La La Land: Cantando Estações é o filme do momento. Se você ainda não assistiu ou sequer ouviu falar, está na hora de sair de sua caverna e olhar o dia raiando. Ontem, sábado, dia 28 de janeiro, o filme do diretor Damien Chazelle (Whiplash: Em Busca da Perfeição) conquistou mais um prêmio importante em sua jornada rumo ao Oscar, o PGA, o prêmio do sindicato dos produtores de cinema em Hollywood.
O PGA é o mais forte termômetro para o Oscar, e nos oito últimos anos determinou todos os vencedores na categoria de melhor filme – trajetória quebrada quando Spotlight levou o prêmio máximo (o PGA elegeu A Grande Aposta) ano passado. Justamente por isso, para homenagear o futuro vencedor do Oscar de melhor filme em 2017, resolvemos criar esta nova lista, com os 10 maiores vencedores do Oscar do gênero musical na história do cinema. Veja abaixo e se tivermos esquecido algum, aponte nos comentários.
10 | O Show Deve Continuar (All That Jazz, 1979)
Em décima posição na lista, este é um musical subversivo, diferente das obras otimistas das décadas de 1950 e 1960. Um clima mais realista e cru tomava conta das produções na década de 1970, e isso afetou também os musicais. Aqui, o icônico coreógrafo Bob Fosse, resolve contar sua própria biografia na direção do longa, utilizando o Joe Gideon de Roy Scheider, um diretor/coreógrafo de espetáculos teatrais, mulherengo, drogado e dono de uma vida sórdida, como pseudônimo. Dificilmente nos deparamos com uma autoanálise tão depreciativa.
Vitórias no Oscar: O Show Deve Continuar saiu vencedor de 4 Oscar – direção de arte, figurino, edição e trilha sonora.
Indicações: são num total 9 indicações para o filme de Fosse, considerado por muitos como o melhor musical do cinema. Fora as 4 estatuetas que levou, All That Jazz foi lembrado nas categorias – melhor filme (o qual perdeu para Kramer Vs. Kramer), ator para Roy Scheider, diretor para Bob Fosse, melhor roteiro original e melhor fotografia.
9 | Mary Poppins (1964)
Um dos musicais para toda a família mais adorados do cinema, chega em nona posição. Esta é uma produção da Disney, baseado no livro infantil da autora britânica P.L Travers. Quem teve a oportunidade de assistir ao filme Walt nos Bastidores de Mary Poppins (Saving Mr. Banks, 2013), sabe que este conto de fadas teve bastidores nada mágicos. Seja como for, a história edificante fala sobre uma babá encantada e voadora, que chega para modificar uma família e ensinar as crianças. Em 2018, teremos finalmente uma sequência, 54 anos depois, que tratá a graciosa Emily Blunt como Poppins e as crianças agora adultas.
Vitórias no Oscar: Mary Poppins saiu da cerimônia do Oscar com 5 estatuetas: melhor atriz para a icônica Julie Andrews, melhor edição, melhores efeitos visuais, melhor canção original (Chim Chim Cher-ee) e melhor trilha sonora.
Indicações: as indicações de Mary Poppins são 13 ao total, um dos números mais altos da lista. No entanto, o filme não recebeu os prêmios principais. A obra foi lembrada, além das 5 que venceu, para melhor filme (o qual perdeu para Minha Bela Dama, que também teria Andrews como protagonista), melhor diretor para Robert Stevenson, melhor roteiro adaptado, melhor fotografia, melhor direção de arte, melhor figurino, melhor som, melhor trilha de música adaptada (categoria que não existe mais).
8 | A Noviça Rebelde (The Sound of Music, 1965)
Já deu para perceber que na década de 1960 os musicais ainda estavam com tudo e emplacavam forte com os votantes da Academia. Por dois anos consecutivos os musicais dominaram os prêmios do Oscar e aqui temos um filme semelhante, de certa forma, ao item acima, Mary Poppins. Esta obra também trata de uma jovem babá/governanta que chega a uma casa para mudar a vida da família. Além disso, temos a mesma Julie Andrews protagonizando. Maria, a protagonista, no entanto, é uma freira que abandona o convento, e a trama embora edificante, alegre e inocente, se passa no período da Segunda Guerra Mundial, na década de 1930, e tem como pano de fundo a trágica dominação da Alemanha nazista na Áustria, cenário do longa.
