Os filmes de terror têm uma capacidade única de instigar os espectadores de maneiras quase únicas – mergulhando de cabeça na psique humana e provocando o medo ou o desconforto em seu público, além de abrirem espaço para discussões sobre tópicos transgressores e considerados tabus.
E é inegável que a década de 2010 se mostrou uma das melhores para o gênero, principalmente com a popularização das narrativas de terror psicológico e da reinsurgência dos enredos envolvendo mitologias religiosas e contos de época.
Pensando nisso e aproveitando que estamos no mês mais místico e arrepiante do ano, preparamos uma lista elencando os dez melhores filmes de terror dos anos 2010.
Veja abaixo as nossas escolhas e conte para nós qual o seu favorito:
10. CASAMENTO SANGRENTO (2019)
“A coesa narrativa de ‘Casamento Sangrento’ não abre mão do horror e nem da comédia, como já mencionado – e, apesar de caminhar para um convencional final que expurga os pecados cometidos pela família antagonista, termina em um ápice inesperado que nos arranca mais risadas do que suspiros de choque. Obviamente clichês aparecem vez ou outra, mas são bem-vindos em um território fértil que não preza pela originalidade, por assim dizer (o filme não se propõe a revolucionar o gênero, mas a desconstruí-lo com rebeldes pitadas estéticas). E talvez essa seja sua maior e melhor característica” – Thiago Nolla
9. RUA CLOVERFIELD, 10 (2016)
‘Cloverfield – Monstro’ reviveu os filmes em found-footage com uma interessante, ainda que convencional, história de monstros – mas não seria até sua inesperada sequência que a franquia ganharia aclame considerável por parte do público e da crítica. Anunciado em uma surpresa bem-vinda pelo produtora J.J. Abrams, ‘Rua Cloverfield, 10’ é a segunda parte da trilogia cinematográfica que gira em torno da jovem Michelle (encarnada por Mary Elizabeth Winstead), a qual sofre um grave acidente de carro e acorda acorrentada num bunker pelo misterioso Howard (John Goodman). Após entender que ela, na verdade, foi resgata de uma invasão alienígena, Michelle começa a se perguntar se tudo aquilo é real ou se é uma ilusão criada por um psicótico e complexado homem.
8. CISNE NEGRO (2010)
Darren Aronofsky é um cineasta sem qualquer tipo de filtro cinematográfico, razão pela qual é um dos melhores de sua geração. Desde ‘Réquiem para um Sonho’ até o subestimado ‘Noé’, o diretor explora temas da psique humana como ninguém – e não pensa duas vezes antes de deixar bem claro que o destino de todos é a tragédia. Em ‘Cisne Negro’, Aronofsky explora os cruéis bastidores do ballet clássico ao recontar a história do ‘Lago dos Cisnes’. Aqui, a jovem e introvertida bailarina Nina (Natalie Portman) enfrenta sua mãe (Barbara Hershey) e seus demônio interiores para ascender ao papel principal da peça, estando disposta ao impensável para conseguir o que quer.
