quinta-feira , 21 novembro , 2024

Panorama Suíço | Curtas-Metragens: ‘Ao Largo’ e ‘A Batalha de São Romano’

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Por Nívia Passos

Os cinéfilos que se interessam por filmes fora do circuito já têm programação garantida para os meses de maio e junho. É que desde o dia 9 deste mês, começando por São Paulo, teve início a 7ª Edição do Panorama do Cinema Suíço Contemporâneo – que também passará por Brasília e, em seguida, Rio de Janeiro.



Por lá, além de longas de ficção e documentários, também serão exibidos curtas-metragens – como “Ao Largo” e “A Batalha de São Romano“, duas produções completamente diferentes entre si que já deixam uma prévia do que esperar do evento.

Enquanto o primeiro, com apenas dois minutos de duração, apresenta uma narrativa abstrata sobre uma famosa pintura renascentista de Paolo Uccello, o segundo conta uma história de duas amigas em um triângulo amoroso com o mar de uma ilha da França como pano de fundo. Confira a crítica sobre cada um deles:

 

Ao Largo

Triângulo amoroso sai do óbvio com a profundidade da protagonista

Triângulos amorosos são complicados em qualquer situação. Mas, quando são formados por duas melhores amigas, é claro que a história fica ainda pior – porque, além da disputa pelo amor de determinada pessoa, é quase inevitável lidar com uma ruptura na amizade se ela não for forte o suficiente para passar por isso. Em “Ao Largo” – curta suíço dirigido por Natalia Ducrey -, as inseparáveis Juliet (Joséphine Pittet) e Lisa (Marie Beraud) enfrentam essa crise durante o período em que o jovem parisiense Gaspard (François Labarthe) fica hospedado na ilha em que elas moram ao largo da costa da França. No entanto, ao contrário do que pode parecer à primeira vista, o filme de apenas 25 minutos vai além dessa premissa tão comum entre histórias da juventude pelo tom poético de sua narrativa e a construção de seus personagens – principalmente Juliet, a protagonista.

Com apenas 20 anos e um emprego no bar da ilha, Juliet é apaixonada pelo mar. Por causa disso, em várias cenas, o foco é apenas ela, o oceano e o silêncio que os acompanha – que, para olhos mais atentos, parece querer dizer muito sobre o interior da jovem. “Eu gosto da falta de oxigênio. Isso esvazia a minha mente“, ela chega a dizer em um momento quando fala sobre sua ligação com o mergulho, e fica claro sobre como a solidão e a quietude são indispensáveis para que se sinta bem. Já Lisa, a amiga, chama atenção com seu espírito livre e energia contagiante que contrastam com os olhos quietos e o silêncio reflexivo da protagonista. Mas, mesmo com a química imediata que surge entre Gaspard e a primeira, é com a última que ele começa a se envolver durante uma noite no bar – e, assim, o triângulo amoroso começa.

A partir daí, somos levados a achar que a narrativa vai caminhar para a típica história de intriga e disputa entre amigas pelo tal turista que flerta com as duas sem nem se preocupar em disfarçar. Só que, contrariando a expectativa, não é bem isso que acontece. O foco aqui não é o drama da amiga traída ou um possível complexo de inferioridade de uma em relação à outra; mas, sim, as diferentes camadas dos personagens – principalmente Juliet, que parece finalmente criar vínculos suficientes para sair da sua solidão e, fazendo referência ao título, não ficar mais “ao largo”.

Por fim, depois de acompanhar o roteiro sutil e intrigante ao mesmo tempo e todo o cuidado com a fotografia, figurino e cenário – com o azul em vários detalhes como uma referência clara à relação de Juliet com o mar -, fica o desejo de que o curta dure mais tempo. E o final aberto e cheio de interrogações só nos faz querer continuar com a protagonista para entender seus pensamentos e saber para onde o mar a levará dessa vez…

 

A Batalha de São Romano

Pintura renascentista ganha vida – e som – por dois minutos

Com apenas dois minutos de duração e direção de Georges Schwizgebel, La Bataille de San Romano (no original) mostra o famoso conjunto de três pinturas de Paolo Uccello – que leva o mesmo nome do curta – em movimento. E apesar de fazer parte do renascimento, com formas concretas e realistas no óleo sobre tela, a maneira como as imagens se mexem e se sobrepõem entrega ao público uma narrativa que beira o abstrato.

