Uma das coisas mais legais da sétima arte é nos apresentar aquele personagem inesquecível. Seja através de um comportamento único ou diálogos impactantes e memoráveis (os quais iremos proferir incansavelmente pelos próximos anos), alguns personagens nos marcam tanto que podem inclusive influenciar nossas vidas. Curiosamente, muitas vezes tais personagens sequer são os protagonistas da história, mas possuem a capacidade de roubar a atenção para si. Pensando nisso, decidimos formular uma nova lista, elegendo os dez personagens que não irão abandonar nossos corações e almas tão cedo. Com vocês, os melhores personagens de 2016 no cinema. Comente e eleja os seus também.
10. Rachel Watson (Emily Blunt) – A Garota no Trem
Nossa primeira parada na lista é um verdadeiro “trem descarrilado”, com o perdão do trocadilho infame. Inicialmente comparada com Amy Elliott Dunne, a Garota Exemplar de Rosamund Pike, ambas são semelhantes no comportamento errático e possível distorção da verdade. No entanto, a proximidade termina por aí, já que Rachel funciona mais num nível autodestrutivo. Alcoólatra, de temperamento difícil, ela assedia o ex-marido e sua nova esposa, atormentando a família do sujeito.
Quando ela grita “lobo”, jogando a luz num possível assassinato, é apenas natural que haja grande dúvida quanto a credibilidade da história saída de sua boca. Rachel é uma protagonista dúbia e cheia de defeitos, sobrando poucas qualidades redentoras para nos apegarmos. Ou seja, um prato cheio para qualquer ator. A talentosa Emily Blunt entrega uma atuação comprometida, acertando todas as nuances exigidas. Um momento em especial, a atriz despe a alma de sua protagonista para o psicólogo vivido por Edgar Ramírez e chega a emocionar.
9. Hobie Doyle (Alden Ehrenreich) – Ave, César!
Imagine um ator que não consegue decorar suas falas. Obviamente, ele se traduz no pior pesadelo de diretores. No caso de Hobie Doyle, a culpa não é dele, já que sua carreira foi dominada por filmes de caubói, nos quais precisava falar pouco, realizar façanhas de ação e eventualmente cantar. Algo típico de atores da época de ouro em Hollywood que reinaram no gênero.
Esta gostosa homenagem dos irmãos Coen ao classudo cinema antigo americano conta com um grande elenco e momentos pra lá de divertidos. Quem conseguiu roubar muitos deles, ou todas as cenas em que apareceu, foi o jovem talentoso Ehrenreich – que não por menos abocanhou o papel de Han Solo em um derivado de Star Wars sobre as origens do personagem. Doyle tem as tiradas mais engraçadas, e em parte o humor é favorecido por sua incapacidade de atuar. Ele é doce e ingênuo, mas de bobo não tem nada, já que além de saber manusear como ninguém um laço e descolar um romance com a adorável Carlotta Valdez (Veronica Osorio), ainda é o escolhido do estúdio para desbaratinar uma complexa trama de espionagem.
8. Jaylah (Sofia Boutella) – Star Trek: Sem Fronteiras
O ano de 2016 foi bom para fortes protagonistas femininas em filmes blockbusters. É inegável o avanço que este tipo de personagem vem fazendo culturalmente, e uma das mais interessantes do ano foi a guerreira Jaylah do novo Star Trek, cujo nome e personalidade foram baseadas em Jennifer Lawrence no filme Inverno da Alma (J-Law, Jaylah – sacaram?). Quem afirma a inspiração é o próprio roteirista da obra, o ator Simon Pegg.
Jaylah se une à equipe da Enterprise para derrotar os planos do vilão Krall (Idris Elba), mas possui sua própria agenda e não necessita de ajuda em sua missão. Forte e independente, Jaylah é sinônimo de boa personagem feminina nas telas, daquele tipo que está bem longe de servir apenas como interesse amoroso do mocinho, ou existir para ser a donzela em perigo. Ajuda muito ter uma intérprete como a bela e talentosa algeriana Sofia Boutella, que já havia dado o recado com a vilã Gazelle, de Kingsman: Serviço Secreto (2015). Em breve, a atriz viverá outra vilã icônica em A Múmia, enfrentando o astro Tom Cruise.
