Os filmes musicais costumam ter um espaço especial no coração dos cinéfilos – principalmente por aqueles que são apaixonados por teatro musical. Afinal, ambos estão conectados por características bastante similares, visto que as produções cinematográficas do gênero também são acompanhadas de canções intrinsecamente conectadas com a narrativa e com o arco de cada um dos personagens, além de dança e de um ensemble que serve de apoio a determinado protagonista ou coadjuvante.
Desde o início da sétima arte, produções variadas conquistaram o público e a crítica – e, nas últimas duas décadas, é notável como o interesse do público continuou firme em relação a produções do gênero. Apenas a encargo de exemplificação, títulos como ‘Moulin Rouge – Amor em Vermelho’ e ‘Chicago’ ajudaram a revitalizar a popularização dos musicais, enquanto ‘La La Land: Cantando Estações’ e o remake de ‘Amor, Sublime Amor’ mergulharam em um sucesso instantâneo.
Pensando nisso, preparamos uma breve lista elencando os dez melhores filmes musicais do século XXI. Para tanto, não estamos levando em consideração produções animadas (como as da Walt Disney Studios), e sim obras em live-action.
Veja abaixo as nossas escolhas e conte para nós qual o seu favorito:
10. ENCANTADA (2007)
Em 2007, a Walt Disney Studios promovia uma interessante revolução dentro do subgênero das adaptações de contos de fada que imortalizou ao longo da história. ‘Encantada’, estrelado por ninguém menos que a icônica Amy Adams, é uma releitura muito interessante e bem-vinda dessas adoradas fábulas que faz questão de garantir que os elementos musicais sejam autorreferenciados em uma divertida e cândida aventura. Na trama, a princesa Giselle é expulsa por uma rainha malvada do seu próprio conto de fadas e vai parar em Manhattan, Nova York, onde música, mágica e finais felizes já não são tão fáceis de encontrar. Giselle está completamente perdida no novo mundo, até que um advogado divorciado resolve ajudá-la. A situação se complica quando o príncipe de sua história chega para salvá-la.
9. HAIRSPRAY (2007)
“Baseado na peça homônima da Broadway e no subversivo clássico de John Waters dos anos 1980 (que inclusive trouxe a icônica Divine em um de seus últimos papéis antes de falecer), a história nos leva para a pequena cidade de Baltimore, no começo dos anos 1960, e acompanha a divertida Tracy Turnblad (Nikki Blonsky em sua estreia no cenário cinematográfico), uma garota plus-size cujo sonho é participar do maior programa de televisão local, o The Corny Collins Show, quebrando os paradigmas estéticos da época e, ao mesmo tempo, lutando contra a crescente segregação racial que ocorria à sua volta. Movido a músicas esplendorosas, performances irretocáveis e coreografias exuberantes, ‘Hairspray’, de fato, se tornou uma das melhores produções do século e, até hoje, é adorado por inúmeros fãs do gênero” – Thiago Nolla
8. OS MISERÁVEIS (2013)
Tom Hooper tornou-se um infame nome do cenário fílmico nos últimos anos em virtude da inexplicável adaptação de ‘Cats’ em 2019. Porém, seis anos antes, Hooper tomou em mãos a árdua tarefa de adaptar o clássico romance (e a subsequente peça da Broadway) ‘Os Miseráveis’ para as telonas. Para além das performances impecáveis de nomes como Hugh Jackman e Anne Hathaway (esta condecorada com o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante), o épico histórico é um musical memorável, movido por peças eximiamente bem executadas e um comprometimento aplaudível em recontar, de forma dramatizada e romântica, um dos capítulos mais conhecidos da história da França.
7. NASCE UMA ESTRELA (2018)
“É quase óbvio imaginar o que vem a seguir: os dois acabam se apaixonando e se tornando um casal dos sonhos até que barreiras introspectivas começam a surgir e a colocar à prova o amor que um sente pelo outro. Entretanto, antes de chegarmos a esse ponto, é preciso falar sobre o momento de maior conexão entre os dois – momento no qual Gaga e Cooper rendem-se a “Shallow”, canção que definitivamente traduz todas as mensagens do longa. Em uma combinação de planos longos e uma fotografia ao mesmo tempo fabulesca e realista, Ally ganha seu primeiro gostinho da fama ao cantar com o astro. A construção cênica é belíssima, seguindo um padrão fotográfico-artístico que centraliza a dupla e abre margens para reafirmar a química que os dois exalam o tempo todo” – Thiago Nolla
6. LA LA LAND: CANTANDO ESTAÇÕES (2016)
“Cada elemento estético, visual ou sonoro, é pensado com extrema cautela pelo diretor e pelo competente time que o acompanha. Temos um conflito de tons que não fogem muito do espectro primário e secundário da paleta de cores clássica, servindo, ao mesmo tempo, como individualização e massificação de um grupo de pessoas com destino similar – seja nos palcos, nas telas ou nos bastidores. Ao mesmo tempo, essa sagaz escolha imagética é transferida para Mia e Seb, que se convergem em uma complementaridade belíssima, desde o embate de personalidades à visão de mundo que cada um possui” – Thiago Nolla
5. MOULIN ROUGE – AMOR EM VERMELHO (2001)
