A falta de originalidade em Hollywood é algo que vem sendo pauta de veículos de cinema, e até mesmo nas rodinhas dos fãs, há algum tempo. Essa falta de criatividade, que era notada dentro dos roteiros dos filmes, chegou até os responsáveis por nomeá-los. Hollywood, a maior indústria de cinema do mundo, também segue tendências. Tudo começa sempre com algum estudo de eficácia. Uma tendência que ganhou muito espaço desde a década passada foram os reboots que nomeiam seus filmes exatamente com o mesmo título de seus originais.
Essa manobra talvez tenha como objetivo a não utilização de um número após o título, ainda mais em franquias longas. Provavelmente, estudos devem ter mostrado que apenas os fãs possuem energia para encarar um filme cinco, ou seis, de uma determinada franquia. Afinal, imagina se 007 utilizasse o número em seus títulos. Por outro lado, o que esta franquia faz é utilizar subtítulos. Algo que, por alguma razão, também não apeteceu os novos “gênios” do marketing dos grandes estúdios. O problema é que esta estratégia confunde os fãs, que agora precisam citar o ano do filme, já que seus títulos são iguais, sem que os filmes sejam sequer remakes.
Seja por qual motivo, o mais óbvio é conquistar um novo público, de uma nova geração, os títulos iguais para reboots são a tendência mais irritante e confusa de Hollywood na atualidade. E para você entender melhor, separamos alguns exemplos abaixo. Confira.
Pânico (2002)
A franquia ‘Pânico’ é uma das mais queridas pelos fãs, dentro do gênero do terror. Tudo começou com o divisor de águas em 1996, cujo título era… bem, ‘Pânico’ (Scream no original). Sem perder tempo, logo no ano seguinte veio ‘Pânico 2’. O terceiro, ‘Pânico 3’, demorou um pouquinho mais e saiu em 2000. Onze anos depois, uma tentativa de reboot falhou com ‘Pânico 4’ (2011). Mas os produtores não desistiram, mudaram de estúdio, e dez anos depois lançariam o quinto filme. Mas ele não se chamou ‘Pânico 5’, e sim… ‘Pânico’ de novo! Consertando a burrada, o sexto finalmente viraria ‘Pânico VI’ (agora com numerais romanos). Mas a cagada federal já estava feita.
Halloween (2018)
Com a franquia ‘Halloween’ a coisa fica ainda pior. O slasher original, foi graças a existência do primeiro ‘Halloween’, de 1978, que franquias como ‘Pânico’ puderam existir. Todas as sequências que vieram depois usaram numerais em seus títulos, e a partir do terceiro, inclusive subtítulos. Mas aí veio o remake de 2007, dirigido por Rob Zombie, que também se chamou ‘Halloween’. Compreensível, já que se trata de uma refilmagem.
Não satisfeitos, agora nas mãos da Universal (Blumhouse), o reboot de 2018 também se chamou ‘Halloween’. Ou seja, nessa franquia são três filmes chamados apenas ‘Halloween’. O que salva é que pelo menos aqui no Brasil, os dois primeiros possuem subtítulos ‘A Noite do Terror’ (1978) e ‘O Início’ (2007).
O Predador (2018)
Aqui, a grande burrada foi cometida no mercado brasileiro. No mesmo ano de ‘Halloween’ (2018), outra franquia querida retornava com um exemplar, digamos, insatisfatório. ‘O Predador’ (2018) foi a segunda tentativa de reiniciar a franquia que não deu certo, depois de ‘Predadores’ (2010) – que pelo menos soube diferenciar seu título, sem confundir os fãs.
Acontece que o filme que deu origem a essa franquia, com Arnold Schwarzenegger, também se chama ‘O Predador’ (1987) aqui no Brasil. Lá fora, nos EUA, o filme original é apenas ‘Predator’. E o reboot acrescenta o artigo, ficando ‘The Predator’. Como aqui já haviam colocado ‘O Predador’ no original, talvez fosse o caso de inverter, e chamar o reboot de ‘Predador’ (sem o artigo). Mesmo assim, fica bem parecido e causa confusão. Era melhor ter chamado de outra coisa.
O Enigma de Outro Mundo (2011)
Aqui vamos por partes, pois o caso é um pouco mais complicado. ‘O Enigma de Outro Mundo’ (1982) é um dos maiores cults do cinema, que se tornou um clássico atemporal. Dirigido por John Carpenter, o filme arrepiante é na verdade o remake de uma produção da década de 1950. Esse tal filme antigo tem o título ‘The Thing from Another World’ e por aqui se chamou ‘O Monstro do Ártico’. Até aí, tudo bem. O remake de Carpenter resolveu abreviar, e no original se chamou apenas ‘The Thing’.
