quinta-feira , 14 novembro , 2024

Primeiras impressões | ‘Fallout’ chega como ficção científica promissora

Faz algumas décadas que os fãs da franquia de jogos Fallout sonham com uma adaptação do videogame para os cinemas. Nesse tempo, surgiram muitos rumores sobre um filme, mas quis o destino que esse universo ganhasse uma produção em live action no formato de série. Com oito episódios, a primeira temporada de Fallout chegou completinha ao Amazon Prime Video e conferimos alguns episódios.

Logo de cara, a primeira impressão que fica é que foi um acerto tremendo adaptar para esse formato de série. A mitologia dos jogos é riquíssima, então muito provavelmente não seria tão bem explorada em um filme de duas ou três horas de duração. A trama se passa em uma Terra que foi vítima do apocalipse nuclear. E como em toda sociedade capitalista, houve uma corporação que lucrou horrores com a dor e o sofrimento alheio, enquanto as camadas populares foram deixadas para perecer na miséria. Ou, neste caso, na radiação e no mundo de incertezas e de uma provável morte lenta e dolorosa para todos. Quem tinha dinheiro pôde comprar um abrigo nuclear e acabou prosperando em um tipo de colônia subterrânea, enquanto as pessoas comuns sobreviveram e criaram uma nova humanidade na terra firme.



Nesse contexto caótico, a série se divide em três núcleos: Lucy (Ella Purnell), uma moradora dos refúgios que parte em uma jornada no mundo exterior para tentar resgatar o pai; Maximus (Aaron Moten), um aspirante da Irmandade do Aço com intenções ambíguas; e Ghoul (Walton Goggins), um cowboy mutante que trabalha como caçador de recompensas. Apesar de terem vidas completamente diferentes, seus caminhos se cruzam em um estalar de dedos, dando início ao que parece ser uma série de ficção científica bastante promissora.

O mais interessante é que a produção adapta elementos clássicos dos jogos, mas não se contenta apenas em transformar a série em uma ‘simples’ adaptação. A proposta é ser um complemento, uma expansão da mitologia dos videogames. Por isso, há liberdade criativa para contar uma história que se encaixe nesse universo tão vasto e crie novas possibilidades sem reescrever o que milhões de fãs jogaram nos últimos 30 anos.

Dada a proposta de expansão de um universo já existente, havendo até rumores de que o que acontece na série poderá influenciar o próximo jogo da saga, é de encher os olhos ver como a produção constrói essa realidade para a série. A arquitetura brutalista dos refúgios contrasta com as imagens produzidas pelo conselho local, que espelha o mundo perfeito na sociedade norte-americana dos anos 1950. Então, eles usam e abusam da estética modernista Mid-Century, quase como uma Barbieland dentro de um bunker. Os fatores sociais também são incríveis. A vida nos refúgios foi construída pelos ricos e para os ricos, que prosperam sob uma promessa colonialista de viver nas sombras até a radiação na Terra reduzir e eles poderem trazer a ‘civilização’ de volta ao mundo, ignorando completamente que a vida seguiu da porta para fora. Eles vivem priorizando as características genéticas que consideram melhores e pautam a existência em uma meritocracia típica de quem jamais pisou fora daquele mundinho.

Nesse cenário, uma invasão obriga a jovem e sonhadora Lucy a se aventurar no mundo real para resgatar seu pai. Sua missão é quase socrática, tendo de lidar com seu conhecimento prévio de mundo enquanto encara uma outra realidade e precisa aprender a sobreviver nela. É maiêutica purinha.

A Irmandade do Aço é outra pegada sensacional que a série aborda brevemente. É uma organização militar baseada em conceitos religiosos e experimentos científicos. Maximus é um jovem aspirante que foi ‘resgatado’ pela organização após os bombardeios e foi criado para se tornar um deles. O rapaz claramente tem intenções ocultas em sua missão, mas acaba sendo designado para capturar um doutor foragido, que supostamente tem papel fundamental no compromisso na manutenção da paz e da ordem. Um claro delírio que mantém a organização.

Já o Ghoul é praticamente um cowboy zumbi. Ele é um necrótico, que era um ser humano comum, mas teve sua existência alterada pela exposição à grande guerra atômica. Seu DNA foi alterado, dando a ele uma vida sobrenaturalmente longa, apesar de ter apodrecido sua carne e deformado sua aparência. Ele usa seu conhecimento prévio e resistência nuclear para caçar pessoas procuradas em troca de recompensas. Como vimos um pouco da vida anterior dele no primeiro episódio e a imagem do ator Walton Goggins está sendo constantemente exposta no material promocional, é muito instigante saber como vão abordar esse personagem e seu passado.

E como cada episódio tem cerca de uma hora de duração, o que não falta é tempo para desenvolver melhor essas tramas que eventualmente se conectam. Diante disso, parece que estamos vendo um novo sucesso da Amazon nascer, assim como foi The Boys. Trazendo personagens excêntricos e instigantes e uma trama que bebe diretamente do que há de melhor na ficção científica, Fallout é uma série muito promissora de ficção que tem tudo para furar a bolha gamer e conquistar o público geral.