Vitórias no Oscar: assim como Mary Poppins, A Noviça Rebelde ganhou 5 estatuetas no Oscar, algumas mais importantes, porém. São elas: melhor filme, melhor diretor para Robert Wise, melhor som, melhor edição e melhor trilha sonora.
Indicações: A Noviça Rebelde possui 10 indicações ao Oscar no total. Além das 5 estatuetas que venceu, o filme foi indicado também para melhor atriz (Julie Andrews), melhor atriz coadjuvante (Peggy Wood), melhor fotografia, melhor direção de arte e melhor figurino.
7 | Oliver! (1968)
Este musical é a adaptação do livro de Lionel Bart, que por sua vez é uma releitura do clássico imortal da literatura Oliver Twist, de Charles Dickens. A história é a mesma, apenas recontada através de músicas. Entretanto, Oliver! se tornou uma das versões mais prestigiadas do conto no cinema, justamente por seus prêmios no Oscar. A trama fala sobre o pobre órfão Oliver Twist, jogado de um lado para o outro, do orfanato para lares adotivos abusivos, até as ruas, onde conhece um grupo de delinquentes comandados por um ardiloso bandido, na Inglaterra Vitoriana.
Vitórias no Oscar: o filme tem prêmios importantes no Oscar, no total de 6 estatuetas: melhor filme, melhor diretor para Carol Reed (não se espantem, trata-se de um diretor homem, Kathryn Bigelow segue como a primeira mulher da história com o Oscar de direção), melhor direção de arte, melhor som, melhor trilha sonora e um Oscar honorário para melhor coreografia no filme.
Indicações: num total de 11 indicações, Oliver!, além das 5 estatuetas, foi indicado para melhor ator (Ron Moody), melhor ator coadjuvante (o menino Jack Wild – que não é o intérprete do protagonista), melhor roteiro adaptado, melhor fotografia, melhor figurino e melhor edição.
6 | Sinfonia de Paris (An American in Paris, 1951)
Ah, Paris! Este filme marca dois itens que não poderiam ficar de fora de uma lista com tal temática. Primeiro, o cenário parisiense, extremamente belo e musical. Segundo, um filme do gênero estrelado pela lenda Gene Kelly. Na trama do longa, dirigido por Vincente Minnelli, um pintor americano (Kelly) vivendo em Paris, luta para ser reconhecido e é descoberto por uma herdeira. Ele se apaixona por uma jovem francesa, noiva de um cantor de cabaré. Seu melhor amigo é um aspirante a pianista.
Vitórias no Oscar: Sinfonia de Paris ganhou 6 prêmios da Academia, incluindo melhor filme, melhor roteiro original, melhor fotografia, melhor direção de arte, melhor figurino e melhor trilha sonora.
Indicações: dentre as 8 indicações, os únicos 2 prêmios que não conquistou foram os de melhor diretor para Vincente Minnelli e melhor edição.
5 | Chicago (2002)
Que moral! Chicago é o musical mais recente a figurar na lista e não é para menos, já que a obra pode ser considerada a melhor do gênero nos últimos 35 anos (pelo menos). A consagração no Oscar é só para provar o fato. Baseado no livro de Bob Fosse e Fred Ebb, e na longeva peça da Broadway, de Maurine Dallas Watkins, a versão cinematográfica desta história é impecável, adaptando ferozmente sem perder um tom, o material original. Na trama, na Chicago da década de 1920, Velma Kelly e Roxie Hart são duas mulheres condenadas à prisão, lutando por sua inocência e pela fama. Simplesmente hilário, e o musical preferido deste que vos escreve (sendo o primeiro que experimentei em tela grande).
