domingo , 22 dezembro , 2024

Os 35 Anos da Revolução Cinematográfica da Pixar

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É difícil imaginar um mundo sem a revolução cinematográfica e narrativa promovida pelos estúdios Pixar. Hoje subsidiária da imperiosa Walt Disney Pictures, a companhia surgiu de forma independente em 1986 e alcançou sucesso tremendo com construções fílmicas atemporais e destinadas para, de fato, qualquer público, sejam crianças ou adultos. Desde a magistral estreia de Toy Story até o recente ‘Soul’, que debutou há alguns meses na plataforma do Disney+, a Pixar sempre buscou se modernizar e se reinventar, fosse nas técnicas de animação, fosse no modo de trazer as mais simples histórias à vida de uma forma inimaginável e envolvente.

É um fato dizer que praticamente todos já assistiram a algum título desse irretocável panteão, motivo pelo qual estende-se ao longo das décadas com contínua e crescente influência. Originada na década de 1970 através de um time de cientistas da computação, que desejavam trazer algo de novo à computação gráfica e ao cinema animado, a mente por trás do estúdio foi Ed Catmull, que foi contratado pela Lucasfilm Ltd. em 1979 para supervisionar sua nascente divisão computacional – acompanhado de colegas que estudaram com ele no Instituto de Tecnologia de Nova York. Alguns anos depois, a Lucasfilm contratou o lendário John Lasseter, para integrar a equipe; conhecido por seu trabalho como animador da Casa Mouse, ele tomou vantagem das investidas tecnológicas contemporâneas de seu novo empregador para criar curtas-metragens animados.



Oferecendo uma aplicabilidade gráfica bem maior do que a encontrada no cenário cinematográfico àquela época, a Pixar tinha diversas cartas na manga para entregar ao público e aos seus investidores algo bastante diferente do que conhecíamos até então. O próprio nome, um aceno metalinguístico e “ibérico” à arte de criar filmes, já apostava em ousadias criativas que seriam levadas às várias obras e a uma onda de aclamação e prêmios que traria de volta a Era de Ouro da Animação desde a reelaboração oitentista da Disney.

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Antes da primeira incursão em longa-metragem, a Pixar canalizava esforços em comerciais animados para a televisão; em 1991, entrou em um acordo com a Casa Mouse para desenvolver, produzir e distribuir três filmes em animação, reorganizando-se profundamente e passando um considerável tempo trabalhando em Toy Story, que chegou aos cinemas quatro anos mais tarde. O apaixonante e inovador enredo girou em torno de brinquedos antropomorfizados que tinham suas próprias vontades e suas próprias personalidades, escondendo-se dos humanos para preservarem esse segredo impressionante.

Não é surpresa que a estreia oficial da Pixar nas telonas tenha alcançado sucesso crítico e comercial absurdos. Além de arrecadar mais de US$370 milhões ao redor do mundo, teve aclamação universal pelos especialistas e, desde então, calcou uma trajetória exuberante de prêmios e legados – incluindo um Oscar honorário por seu impacto na tecnologia fílmica através da computação gráfica. Conquistando outras três indicações na premiação, o filme também levou para casa oito Annie Awards, incluindo Melhor Animação – isso sem mencionar as várias sequências e spin-offs que permanecem arrebatando espectadores das mais variadas gerações. A partir de então, o efeito Pixar começava a mostrar sua supremacia ao planeta.

Inúmeros setores do entretenimento e da ciência desejavam utilizar as técnicas pioneiras da companhia em seus esforços futuros. Os construtores de chips gráficos queriam utilizar a imagética computacional similar ao longa-metragem, enquanto desenvolvedores de jogos se inspiravam na replicação exata da animação para videogames; pesquisadores da robótica, por sua vez, se interessavam em reconstruir máquinas de inteligência artificial com traços mais humanos, como os protagonistas e coadjuvantes de Toy Story. A literatura também sentiu impacto no período pós-debute do filme, com autores refletindo sobre o resgate da estética humanista às narrativas – e até mesmo Beyoncé levou a icônica frase “ao infinito e além” para uma de suas músicas mais conhecidas, “Singles Ladies”.

