O ano de 2015 passou. As listas com as melhores produções cinematográficas do ano chegaram aos montes, e já tivemos inclusive a premiação do Globo de Ouro, uma das mais importantes para a indústria. Mas, antes do divertido Framboesa de Ouro, que premia o que o ano trouxe de pior, resolvemos nós mesmos investir no segmento, apresentando os filmes que tiraram duas horas de nossas vidas (ou mais), duas horas que nunca mais iremos recuperar, sem dar nada em troca. Também conhecida como “a vingança dos críticos”, conheça abaixo a famigerada lista dos piores filmes de 2015.
Menções Honrosas
Antes de começarmos, quero ir me adiantando e contar, antes que reclamem, que nesta lista não irão encontrar alvos fáceis como Quarteto Fantástico, Cinquenta Tons de Cinza, O Destino de Júpiter, O Sétimo Filho e O Garoto da Casa ao Lado. Sim, provavelmente todos são alguns dos piores filmes do ano, mas considerando que já figuraram na maioria das listas e gostamos de ser um pouco originais, resolvemos deixar estes “cachorros mortos” de lado e nos concentrar em outros que não “receberam a devida atenção”.
Nas menções honrosas vale citar o nacional S.O.S. – Mulheres ao Mar 2, que é tão ruim e ofensivo ao sexo feminino quanto o primeiro filme. Se você se considera uma mulher independente e evoluída e deixou passar este filme no seu gosto, deve ligeiramente rever seus conceitos. Mas sabemos como é difícil fazer cinema no Brasil e cinema popular de qualidade, muito mais. Outra menção honra é Um Santo Vizinho, refilmagem descarada e não anunciada de Um Grande Garoto (2002), que de tão piegas e recheado de clichês quase nos jogou num coma diabético. Resolvemos deixar este passar somente por causa da presença da lenda Bill Murray, que merecia algo muito melhor.
Sim, você sabia que este viria. Sabe o ditado “falem mal, mas falem de mim”? Então, ele se encaixa perfeitamente para traduzir este filme. Uma produção totalmente B, que passaria certamente em branco se não fosse lembrado na maioria das listas de piores de 2015. Os sofredores que puderam conferir a obra no cinema (sim, o filme veio aos cinemas brasileiros), revolveram colocar a boca no trombone e fazer o filme ganhar notoriedade, mesmo que muito negativa. Nicolas Cage (sim, ele mesmo) e Hayden “Manequim Skywalker” Christensen formam a dupla mais inusitada do ano, neste conto “épico” sobre guerreiros templários e um clã asiático. Cage encarna mais um de seus exageros, enquanto Christensen, bem, talvez tenha desistido de tentar lá atrás.
Com um título extremamente genérico, tanto no original quanto em português, este filme traz outra dupla inusitada e disfuncional como protagonistas. O comediante Owen Wilson e o eterno James Bond, Pierce Brosnan, unem forças para combater rebeldes de um país asiático, que tomam uma cidade inteira, com o único propósito de assassinar “turistas brancos”. Sim, você leu certo. Nem é preciso dizer que o filme é um mar de ofensas e preconceitos, criando vilões mais sanguinários que O Exterminador do Futuro e Jason juntos. Tanto, que nem se dão ao trabalho de citar qual seria essa “terra devastada”. Na trama, uma família de americanos é ferozmente caçada. Imagine O Impossível sem o tsunami e com guerrilheiros maníacos. Está feita a diversão.
Pobre Frankenstein. A criatura, e seu criador, não tem dado muita sorte no terreno cinematográfico ultimamente. Ano passado, um dos pontos baixos foi justamente um filme que fazia uso do personagem, Frankenstein – Entre Anjos e Demônios, ali conhecido como Adam e personificado por Aaron Eckhart. Aqui, uma abordagem mais próxima ao material original de Mary Shelley é tentada – ao menos sumiram com os gárgulas guerreiros – sim! O problema aqui é não saber distinguir se ficaria no terreno da sobriedade, se comportando como um filme sério e adulto, ou partiria para a galhofa de um blockbuster. O resultado? Você adivinhou. É em cima do muro e fora de nossas mentes.
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Poltergeist – O Fenômeno
Diga o que quiser do filme original de 1982, produzido por Steven Spielberg e dirigido por Tobe Hopper (O Massacre da Serra Elétrica). A verdade é que o Poltergeist original foi importante e influente para sua época, se comportando como um dos primeiros blockbusters, e usando efeitos visuais raros naquele tempo. O fato do filme reservar alguns bons sustos fez o sabor todo ser ainda mais especial para uma matinê de sábado. O novo Poltergeist é uma reedição sem energia ou qualquer tempero. Ainda mais se formos pensar que agora este tipo de filme não é mais novidade e milhares foram tentados no gênero, tornando Poltergeist 2015 a reciclagem da reciclagem.