Vitórias no Oscar: Chicago é verdadeiramente um fenômeno. O filme tem 6 estatuetas do Oscar, que incluem: melhor filme, melhor atriz coadjuvante para Catherine Zeta-Jones, melhor direção de arte, melhor figurino, melhor edição e melhor som.
Indicações: são 13 indicações ao Oscar no total para Chicago, uma a menos que o sucesso La La Land. Das estatuetas que o filme não venceu estão: melhor atriz (Renée Zellweger), melhor ator coadjuvante (John C. Reilly), melhor atriz coadjuvante (Queen Latifah), melhor diretor (Rob Marshall), melhor roteiro adaptado, melhor fotografia e melhor canção original (I Move On).
4 | Cabaret (1972)
Outro musical saído da revolucionária década de 1970, e igualmente dirigido pelo mestre do gênero, Bob Fosse. Baseado na peça Cabaret, de John Van Dutren, e no livro de mesmo nome, de Joe Masteroff, o filme, no entanto, apesar de ter sido produzido na fervorosa década de 1970, retrata os anos 1930, numa Alemanha pré-nazismo. A temática de política é o pano de fundo aqui, e os holofotes estão em Liza Minnelli (filha de Vincente Minnelli) no papel de Sally Bowles, cantora de um cabaré decadente, cujo otimismo e charme são suas qualidades chamativas.
Vitórias no Oscar: Cabaret é um dos musicais que mais prêmios no Oscar venceu. São 8 no total – melhor atriz para Liza Minnelli, melhor ator coadjuvante para Joel Grey, melhor diretor para Bob Fosse, melhor fotografia, melhor direção de arte, melhor som, melhor edição e melhor trilha sonora.
Indicações: de suas dez indicações, Cabaret só não levou 2 prêmios: melhor filme (o qual perdeu para o quintessencial O Poderoso Chefão) e melhor roteiro adaptado.
3 | Minha Bela Dama (My Fair Lady, 1964)
Voltando para a corrida do Oscar de meados da década movimentada para o gênero, a década de 1960. A batalha pelo Oscar de melhor filme deste ano, viu a luta ferrenha entre Mary Poppins e Minha Bela Dama, na qual este filme saiu vitorioso. A curiosidade é que a estrela Julie Andrews lutou com unhas e dentes pelo papel da florista transformada em dama Eliza Doolittle, tendo no seu corner o estúdio Disney. Mas o papel ficou mesmo com outro ícone da época, a estrela Audrey Hepburn, que não tinha grande talento para a música. Seja como for, Minha Bela Dama se tornou um dos maiores sucessos do gênero. A história é baseada na peça teatral Pigmaleão, de George Bernard Shaw, que por sua vez deu origem ao livro de Alan Jay Lerner, no qual o filme é igualmente baseado. A trama mostra um professor erudito disposto, através de uma aposta, a demonstrar que com os ensinamentos adequados, qualquer um pode ser transformado numa pessoa educada. O alvo do experimento é uma florista bruta, desbocada e sem modos.
Vitórias no Oscar: este épico musical de quase 3 horas de duração é um dos maiores vencedores do Oscar de todos os tempos, com 8 estatuetas. São elas: melhor filme, melhor ator para Rex Harrison (que dedicou o prêmio para “duas belas damas”, Julie Andrews e Audrey Hepburn), melhor diretor para George Cuckor, melhor fotografia, melhor direção de arte, melhor figurino, melhor som e melhor trilha sonora.
Indicações: num total de 12 indicações, Minha Bela Dama não levou os prêmios de melhor ator coadjuvante (Stanley Holloway), melhor atriz coadjuvante (Gladys Cooper), melhor roteiro adaptado e melhor edição.
