quarta-feira , 20 novembro , 2024

Por que as adaptações Live-Action dos desenhos clássicos são tão RUINS?

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Desenhos animados fascinam as pessoas desde que foram lançados nos anos 30. Na época, quem quisesse assistir às Silly Symphonies, da Disney, ou às Merrie Melodies, da Warner, teria que ir para um cinema, comprar ingressos e curti-los em uma clássica matinê. No Brasil, por exemplo, era bastante comum que os cinemas de rua exibissem uma sessão só com desenhos do Tom & Jerry nas manhãs dos finais de semana. Era sucesso entre a criançada e, convenhamos, os conteúdos eram tão criativos e bem feitos, que os pais também davam bastante risada. Quando a televisão se popularizou, alguns cinemas conseguiram manter as sessões até os anos 1980, mas a concorrência ficou desleal, já que as animações agora eram transmitidas gratuitamente pelas emissoras.

Oswald, O Coelhinho Sortudo” foi o primeiro sucesso de Walt Disney, que ficou sob crédito da Universal por várias décadas.

Com o passar do tempo, as tecnologias de animação foram crescendo e os filmes da Disney já mostravam que o cinema era uma forma de lucrar ainda mais com personagens animados. Sem ter que gastar horrores com atores, os estúdios passaram a investir no gênero e foram achando seu caminho. Em 1988, Uma Cilada Para Roger Rabbit resgatou um conceito interessante, que fora usado nas animações soviéticas dos anos 40, e tinha ficado famoso em filmes da Disney, como Você Já Foi à Bahia? e Mary Poppins, que era mesclar a animação com o live-action. Produzido por Steven Spielberg e dirigido por Robert Zemeckis, o filme trazia um clima noir para a Hollywood dos anos 40, aonde um detetive humano deveria encontrar Roger Rabbit, um coelho em desenho animado que vinha sendo acusado de homicídio. À procura de Roger Rabbit, o detetive passa por diversos astros de animações famosos, como a Betty Boop, o Patolino, o Mickey, o Pernalonga e por aí vai. Cheio de piadas adultas, o longa conseguiu contar uma boa história sem perder a inocência das animações. O resultado foi um sucesso de crítica e bilheteria.



A única vez que os dois maiores ícones das animações interagiram foi nesta cena histórica de ‘Uma Cilada Para Roger Rabbit’.

Esse sucesso permearia a mente de Spielberg, que, anos mais tarde, voltaria a se envolver em um projeto baseado em desenhos animados clássicos. Após trabalhar com John Goodman, o diretor maturou a ideia de um filme dos Flintstones que deveria ser estrelado pelo ator. Assim, a Amblin (produtora de Steven Spielberg) investiu na ideia. O problema é que os envolvidos no filme não entenderam muito bem o que tinham em mãos. Dessa forma foi difícil encontrar uma história para contar em tela. Por conta disso, o roteiro passou por muita gente e acabou trabalhando uma trama bastante adulta, cheia de piadas sacanas e envolvendo temas como traição e corrupção. O retorno financeiro foi excelente, já que o filme custou menos de 50 milhões e arrecadou cerca de US$ 346 milhões. Já as críticas… A verdade é que o filme consegue adaptar elementos bem divertidos da animação. Mas justamente por adaptar um desenho tão querido e inocente como os Flintstones, o projeto acaba constrangendo ao te mostrar personagens até então bobinhos lidando com problemas adultos. Então, dá para dizer que ele sofreu bastante com um certo conservadorismo da crítica, mas também não é absurdo falar que o diretor, Brian Levant, perdeu completamente a linha na abordagem. A prova de que o público não comprou tanto a ideia veio no desempenho da sequência, lançada em 2000, que acabou sendo um fracasso homérico.

Muito dinheiro e problemas com a crítica. ‘Os Flintstones: O Filme” é quase uma paródia adulta da animação dos anos 60.