O que acontece é que, à primeira vista, o curta pode parecer extremamente confuso e sem grandes significados para quem não tem familiaridade com o quadro. No entanto, a informação que vem logo após a imagem congelar e ficar estática novamente – que revela que ele foi baseado na pintura de Paolo Uccello (1397-1475) – desperta a curiosidade de quem parou por alguns segundos tentando entender o que assistiu e precisa de respostas para absorver o máximo possível dessa breve história sem diálogos. Assim, o que até então parecia apenas uma série de imagens aleatórias, passa a ter um significado: através dessas pinturas que passam na tela por dois minutos, o artista renascentista representou alguns acontecimentos da Batalha de San Romano – embate entre Florença e Siena que aconteceu em 1432.

E pelas mãos do diretor Schwizgebel – que recebeu o prêmio de honra do cinema suíço neste ano -, as pinturas ganharam vida e se transformaram na animação. Nela, além dos cavalos, soldados e paisagens que vão se misturando em movimento para que uma figura seja imediatamente seguida por outra, as obras também vêm acompanhadas por uma música instrumental que ajuda a gerar tensão e a reprodução de sons do que está sendo mostrado na tela – como relinchos, gritos e batida de espadas. Já em relação à narrativa em si, um recurso muito bem usado é o de acelerar/diminuir a velocidade das imagens antes do “vídeo virar quadro” novamente para diferenciar a turbulência do início da calmaria do fim.

Para quem é ligado em arte, o curta é a oportunidade perfeita de ver a beleza da pintura renascentista ganhar vida, com uma animação que mantém o característico contraste entre claro/escuro do movimento e os mesmos contornos que chamam atenção nos quadros de óleo sobre tela. Por fim, junto com a experiência estética, também fica a certeza de que o diretor não foi premiado pelo cinema suíço à toa…

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Por lá, além de longas de ficção e documentários, também serão exibidos curtas-metragens – como “Ao Largo” e “A Batalha de São Romano“, duas produções completamente diferentes entre si que já deixam uma prévia do que esperar do evento.

Enquanto o primeiro, com apenas dois minutos de duração, apresenta uma narrativa abstrata sobre uma famosa pintura renascentista de Paolo Uccello, o segundo conta uma história de duas amigas em um triângulo amoroso com o mar de uma ilha da França como pano de fundo. Confira a crítica sobre cada um deles:

 

Ao Largo

Triângulo amoroso sai do óbvio com a profundidade da protagonista

Triângulos amorosos são complicados em qualquer situação. Mas, quando são formados por duas melhores amigas, é claro que a história fica ainda pior – porque, além da disputa pelo amor de determinada pessoa, é quase inevitável lidar com uma ruptura na amizade se ela não for forte o suficiente para passar por isso. Em “Ao Largo” – curta suíço dirigido por Natalia Ducrey -, as inseparáveis Juliet (Joséphine Pittet) e Lisa (Marie Beraud) enfrentam essa crise durante o período em que o jovem parisiense Gaspard (François Labarthe) fica hospedado na ilha em que elas moram ao largo da costa da França. No entanto, ao contrário do que pode parecer à primeira vista, o filme de apenas 25 minutos vai além dessa premissa tão comum entre histórias da juventude pelo tom poético de sua narrativa e a construção de seus personagens – principalmente Juliet, a protagonista.