O fato é que, sem a Pixar, franquias como Shrek, ‘Como Treinar seu Dragão’ e Meu Malvado Favorito não existiriam – ou teriam que se respaldar nos convencionalismos do 2D, que já eram utilizados desde os anos 1930. A modernidade voltava a se reestabelecer com ares de originalidade, com detalhes de tirar o fôlego e com personagens que ficariam marcados na história. Logo, era só uma questão de tempo até a companhia chamar atenção de outras – inclusive a da Casa Mouse, que acabou comprando-a em 2006 por quase US$7,5 bilhões. Mas não isso não impediu que o estúdio se mantivesse com uma atmosfera bem diferente da cultivada pela Disney e conseguisse se renovar numa constância surpreendente e numa abordagem artística tocante.

Com seu universo único, a Pixar ganhou os mais diversos públicos por tradições divertidas – como os múltiplos easter eggs que reúnem as animações em uma única cronologia – e por interpelações que rechaçavam o fechado círculo dos realizadores e abria portas para recém-formados de faculdades locais e de mentes novas que a auxiliariam em sua obstinada evolução. Mais do que isso, a densa análise de temas sociológicos e antropológicos, transferidos a personagens inesperados, contribuiria para a adesão quase imediata de qualquer um que ousasse se aventurar por tramas vibrantes.

Temos, por exemplo, a crítica ao autoritarismo e a luta de classes traduzida na organicidade de um formigueiro em Vida de Inseto; a necessidade de seguir os sonhos e compreender que a vida é maior do que imaginamos em Ratatouille; a apreciação da simplicidade em Carros; e a importância da família em Procurando Nemo. Cada um dos filmes criados pela companhia une-se em uma similaridade evocativa e metafísica, mas diverge no tocante a seus enfoques – ora, não é à toa que ela seja uma das poucas com um catálogo quase impecável. Detentora de nada menos que 20 prêmios da Academia e 11 Grammy Awards, essa aplaudível corporação pode até ter tido seus altos e baixos, mas é inegável que mantém-se como uma das peças fundamentais do que entendemos hoje por cinema.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Os 35 Anos da Revolução Cinematográfica da Pixar

É difícil imaginar um mundo sem a revolução cinematográfica e narrativa promovida pelos estúdios Pixar. Hoje subsidiária da imperiosa Walt Disney Pictures, a companhia surgiu de forma independente em 1986 e alcançou sucesso tremendo com construções fílmicas atemporais e destinadas para, de fato, qualquer público, sejam crianças ou adultos. Desde a magistral estreia de Toy Story até o recente ‘Soul’, que debutou há alguns meses na plataforma do Disney+, a Pixar sempre buscou se modernizar e se reinventar, fosse nas técnicas de animação, fosse no modo de trazer as mais simples histórias à vida de uma forma inimaginável e envolvente.

É um fato dizer que praticamente todos já assistiram a algum título desse irretocável panteão, motivo pelo qual estende-se ao longo das décadas com contínua e crescente influência. Originada na década de 1970 através de um time de cientistas da computação, que desejavam trazer algo de novo à computação gráfica e ao cinema animado, a mente por trás do estúdio foi Ed Catmull, que foi contratado pela Lucasfilm Ltd. em 1979 para supervisionar sua nascente divisão computacional – acompanhado de colegas que estudaram com ele no Instituto de Tecnologia de Nova York. Alguns anos depois, a Lucasfilm contratou o lendário John Lasseter, para integrar a equipe; conhecido por seu trabalho como animador da Casa Mouse, ele tomou vantagem das investidas tecnológicas contemporâneas de seu novo empregador para criar curtas-metragens animados.

Oferecendo uma aplicabilidade gráfica bem maior do que a encontrada no cenário cinematográfico àquela época, a Pixar tinha diversas cartas na manga para entregar ao público e aos seus investidores algo bastante diferente do que conhecíamos até então. O próprio nome, um aceno metalinguístico e “ibérico” à arte de criar filmes, já apostava em ousadias criativas que seriam levadas às várias obras e a uma onda de aclamação e prêmios que traria de volta a Era de Ouro da Animação desde a reelaboração oitentista da Disney.