Essa virada do final dos anos 90 para o começo dos anos 2000 deveria marcar a consolidação dos live-actions das animações nos cinemas. Depois dos Flintstones, foram lançados alguns outros longas animados que foram verdadeiros sucessos de bilheteria e se tornaram fenômenos, marcando uma geração de crianças e adolescentes, mas que realmente sofreram nas mãos do conservadorismo da crítica da época. Todos eles abraçavam a essência dos personagens, mas ousavam ao não adaptar piamente os cartoons. O resultado foram projetos incríveis sendo abandonados. Vamos falar mais deles lá pra baixo. Aguarde. O ponto é que as críticas incomodaram e os estúdios adotaram o conservadorismo, a ideia de que live-actions que adaptavam animações precisava ser bobos e infantis, se distanciando completamente do ultraje dos Flintstones e da ‘maldade’ adolescente de Scooby-Doo: O Filme. O filho desse pensamento conservador foram os dois filmes do Garfield.

A franquia foi satirizada duas vezes pelo protagonista, Bill Murray, durante a franquia Zumbilândia.

Com dois longas indefensáveis, a franquia Garfield trouxe um elenco humano completamente insosso, com uma trama sem brilho e um protagonista que deveria ser sarcástico, mas acabou ficando insuportável, chega a ser uma surpresa que tenham insistido nesses filmes. Os pais levavam as crianças para verem um personagem marcante de suas infâncias e terminavam com uma competição para ver quem ficou mais de saco cheio. Depois de Garfield, os estúdios ficaram com um pé atrás na hora de dar sinais verdes para projetos envolvendo animações em carne e osso. O último suspiro do subgênero veio entre 2008 e 2009, com as duas últimas adaptações de grande investimento.

 

Prejudicado pela própria ambição, o filme do Speed Racer lucrou muito com merchandising, mas sofreu nas bilheterias.

A primeira foi Speed Racer, dirigido pelas Irmãs Wachowski, o longa é realmente interessante e destoante da animação original. E isso incomodou os fãs, que queriam algo mais próximo do desenho. Trazendo um visual recheado de neons e cores saturadas, o filme adota uma ótima infantil sobre o mundo das corridas, abordando a paixão pelo esporte, a noção simplista da corrupção e as relações familiares sob uma perspectiva bastante inocente. E isso é fantástico, porque, ao mesmo tempo em que vemos elementos clássicos ganhando vida – como os exóticos carros de corrida -, contemplamos uma abordagem diferenciada, quase nostálgica de quando os dias eram mais simples. O problema é que o investimento foi muito alto e a bilheteria sequer conseguiu que a produção se pagasse. Fora isso, o CGI da época não ajudou e algumas cenas ficaram absurdamente artificiais, dando aquela sensação de trabalho inacabado. Considero esse filme injustiçado, porque a crítica detonou principalmente os efeitos especiais cansativos. Outro ponto mal visto pela crítica internacional foi que o filme – sobre um piloto de corridas – tinha muita cena de corrida. E o elenco era fantástico, trazendo nomes como John Goodman, Susan Sarandon e Roger Allam.

 

Apesar de muito fofa, a dupla de ursos não conseguiu conquistar público e crítica.

O lançamento do ano seguinte foi a gota d’água. Apostando no sucesso de um dos personagens mais carismáticos dos EUA, a Warner investiu pesado no live-action de Zé Colmeia. Tudo nesse filme é errado. Seguindo a mesma linha de Garfield, que era inocente e trazia Bill Murray para fazer a voz do gatinho, Zé Colmeia trouxe Dan Aykroyd para dar voz ao personagem título e Justin Timberlake para o papel do Catatau. São nomes que levam público aos cinemas, principalmente se o estúdio apostasse na identificação do desenho e de Dan com as crianças dos anos 80. O ponto dessa estratégia é que filmes infantis costumam chegar aos cinemas do mundo com mais cópias dubladas do que legendadas, já que o público alvo muitas vezes sequer sabe ler. Então, o peso desses atores é completamente descartado, considerando que eles não aparecem fisicamente. Assim, o nome mais famoso a ser visto em tela foi Anna Faris, que fazia sucesso na franquia adolescente Todo Mundo Em Pânico, mas que não tinha nada a ver com esse longa. Sem ter o chamariz principal a nível mundial e indo pelo conservadorismo da trama estritamente infantil, o filme foi um verdadeiro sonífero. Diferentemente de Speed Racer, esse aqui conseguiu se pagar e ter um lucro considerável. Nada que justificasse uma sequência ou um derivado.