Com apenas 20 anos e um emprego no bar da ilha, Juliet é apaixonada pelo mar. Por causa disso, em várias cenas, o foco é apenas ela, o oceano e o silêncio que os acompanha – que, para olhos mais atentos, parece querer dizer muito sobre o interior da jovem. “Eu gosto da falta de oxigênio. Isso esvazia a minha mente“, ela chega a dizer em um momento quando fala sobre sua ligação com o mergulho, e fica claro sobre como a solidão e a quietude são indispensáveis para que se sinta bem. Já Lisa, a amiga, chama atenção com seu espírito livre e energia contagiante que contrastam com os olhos quietos e o silêncio reflexivo da protagonista. Mas, mesmo com a química imediata que surge entre Gaspard e a primeira, é com a última que ele começa a se envolver durante uma noite no bar – e, assim, o triângulo amoroso começa.

A partir daí, somos levados a achar que a narrativa vai caminhar para a típica história de intriga e disputa entre amigas pelo tal turista que flerta com as duas sem nem se preocupar em disfarçar. Só que, contrariando a expectativa, não é bem isso que acontece. O foco aqui não é o drama da amiga traída ou um possível complexo de inferioridade de uma em relação à outra; mas, sim, as diferentes camadas dos personagens – principalmente Juliet, que parece finalmente criar vínculos suficientes para sair da sua solidão e, fazendo referência ao título, não ficar mais “ao largo”.

Por fim, depois de acompanhar o roteiro sutil e intrigante ao mesmo tempo e todo o cuidado com a fotografia, figurino e cenário – com o azul em vários detalhes como uma referência clara à relação de Juliet com o mar -, fica o desejo de que o curta dure mais tempo. E o final aberto e cheio de interrogações só nos faz querer continuar com a protagonista para entender seus pensamentos e saber para onde o mar a levará dessa vez…

 

A Batalha de São Romano

Pintura renascentista ganha vida – e som – por dois minutos

Com apenas dois minutos de duração e direção de Georges Schwizgebel, La Bataille de San Romano (no original) mostra o famoso conjunto de três pinturas de Paolo Uccello – que leva o mesmo nome do curta – em movimento. E apesar de fazer parte do renascimento, com formas concretas e realistas no óleo sobre tela, a maneira como as imagens se mexem e se sobrepõem entrega ao público uma narrativa que beira o abstrato.

O que acontece é que, à primeira vista, o curta pode parecer extremamente confuso e sem grandes significados para quem não tem familiaridade com o quadro. No entanto, a informação que vem logo após a imagem congelar e ficar estática novamente – que revela que ele foi baseado na pintura de Paolo Uccello (1397-1475) – desperta a curiosidade de quem parou por alguns segundos tentando entender o que assistiu e precisa de respostas para absorver o máximo possível dessa breve história sem diálogos. Assim, o que até então parecia apenas uma série de imagens aleatórias, passa a ter um significado: através dessas pinturas que passam na tela por dois minutos, o artista renascentista representou alguns acontecimentos da Batalha de San Romano – embate entre Florença e Siena que aconteceu em 1432.

E pelas mãos do diretor Schwizgebel – que recebeu o prêmio de honra do cinema suíço neste ano -, as pinturas ganharam vida e se transformaram na animação. Nela, além dos cavalos, soldados e paisagens que vão se misturando em movimento para que uma figura seja imediatamente seguida por outra, as obras também vêm acompanhadas por uma música instrumental que ajuda a gerar tensão e a reprodução de sons do que está sendo mostrado na tela – como relinchos, gritos e batida de espadas. Já em relação à narrativa em si, um recurso muito bem usado é o de acelerar/diminuir a velocidade das imagens antes do “vídeo virar quadro” novamente para diferenciar a turbulência do início da calmaria do fim.

Para quem é ligado em arte, o curta é a oportunidade perfeita de ver a beleza da pintura renascentista ganhar vida, com uma animação que mantém o característico contraste entre claro/escuro do movimento e os mesmos contornos que chamam atenção nos quadros de óleo sobre tela. Por fim, junto com a experiência estética, também fica a certeza de que o diretor não foi premiado pelo cinema suíço à toa…

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