Apesar de ter enorme apreço por parte do público, os filmes de terror permanecem engessados em um estigma inexplicável por bom número dos críticos e dos especialistas do cinema. Todavia, é notável como essas produções vão se remodelando com o passar das décadas, mostrando que merecem ser tratadas como títulos de arte que não apenas fazem um grande sucesso financeiro, como ajudam a explorar temas considerados “tabus” sob uma ótica inesperada e que desperta as mais cruas sensações nos espectadores.
Enquanto o século XX foi marcado por solidificações de subgêneros como o slasher, o gore e o suspense – todos atrelados ao terror -, o século atual apresentou mais revoluções narrativas e estéticas que provaram que tais projetos ainda tinham muito a contar.
Pensando no contínuo e inegável impacto desses longas-metragens na cultura popular, e aproveitando que ainda estamos no mês mais místico e arrepiante do ano, preparamos uma lista elencando os dez melhores filmes de terror do século (até agora).
Veja abaixo as nossas escolhas e conte para nós qual o seu favorito:
10. [REC] (2007)
“Um dos elementos mais notáveis do filme é a utilização de um único cenário pelo resto da obra. Ter um prédio residencial, de pequeno porte, contribui para que o sentimento de claustrofobia e medo dos moradores, bombeiros e jornalistas se torne mais crível, além de intensificar a problemática do estado de quarentena ali presente. Cenário único é algo bem comum em obras do found footage, isso porque se evita um gasto bem maior ao que a produção tem disponível mas porque também a simplicidade de ter um único cenário barateado mantém a fantasia de que a gravação em destaque é algo crível” – Gustavo Barreto
9. RELÍQUIA (2020)
“A estreia de Natalie Erika James nas telonas a colocou no centro dos holofotes, seguindo os passos de conterrâneos como Ari Aster e Robert Eggers, que também causaram um grande barulho quando surgiram na indústria audiovisual. A simples premissa de um thriller psicológico é conduzido com maestria através de alegorias sobre etarismo, capacitismo, legado e relações familiares, girando em torno de uma família que sofre de um mal incurável. Apesar de certas convulsões – incluindo certas sequências que talvez não tenham sido trabalhadas com a cautela necessária -, o resultado final é de tirar o fôlego e certamente coloca o longa-metragem na lista dos melhores dos últimos tempos (ainda mais numa época em que precisamos dessas joias cênicas no nossos catálogo)” – Thiago Nolla
8. O LABIRINTO DO FAUNO (2006)
‘O Labirinto do Fauno’ é um conto de fadas de horror que não se rende à romantização excessiva, mas sim que exala as angústias às quais uma nova geração estava fadada a carregar à época do real significado de caos. Não nos poupando de catarses naturais e nem mesmo de sacrifícios narrativos, essa obra de Del Toro é uma de suas mais memoráveis – e mais aterrorizantes, certamente. Na trama, a jovem Ofélia e sua mãe doente chegam ao posto do novo marido de sua mãe, um sádico oficial do exército que está tentando reprimir uma guerrilheira. Enquanto explorava um labirinto antigo, Ofélia encontra o fauno Pan, que diz que a menina é uma lendária princesa perdida e que ela precisa completar três tarefas perigosas a fim de se tornar imortal.
7. INVOCAÇÃO DO MAL 2 (2016)
Se James Wan havia resgatado as glórias do terror religioso em 2013 com ‘Invocação do Mal’, o aclamado cineasta conseguiria superar a si mesmo três anos mais tarde com o lançamento do segundo capítulo dessa já icônica saga. Conduzindo com maestria um jogo de “gato e rato” distorcido e remodelado, além de contar com atuações irretocáveis de Vera Farmiga e Patrick Wilson, a trama acompanha os famosos demonologistas Lorraine e Ed Warren, que viajam até o norte de Londres. Lá, eles ajudam uma mãe solteira que cria quatro filhos sozinha em uma casa atormentada por espíritos malignos.