‘Pica-Pau’ é um clássico exemplo de como não se fazer um filme.

Depois de Zé Colmeia, o maior destaque foi o filme do Pica-Pau. Produzido pela Universal, o live-action do passarinho endiabrado foi completamente pensado para agradar o público brasileiro. Lançado sob forte campanha publicitária no Brasil e trazendo a brasileira Thaila Ayala no elenco, a aventura sequer foi lançada nos cinemas americanos. A ideia era surfar no enorme número de fãs que o passarinho tem aqui. Para evitar riscos de prejuízo, o filme contou com uma verba de apenas US$ 10 milhões, lucrando o dobro com bilheteria. Mas não se engane, nada se salva aqui. O filme é uma completa ofensa ao personagem, que é famoso por ser carismaticamente maldoso. Eles pegam o Pica-Pau e o transformam em um coadjuvante de luxo. O problema é que o elenco principal não tem o mínimo de carisma e a história realmente não é interessante, além de não ter a mínima graça. O visual ficou até legal, mas não compensa o fracasso retumbante que é esse longa.

Então é isso, não tem como adaptar um desenho para os cinemas?

Muito pelo contrário!

 

A primeira aventura dos Looney Tunes nos cinemas se tornou a maior bilheteria que um filme sobre basquetebol já conseguiu na história.

No final dos anos 1990 e comecinho dos anos 2000, tivemos quatros exemplares de como realizar essas adaptações. O primeiro é provavelmente o filme que mais é lembrado pela mistura de animação com live-action depois de Uma Cilada Para Roger Rabbit. Space Jam: O Jogo do Século chega aos cinemas trazendo o melhor que os Looney Tunes tinham a oferecer: muita criatividade e humor non-sense. A turma do Pernalonga é fantástica porque permite que a equipe criativa trate as situações mais absurdas de forma natural, já que 70% do filme é ambientado em um cenário animado em 2D e 3D. Dessa forma, o astro humano, o lendário Michael Jordan, que estava no auge de sua popularidade, pode ser tratado como um humano no mundo animado. Completamente diferente das outras tentativas, que traziam os desenhos para o mundo real. Dessa forma, o absurdo dos Looney Tunes pôde ser utilizado de forma divertida e em sua totalidade. Quando se abraça as regras dos desenhos animados, um mundo de possibilidades se abre.

 

Uma verdadeira viagem pela loucura dos Looney Tunes e pelos estúdios Warner.

Vários anos depois de Space Jam: O Jogo do Século, os Looney Tunes voltaram para as telonas. Dirigido por Joe Dante, Looney Tunes: De Volta à Ação é uma sátira dos filmes de espionagem que, divergindo de Space Jam, traz os desenhos para o mundo real. O interessante é que eles se inspiram bastante em Roger Rabbit. Ou seja, toda a insanidade do mundo animado passa a valer no mundo real, o que rende situações divertidíssimas. Os Looney Tunes são muito versáteis e permitem que a equipe criativa seja… Bem, criativa.

 

Com um humor adolescente e mantendo a essência dos personagens, ‘Scooby-Doo: O Filme” foi sucesso de bilheteria.

Outro longa que soube mesclar o original com a inovação foram os dois filmes do Scooby-Doo. Roteirizados por James Gunn e dirigidos por Raja Gosnell, os longas mantém a essência da trupe jovem, mas os coloca no século XXI, como jovens modernos e com comportamentos mais condizentes com adolescentes. O resultado é um primeiro filme que flerta com o terror, trazendo vários elementos macabros dentro de um parque de diversões, insere muitas piadas adultas na dose certa para entreter os pais, mas sem deixar na cara dos pequenos certos temas que eles só viriam a entender anos mais tarde. O primeiro filme tem um roteiro muito sagaz e conquistou o público, rendendo uma sequência.

