Por mais que o brasileiro tenha um apreço significativo pela cultura estrangeira, principalmente a norte-americana, é inegável dizer que os artistas nacionais têm habilidades que se igualam e até mesmo superam a dos internacionais.
Apenas no cenário musical contemporâneo, podemos citar nomes como Liniker, Jão e ANAVITÓRIA como representantes do MPB e do pop nacional, enquanto Anitta, Pabllo Vittar e Ludmilla, por exemplo, voltam-se para o funk, o pagode e a eletrônica. Não obstante a forte presença da nova geração, artistas como Marisa Monte, Lulu Santos e Ivete Sangalo permanecem ativos em um encontro entre passado e presente – confluindo suas incríveis estéticas em atemporais espetáculos.
Pensando nisso, preparamos uma breve lista elencando os dez melhores álbuns nacionais da década (até agora).
Confira abaixo as nossas escolhas e conte para nós qual a sua favorita:
8. DOCE 22, Luísa Sonza (2021)
“Um dos aspectos mais atraentes das faixas é a invejável capacidade de Sonza em unir instrumentos conflitantes entre si sem deixar que as progressões se acumulem em uma massa amorfa e indecifrável. Desde o começo da carreira, a cantora mostrou seu apreço por gêneros diferentes, incluindo as confessionais digressões das baladas, a jocosidade do rock-pop e a preferência estilística da clássica MPB. Em “penhasco.”, ela revela as mágoas que ainda carrega e utiliza a própria música em um exercício metapoético, entendendo o motivo de ter se machucado em versos consecutivos como “eu tive que desaprender a gostar tanto de você” e “sabe que se chamar eu vou”. A progressão, teatral para alguns e evocativa para outros, é movida pela transição potente do piano à percussão, arrancando os melhores vocais de Sonza em uma explosão sentimental.” – Thiago Nolla
7. FUNK GENERATION, Anitta (2024)
“O destaque principal do disco é destinado a “Funk Rave” – uma peça musical que, sem sombra de dúvida, é uma das melhores incursões da carreira de Anitta pela ousadia com a qual trabalha uma sucessão de estilos diferentes que convergem para um inebriante coquetel de synth-funk, funk 150-BPM e funk-trap cujo único crime é durar apenas dois minutos e meio. Eventualmente, fica claro que ‘Funk Generation’ mostra que a cantora e compositora atingiu um status em que, agora, pode fazer o que bem entender e, mais do que isso, cria as próprias tendências e deixa bem claro que não está preocupada com o que os outros pensam – e sim apenas com o que deseja fazer como artista” – Thiago Nolla
6. SUPERNOVA, Jão (2024)
Meses depois de ter lançado o ótimo ‘Super’, Jão anunciou uma aguardada versão deluxe com nada menos que oito faixas inéditas – uma delas funcionando como extensão de uma das tracks presentes no álbum original. O resultado foi uma impecável e vibrante jornada que passeia por diversos gêneros, incluindo o MPB, o synth-pop e as baladas orquestrais, construindo narrativas que oscilam do teatral ao melodramático, do confessional ao sensual – e tudo convergindo a um arauto metarreferencial pincelado com uma lírica pungente e uma exaltação testamentária do artista a si próprio.
5. COR, ANAVITÓRIA (2021)
“Os melhores momentos de ‘Cor’ insurgem quando a dupla não se limita a construir algo simplista – como acontece com “Te amar é massa demais”. A obviedade do título é logo varrida para debaixo do tapete quando é-nos apresentada uma conflitante e apaixonante explosão de samba e bossa-nova que nos arremessa de volta para os anos 1920 do subúrbio carioca, enquanto abre espaço para inflexões à la Tom Jobim e Maria Gadú, com reflexos distantes à fase mais pé-no-chão de Elis Regina (e tais caracterizações explicam o motivo de ser um dos pontos altos da iteração). Já “Tenta acreditar” é um antro em que vulnerabilidade e teatralidade encontram um espectro em comum num circense e pessoal desabafo.” – Thiago Nolla
4. TE AMO LÁ FORA, Duda Beat (2021)
Duda Beat lançou seu primeiro álbum em 2018, ‘Sinto Muito’, aproveitando a efervescência do pop brasileiro para se transformar em um dos ícones da “sofrência” musical. Três anos mais tarde – e abraçando um amadurecimento muito bem vindo -, a cantora e compositora se lançou de cabeça em uma produção mais íntima e vibrante, ao mesmo tempo. Marcado pela explosiva naturalidade de “Meu Pisêro”, que se configura como uma das melhores faixas do ano, ‘Te Amo Lá Fora’ merece ser apreciado do começo ao fim dentro de uma pluralidade que abre espaço para o reggae, para o soft-rock e até mesmo para o dance.
3. QVVJFA?, Baco Exu do Blues (2022)
“Se há uma coisa que podemos compreender do álbum é a maestria com que todos os aspectos instrumentais colidem em profusão aplaudível às potentes letras que o performer assina. É claro que algumas delas pendem para algumas fórmulas tão utilizadas no mainstream, como a frustração amorosa de “20 Ligações” ou a bem-vinda crueza de “Mulheres Grandes”, que perdem um pouco de força frente a tantas tracks ótimas – e o mesmo acontece com a repetição minimalista de “Autoestima”, isolada na segunda metade do álbum. Entretanto, os deslizes são ofuscados em boa parte do tempo pelo que se esconde nas entrelinhas e pelo convite que Baco Exu nos faz para encontrá-las num cenário bélico de notas e melodias” – T.N.
2. SÓ, Adriana Calcanhotto (2020)
“Calcanhotto já não precisa provar nada para ninguém. Suas irretocáveis rendições vocais são conhecidas seja no escopo adulto, seja no infantil (como não recordar da série de álbuns infantis que assinou sob a alcunha de Adriana Partimpim?). Aqui, a meio-soprano lírico volta sua personalidade para elegíacos versos que puxam elementos do MPB e da bossa-nova, é claro, mas mergulhando-os no cenário contemporâneo do samba e do funk moderno, criando uma amálgama única que funciona do começo ao fim. Retomando a colaboração com o icônico Arthur Nogueira e com a presença de Dennis DJ para a oitava faixa, fica claro que a performer nunca deixa de lado simbologias ambíguas, fazendo questão de imprimir uma construção que tangencia um parnasianismo desconstruído e buscando uma releitura de tudo que já nos foi apresentado.” – Thiago Nolla
1. INDIGO BORBOLETA ANIL, Liniker (2021)
“Em meio a tantos lançamentos nacionais e internacionais que pululam no cenário mainstream, o primeiro álbum solo de Liniker poderia passar longe dos nossos radares – e, mesmo que o faça, não deveria. Ao longo de quase 50 minutos de duração e apenas 11 faixas, a performer consegue arquitetar uma envolvente e explosiva narrativa sonora, não pensando duas vezes em prestar homenagens aos artistas que lhe inspiraram, desde a icônica Vanusa até a saudosa Amy Winehouse. Aqui, lidamos com uma amálgama frutífera e saborosa de inúmeros elementos que oscilam do black music e do reggae ao R&B e o MPB, destilando poesia em cada verso que constrói e entregando tudo de si em cada refrão.” – Thiago Nolla