Eis que surge em 2011 uma desnecessária prequel, que agradou um total de zero pessoas. Os produtores gênios (para não dizer o contrário) desta prequel resolveram dar o mesmo título do clássico de Carpenter, assim ficamos com dois ‘The Thing’ (no original). Por aqui, quase teve salvação, já que o título dado foi ‘A Coisa’ (mais a ver com a tradução literal). Porém, como desgraça pouca é bobagem, o filme vem sendo rebatizado no Brasil como… isso, mesmo, ‘O Enigma de Outro Mundo’.
Caça-Fantasmas (2016)
Outra mania boba de marqueteiros dos EUA é querer universalizar os títulos, bem, desde que seja para o inglês. Assim, nos últimos tempos, vimos títulos clássicos voltando aos seus nomes originais. Como, por exemplo, as franquias ‘Star Wars’ (antes ‘Guerra nas Estrelas’) e ‘Star Trek’ (antes ‘Jornada nas Estrelas’). Quem resolveu entrar nessa onda atualmente foram ‘Os Caça-Fantasmas’, que sempre fizeram sucesso por aqui com esse título abrasileirado, mas agora resolveram ser ‘Ghostbusters’ por aqui também, com os recentes ‘Ghostbusters – Mais Além’ (2021) e ‘Ghostbusters – Apocalipse de Gelo’ (2024).
Duro é o brasileiro falar ou escrever isso. Ainda assim, talvez confunda menos do que o reboot de 2016 só com mulheres, que se chamou… ‘Caça-Fantasmas’, por aqui perdendo apenas o artigo. Ainda acho que deveria ter sido ‘As Caça-Fantasmas’ – mas o medo da misoginia foi maior. Porém, nos EUA, nem o artigo salvou, já que por lá tanto o original de 1984, quanto o reboot de 2016, se chamaram ‘Ghostbusters’.
Batman (2022)
Até o maior herói dos quadrinhos entrou nesta dança em sua versão nos cinemas. O Homem-Morcego, em sua trajetória nas telonas nunca recebeu números para diferenciar seus filmes. Embora os fãs saibam exatamente qual é o dois, o três, e por aí vai. Ao invés, os produtores optaram por subtítulos, como ‘O Retorno’, ‘Eternamente’, ‘Batman & Robin’, ‘Begins’, ‘O Cavaleiro das Trevas’ e ‘O Cavaleiro das Trevas Ressurge’. Mas quando chegou a hora de mais um reboot, apresentando os primeiros anos de Bruce Wayne como Batman em Gotham City, os realizadores não ousaram muito e ficaram na base da mesmice.
A ideia foi batizar o projeto basicamente com o mesmo nome do originalzão lá de 1989. O primeiro filme do personagem nas telonas se chamou apenas ‘Batman’. Tanto em inglês, quanto em português. Nada mais justo. Com o mais recente reboot, a decisão foi a adição do artigo (sempre ele), acreditando serem muito criativos. Assim, o novo filme virou ‘The Batman’ por lá. No Brasil, como acharam que ficaria muito feio ‘O Batman’, a opção foi por apenas ‘Batman’, confundindo com o original.
O Esquadrão Suicida (2021)
Novamente o “bendito” artigo entra em cena, como se fosse a jogada de mestre. Em um caso muito parecido com o do item acima, o filme dos vilões da DC mudou apenas três letras de seu título para o reboot comandado por James Gunn. O filme original, de 2016, comandado por David Ayer, tinha como título ‘Esquadrão Suicida’, e se tornou uma das maiores decepções de anos recentes. Isso porque prometia algo incrivelmente legal com seu trailer cheio de energia e muita música pop.
O filme não entregou nada disso, e foi apenas um recorte de cenas, no estilo de vídeo clipe. O reboot de Gunn, de 2021, é melhor em todos os sentidos. Menos na criatividade do título. Tudo o que Gunn fez foi adicionar o artigo, chamando o longa de ‘The Suicide Squad’. Pelo menos dessa vez os brasileiros acompanharam, e tascaram um “O” Esquadrão Suicida também.
Férias Frustradas (2015)
Terminando a matéria, temos uma das franquias de comédia mais famosas dos anos 80. O ‘Férias Frustradas’ original data de 1983, e teve o título ‘Vacation’ nos EUA. Desde então, suas três continuações diretas acrescentavam algum subtítulo ao tema das férias. Por exemplo, o terceiro ficou ‘Férias Frustradas de Natal’ por aqui (Christmas Vacation no original). O quarto, de 1997, se chamou ‘Férias Frustradas em Las Vegas’ (Vegas Vacation).
Já a primeira continuação, de 1985, teve o título simplesmente de ‘Férias Frustradas 2’ por aqui, enquanto nos EUA era especificado férias na Europa, com ‘European Vacation’. Bem, ou quase, porque a ousadia da Globo foi imensa quando o filme passou na TV aberta pela primeira vez – rebatizando o longa como ‘Loucas Aventuras de uma Família Americana na Europa’! Sim, isso mesmo. Porém, ainda assim não causou tanta confusão quanto a continuação / reboot de 2015. Isso porque o novo filme se chamou… você adivinhou, ‘Férias Frustradas’. Demonstrando a falta de originalidade atual.