Ps. Que maquiagem sensacional a confeccionada para a personagem, garantida de fazer sucesso entre as cosplayers.
7. K-2SO (voz de Alan Tudyk) – Rogue One: Uma História Star Wars
Saindo de uma famosa superprodução espacial para outra, 2016 foi um ano bom para as franquias das estrelas, seja a Jornada ou a Guerra. Em quesito de personagem feminina empoderada, Jaylah conseguiu se destacar em relação à aguada Jyn de Felicity Jones, no entanto, Rogue One tem mais a oferecer. É indiscutível, seja você um fã ardoroso, um fã casual, ou simplesmente um adepto do universo criado por George Lucas, todas as opiniões batem sobre um quesito específico. O androide K-2SO é o melhor personagem desta primeira superprodução derivada da cronologia oficial.
Sarcástico e sem filtro algum, o ser robótico (que possui a voz quase irreconhecível do ator Alan Tudyk) pertencente ao império, teve seu sistema alterado para servir aos rebeldes, algo como o Exterminador de Schwarzenegger após o segundo filme daquela franquia. O fato o transformou em alguém que ajuda mesmo a contragosto, mas é cru e direto. As melhores tiradas deste filme sombrio vêm dele, que serve de alívio cômico para o resto do clima pesado. K-2SO é quase um comediante ranzinza de stand up e por isso o amamos tanto.
6. Michelle (Mary Elizabeth Winstead) – Rua Cloverfield, 10
Mais uma mulher forte e empoderada encontra lugar na lista. O interessante aqui neste thriller gelado, é o arco que Michelle, a personagem de Winstead, vive durante a projeção. Nas primeiras cenas, acompanhamos sua viagem de fuga, quando ela resolve abandonar o noivo. Ao longo, é revelado pela própria que ela nunca termina nada, sempre foge quando um grande problema se apresenta. Ao ficar confinada num abrigo subterrâneo, a personagem irá enfrentar o maior desafio de sua vida.
O dono do local, e seu captor, Howard (John Goodman, igualmente ótimo), avisa que a cidade, e provavelmente o país, sofreu ataques químicos poderosos e que sua única chance de sobreviver é debaixo da terra ao lado dele. E agora, a história é verdadeira ou não? Seja como for, este eletrizante suspense tem a capacidade de nos deixar tentando adivinhar o que virá a cada virada, criando um grande elo com esta mulher decidida a escapar. O desfecho de Michelle nos deixa querendo ver seus próximos passos, analisando seu crescimento pessoal como uma líder nata. No entanto, como já foi divulgado, o próximo filme desta antologia será algo totalmente novo, passado no espaço, e com novos personagens.
5. Jackson Healy (Russell Crowe) e Holland March (Ryan Gosling) – Dois Caras Legais
Ryan Gosling muito provavelmente será indicado ao Oscar de melhor ator no ano que vem por seu desempenho em La La Land: Cantando Estações; e Russell Crowe já tem sua estatueta enfeitando a prateleira de casa por Gladiador (2000). Esse ano, ninguém foi mais legal e descolado do que a dupla, que personificou uma bela homenagem ao cinema da década de 1970, revivendo as infames parcerias de detetives.
Enquanto o March de Gosling é o embromador de fala mansa, o Healy de Crowe é o truculento casca-grossa. Essa combinação letal fez dos personagens alguns dos melhores do ano. A química perfeita e atuações puxadas para o humor de forma certeira, mostrou que estes atores sérios possuem também bastante timing cômico. O desejo ao final é apenas um: novas aventuras com a dupla de detetives particulares mais disfuncional e hilária do ano.
4. Jacob Kowalski (Dan Fogler) – Animais Fantásticos e Onde Habitam
2016 também ficará conhecido como o ano dos derivados de franquias milionárias. Enquanto Star Wars aposta num exemplar mais sombrio e sem a alegria esperada, a saga Harry Potter repete os elementos anteriores, adicionando muita magia novamente para os fãs. A história do zoólogo vivido por Eddie Redmayne pode não ter a mesma graça dos estudantes de Hogwarts, mas o novo longa deixou muito pouco a desejar para os fãs. A novidade mais surpreendente (dentre algumas) foi o destaque dado a um personagem não mágico – aqui conhecido como no majs (os famosos trouxas).
