domingo , 22 dezembro , 2024

Panorama Suíço | Diário da Minha Cabeça: Cinema de respeito e com profundidade

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Pensamentos a mil, ideias conflitantes, um turbilhão de contrastes, contradições e caminhos diversos. A mente de um adolescente se manifesta em meio a uma complexa enxurrada de emoções, variações hormonais e observações inconclusas, naturais da idade. Materializar esse conflitos que ali habitam pode gerar circunstâncias adversas, severas e até mesmo perigosas. Em meio a esse contexto de transformações e desconstruções, o seio escolar se acopla a essa intensidade, direcionando naturalmente o comportamento de jovens que se encontram à flor da pele em todos os sentidos. Diário da Minha Cabeça extrai esse hiato da vida humana, em um roteiro sucinto e impecável que alinhava o delicado relacionamento entre professor e aluno, em meio a um furacão de decisões ruins tomadas pela impulsividade juvenil (ou não).

Encontramos Benjamin (Kacey Mottet Klein) comprimindo fisicamente seus pensamos, em uma cena de abertura misteriosa e calada. Enquanto ouvimos sua mente desafiar nosso entendimento com frases aparentemente desconexas, nos acomodamos, a fim de desvendar o que se passa com este garoto que esconde seu rosto da audiência nos primeiros minutos. Estranhamente, somos inicialmente apresentados às suas ideias, como se suas feições fossem nos dizer muito pouco de quem ele é. Ironicamente, sua expressividade maior se desenvolve por meio das palavras, escritas em um diário que não veria a luz do dia, a não ser pelos olhos de sua professora de Francês e literatura. Prestes a cometer um crime brutal sem motivações genuinamente palpáveis, ele se apoia em uma linha de raciocínio louvável, mas dúbia: a importância de expressar o que se sente.



Incentivado pela inocente ideologia da professora Esther (Fanny Ardant), o protagonista toca em um ponto extremamente profundo e complexo, fazendo uso de uma narrativa simples, que se desabrocha a partir das reações de seus personagens e das páginas de seu diário escolar. Ao usar um trabalho de escola como um instrumento de confissão de seu crime, Benjamin sinaliza algumas possíveis rachaduras que a relação mestre e aprendiz pode ter. Questões como até onde é saudável se aproximar dos alunos e o quão subjetivo se pode ser no intuito de estimular a liberdade criativa pairam nas nossas mentes, através de uma trama que vai aos pontos extremos para talvez provar um argumento.

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Nessa complexa dinâmica relacional, o espectador é confrontado a refletir sobre a temática, como se julgar o caráter da professora estivesse de fato nas nossas mãos. O “talvez” citado se consolida justamente no roteiro, que não condena e tão pouco inocenta as consequências do amor pelo ensino da docente refletidos em seu “perverso” aluno. Ao nos incomodar a tomar as rédeas da validação ou invalidação da personagem, os roteiristas Ursula Meier e Antoine Jaccoud brilhantemente lavam as mãos, apenas para nos levar a uma conclusão de que nem tudo pode ser visto aos moldes 8 e 80. Sustentando que há sempre uma linha tênue que determina o grau de ‘saudável’ nos relacionamentos, o condenar e inocentar acabam sendo colocados nas mãos da própria professora Esther, que por sua consciência assume para si o veredito que possivelmente lhe couber melhor.

A profundidade deste roteiro simples desafia ainda mais a audiência pelo protagonista da trama, um intenso e contraditório jovem, que mata seus pais, absorve uma descarga intensa de uma doentia adrenalina e padece em uma frieza que contrasta com sua íntima escrita. À medida que a trama caminha, nossa percepção amadurece, ganha novos tons e uma perspicácia que só teríamos ao enxergar Benjamin com lentes de aumento. E conforme o tal diário de sua cabeça vira as páginas, uma figura mais completa de todo esse contexto se forma, deixando o quebra-cabeça quase finalizado.

