelizmente, Speed Racer se mostrou um filme unicamente voltado aos aficionados, alienando o grande público de forma geral. Fora isso, o longa careceu de um grande nome nos créditos para chamar os não escolados e toda uma nova geração.
Super-Herói – O Filme
A onda dos filmes paródia não é recente. O subgênero data de produções como Apertem os Cintos… o Piloto Sumiu (1980), paródia de filmes catástrofe (vide Aeroporto), e Top Secret! Super Confidencial (1984), paródia de filmes de espiões. Na década de 1990, o estilo ainda tinha força. Já na seguinte, atingiu seu ponto mais baixo – depois de Todo Mundo em Pânico – e de lá vieram alguns filmes verdadeiramente odiosos. Super-Herói – O Filme é parte desta leva, que só ganha alguns pontos (mesmo que mínimos), por decidir parodiar um gênero que, a esta altura, não tinha como ser evitado.
Lançado no dia 28 de março de 2008 nos EUA e em 18 de abril por aqui, Super-Herói – O Filme aposta no mais baixo denominador comum, fatídica realidade a qual o subgênero havia sido reduzido, contando com piadas sem graça, envolvendo muitos tombos, quedas e tropeções. O filme, embora tire sarro (ou tente) com algumas produções da época, concentra seus esforços em Homem-Aranha (2002), de Sam Raimi, criando aqui o super-herói Libélula. A prova do fracasso e inaptidão aqui se estende para fora do filme, com uma paródia atrasada de um filme de seis anos antes, que já havia tido duas continuações.
BÔNUS:
Bolt – O Supercão
Tudo bem que a Disney já havia dado sua abordagem ao gênero dos super-heróis ainda nos primórdios do boom, lá em 2004, com Os Incríveis. Mas agora era a vez do estúdio apostar suas fichas sem dar parte dos créditos para a Pixar. Resultado? Bolt, o Supercão passou em branco, se tronando uma das obras mais esquecíveis da casa de ideias. Lançado no dia 21 de novembro de 2008 nos EUA, chegando aqui somente em 1º de janeiro de 2009 (outro indício de que algo estava errado, filmes assim não costumam demorar tanto para chegar).
Na trama desta nova brincadeira de uma animação Disney com o gênero, o cãozinho Bolt (voz de John Travolta) é a estrela de um programa televisivo no qual interpreta um verdadeiro super-herói. As confusões começam quando ele, acreditando que seus poderes são reais, decide ajudar sua colega de tela.