“Baz Luhrmann trouxe para os cinemas uma obra que fala sobre o amor em um contexto de outros séculos, por dentro da boemia e das questões que se amontoam sobre as classes sociais. ‘Moulin Rouge’, possui um narrador personagem detalhista, engraçado, atrapalhado, apaixonado, que transforma sentimentos em palavras. Seguindo lema de que: ‘A grande coisa que aprenderá na vida é amar’, somos testemunhas do contraponto do mágico com o trágico numa Paris quase em 1900. Vencedor de dois Óscares das oito categorias que fora nomeado, indicado também à Palma de Ouro em Cannes em 2001, é protagonizado por Nicole Kidman e Ewan McGregor.” – Raphael Camacho
4. SWEENEY TODD: O BARBEIRO DEMONÍACO DA RUA FLEET (2007)
“Apesar do tenso e perigoso ambiente, esse longa-metragem configura-se como um incrível musical. John Logan (que ganharia ainda mais fama com sua rendição ao terror com a série ‘Penny Dreadful’) fica responsável pela adaptação da peça e mesmo que não traga todas as incríveis músicas, entrega-se de corpo e alma para relê-las dentro de um escopo satisfatório. Desde as suaves baladas como “Johanna” e “Nothing’s Gonna Hurt You”, passando pelo iconoclasta “There’s No Place Like London” e encontrando seu ápice com uma das canções mais memoráveis do filme, intitulada “A Little Priest”, é incrível notar como o roteirista consegue criar pequenos núcleos cênicos que funcionam dentro de suas próprias completudes tanto de modo isolado quanto justapostos; em outras palavras, os blocos sequenciados buscam uma maestria inenarrável e que, em grande parte, encontram aproveitamento máximo” – Thiago Nolla
3. AMOR, SUBLIME AMOR (2021)
“O principal feito da obra é sua atemporalidade: Steven Spielberg em momento algum resvala no anacronismo – pelo contrário, se mostra ciente do que quer fazer e conduz cada enquadramento e sequência com naturalidade invejável, resplandecendo cores vivazes e uma fotografia requintada que nunca deseja ser mais do que consegue. Mas isso não é tudo, visto que a própria estética oferecida aos espectadores abraça a arte teatral e rompe as barreiras entre as telonas e os palcos, levando-nos a conhecer um pedacinho esquecido de uma antiga Broadway. No topo de tudo isso, coreografias cuidadosamente demarcadas e absorvidas por um corpo de baile on point que nunca decepciona – e um roteiro assinado pelo vencedor do Pulitzer Tony Kushner, que imprime sua identidade sem perder a bem-vinda reverência ao clássico” – Thiago Nolla
2. HEDWIG: ROCK, AMOR & TRAIÇÃO (2001)
Em 2001, John Cameron Mitchell ficou responsável por adaptar a peça homônima off-Broadway ‘Hedwig: Rock, Amor e Traição’ para os cinemas, carregando consigo o fardo de honrar a incrível história da personagem-titular – e o resultado não decepcionou em nenhum aspecto. A tragicomédia gira em torno de Hansel, uma estrela do rock desconhecida que sonha em se tornar um astro nos Estados Unidos. Seu caminho acaba se cruzando com o de um belo americano, que lhe promete amor, liberdade e a realização de todos os seus desejos. Entretanto, para que isso se torne realidade, ele precisará fazer uma operação de mudança de sexo, admitindo-se como a icônica Hedwig.
1. CHICAGO (2002)
“Levando em conta que a atmosfera recria a crescente disparidade de gênero da década de 1920 nos Estados Unidos, Roxie (Renée Zellweger) tenta alegar legítima defesa. Porém, tentando contrapor-se às palavras da figura masculina da casa, seu marido Amos (John C. Reilly), ela acaba sendo presa e levada para a prisão, dentro da qual irá esperar por um julgamento, o qual nos é premeditado ser contra sua sobrevivência e a favor de uma dura pena de morte – o enforcamento ou a cadeira elétrica. Mas nada disso seria compreendido caso não fosse uma introdução de peso em um dos prólogos mais bem-montados de todos os tempos: a entrada de Velma Kelly.
Catherine Zeta-Jones, em todo seu carisma e talento que resgata de performances predecessoras, dá vida à companheira de cela de Roxie e principal ídolo ao qual a aspirante à dançarina se espelha. Velma é um nome conhecido e, juntamente à sua irmã Veronica, realiza um dos shows mais aguardados da cidade. Quer dizer, isso até ser pega pela polícia e ser acusada de homicídio duplo – mas não antes de nos dar uma pequena palhinha de sua capacidade artística com “All That Jazz”, um dos hinos do musical. O apreço por esse gênero musical alcança novos patamares aqui e, aliado a uma montagem anacrônica e paralela, serve como modo de aproximação de duas personalidades tão diferentes e que, no final das contas, se complementam” – Thiago Nolla
MENÇÃO HONROSA: TODOS ESTÃO FALANDO SOBRE JAMIE (2021)
“O drama coming-of-age encontra bastante sucesso estético ao diferenciar os dois mundos do protagonista: na escola, ele se amalgama em meio a pessoas que contentam-se com a zona de conforto e que almejam a carreiras que darão a elas o mínimo para sobreviver; nos palcos e na loja de roupas delegada por Hugo, ele é envolvido pelo glamour dos vestidos e pelo libertação promovida pelos sapatos de salto alto e pelas maquiagens carregadas de glitter. Não é surpresa que, prestes a fazer sua estreia como Mimi Me, Jamie sinta a euforia dos artistas, dominando os palcos como ninguém e tornando-se tópico principal de discussão na cidade” – Thiago Nolla