Antes da primeira incursão em longa-metragem, a Pixar canalizava esforços em comerciais animados para a televisão; em 1991, entrou em um acordo com a Casa Mouse para desenvolver, produzir e distribuir três filmes em animação, reorganizando-se profundamente e passando um considerável tempo trabalhando em Toy Story, que chegou aos cinemas quatro anos mais tarde. O apaixonante e inovador enredo girou em torno de brinquedos antropomorfizados que tinham suas próprias vontades e suas próprias personalidades, escondendo-se dos humanos para preservarem esse segredo impressionante.

Não é surpresa que a estreia oficial da Pixar nas telonas tenha alcançado sucesso crítico e comercial absurdos. Além de arrecadar mais de US$370 milhões ao redor do mundo, teve aclamação universal pelos especialistas e, desde então, calcou uma trajetória exuberante de prêmios e legados – incluindo um Oscar honorário por seu impacto na tecnologia fílmica através da computação gráfica. Conquistando outras três indicações na premiação, o filme também levou para casa oito Annie Awards, incluindo Melhor Animação – isso sem mencionar as várias sequências e spin-offs que permanecem arrebatando espectadores das mais variadas gerações. A partir de então, o efeito Pixar começava a mostrar sua supremacia ao planeta.

Inúmeros setores do entretenimento e da ciência desejavam utilizar as técnicas pioneiras da companhia em seus esforços futuros. Os construtores de chips gráficos queriam utilizar a imagética computacional similar ao longa-metragem, enquanto desenvolvedores de jogos se inspiravam na replicação exata da animação para videogames; pesquisadores da robótica, por sua vez, se interessavam em reconstruir máquinas de inteligência artificial com traços mais humanos, como os protagonistas e coadjuvantes de Toy Story. A literatura também sentiu impacto no período pós-debute do filme, com autores refletindo sobre o resgate da estética humanista às narrativas – e até mesmo Beyoncé levou a icônica frase “ao infinito e além” para uma de suas músicas mais conhecidas, “Singles Ladies”.

O fato é que, sem a Pixar, franquias como Shrek, ‘Como Treinar seu Dragão’ e Meu Malvado Favorito não existiriam – ou teriam que se respaldar nos convencionalismos do 2D, que já eram utilizados desde os anos 1930. A modernidade voltava a se reestabelecer com ares de originalidade, com detalhes de tirar o fôlego e com personagens que ficariam marcados na história. Logo, era só uma questão de tempo até a companhia chamar atenção de outras – inclusive a da Casa Mouse, que acabou comprando-a em 2006 por quase US$7,5 bilhões. Mas não isso não impediu que o estúdio se mantivesse com uma atmosfera bem diferente da cultivada pela Disney e conseguisse se renovar numa constância surpreendente e numa abordagem artística tocante.

Com seu universo único, a Pixar ganhou os mais diversos públicos por tradições divertidas – como os múltiplos easter eggs que reúnem as animações em uma única cronologia – e por interpelações que rechaçavam o fechado círculo dos realizadores e abria portas para recém-formados de faculdades locais e de mentes novas que a auxiliariam em sua obstinada evolução. Mais do que isso, a densa análise de temas sociológicos e antropológicos, transferidos a personagens inesperados, contribuiria para a adesão quase imediata de qualquer um que ousasse se aventurar por tramas vibrantes.

Temos, por exemplo, a crítica ao autoritarismo e a luta de classes traduzida na organicidade de um formigueiro em Vida de Inseto; a necessidade de seguir os sonhos e compreender que a vida é maior do que imaginamos em Ratatouille; a apreciação da simplicidade em Carros; e a importância da família em Procurando Nemo. Cada um dos filmes criados pela companhia une-se em uma similaridade evocativa e metafísica, mas diverge no tocante a seus enfoques – ora, não é à toa que ela seja uma das poucas com um catálogo quase impecável. Detentora de nada menos que 20 prêmios da Academia e 11 Grammy Awards, essa aplaudível corporação pode até ter tido seus altos e baixos, mas é inegável que mantém-se como uma das peças fundamentais do que entendemos hoje por cinema.

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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