Os oito episódios da Fallout já estão disponíveis no Amazon Prime Video.
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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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Logo de cara, a primeira impressão que fica é que foi um acerto tremendo adaptar para esse formato de série. A mitologia dos jogos é riquíssima, então muito provavelmente não seria tão bem explorada em um filme de duas ou três horas de duração. A trama se passa em uma Terra que foi vítima do apocalipse nuclear. E como em toda sociedade capitalista, houve uma corporação que lucrou horrores com a dor e o sofrimento alheio, enquanto as camadas populares foram deixadas para perecer na miséria. Ou, neste caso, na radiação e no mundo de incertezas e de uma provável morte lenta e dolorosa para todos. Quem tinha dinheiro pôde comprar um abrigo nuclear e acabou prosperando em um tipo de colônia subterrânea, enquanto as pessoas comuns sobreviveram e criaram uma nova humanidade na terra firme.

Nesse contexto caótico, a série se divide em três núcleos: Lucy (Ella Purnell), uma moradora dos refúgios que parte em uma jornada no mundo exterior para tentar resgatar o pai; Maximus (Aaron Moten), um aspirante da Irmandade do Aço com intenções ambíguas; e Ghoul (Walton Goggins), um cowboy mutante que trabalha como caçador de recompensas. Apesar de terem vidas completamente diferentes, seus caminhos se cruzam em um estalar de dedos, dando início ao que parece ser uma série de ficção científica bastante promissora.

O mais interessante é que a produção adapta elementos clássicos dos jogos, mas não se contenta apenas em transformar a série em uma ‘simples’ adaptação. A proposta é ser um complemento, uma expansão da mitologia dos videogames. Por isso, há liberdade criativa para contar uma história que se encaixe nesse universo tão vasto e crie novas possibilidades sem reescrever o que milhões de fãs jogaram nos últimos 30 anos.

Dada a proposta de expansão de um universo já existente, havendo até rumores de que o que acontece na série poderá influenciar o próximo jogo da saga, é de encher os olhos ver como a produção constrói essa realidade para a série. A arquitetura brutalista dos refúgios contrasta com as imagens produzidas pelo conselho local, que espelha o mundo perfeito na sociedade norte-americana dos anos 1950. Então, eles usam e abusam da estética modernista Mid-Century, quase como uma Barbieland dentro de um bunker. Os fatores sociais também são incríveis. A vida nos refúgios foi construída pelos ricos e para os ricos, que prosperam sob uma promessa colonialista de viver nas sombras até a radiação na Terra reduzir e eles poderem trazer a ‘civilização’ de volta ao mundo, ignorando completamente que a vida seguiu da porta para fora. Eles vivem priorizando as características genéticas que consideram melhores e pautam a existência em uma meritocracia típica de quem jamais pisou fora daquele mundinho.

Nesse cenário, uma invasão obriga a jovem e sonhadora Lucy a se aventurar no mundo real para resgatar seu pai. Sua missão é quase socrática, tendo de lidar com seu conhecimento prévio de mundo enquanto encara uma outra realidade e precisa aprender a sobreviver nela. É maiêutica purinha.

A Irmandade do Aço é outra pegada sensacional que a série aborda brevemente. É uma organização militar baseada em conceitos religiosos e experimentos científicos. Maximus é um jovem aspirante que foi ‘resgatado’ pela organização após os bombardeios e foi criado para se tornar um deles. O rapaz claramente tem intenções ocultas em sua missão, mas acaba sendo designado para capturar um doutor foragido, que supostamente tem papel fundamental no compromisso na manutenção da paz e da ordem. Um claro delírio que mantém a organização.

Já o Ghoul é praticamente um cowboy zumbi. Ele é um necrótico, que era um ser humano comum, mas teve sua existência alterada pela exposição à grande guerra atômica. Seu DNA foi alterado, dando a ele uma vida sobrenaturalmente longa, apesar de ter apodrecido sua carne e deformado sua aparência. Ele usa seu conhecimento prévio e resistência nuclear para caçar pessoas procuradas em troca de recompensas. Como vimos um pouco da vida anterior dele no primeiro episódio e a imagem do ator Walton Goggins está sendo constantemente exposta no material promocional, é muito instigante saber como vão abordar esse personagem e seu passado.

E como cada episódio tem cerca de uma hora de duração, o que não falta é tempo para desenvolver melhor essas tramas que eventualmente se conectam. Diante disso, parece que estamos vendo um novo sucesso da Amazon nascer, assim como foi The Boys. Trazendo personagens excêntricos e instigantes e uma trama que bebe diretamente do que há de melhor na ficção científica, Fallout é uma série muito promissora de ficção que tem tudo para furar a bolha gamer e conquistar o público geral.

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