Ao contrário de Poltergeist 2015, um filme que já nasceu perdendo por ser a refilmagem de uma obra querida, que ninguém desejava, Renascida do Inferno até que parecia ser legal. O elenco conta com alguns dos jovens proeminentes do mercado independente americano, como Olivia Wilde e Mark Duplass, e a história mistura Cemitério Maldito, Re-Animator e Hellraiser. Na trama, jovens cientistas brincam de Deus ao trazer animais, medicamente dados como mortos, de volta à vida. Quando uma de suas colegas não resiste ao acidente, é claro que eles irão testar o experimento nela. Sim, este é um daqueles filmes com as pessoas inteligentes mais burras que existem, tudo graças a um roteiro preguiçoso. Além disso, Renascida do Inferno é apenas um filme extremamente genérico, que passa por todos os itens da cartilha de produções B de terror. Que desperdício.
Não. Não simplesmente acontece. É preciso se esforçar para fazer uma produção tão desagradável quanto essa. A insossa Lily Collins, filha do cantor Phil Collins, já tentou algumas vezes, mas protagonizar um filme parece não ser muito a sua praia, vide Espelho, Espelho Meu (2012) e Os Instrumentos Mortais (2013). Tá certo, para dar um desconto para a menina, ela não estava ruim em Ligados Pelo Amor (2012). Mas aqui, nesta comédia romântica altamente incômoda, o resultado foi tão negativo que Collins resolveu se afastar um pouco da carreira (este filme é de 2014 e ela não fez mais nada desde então). Pense em qualquer roteiro típico de uma rom com adolescente no estilo garoto conhece garota e você tem recriado na cabeça todos os momentos desta asneira. E pior, o filme da sua mente irá superar muito o que foi verdadeiramente tentado aqui.
Ponto positivo: filme nostálgico, totalmente 80´s, sobre vídeo games antigos. Tem nossa atenção. Ponto negativo: Adam Sandler está envolvido e é uma comédia. O fator Sandler prevaleceu. Sem mais.
Alguém pediu por isso? Deixando de lado o fato de que ninguém em sã consciência aguenta mais uma história de Peter Pan, além das crianças nascidas há pouco tempo ou comerciantes em busca de vender mais brinquedos, o filme poderia ser bem aproveitado. Por trás do projeto estava Joe Wright, um cineasta acostumado a lidar com a beleza estética de clássicos romances de época. Hugh Jackman e Rooney Mara são bons atores e carismáticos. Nada disso é o suficiente para livrar esse espetáculo pirotécnico altamente mecânico e sem vida da apatia completa.
Sim, eles tentaram um trocadilho com a palavra “perseguida” em pleno ano de 2015. Deixando essa mancada de lado, o filme soa como algo saído diretamente dos anos 1980. Ou melhor, soa como um filme ruim dos anos 1980 (sim, nem tudo saído da década mais celebrada da atualidade foram flores). A impressão de que este é um roteiro datado e engavetado vem tão forte que fica difícil acreditar que no ano que estamos algo do tipo ainda seja produzido. Duas mulheres bem diferentes precisam fugir de traficantes. Esse é o tipo de filme que podemos dizer com certeza que faz pouco caso de nossa inteligência, nos chamando de idiotas. E pensar que Reese Witherspoon havia concorrido ao Oscar poucos meses antes. Já Sofía Vergara, bem, vocês já sabem…
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Mortdecai – A Arte da Trapaça
Desde que assisti a este filme em março do ano passado no cinema, já que não ocorreu a exibição para a imprensa (eu devia ter visto como um sinal), fiquei abismado, pensando por dias o que havia acabado de assistir, tentando encontrar algum sentido em tudo e pensando seriamente em abandonar a área. Como diria o saudoso Gene Siskel, crítico do Chicago Tribune, “era como se os filmes tivessem me abandonado, virado as costas para mim”. O fato é que Mortdecai não chega a ser um filme propriamente e sim um amontoado de esquetes, nos quais nenhum funciona. Depp se esforça, mas deveria ter visto que nada aqui seria bom o suficiente para atrair tantos talentos (sim, o elenco é recheado). Bom, vale dizer que o filme gira em torno de um bigode, e quando digo o filme, quero dizer todas as piadas. Antes que Mortdecai me fizesse desistir da carreira e dos filmes de vez, respirei fundo e no mesmo mês encontrei produções como Dívida de Honra, O Amor é Estranho, Para Sempre Alice, Vício Inerente, O Último Ato, Os Dois Lados do Amor e Kingsman: Serviço Secreto. Tudo ficou bem outra vez.