2 | Gigi (1958)
Bem, por esta lista podemos perceber que os dois grandes nomes de cineastas do gênero são os de Bob Fosse e antes dele, Vincente Minnelli. Enquanto Fosse vem de uma escola de maior contracultura, pertinente à época, Minnelli apostava no espetáculo da era de ouro de Hollywood. Baseado no livro de Colette, e descrito como uma história de Cinderela do século XX, o filme narra a amizade entre um playboy festeiro e superficial e uma jovem treinada para ser cortesã, que não permanecerá apenas uma amizade por muito tempo. Minnelli segue na cidade das luzes, Paris, usando o romântico local como pano de fundo desta nova produção, 7 anos após Sinfonia de Paris. No entanto, desta vez, o diretor volta no tempo para a época de 1900.
Vitórias no Oscar: um dos maiores recordistas de prêmios do Oscar no gênero, perdendo apenas para o número 1 desta lista, Gigi tem 9 estatuetas douradas – melhor filme, melhor diretor para Vincente Minnelli, melhor roteiro adaptado, melhor fotografia, melhor direção de arte, melhor figurino, melhor edição, melhor canção (Gigi) e melhor trilha sonora.
Indicações: bem, Gigi é um destes casos raros de produções cinematográficas que fizeram a limpa no Oscar, levando todos os 9 prêmios aos quais estava indicado.
1 | Amor, Sublime Amor (West Side Story, 1961)
Justiça seja feita. Reconheço que falei antes do tempo e não poderia fechar a lista sem o nome do cineasta Robert Wise como um dos mais influentes dentro do gênero, de todos os tempos. Wise tem no cinturão o lendário A Noviça Rebelde, e chega agora na primeira posição da lista, com Amor, Sublime Amor, o filme que mais Oscar venceu na história do cinema dentro do gênero musical. Baseada no livro de Arthur Laurents, com clara inspiração em Romeu e Julieta, de Shakespeare, e depois adaptado para a Broadway por Jerome Robbins, a produção cinematográfica retrata um amor florescendo entre dois jovens de lados opostos na rivalidade entre gangues porto-riquenhas residindo em Nova York.
Vitórias no Oscar: com o recorde absoluto de vitórias no Oscar para um filme no gênero, West Side Story (ou Amor, Sublime Amor) tem 10 prêmios no currículo: melhor filme, melhor ator coadjuvante para George Chakiris, melhor atriz coadjuvante para Rita Moreno, melhor diretor para Robert Wise (e Jerome Robbins, o codiretor do filme, pela primeira vez num Oscar dividido na categoria), melhor fotografia, melhor direção de arte, melhor figurino, melhor som, melhor edição e melhor trilha sonora.
Indicações: de todas as 11 indicações, Amor, Sublime Amor só não levou o prêmio de melhor roteiro adaptado.
Curiosidade
Considerado por muitos críticos, cinéfilos e entusiastas do cinema como um dos melhores musicais de todos os tempos (ou o melhor), o icônico Cantando na Chuva (1952) teve apenas 2 indicações para o Oscar – melhor atriz coadjuvante para Jean Hagen e melhor trilha sonora – e saiu de mãos abanando. Parece incrível, mas é uma das grandes injustiças da Academia. Para termos uma ideia, nenhum destes vencedores do Oscar aqui listados se encontra na lista dos 250 melhores filmes de todos os tempos no IMDB, a bíblia do cinema na rede. Já Cantando na Chuva é o número 94.
Bônus:
Como esta lista foi confeccionada por este humilde jornalista que vos escreve, sinto que é justo incluir como bônus um filme pelo qual tenho apreço, um filme dentro do gênero que carrego no coração e na alma, e sei que muitos de vocês também. E para os que não o conhecem, aqui vai minha recomendação máxima para que o procurem. Trata-se de Apenas uma Vez (Once, 2007), musical com pé no chão, mas romântico, sobre a amizade e o amor verdadeiro (no sentido mais real da palavra) que nasce entre um músico de rua e uma florista na Dublin atual. Apenas uma Vez é o grande trabalho do irlandês John Carney, que seguiu para fazer filmes de prestígio e igualmente bons como Mesmo se Nada der Certo (2013) e o recente Sing Street (2016). Apenas uma Vez levou o Oscar de melhor canção por Falling Slowly.