O audiovisual tem poder semiótico para impactar no imaginário coletivo. Por isso, muitas nações acabam investindo em construir, por exemplo, peças publicitárias que demonstrem as belezas de seu território, de sua cultura, na intenção de atrair investidores e turistas dispostos a conhecer o país/cidade e, consequentemente, chamar mais pessoas. E, em se tratando de Rio de Janeiro, sabemos que suas belezas naturais são frequentemente obscurecidas por noticiários que retratam a violência cotidiana. Entre o caos e o paraíso, vive o carioca (palavra do Tupi antigo que significa “cari” – o homem branco – e “oca” – casa). Nesta terra onde faz calor até no inverno, o carioca aprendeu a se virar com um jeitinho muito especial – e que agora vem registrado na série ‘How To Be a Carioca’, nova produção da Star+ que chega aos assinantes a partir do próximo 18 de outubro e que teve pré-estreia especial dentro do Festival do Rio 2023.
Dividido em seis episódios com pouco menos de quarenta minutos, cada capítulo retrata uma história diferente, que pode ser assistida em qualquer ordem ou maratonada de uma vez só. No primeiro episódio conhecemos Irene (Verónica Llinás), uma argentina que acaba de perder a mãe e descobre que a última vontade dela era que suas cinzas fossem jogadas aos pés do Cristo Redentor. Contrariada, Irene vem ao Rio tentar resolver esta questão, mas descobre, com a ajuda de sua amiga Graciela (a hilária Andrea Frigerio), que, inacreditavelmente, somente se tornando amiga de Luiz Henrique (Douglas Silva) ela irá conseguir realizar o desejo de sua mãe. Neste capítulo é trabalhado o tema da fé em diversas matrizes religiosas, mostrando o quão diverso e misturado é a fé carioca.
Já o segundo episódio conta a história de Mathias (Peter Ketnath), um maestro alemão que vem ao Rio de Janeiro conduzir uma peça, mas, perfeccionista, não consegue se concentrar em todo o seu autocontrole dentro do caos efervescente que é a capital do Rio de Janeiro. Uma vez diante de sua orquestra, Mathias perceberá que o jeitinho carioca de Renata (Raquel Villar, ótima no papel), a produtora local do evento, faz com que tudo seja mais leve e mais prático numa cidade em que as coisas não funcionam nem na teoria.
Adaptado do livro homônimo e esgotadíssimo, a série de Carlos Saldanha (esse incansável diretor cuja missão de vida é apresentar o Brasil ao mundo, responsável pela trilogia ‘Rio’ e também por detrás da série ‘Cidade Invisível’) traz um dos nomes brasileiros mais conhecidos no mundo pop atual – Seu Jorge – como uma espécie de Deus onipresente que encontra os protagonistas em seus perrengues e, tal qual o mentor da jornada do herói, demonstra ao personagem como funcionam as coisas na lógica carioca de sobrevivência.
Com muito humor a série traz um panorama de muitos bairros do Rio de Janeiro sem se furtar de demonstrar, também, os problemas frequentes que fazem parte do cotidiano de quem vem para a cidade, como o excesso de trânsito, carros apertados em vagas pequenas e bagagens extraviadas. A direção de fotografia consegue captar a essência da cidade e apresentar todo o calor das ruas cariocas ao espectador do mundo inteiro. ‘How To Be a Carioca’ funciona como um Rio de Janeiro tipo exportação para os assinantes da Star+ ao redor do mundo e também para o assinante carioca reconhecer seu perrengue diário nas telonas. Uma série divertida, bonita de se ver e com uma trilha sonora impecável. Porque o melhor do Rio de Janeiro é mesmo o carioca.