7. O FAROL (2019)
“A obra funciona como um obscuro conto de fadas marítimo, saído da boca de piratas e lobos do mar e transposto para uma jornada através da mente humana. A incerta dupla mergulha de cabeça nas loucuras mais profanas e inimagináveis, impondo-se em belas e sedutoras sequências que culminam para uma tragédia inconsolável. Até mesmo os esforços mitológicos, presentes no delírio de Winslow com uma suposta sereia encalhada e na maldição rogada por Wake após ser destratado por seu subordinado, não estão soltos dentro do roteiro, amarrando-se de modo alegórico à realidade incrustada num presente cíclico e suspenso” – Thiago Nolla
6. CORRENTE DO MAL (2014)
“‘Corrente do Mal’ é uma baita veneração aos filmes da década de 1970, em especial ‘Halloween: A Noite do Terror’, de John Carpenter. A trilha criada por Rich Vreeland (sob o pseudônimo de Disasterpeace) pulsa a criada por Carpenter para o clássico slasher. Além disso, as longas tomadas sem cortes, privilegiando a reação dos atores, e as cenas que mostram simplesmente adolescentes caminhando por uma rua desértica de um calmo bairro americano enquanto um grande mal espreita, é referência imediata ao filme do psicopata Michael Myers” – Pablo Bazarello
5. BOA NOITE, MAMÃE (2014)
“‘Boa Noite, Mamãe’ é um filme recheado de elipses e pontuado eximiamente com cenas de absoluto silêncio – e o arco de cada um dos personagens funcionam muito melhor quando os lemos sob nenhuma palavra. E aqui, devo penetrar no território dos spoilers: o longa contém, perto do final, o que em muitas outras histórias é chamado de plot twist. É uma revelação que parece bastante evidente desde o começo. Entretanto, é necessário analisar o conjunto da obra em vez de blocos separados. O momento catártico, digno de “O Sexto Sentido”, é uma combinação da melancolia, do sentimento de ameaça e do suspense causados por todas as outras pontas do roteiro” – Thiago Nolla
4. INVOCAÇÃO DO MAL 2 (2016)
Se James Wan havia resgatado as glórias do terror religioso em 2013 com ‘Invocação do Mal’, o aclamado cineasta conseguiria superar a si mesmo três anos mais tarde com o lançamento do segundo capítulo dessa já icônica saga. Conduzindo com maestria um jogo de “gato e rato” distorcido e remodelado, além de contar com atuações irretocáveis de Vera Farmiga e Patrick Wilson, a trama acompanha os famosos demonologistas Lorraine e Ed Warren, que viajam até o norte de Londres. Lá, eles ajudam uma mãe solteira que cria quatro filhos sozinha em uma casa atormentada por espíritos malignos.
3. HEREDITÁRIO (2018)
Em 2018, Ari Aster fazia sua gloriosa estreia na sétima arte com o poderoso longa-metragem ‘Hereditário’ – que, em pouco tempo, sagrou-se um dos filmes mais elogiados pela crítica e pelo público. Arquitetando uma mitologia bastante original e contando com uma performance aplaudível de Toni Collette (em um dos melhores papéis de sua carreira), a produção tirou o fôlego e o sono dos espectadores com uma narrativa pungente e ambiciosa. Não é por qualquer razão que o título ocupe o terceiro lugar da nossa lista – e, ano após ano, envelheça como uma boa garrafa de vinho.
2. NÓS (2019)
Enquanto ‘Corra!’ colocou Jordan Peele no centro dos holofotes e o catapultou ao estrelato no cenário mainstream, ‘Nós’ se configura, ao menos por enquanto, como sua magnum opus. Apesar de se valer de certas fórmulas dos filmes de suspense psicológico, incluindo reviravoltas de tirar o fôlego e que adornam com ainda mais beleza o ato de encerramento do longa-metragem, o resultado é impressionante do começo ao fim pelas subtramas que acompanham o “andar da carruagem”. Para além da performance irretocável de Lupita Nyong’o como Adelaide e como seu duplo, Red e de um elenco de peso, a condução crítica promovida pelo diretor é on point em cada uma de suas camadas.
1. A BRUXA (2015)
Robert Eggers, mergulhando em seu primeiro trabalho cinematográfico de grande reconhecimento, respalda ‘A Bruxa’ com contos centenários que remontam à época da colonização dos Estados Unidos, das controvérsias do julgamento de Salem a todo o misticismo das terras do litoral leste. É muito fácil encontrar inúmeras referências de produções anteriores e até mesmo entender a sua importância para o terror e o suspense psicológico: afinal, o filme é nada mais que uma pura experiência sinestésica que desconstrói e reconstrói tais incursões artísticas.
BÔNUS: MÃE! (2017)
‘mãe!’ é talvez um dos filmes mais subestimados de todos os tempos justamente por não se prender a nenhum convencionalismo narrativo e arquitetar uma jornada épica, bíblica e de tirar o fôlego em absolutamente cada uma das suas sequências. Funcionando como mais uma bela alegoria de Darren Aronofsky para a mitologia católica que está presente em nossa cultura há mais de dois mil anos, o longa se assemelha a um agonizante pesadelo que foca na conturbada relação da personagem-titular (Jennifer Lawrence) e de seu marido (Javier Bardem), na qual ela se submete das mais diversas formas às loucuras do patriarca da família enquanto observa impotente sua casa se desmoronar à sua volta.