Com personagens que se desenvolvem mediante a eclosão dos fatos, Diário da Minha Cabeça é uma joia do cinema suíço, que valoriza seu tempo em tela sem se estender excessivamente, trazendo a tensão e a angústia da narrativa para o psicológico do espectador. Ao tratar a psique juvenil estudantil, contrapondo com a perceptividade de uma antiga professora do Ensino Médio, buscamos aquela peça do quebra-cabeça que falta, apenas para compreendermos que, no final das contas, certas coisas podem mesmo ser relativas, sem ter respostas ou encaixes definitivos.

 

 

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Encontramos Benjamin (Kacey Mottet Klein) comprimindo fisicamente seus pensamos, em uma cena de abertura misteriosa e calada. Enquanto ouvimos sua mente desafiar nosso entendimento com frases aparentemente desconexas, nos acomodamos, a fim de desvendar o que se passa com este garoto que esconde seu rosto da audiência nos primeiros minutos. Estranhamente, somos inicialmente apresentados às suas ideias, como se suas feições fossem nos dizer muito pouco de quem ele é. Ironicamente, sua expressividade maior se desenvolve por meio das palavras, escritas em um diário que não veria a luz do dia, a não ser pelos olhos de sua professora de Francês e literatura. Prestes a cometer um crime brutal sem motivações genuinamente palpáveis, ele se apoia em uma linha de raciocínio louvável, mas dúbia: a importância de expressar o que se sente.

Incentivado pela inocente ideologia da professora Esther (Fanny Ardant), o protagonista toca em um ponto extremamente profundo e complexo, fazendo uso de uma narrativa simples, que se desabrocha a partir das reações de seus personagens e das páginas de seu diário escolar. Ao usar um trabalho de escola como um instrumento de confissão de seu crime, Benjamin sinaliza algumas possíveis rachaduras que a relação mestre e aprendiz pode ter. Questões como até onde é saudável se aproximar dos alunos e o quão subjetivo se pode ser no intuito de estimular a liberdade criativa pairam nas nossas mentes, através de uma trama que vai aos pontos extremos para talvez provar um argumento.

Nessa complexa dinâmica relacional, o espectador é confrontado a refletir sobre a temática, como se julgar o caráter da professora estivesse de fato nas nossas mãos. O “talvez” citado se consolida justamente no roteiro, que não condena e tão pouco inocenta as consequências do amor pelo ensino da docente refletidos em seu “perverso” aluno. Ao nos incomodar a tomar as rédeas da validação ou invalidação da personagem, os roteiristas Ursula Meier e Antoine Jaccoud brilhantemente lavam as mãos, apenas para nos levar a uma conclusão de que nem tudo pode ser visto aos moldes 8 e 80. Sustentando que há sempre uma linha tênue que determina o grau de ‘saudável’ nos relacionamentos, o condenar e inocentar acabam sendo colocados nas mãos da própria professora Esther, que por sua consciência assume para si o veredito que possivelmente lhe couber melhor.

A profundidade deste roteiro simples desafia ainda mais a audiência pelo protagonista da trama, um intenso e contraditório jovem, que mata seus pais, absorve uma descarga intensa de uma doentia adrenalina e padece em uma frieza que contrasta com sua íntima escrita. À medida que a trama caminha, nossa percepção amadurece, ganha novos tons e uma perspicácia que só teríamos ao enxergar Benjamin com lentes de aumento. E conforme o tal diário de sua cabeça vira as páginas, uma figura mais completa de todo esse contexto se forma, deixando o quebra-cabeça quase finalizado.

Com personagens que se desenvolvem mediante a eclosão dos fatos, Diário da Minha Cabeça é uma joia do cinema suíço, que valoriza seu tempo em tela sem se estender excessivamente, trazendo a tensão e a angústia da narrativa para o psicológico do espectador. Ao tratar a psique juvenil estudantil, contrapondo com a perceptividade de uma antiga professora do Ensino Médio, buscamos aquela peça do quebra-cabeça que falta, apenas para compreendermos que, no final das contas, certas coisas podem mesmo ser relativas, sem ter respostas ou encaixes definitivos.

 

 

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