 

A sequência volta com o humor ousado, mas presta uma grande homenagem aos desenhos clássicos.

A dupla criativa voltou para realizar a sequência, que foi um pouquinho mais conservadora que a anterior, mas sem perder o charme do humor adolescente. A diferença é que dessa vez o longa trouxe ainda mais elementos da animação clássica, resultando numa grande homenagem ao desenho dos anos 60. Um ponto muito importante para o sucesso dessa franquia, que também sofreu com algumas críticas conservadoras, foi realmente dar relevância e carisma para o elenco humano. Diferentemente de Garfield, Zé Colmeia, Pica-Pau e vários outros, os filmes do Scooby-Doo valorizam a parte de carne e osso, deixando muito mais interessante e divertido. Não depender exclusivamente do personagem título é um mérito enorme dessa franquia.

 

O anacronismo de ter personagens dos anos 60 jogando Guitar Hero é divertido demais.

Outro exemplo mais recente é o primeiro filme dos Smurfs, também dirigido por Raja Gasnell. Ele soube como trazer os pequetuchos azuis para o mundo real. A sensibilidade do diretor em utilizar uma visão anacrônica cai muito bem aqui, fazendo com que o filme se desenrole de uma maneira fofa, divertida e com piadas que não são nem adultas nem bobinhas. Ou seja, uma trabalho incrível de adaptação. O elenco humano, encabeçado por Neil Patrick Harris, também é divertido e carismático, proporcionando o casamento perfeito.

 

Enquanto os estúdios não entenderem muito bem as franquias que têm nas mãos e não permitirem que seus roteiristas e diretores possam se desprender do conservadorismo, as chances de um retorno tanto de crítica quanto de bilheteria são bem maiores. Vamos aguardar para ver como será.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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Desenhos animados fascinam as pessoas desde que foram lançados nos anos 30. Na época, quem quisesse assistir às Silly Symphonies, da Disney, ou às Merrie Melodies, da Warner, teria que ir para um cinema, comprar ingressos e curti-los em uma clássica matinê. No Brasil, por exemplo, era bastante comum que os cinemas de rua exibissem uma sessão só com desenhos do Tom & Jerry nas manhãs dos finais de semana. Era sucesso entre a criançada e, convenhamos, os conteúdos eram tão criativos e bem feitos, que os pais também davam bastante risada. Quando a televisão se popularizou, alguns cinemas conseguiram manter as sessões até os anos 1980, mas a concorrência ficou desleal, já que as animações agora eram transmitidas gratuitamente pelas emissoras.

Oswald, O Coelhinho Sortudo” foi o primeiro sucesso de Walt Disney, que ficou sob crédito da Universal por várias décadas.

Com o passar do tempo, as tecnologias de animação foram crescendo e os filmes da Disney já mostravam que o cinema era uma forma de lucrar ainda mais com personagens animados. Sem ter que gastar horrores com atores, os estúdios passaram a investir no gênero e foram achando seu caminho. Em 1988, Uma Cilada Para Roger Rabbit resgatou um conceito interessante, que fora usado nas animações soviéticas dos anos 40, e tinha ficado famoso em filmes da Disney, como Você Já Foi à Bahia? e Mary Poppins, que era mesclar a animação com o live-action. Produzido por Steven Spielberg e dirigido por Robert Zemeckis, o filme trazia um clima noir para a Hollywood dos anos 40, aonde um detetive humano deveria encontrar Roger Rabbit, um coelho em desenho animado que vinha sendo acusado de homicídio. À procura de Roger Rabbit, o detetive passa por diversos astros de animações famosos, como a Betty Boop, o Patolino, o Mickey, o Pernalonga e por aí vai. Cheio de piadas adultas, o longa conseguiu contar uma boa história sem perder a inocência das animações. O resultado foi um sucesso de crítica e bilheteria.

