Um dos motivos da greve dos atores norte-americanos surgiu em protesto contra o uso de inteligência artificial para reproduzir suas vozes e aparências em futuros projetos.
E, durante uma entrevista para o Capital and Main, Nicole Kreuzer, figurante na série ‘The Mandalorian‘, revelou que a Disney a coagiu a ser escaneados digitalmente para conseguir mais destaque na série.
Kreuzer afirmou que o estúdio disse a ela que se ela permitisse que sua imagem fosse arquivada digitalmente, ela também teria mais oportunidades em futuras produções, o que nunca aconteceu.
“Eu queria me recusar a fazer isso. Eu me senti desconfortável. Mas eles nos ofereceram mais trabalho como moeda de troca. Era isso que eles estavam balançando na nossa frente. Me disseram que se eu recusasse, eles iriam me mandar para casa naquele dia, e eu nunca mais seria chamada de volta. Mas eles nunca mais me chamaram de qualquer maneira.”
Kreuzer disse que seu pagamento diário era de apenas US$ 170 e quando foi questionada sobre o escaneamento, não conseguiu entrar em contato com o sindicato dos atores para saber como seguir em frente porque o uso de celular era proibido durante as gravações.
A figurante argumentou que nunca teria aceitado a proposta se soubesse o que ela sabe agora.
Além disso, ela diz que ainda não sabe o que o estúdio fez com suas digitalizações.
Até o momento, a Lucasfilm e a Disney não comentaram as alegações.
Apesar de parecer tem de ficção científica, o The Hollywood Reporter divulgou que a Netflix contratou um gerente de produtos de IA, enquanto a Disney está procurando especialistas em IA generativa e a Sony procura um especialista em ética em IA, enquanto a tecnologia se torna um elemento-chave em questão durante a paralisação dos atores e roteiristas.
Inclusive, Bryan Cranston (‘Breaking Bad’) pediu apoio à causa em um discurso direcionado ao presidente da Disney, Bob Iger.
“Temos uma mensagem para o Sr. Iger: eu sei, senhor, que você olha as coisas através de uma lente diferente. Não esperamos que você entenda quem somos. Mas pedimos que nos ouçam e, além disso, que prestem atenção quando dissermos que não teremos nossos empregos roubados por versões artificiais e nós mesmos.”
Os atores temem que os estúdios usem e reutilizem suas imagens em troco de pouco ou nenhum pagamento ou sem aviso prévio.
Já os roteiristas temem que os estúdios usem tecnologias como o ChatGPT para criarem roteiros, o que levaria à extinção da classe.
Por outro lado, os produtores e representantes de estúdios argumentam que o uso de IA deve ser uma abordagem equilibrada baseada no uso cuidadoso, não na proibição.
Embora o futuro da IA em Hollywood não seja claro, não há dúvida de que os principais estúdios e serviços de streaming estão interessados em explorar a tecnologia.
As listas de empregos em quase todas as grandes empresas de entretenimento mostram que há uma verdadeira demanda de contratações de especialistas no ramo, pois essas empresas estão a fim de entender como a tecnologia pode mudar alavancar seus negócios.
No total, o THR detectou meia dúzia de vagas de emprego focadas em IA na Disney, mas o estúdio está longe de ser o único a explorar o negócio.
Recentemente, a Netflix ganhou algumas manchetes depois que foi vazado que a plataforma de streaming está oferecendo uma vaga de gerente de produtos de IA, com um salário de US$ 900.000 ao mês.
A Amazon e a Apple têm dezenas de vagas para especialistas em IA, mas são vagas voltadas a atividades de engajamento e marketing que buscam entregar maior visibilidade das marcas para os clientes.
Já a Sony Pictures criou uma divisão inteira, a Sony AI America, dedicada a pesquisas para obter os melhores resultados técnicos e criativos que possam ser gerados através da inteligência artificial.
Através de um comunicado, a divisão aponta o seguinte:
“Acreditamos na pesquisa e desenvolvimento de técnicas de IA que capacitam a imaginação e a criatividade de artistas, fabricantes e criadores de todo o mundo. Nosso objetivo é promover a IA para que ela aumente – e trabalhe em harmonia com – os humanos para beneficiar a sociedade.”
De qualquer forma, o avanço da inteligência artificial representa uma corrida feroz e lucrativa, e os estúdios que mais se beneficiarem deste novo recurso serão os que mais terão retorno financeiro a longo prazo.
A pergunta que resta é como isso terá impacto no trabalho de artistas e de qualquer ser humanos daqui para frente.