Grupo dos EUA critica a violência do primeiro episódio de The Walking Dead – TWD. Sim!, foi um episódio louco, mano! Eles pediram que as empresas boicotem a série. Bem, quem quiser criticar, que critique. Se quiser fazer campanha contra, que faça! Não usando nenhum mecanismo de repressão (lê-se: usar o Poder Público para censurar algo), tá valendo – na verdade, eles também falaram que “as famílias deveriam ter mais controle sobre o que acontece na TV”. Agora, assim como eles podem criticar, nós podemos criticá-los. Ententem?
Também por esses dias, grupos feministas reclamaram da capa da HQ Invincible Iron Man # 1, da Marvel. Alegavam que a personagem Riri Williams, que deve assumir o manto do Homem de Ferro, estava hiper sensualizada, que exploravam o corpo de uma garota e estereótipos negros. A capa foi alterada. Vejam a imagem:
Eu acho um exagero dos grupos feministas. Sinceramente, não achei a capa sensualizada, ou, ao menos, nada que destoe do que muitas garotas da idade da personagem usam. Pode até ser discutível se a personagem aparenta a ideia que tem – em ambas as capas, aparenta ser mais velha. De qualquer forma, a Marvel poderia ao menos ter deixado a capa com a armadura para outro número – ao até era essa a intenção do autor, mas o burburinho foi maior.
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Para ambos os grupos, aplico a mesma lógica: podem falar à vontade!, mas vocês também vão ouvir! Embora com diferenças, ambas as posturas são profundamente moralistas (no pior sentido do termo). A diferença é que o grupo que criticou TWD carrega aquele moralismo velho, mofado. Já os grupos de feministas que criticaram a Marvel carregam o que chamo de neomoralismo.
O moralista (antigo ou novo) é alguém que pega algum conceito e passa a julgar toda a realidade por esse ponto de vista, buscando fazer com que a realidade caiba dentro da sua visão, sendo incapaz de compreender as particularidades e sutilezas de cada situação. Normalmente, julgamos sem fazer muita reflexão, quase de forma automática. Os moralistas até têm posições bem claras, o problema que eles se sentem donos da verdade, dificilmente aceitando a divergência. Resumo: são os famosos “caga-regras“.
Atualmente, velhos moralistas como os que criticaram TWD, apesar de bastante influentes em certas camadas sociais, são vistos por muitos como bizarrice, algo fora do tempo. Por outro lado, os neomoralistas (como certos grupos feministas) conseguem vender com muito mais facilidade a capa de “grandes pensadores da humanidade”, e são MUITO influentes na classe artística. No fundo, tudo caga-regra, acusando as pessoas de pecadoras.
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Velhos e novos moralistas reforçam o pensamento sem reflexão e a ideia das pessoas de que elas carregam uma verdade suprema, fruto de uma profunda reflexão! É puro senso comum. Acredito com toda pureza da minha alma que esses grupos são minoritários – especialmente os velhos moralistas. O grosso da população acaba deixando seus preconceitos e visões distorcidas numa esfera limitada – nada que vá muito além do seu circulo de amigos no Facebook.
Mas, o bagulho é tão surreal hoje em dia, que os grupos extremistas conseguem ganhar destaque, gerando as polêmicas mais bizarras, e brigando entre si. Pensem em dois grupos radicais opostos: feministas radicais x machistas. Vendo o bate-boca entre eles, só consigo ver dois bandos de radicais que usam o outro para confirmar suas teses.
Esses grupos moralistas não são os únicos responsáveis por essa horda de almas sebosas que vemos atualmente. Acho, só acho, que o grande motivo de tanto pensamento radical prosperar atualmente, decorre da soma das possibilidades criadas pela internet/redes sociais + do fato de nós sermos, no geral, ignorantes na maioria dos assuntos, mas suficientemente arrogantes para não ficarmos calados. O mérito desses grupos é apenas vender um pensamento vulgar como se fosse sofisticado.
