As trivialidades ganham um significado completamente diferente no universo de The Boys. O horror nascido a partir de momentos tão sublimes e aleatórios faz com que tudo ganhe um ar ainda mais asqueroso, brutal e grotesco diante dos nossos olhos. E sua nova série derivada segue essa mesma epopeia do caos. Em meio à doçura de um contexto familiar saudável e acalentador, a mais pura brutalidade emerge. Como se viesse do nada e sem se anunciar, ela aniquila os 5 primeiros minutos de quietude, leveza e de paz presentes no ambiente. E assim, mais uma vez somos arrebatados para uma espiral caótica de moralidades rompidas, éticas destruídas e disrupção de caráter. Bem-vindo ao universo de Gen V.
A nova série co-produzida por Eric Kripke, Seth Rogen e Evan Goldberg expande o submundo de The Boys de maneira singular, criando um pequeno mundo alternativo que se cruza com um dos gêneros mais prolíficos em Hollywood: o coming of age. Trazendo a atmosfera teen de clássicos dos anos 90 e 00, Gen V flerta levemente com o cinema indie de amadurecimento – tudo isso para construir o cenário perfeito para uma onda infindável de mortes gráficas e comportamentos compulsivos destruidores. Em um contexto propício para a transgressão – belos jovens à flor da pele em um amplo campus universitário sob “baixa” supervisão -, a sanguinolência da série original ganha vida, se incorpora em seus protagonistas e nos presenteia com o que há de mais grotesco na raça humana.
E ao subverter a geração Z por uma ótica muito mais microscópica e vulgar, o criador Eric Kripke faz a conexão perfeita entre Gen V e The Boys, sempre mantendo a produção original como uma espécie de bússola narrativa que ajuda a conduzir a trama da mais recente iteração. Em constante comunicação, seja por meio da participação de personagens antigos ou referências diretas a momentos emblemáticos da jornada dos Sete, a produção da Prime Video acerta por saber exatamente como vincular ambos os produtos sem que eles se ofusquem. Com uma história autêntica, personagens muito bem elaborados e um elenco carismático, a série é envolvente, tem excelentes histórias de background e não poupa o apetite voraz do seu público por violência e sangue.
Trazendo um grupo de atores pouco conhecidos, liderados por Jaz Sinclair e Chance Perdomo, Gen V inicia sua jornada da maneira mais certeira possível. Chocando a audiência para não perder o costume, ela faz de seus dois primeiros episódios seu cartão de visitas. Entregando apenas o suficiente para nos manter interessados e engajados até a semana seguinte, a série ainda promete expandir The Boys, já dando indícios de que é apenas uma questão de tempo até sermos bombardeados por crossovers violentíssimos e megalomaníacos entre ambas as séries. E com um valor de produção riquíssimo, os efeitos visuais seguem o mesmo padrão de qualidade, não deixando nada a desejar para orçamentos mais robusto destinados a blockbusters.
E ainda que o teen drama talvez seja demais para o público que não curte o gênero, a nova original da Prime Video compensa pela acidez de seus diálogos e sagacidade de seus personagens mais veteranos. Sempre fazendo um contraste e um contraponto entre gerações distintas, Gen V chega ao streaming feita sob medida para os fãs de The Boys. E mesmo que tenha uma certa dificuldade de conquistar uma audiência mais cria – que ainda não consome o produto original -, a nova série de super-heróis tem atrativos suficientes para quem não se furta de curtir a boa e velha violência gratuita ficcional.