Uma onda cada vez mais crescente e que tem se mostrado muito bem-sucedida em Hollywood na atualidade é a adaptação de famosas produções cinematográficas na forma de séries de TV. Isso se deve muito pelo fato de que os programas televisivos hoje em dia contam com recursos orçamentários quase tão inflados quanto os filmes de cinema. Peguemos, por exemplo, a recente série da Amazon Prime Video de O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder, o seriado mais caro da história da TV até hoje, que não fica devendo nada em termos de magnitude em relação às obras de cinema.
De Westworld a Fargo, passando pelo fenômeno Cobra Kai, diversos filmes queridos, outros obscuros e cult, já tiveram suas ideias originais levadas às telinhas das mais variadas formas – sendo continuações, adaptações ou derivados. Recentemente, mais uma foi anunciada com a versão seriada de Blade Runner. Quando falamos dos anos 90, só em 2022 tivemos o lançamento de Uma Equipe Muito Especial e em breve veremos a série Entrevista com o Vampiro. Para entrar na brincadeira, resolvemos separar alguns filmes dos anos 90 que completam 30 anos em 2022 e que achamos que muito bem poderiam ser desenvolvidos na forma da nova série de sucesso de uma das mais variadas plataformas de streaming da atualidade. Confira abaixo.
Cães de Aluguel
Os irmãos Coen conseguiram satisfatoriamente transformar seu excelente épico criminal Fargo em uma série de antologia na TV, que já exibiu até a sua quarta temporada. Quentin Tarantino também é um adepto do cinema criminal, tendo construído toda a sua carreira basicamente em cima do gênero. O cineasta igualmente já andou se enveredando pela TV ao dirigir episódios de séries famosas como E.R. (Plantão Médico) e CSI. Mas o diretor nunca teve uma série para chamar de sua. Isso poderia mudar, caso Tarantino resolvesse transformar seu primeiro longa, sobre um grupo de mafiosos, todos usando nomes de cores, num arriscado plano de roubo a uma joalheira, que sai muito errado devido a um policial infiltrado em seu bando, em uma série. É sucesso certo, com novas possibilidades de reviravoltas orquestradas pelo diretor, ou quem sabe até uma história completamente nova.
Os Imperdoáveis
O veteraníssimo Clint Eastwood é uma verdadeira lenda viva de Hollywood. O que muita gente pode não saber, no entanto, é que suas origens foram na TV, no seriado de faroeste Rawhide. Justamente por isso, Eastwood viria a se tornar um verdadeiro ícone no gênero, participando de diversas produções no estilo. Alguns podem questionar, mas Os Imperdoáveis é seu ápice dentro do faroeste e foi sua “canção do cisne”. Eastwood já está com uma idade bem avançada, mas bem que a Warner, estúdio por trás do longa, podia tirar a poeira desta história sobre matadores de aluguel contratados por prostitutas para se vingar dos homens que abusaram e quase mataram uma delas. Em tempos de denúncias de violência contra a mulher e empoderamento feminino, Os Imperdoáveis merece retornar – melhor ainda se fosse com Clint na produção.
Questão de Honra
Por falar em dramas icônicos que tiveram prestígio do Oscar, esse aqui tem por trás um verdadeiro timaço. Nas telas, protagonizando temos o astro Tom Cruise, que este ano voltou com tudo aos holofotes, graças ao sucesso de Top Gun – Maverick. Fora isso, Entrevista com o Vampiro, outro de seus clássicos dos anos 90, vai virar série em outubro – além de Jack Reacher, filme de ação que estrelou duas vezes, também ter recebido um tratamento na TV. Questão de Honra é um thriller dramático de tribunal passado nos bastidores da marinha americana, envolvendo o assassinado de um recruta, numa situação que escala até o topo do poder. Baseado numa peça, o texto é assinado por Aaron Sorkin, que hoje se tornou um diretor de mão cheia e poderia muito bem adaptar seu conto para as telinhas. Seria pedir muito o envolvimento de Cruise ou do aposentado Jack Nicholson, mas se vingasse como série, poderíamos ao menos ter participações de Demi Moore e Kevin Bacon.