No campo artístico e da crítica, além de ser mais um estimulante nas reações exageradas do público, esses grupos geram duas dores de cabeça.
Primeiro, os moralistas não perdem a chance de defender uma censura. Proteção da família, dívidas históricas que grupos oprimidos, esse povo inventa qualquer desculpa para usar o Poder Público para controlar a produção artística. Ao menos, os velhos moralistas, por serem reacionários e caricatos, têm pouca repercussão. Mas, não duvidem, censura é atraente, porque as pessoas sempre tem algo melhor para proteger do que a liberdade.
A segunda dor de cabeça é quando esse pensamento tacanho, arredio às contradições, penetra no campo artístico. Sendo breve e direto: hoje, muitos artistas adotam pautas neomoralistas. Os velhos moralistas aqui não tem muito espaço. Lembrando o que falei no começo: esses grupos escolhem uma visão de mundo e querem que o mundo caiba dentro dela, eliminando o que não se adequar. Ora, o artista precisa de um pensamento livre para ser capaz de expor as contradições da vida, produzindo obras de fôlego. Quando o artista se preocupa mais com uma pauta do que com a reflexão e a estética, as chances de produzir algo relevante são baixas.
Os neomoralistas, com o discurso de mudanças, de se oporem ao estabelecido, encontram ressonância entre os artistas. E como estamos falando de trocar um conjunto de ideias tacanhas por outras ideias tacanhas, o resultado são obras incapazes de captar as contradições da vida. E como esses grupos neomoralistas conseguem posar de defensores de uma sociedade justa, eles têm maior poder de pressão. O caso das feministas radicais contra a Marvel é um belo exemplo.
Ou seja, se não fosse suficiente a produção pasteurizada que já se tem, ainda vem um bando de artísticas que se dizem sofisticados vender ideologia barata embrulhado em papel de seda. Na real: se for comparar um filme cult produzido por um desses artistas com um enlatado de um grande estúdio, este último tem mais chances de ser melhor do que aquele, pois ao menos se esforça em conversar com o público.
Imagino que algum leitor esteja dizendo, “Geo, agora quem está impondo regra é você, querendo impedir os artistas de adotar determinada visão.” Bem, três ressalvas.
Primeiramente, nem todo o pensamento feminista é radical e neomoralistas, e nem todo o pensamento conservador é reacionário e moralista. Mesmo não sendo fácil é importante não confundir radicais com moderados. E também, não confundir a visão de mundo dos artistas e críticos, com uma visão “ideologizóido” da vida. Clint Eastwood é conservador e um grande artista. Alan Moore é anarquista e um grande artista. Artistas têm suas posições. Incomoda-me quando o artista transforma uma visão de mundo em pauta político. Aí, sai o artista e entra o militante, somem as nuances da vida e sobre um panfleto.
Segundamente, nenhum desses grupos deve ser calado. Apenas acho pouco saudável quando radicais tem tanta importância no debate público (vejam o resultado o caso da Marvel). Em tese, esses grupos ficariam nas beiradas, com as pessoas moderadas dominando um debate. Infelizmente, em vários países, vemos exemplos de radicais ganhando holofotes nas mais diversas áreas. Nem se trata de algo excepcional na história. Na verdade, a moderação no debate é a exceção.
A internet pode dar a impressão de que o radicalismo foi criado com a banda larga, mas a estupidez sempre foi produto valorizado. Então, sim, é uma batalha perdida. Ainda assim, acho mais interessante o diálogo moderado, que exponha as contradições desses velhos e novos moralistas e o ridículo de uma criação artística sujeita a pensamentos tão fechados. E, principalmente, porque é da função do crítico buscar o olhar diferente sobre a coisa, provocar o incômodo e puxar para fora da caixinha. Se ao menos um leitor, depois deste texto, se interessar por olhar o que os artistas produzem e perceber o quão pobre uma obra de arte pautada por pensamento tão pequeno pode ser, já terá valido o tempo gasto. Ao menos essa é a desculpa chique que a gente dá, pra esconder o nosso gosto pela treta.
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