A palavra de ordem atualmente em Hollywood é: “franquia”. Nos EUA a sigla mais proferida pelos grandes estúdios é I.P. (abreviação para propriedade intelectual). Ou seja, as marcas registradas, que se resumem a títulos com grande potencial lucrativo. Se um filme dá certo hoje em dia, se vira sucesso de crítica e principalmente conquista uma boa bilheteria, a probabilidade de render uma continuação, ou algumas, é quase de cem por cento. Cinema segue sendo a maior diversão, mas é também acima de tudo um negócio, assim mesmo aquele filme pequeno e independente, de drama, se cair no gosto do público, pode vir a gerar continuações – como é o caso da trilogia de Richard Linklater, ‘Antes do Amanhecer’ (1995), ‘Antes do Pôr-do-Sol’ (2004) e ‘Antes da Meia-Noite’ (2013).
Hoje, até mesmo filmes que foram sucesso, mas não pediam uma continuação, tiveram sequências anunciadas, como ‘Gladiador’ (2000), ‘Twister’ (1996), ‘Fogo Contra Fogo’ (1995) e ‘A Outra Face’ (1997). É interessante notar esse processo do nascimento de uma franquia querida do grande público. Tudo precisa começar, é claro, do sucesso de um único filme, a obra original. Assim, nessa nova matéria, iremos dar uma olhada em filmes novíssimos, lançados nessa nova década de 2020, que fizeram tanto sucesso que já começaram suas próprias franquias, ou pelo menos já as anunciaram. Confira abaixo.
Batman (2022)
Um dos mais recentes sucessos do cinema, ‘The Batman’ estreou no início do ano passado e já ganhou sinal verde para se tornar sua própria franquia. O personagem se tornou uma máquina de fazer dinheiro depois que a Warner investiu pesado em 1989, para tirar do papel a primeira superprodução com o vigilante de Gotham, dirigida por Tim Burton e estrelada por Michael Keaton e Jack Nicholson. O filme foi uma virada de página não apenas para o Homem-Morcego, mas também para o subgênero dos super-heróis, demonstrando o quanto poderiam ser rentáveis, além de ajudar a cimentar as marcas em Hollywood – que se tornaram mais importantes que seus atores.
Batman deu origem a mais três filmes, se tornando uma das propriedades mais quentes e lucrativas dos anos 90. Depois disso, veio a trilogia de Christopher Nolan, igualmente campeã de bilheteira, críticas e até mesmo emplacando no Oscar. Agora, uma nova investida por uma Gotham realista, focando na qualidade detetivesca do personagem, surge comandada por Matt Reeves e protagonizada por Robert Pattinson. E a proposta deu muito certo. ‘The Batman’ seguiu por uma atmosfera ainda mais pesada que a trilogia de Nolan, com censura alta e clima de thriller. O faturamento foi de US$770 milhões para a Warner, o que somado a 85% de aprovação dos críticos, deram sinal verde para a continuação direta, agendada para 2025. Disponível na HBO Max.
Pânico (2022)
Quando ‘Pânico 4’ foi lançado, já haviam se passado nada menos que 11 anos desde que o terceiro episódio estava em cartaz nos cinemas, e a proposta do criador Wes Craven era por uma nova trilogia. Infelizmente, apesar das críticas positivas, e do fato de o quarto episódio ser um dos preferidos dos fãs (talvez atrás apenas do original), a bilheteria ficou abaixo do esperado, jogando um balde de água fria nos planos do diretor e da equipe. Craven faleceria em 2015, e precisariam mais 11 anos e uma mudança de estúdio, saindo da Dimension Films para a Paramount, para aqueles planos lá de trás finalmente darem certo.
Ninguém podia imaginar na época, mas a franquia Pânico precisava de uma injeção de sangue novo para o seu reboot. Em sentido duplo. Primeiro atrás das câmeras, com Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett (dupla de ‘Casamento Sangrento’) como os novos diretores; e segundo no elenco, com a adição das novas protagonistas vividas por Melissa Barrera e Jenna Ortega. E funcionou, e o quinto ‘Pânico’ obteve uma bilheteria de US$137 milhões, num orçamento de US$24 milhões, e 76% de aprovação da crítica. Foi o suficiente para já termos ganhado um ‘Pânico VI’ passado em Nova York, que continuou o sucesso do anterior. E ao que tudo indica a coisa não vai parar por aí – com declarações de Barrera desejando Salma Hayek para viver a mãe das irmãs Carpenter. Alguém duvida que teremos ‘Pânico 7’? Disponível no Telecine Play.
X – A Marca da Morte (2022)
O ano de 2022 foi um dos mais frutíferos para novas franquias do cinema. Depois dos reboots de ‘Batman’ e `Pânico’, agora temos um produto que realmente começou do zero no ano passado. Trata-se da franquia de terror alternativo da A24, escrita e dirigida pelo cineasta Ti West, ‘X’. Por falar em Jenna Ortega, ela foi grande parte do sucesso da obra, já que o nome da jovem estrela estava quente graças a projetos como ‘Pânico’ (2022) e ‘Wandinha’ (2022). Muita gente descobriu ‘X’ já nas plataformas digitais e em streaming. Mas o filme de terror barra-pesada, sobre uma equipe de filmagens indo realizar um filme pornô numa fazenda chamou atenção ainda nos cinemas. O filme extremamente gráfico e não recomendado aos menores de idade foi ganhando cada vez mais fãs.