A única vez que os dois maiores ícones das animações interagiram foi nesta cena histórica de ‘Uma Cilada Para Roger Rabbit’.

Esse sucesso permearia a mente de Spielberg, que, anos mais tarde, voltaria a se envolver em um projeto baseado em desenhos animados clássicos. Após trabalhar com John Goodman, o diretor maturou a ideia de um filme dos Flintstones que deveria ser estrelado pelo ator. Assim, a Amblin (produtora de Steven Spielberg) investiu na ideia. O problema é que os envolvidos no filme não entenderam muito bem o que tinham em mãos. Dessa forma foi difícil encontrar uma história para contar em tela. Por conta disso, o roteiro passou por muita gente e acabou trabalhando uma trama bastante adulta, cheia de piadas sacanas e envolvendo temas como traição e corrupção. O retorno financeiro foi excelente, já que o filme custou menos de 50 milhões e arrecadou cerca de US$ 346 milhões. Já as críticas… A verdade é que o filme consegue adaptar elementos bem divertidos da animação. Mas justamente por adaptar um desenho tão querido e inocente como os Flintstones, o projeto acaba constrangendo ao te mostrar personagens até então bobinhos lidando com problemas adultos. Então, dá para dizer que ele sofreu bastante com um certo conservadorismo da crítica, mas também não é absurdo falar que o diretor, Brian Levant, perdeu completamente a linha na abordagem. A prova de que o público não comprou tanto a ideia veio no desempenho da sequência, lançada em 2000, que acabou sendo um fracasso homérico.

Muito dinheiro e problemas com a crítica. ‘Os Flintstones: O Filme” é quase uma paródia adulta da animação dos anos 60.

Essa virada do final dos anos 90 para o começo dos anos 2000 deveria marcar a consolidação dos live-actions das animações nos cinemas. Depois dos Flintstones, foram lançados alguns outros longas animados que foram verdadeiros sucessos de bilheteria e se tornaram fenômenos, marcando uma geração de crianças e adolescentes, mas que realmente sofreram nas mãos do conservadorismo da crítica da época. Todos eles abraçavam a essência dos personagens, mas ousavam ao não adaptar piamente os cartoons. O resultado foram projetos incríveis sendo abandonados. Vamos falar mais deles lá pra baixo. Aguarde. O ponto é que as críticas incomodaram e os estúdios adotaram o conservadorismo, a ideia de que live-actions que adaptavam animações precisava ser bobos e infantis, se distanciando completamente do ultraje dos Flintstones e da ‘maldade’ adolescente de Scooby-Doo: O Filme. O filho desse pensamento conservador foram os dois filmes do Garfield.

A franquia foi satirizada duas vezes pelo protagonista, Bill Murray, durante a franquia Zumbilândia.

Com dois longas indefensáveis, a franquia Garfield trouxe um elenco humano completamente insosso, com uma trama sem brilho e um protagonista que deveria ser sarcástico, mas acabou ficando insuportável, chega a ser uma surpresa que tenham insistido nesses filmes. Os pais levavam as crianças para verem um personagem marcante de suas infâncias e terminavam com uma competição para ver quem ficou mais de saco cheio. Depois de Garfield, os estúdios ficaram com um pé atrás na hora de dar sinais verdes para projetos envolvendo animações em carne e osso. O último suspiro do subgênero veio entre 2008 e 2009, com as duas últimas adaptações de grande investimento.

 

Prejudicado pela própria ambição, o filme do Speed Racer lucrou muito com merchandising, mas sofreu nas bilheterias.