Drácula de Bram Stoker
Outro clássico moderno que está completando 30 anos de sua estreia em 2022, esse é mais um filme marcante da década de 90 a abordar o tema dos vampiros, depois do citado Entrevista com o Vampiro. Aqui, quem comanda o show é o prestigiado Francis Ford Coppola, que fechava sua trilogia de O Poderoso Chefão dois anos antes, e se embrenhava pelo mundo do terror com um dos mais lendários e góticos contos de terror de todos os tempos: Drácula, do escritor Bram Stoker. Coppola simplesmente pegou o filme de 1931 com Bela Lugosi, e o virou do avesso, subvertendo tudo o que sabíamos dele e de quebra entregando uma das melhores reimaginações da sétima arte, repleta de muito estilo visual e narrativo. Os temas de Coppola voltaram à voga em 2022, com a série The Offer, sobre os bastidores de O Poderoso Chefão – por isso, seria muito legal ver Drácula feito novamente sob a estética criada pelo diretor, desta vez em novo formato e adaptada para os novos tempos.
Instinto Selvagem
Hoje em dia não existem mais limites para o que podemos ver na TV. Afinal, quem tem limites é município. Programas como Game of Thrones, da HBO, empurraram a censura até seus mais altos níveis do aceitável, com cenas violentíssimas, para lá de explícitas, e momentos de nudez e sexo bastante gráficos. Esse é o privilégio da TV a cabo – e nos streamings a coisa segue por essa linha. É só dar uma olhada em seriados como Sex/Life – lançada ano passado, que usava e abusava da nudez e sexualidade da belíssima protagonista Sarah Shahi. Antes essa ousadia era tentada apenas no cinema, e quando consumada, terminava chocando audiências pelo mundo todo. Há 30 anos, este foi exatamente o caso com o thriller erótico Instinto Selvagem, que revelou a estrela Sharon Stone. A história fala sobre uma investigação policial liderada pelo detetive Nick Curran, papel de Michael Douglas. Ele tenta desvendar um caso de assassinato cometido no meio do ato sexual, onde a principal suspeita é uma escritora de sucesso, adepta do sadomasoquismo, papel de Stone. A trama poderia ressurgir nas telinhas e incendiar as coisas mais uma vez.
O Último dos Moicanos
Aventuras épicas passadas em épocas medievais são o item de maior sucesso atualmente nas plataformas de streamings – lideradas por House of the Dragon, da HBO, e O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder, da Amazon Prime Video. Se a Disney quisesse capitalizar em cima do gênero igualmente, para além de sua aventura infantil com Willow (a ser lançado em breve este ano), poderia tirar a poeira deste drama de ação, capitaneado por Michael Mann e estrelado pelo grande Daniel Day-Lewis. Acontece que O Último dos Moicanos, baseado no livro de James Fenimore Cooper, tem produção da 20th Century Fox, hoje 20th Century Studios e de propriedade da Disney. Assim, a casa do Mickey poderia pegar para si uma fatia deste estilo, digamos, mais visceral de épico, não poupando na violência – como no longa original – para contar a história do conflito entre colonos franceses, britânicos e um tribo de nativos americanos. Se quisessem laços com o original, Michael Mann poderia ter envolvimento como produtor.
A Morte Lhe Cai Bem
Mistura de comédia, drama, terror e elementos fantásticos, A Morte Lhe Cai Bem se tornou um cult imediato logo após seu lançamento há 30 anos no cinema. Aqui também temos outro timaço envolvido na produção. Nas telas protagonizando, ninguém menos que Meryl Streep, Goldie Hawn e Bruce Willis. Em tempos de mulheres empoderarem outras mulheres, essa história ácida e para lá de sombria viria bem a calhar. Tudo começa com a personagem de Hawn, noiva de Willis. O casal vai visitar um espetáculo da atriz vivida por Streep, “melhor amiga” da protagonista. Hawn está meio receosa de apresentar seu noivo para a “amiga”, já que sabe do histórico de todos se apaixonarem por ela, que não tem papas na hora de flertar.
Não dá outra, e a “amiga da onça” rouba o noivo de Hawn, se casando com ele. Agora a vingança entra em cena e a guerra está declarada entre as duas, misturando ainda na história um elemento sobrenatural de uma poção que promete a juventude eterna. Além da tal poção ser uma analogia não muito sutil da busca pelo não envelhecimento de muitos, em especial celebridades, com inúmeras plásticas e tratamentos estéticos, hoje, a vingança também seria destilada ao traste do noivo, afinal a “amiga” não cometeu adultério sozinha, e no passado, em situações assim, o homem nunca era culpado. Na direção, Robert Zemeckis, que está precisando de um sucesso urgente, e quem sabe a solução não fosse levar essa história amalucada e muito divertida e atual para as telinhas.