E foi essa popularidade que garantiu o lançamento de ‘Pearl’ no mesmo ano – rodado quase de forma simultânea. ‘Pearl’ foi ainda mais elogiado, e transformou a atriz Mia Goth em musa do cinema de terror, com muitos pedindo sua indicação ao Oscar pelo filme. Não bastasse o sucesso destes dois filmes, um terceiro está em fase de produção, com a promessa de estreia ainda para este ano. E essa terceira parte atraiu grandes nomes, graças a popularidade dos anteriores. No elenco, Kevin Bacon, Michelle Monaghan, Lily Collins, Elizabeth Debicki, Giancarlo Esposito, Bobby Cannavale e a cantora Halsey. Temos certeza que dependendo do resultado, a coisa não deve parar por aí. Disponível na Amazon Prime Video.
Ghostbusters – Mais Além (2021)
Aqui também temos um caso de reboot que deu muito certo. Afinal, a franquia ‘Caça-Fantasmas’ original data lá de meados da década de 1980. Tudo começou, é claro, com o quarteto formado por Bill Murray, Dan Aykroyd, Ernie Hudson e o saudoso Harold Ramis no filme de 1984, dirigido por Ivan Reitman. Todos eles retornaram para a continuação em 1989, que demorou um pouco para sair do papel, e o resultado fez alguns prometerem que jamais retornariam a tal universo. Em especial Bill Murray foi uma pedra no sapato esses anos todos para um terceiro Caça-Fantasmas.
Em 2016, uma tentativa com uma equipe formada só por mulheres não deu muito certo, e falhou em iniciar sua própria nova franquia com um reboot. Alguns anos depois, e o filho do diretor original, Jason Reitman, tentou de novo, esquecendo o filme de 2016, e criando um filme que funcionaria como o tão sonhado terceiro longa da equipe original. Desta vez, os netos de Egon encontram o equipamento dos Caça-Fantasmas, quando novas forças ressurgem do além aterrorizando uma cidadezinha rural. A equipe original retorna para passar o bastão à uma nova geração. Esse reboot sim fez sucesso e irá iniciar uma nova franquia, com uma continuação direta já prometida para este ano. Torçamos os dedos para que seja tão boa quanto a anterior. Disponível na HBO Max.
Sonic (2020)
Remando com força contra as probabilidades, o primeiro filme do ‘Sonic’, personagem criado originalmente para os videogames ainda na década de 1990, se tornou um dos primeiros grandes sucessos de crítica e bilheteira desta nova década. Acontece que por muito pouco o projeto não saiu pela culatra. Tudo o que bastou foi os fãs darem uma olhada no design do ouriço azul, planejado inicialmente pelos realizadores com uma aparência mais “realista”. A internet, que não perdoa, caiu “matando” e classificou o Sonic do filme como bizarro, no mínimo. Assim, o time dos efeitos especiais precisou correr e reimaginar o bichinho, desta vez com um visual mais infantil e inofensivo, bem parecido com os games. Aí sim, todos ficaram contentes. Para melhorar, os fãs perceberam que independente do visual, o filme era bom desde o início (já que a mudança ocorreu apenas no design, e não no roteiro). O que ajudou muito.
‘Sonic’ fez US$320 milhões, estreando um pouco antes da pandemia, mas ainda sofrendo um pouco seus efeitos. Mesmo assim se mostrou um golaço da Paramount, com a continuação estreando dois anos depois. ‘Sonic 2’ fez ainda mais dinheiro, recebendo sinal verde para um terceiro filme e garantindo assim para o seu estúdio a mais nova franquia infantil do pedaço.
Godzilla vs. Kong (2021)
É curioso pensar no que o público elege como seus mais novos queridinhos e o que resolve desprezar. É imprevisível. Veja o caso com esse primeiro embate dos monstros gigantes agora com efeitos de primeira, e nas mãos da Warner. Individualmente os dois primeiros Godzilla (2014 e 2019) e o Kong (2017) até fizeram certo sucesso para a Legendary Entertainment, a produtora dos novos filmes. Mas nada prepararia para o hype que o confronto gerou no grande público – e principalmente nos mais novos, que são os que comandam as redes sociais atualmente, criando grande engajamento. Assim, os estúdios podem ter em primeira mão a resposta de o que o público está gostando ou não, e o que os fãs querem ver.
Assim, a surpresa foi ver o hype gerado por ‘Godzilla vs. Kong’, que superou os anteriores, mesmo não tendo lucrado tanto, por motivo da pandemia. Mesmo assim, o filme se tornou um grande acerto e já garantiu a sequência para 2024. Se continuar nesse ritmo, é claro que veremos novos embates entre esses verdadeiros reis dos monstros gigantes. Disponível na HBO Max e na Amazon Primve Video.