6. O HOSPEDEIRO (2006)
Lançado em 2006, ‘O Hospedeiro’ conta a história de Hie-bong e sua família, donos de uma barraca de comida no parque. Seu filho mais velho, Kang-du, tem 40 anos, mas é um tanto imaturo. A filha do meio é arqueira do time olímpico coreano e o filho mais novo está desempregado. Todos cuidam da menina Hyun-seo, filha de Kang-du, cuja mãe saiu de casa há muito tempo. Um monstro surge no rio, causando terror nas margens e levando com ele a neta de Hie-bong. Com isso, os membros da família precisam enfrentar o monstro. Esse projeto foi o que chamou a atenção do mundo do cinema para Bong Joon-ho (que viria a ganhar o Oscar por ‘Parasita’ anos mais tarde), que consegue executar um projeto repleto de críticas sociais.
5. HEREDITÁRIO (2018)
Em 2018, Ari Aster fazia sua gloriosa estreia na sétima arte com o poderoso longa-metragem ‘Hereditário’ – que, em pouco tempo, sagrou-se um dos filmes mais elogiados pela crítica e pelo público. Arquitetando uma mitologia bastante original e contando com uma performance aplaudível de Toni Collette (em um dos melhores papéis de sua carreira), a produção tirou o fôlego e o sono dos espectadores com uma narrativa pungente e ambiciosa. Não é por qualquer razão que o título ocupe o terceiro lugar da nossa lista – e, ano após ano, envelheça como uma boa garrafa de vinho.
4. O HOMEM INVISÍVEL (2020)
“‘O Homem Invisível’ é o melhor dos dois mundos: consegue fazer gelar a espinha e inserir de forma exata todos os seus sustos (sem abusar deles) como os melhores filmes de “terror de shopping”, ao mesmo tempo em que entrega profundidade, análise comportamental e grandes personagens parecendo saídos diretamente dos chamados “terror de arte”. É seguro dizer que com o filme, os envolvidos, sejam atores, diretores ou produtores, entregam um de seus melhores trabalhos nas telonas. E estão de parabéns. Agora, esperamos que a Universal siga no bom fluxo, e por que não criar tendência com os monstros? A de inserir uma mensagem forte, real e importante mesclada à diversão de seus personagens” – Pablo Bazarello
3. NÓS (2019)
Enquanto ‘Corra!’ colocou Jordan Peele no centro dos holofotes e o catapultou ao estrelato no cenário mainstream, ‘Nós’ se configura, ao menos por enquanto, como sua magnum opus. Apesar de se valer de certas fórmulas dos filmes de suspense psicológico, incluindo reviravoltas de tirar o fôlego e que adornam com ainda mais beleza o ato de encerramento do longa-metragem, o resultado é impressionante do começo ao fim pelas subtramas que acompanham o “andar da carruagem”. Para além da performance irretocável de Lupita Nyong’o como Adelaide e como seu duplo, Red e de um elenco de peso, a condução crítica promovida pelo diretor é on point em cada uma de suas camadas.
2. DEIXA ELA ENTRAR (2008)
“A história por si só já apresenta muitos elementos que naturalmente a isolam de enredos similares que estavam sendo contados nos Estados Unidos, porém, é o seu final que define essa diferença com o que era o usual. A grande revelação de Eli não é o que se espera e é o suficiente para redefinir, aos olhos do espectador, a forma de se ver a relação dos jovens. Outro elemento problemático que o enredo critica constantemente é o bullying nas escolas, sendo esse conceito bastante difícil para o diretor Tomas Alfredson trabalhar na adaptação para o cinema. A riqueza de detalhes com que o autor do livro constrói esses momentos impactou o cineasta de maneira profunda, isso ainda no período em que ele estava lendo o romance” – Gustavo Barreto
1. A BRUXA (2015)
Robert Eggers, mergulhando em seu primeiro trabalho cinematográfico de grande reconhecimento, respalda ‘A Bruxa’ com contos centenários que remontam à época da colonização dos Estados Unidos, das controvérsias do julgamento de Salem a todo o misticismo das terras do litoral leste. É muito fácil encontrar inúmeras referências de produções anteriores e até mesmo entender a sua importância para o terror e o suspense psicológico: afinal, o filme é nada mais que uma pura experiência sinestésica que desconstrói e reconstrói tais incursões artísticas.