A primeira foi Speed Racer, dirigido pelas Irmãs Wachowski, o longa é realmente interessante e destoante da animação original. E isso incomodou os fãs, que queriam algo mais próximo do desenho. Trazendo um visual recheado de neons e cores saturadas, o filme adota uma ótima infantil sobre o mundo das corridas, abordando a paixão pelo esporte, a noção simplista da corrupção e as relações familiares sob uma perspectiva bastante inocente. E isso é fantástico, porque, ao mesmo tempo em que vemos elementos clássicos ganhando vida – como os exóticos carros de corrida -, contemplamos uma abordagem diferenciada, quase nostálgica de quando os dias eram mais simples. O problema é que o investimento foi muito alto e a bilheteria sequer conseguiu que a produção se pagasse. Fora isso, o CGI da época não ajudou e algumas cenas ficaram absurdamente artificiais, dando aquela sensação de trabalho inacabado. Considero esse filme injustiçado, porque a crítica detonou principalmente os efeitos especiais cansativos. Outro ponto mal visto pela crítica internacional foi que o filme – sobre um piloto de corridas – tinha muita cena de corrida. E o elenco era fantástico, trazendo nomes como John Goodman, Susan Sarandon e Roger Allam.

 

Apesar de muito fofa, a dupla de ursos não conseguiu conquistar público e crítica.

O lançamento do ano seguinte foi a gota d’água. Apostando no sucesso de um dos personagens mais carismáticos dos EUA, a Warner investiu pesado no live-action de Zé Colmeia. Tudo nesse filme é errado. Seguindo a mesma linha de Garfield, que era inocente e trazia Bill Murray para fazer a voz do gatinho, Zé Colmeia trouxe Dan Aykroyd para dar voz ao personagem título e Justin Timberlake para o papel do Catatau. São nomes que levam público aos cinemas, principalmente se o estúdio apostasse na identificação do desenho e de Dan com as crianças dos anos 80. O ponto dessa estratégia é que filmes infantis costumam chegar aos cinemas do mundo com mais cópias dubladas do que legendadas, já que o público alvo muitas vezes sequer sabe ler. Então, o peso desses atores é completamente descartado, considerando que eles não aparecem fisicamente. Assim, o nome mais famoso a ser visto em tela foi Anna Faris, que fazia sucesso na franquia adolescente Todo Mundo Em Pânico, mas que não tinha nada a ver com esse longa. Sem ter o chamariz principal a nível mundial e indo pelo conservadorismo da trama estritamente infantil, o filme foi um verdadeiro sonífero. Diferentemente de Speed Racer, esse aqui conseguiu se pagar e ter um lucro considerável. Nada que justificasse uma sequência ou um derivado.

‘Pica-Pau’ é um clássico exemplo de como não se fazer um filme.

Depois de Zé Colmeia, o maior destaque foi o filme do Pica-Pau. Produzido pela Universal, o live-action do passarinho endiabrado foi completamente pensado para agradar o público brasileiro. Lançado sob forte campanha publicitária no Brasil e trazendo a brasileira Thaila Ayala no elenco, a aventura sequer foi lançada nos cinemas americanos. A ideia era surfar no enorme número de fãs que o passarinho tem aqui. Para evitar riscos de prejuízo, o filme contou com uma verba de apenas US$ 10 milhões, lucrando o dobro com bilheteria. Mas não se engane, nada se salva aqui. O filme é uma completa ofensa ao personagem, que é famoso por ser carismaticamente maldoso. Eles pegam o Pica-Pau e o transformam em um coadjuvante de luxo. O problema é que o elenco principal não tem o mínimo de carisma e a história realmente não é interessante, além de não ter a mínima graça. O visual ficou até legal, mas não compensa o fracasso retumbante que é esse longa.

Então é isso, não tem como adaptar um desenho para os cinemas?

Muito pelo contrário!

 

A primeira aventura dos Looney Tunes nos cinemas se tornou a maior bilheteria que um filme sobre basquetebol já conseguiu na história.