Nunca na franquia tamanha importância a um humano “civil” havia sido dada, e tal trouxa fez por onde. Vivido de forma comedida e doce por Dan Fogler, Jacob, um aspirante a padeiro, rouba todas as cenas em que aparece, servindo de olhos para o público no desbravamento deste admirável novo mundo. Jacob é tão carismático que consegue tirar os holofotes de Redmayne e Katherine Waterston (Tina), formando com Queenie (Alison Sudol) o casal mais querido do longa. Seu final é de deixar lágrimas rolarem.
3. Judy Hopps (voz de Ginnifer Goodwin) – Zootopia
Voltando a falar de personagens femininas fortes e de empoderamento, este é justamente um dos temas desta fantástica animação da Disney (sem a Pixar). Judy Hopps é uma coelhinha que sonha em ser policial. Ela é aplicada e tem as melhores notas, acima de muitos de sua classe. Só existe um problema, sua família deseja que ela trabalhe com eles no campo, já que ser policial não é trabalho para uma coelha.
Mas a valente pequena persiste, não se deixando abater pelos percalços. Zootopia traz a velha mensagem Disney de perseguir e não desistir dos sonhos, adaptado para os tempos atuais, nos quais não existem barreiras que nos separam de nossos objetivos. Em um trabalho de grandalhões, a miúda Hopps excede, por pura força de vontade, mostrando que um bom serviço é feito de dentro, não importando sua raça ou sexo.
2. Harleen Quinzel / Arlequina (Margot Robbie) – Esquadrão Suicida
Esquadrão Suicida pode ser sido um filme genérico, sem qualquer brilho ou originalidade em sua confecção, mas uma coisa o filme conseguiu fazer bem (e não tinha muito como errar), criar uma das personagens mais icônicas do ano no cinema. Ou melhor, adaptar. A Arlequina que vemos na tela é a junção de vários elementos formados da mesma personagem através de mídias como quadrinhos, desenho animado e jogos. Seja como for, nas formas de Margot Robbie a criminosa de Gotham City fez seu debute nas telonas. E justiça seja feita, Robbie tirou de letra, não desapontando em relação ao que havíamos visto em todas as prévias: trailers, comerciais e imagens.
Robbie é a definição da Arlequina moderna e o ponto alto do longa. Poderia ser melhor? Sim. Suas tiradas poderiam ser mais afiadas e sua loucura/crueldade mais intensificada para transcender um cartoon. Do jeito que está, deu seu recado, sem comprometer. O desejo é pela volta da personagem em uma produção mais comprometida com o todo. Em um ano de personagens femininas tão fortes, vide as citadas nesta lista (Rachel, Jaylah, Michelle e Judy Hopps), a Arlequina talvez seja a que menos tenha a ver com feminismo e empoderamento, já que é puro sex appeal, dentro de uma relação abusiva. Mesmo assim, sua psique abalada é mais do que interessante de ser explorada.
1. Wade Wilson (Ryan Reynolds) – Deadpool
Deadpool é o cara. Um personagem tão divertido que sua imagem devia ser associada à palavra no dicionário. O mercenário tagarela da Marvel transcendeu perfeitamente dos quadrinhos para as telonas, se tornando o filme de censura alta mais elogiado do ano, além do mais divertido – eu já mencionei isso? A quebra da quarta parede, artifício engraçadinho e descolado no qual os personagens falam com a câmera e com o público, ganha vida como nunca anteriormente no longa.
Embora a trama seja muito parecida com qualquer outra história de origem de um herói, é seu protagonista que faz toda a diferença. E isso não seria possível sem o empenho de seu intérprete e produtor Reynolds, que deu seu sangue para que o projeto saísse do papel exatamente dessa forma. Uma metralhadora de gags e tiradas por minuto, Wade ‘Deadpool’ Wilson conseguiu o respeito que poucos dos seus amigos conquistaram, e descolou inclusive uma indicação ao Globo de Ouro para seu alter ego. Que moral!