No final dos anos 1990 e comecinho dos anos 2000, tivemos quatros exemplares de como realizar essas adaptações. O primeiro é provavelmente o filme que mais é lembrado pela mistura de animação com live-action depois de Uma Cilada Para Roger Rabbit. Space Jam: O Jogo do Século chega aos cinemas trazendo o melhor que os Looney Tunes tinham a oferecer: muita criatividade e humor non-sense. A turma do Pernalonga é fantástica porque permite que a equipe criativa trate as situações mais absurdas de forma natural, já que 70% do filme é ambientado em um cenário animado em 2D e 3D. Dessa forma, o astro humano, o lendário Michael Jordan, que estava no auge de sua popularidade, pode ser tratado como um humano no mundo animado. Completamente diferente das outras tentativas, que traziam os desenhos para o mundo real. Dessa forma, o absurdo dos Looney Tunes pôde ser utilizado de forma divertida e em sua totalidade. Quando se abraça as regras dos desenhos animados, um mundo de possibilidades se abre.

 

Uma verdadeira viagem pela loucura dos Looney Tunes e pelos estúdios Warner.

Vários anos depois de Space Jam: O Jogo do Século, os Looney Tunes voltaram para as telonas. Dirigido por Joe Dante, Looney Tunes: De Volta à Ação é uma sátira dos filmes de espionagem que, divergindo de Space Jam, traz os desenhos para o mundo real. O interessante é que eles se inspiram bastante em Roger Rabbit. Ou seja, toda a insanidade do mundo animado passa a valer no mundo real, o que rende situações divertidíssimas. Os Looney Tunes são muito versáteis e permitem que a equipe criativa seja… Bem, criativa.

 

Com um humor adolescente e mantendo a essência dos personagens, ‘Scooby-Doo: O Filme” foi sucesso de bilheteria.

Outro longa que soube mesclar o original com a inovação foram os dois filmes do Scooby-Doo. Roteirizados por James Gunn e dirigidos por Raja Gosnell, os longas mantém a essência da trupe jovem, mas os coloca no século XXI, como jovens modernos e com comportamentos mais condizentes com adolescentes. O resultado é um primeiro filme que flerta com o terror, trazendo vários elementos macabros dentro de um parque de diversões, insere muitas piadas adultas na dose certa para entreter os pais, mas sem deixar na cara dos pequenos certos temas que eles só viriam a entender anos mais tarde. O primeiro filme tem um roteiro muito sagaz e conquistou o público, rendendo uma sequência.

 

A sequência volta com o humor ousado, mas presta uma grande homenagem aos desenhos clássicos.

A dupla criativa voltou para realizar a sequência, que foi um pouquinho mais conservadora que a anterior, mas sem perder o charme do humor adolescente. A diferença é que dessa vez o longa trouxe ainda mais elementos da animação clássica, resultando numa grande homenagem ao desenho dos anos 60. Um ponto muito importante para o sucesso dessa franquia, que também sofreu com algumas críticas conservadoras, foi realmente dar relevância e carisma para o elenco humano. Diferentemente de Garfield, Zé Colmeia, Pica-Pau e vários outros, os filmes do Scooby-Doo valorizam a parte de carne e osso, deixando muito mais interessante e divertido. Não depender exclusivamente do personagem título é um mérito enorme dessa franquia.

 

O anacronismo de ter personagens dos anos 60 jogando Guitar Hero é divertido demais.

Outro exemplo mais recente é o primeiro filme dos Smurfs, também dirigido por Raja Gasnell. Ele soube como trazer os pequetuchos azuis para o mundo real. A sensibilidade do diretor em utilizar uma visão anacrônica cai muito bem aqui, fazendo com que o filme se desenrole de uma maneira fofa, divertida e com piadas que não são nem adultas nem bobinhas. Ou seja, uma trabalho incrível de adaptação. O elenco humano, encabeçado por Neil Patrick Harris, também é divertido e carismático, proporcionando o casamento perfeito.

 

Enquanto os estúdios não entenderem muito bem as franquias que têm nas mãos e não permitirem que seus roteiristas e diretores possam se desprender do conservadorismo, as chances de um retorno tanto de crítica quanto de bilheteria são bem maiores. Vamos aguardar para ver como será.

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