sexta-feira , 21 fevereiro , 2025

Primeiras Impressões | ‘O Mecanismo’: José Padilha e Netflix remontam a Lava-Jato


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A câmera passeia por uma pilha de papéis em uma mesa de madeira, um cinzeiro de vidro reflete uma série incontável de bitucas que evidenciam o acalento de um vício. A densa fumaça de mais um cigarro se desenha no ar, enquanto um maço é amassado e jogado ao lixo. As primeiras imagens da mais nova série brasileira da Netflix, ‘O Mecanismo’, destacam aquela bela assinatura de José Padilha à frente da direção. Abrindo o episódio de estreia com um Selton Mello que não mostra seu rosto, mas deixa sua voz ecoar de maneira pesada e exausta, a produção já anuncia o peso pago por todos os brasileiros com a corrupção enraizada. Sistêmica e categórica, ela é também social. Seus reflexos são destilados por Ruffo, um policial federal cansado demais para medir suas palavras e ações.

o mecanismo 2



É sempre delicado tentar dimensionar uma temporada inteira em apenas três episódios. Como uma narrativa que é progressiva, ela se revela em camadas e deixa no ar algumas perguntas iniciais que não poderiam ser respondidas em apenas três horas assistidas. Mas é inerente o seu valor. Nos apresentando logo de cara os personagens essenciais que traçam a rota da corrupção e aqueles que a combaterão, ‘O Mecanismo’ tenta fazer um raio X do maior problema existente no Brasil, trocando nomes, mas buscando manter as características visuais. Em um país onde se perde a conta de quantos bilhões são roubados e quais são todos os nomes vinculados, são esses maneirismos que entregam os seus autores. Respeitando a integridade dos algozes dos crimes ainda em julgamento, revemos aquelas figurinhas carimbadas dos telejornais com os mesmos comportamentos. O nomes podem até ser diferentes, mas a identidade é clara e inevitável.

Baseado no livro Lava Jato: O juiz Sergio Moro e os bastidores da operação que abalou o Brasil, de Vladimir Netto, a série tem uma rota de eventos reais a seguir e lhe confere o direito à liberdade de criação para dramatizar os fatos quando necessário. Fazendo o uso deste formato docu-drama, a produção criada por José Padilha e Elena Soares já garante que não medirá as palavras, tratando a corrupção de forma escrachada e impetuosa. Remontando os acontecimentos e desdobramentos da Operação Lava-Jato, que temos absorvido desde 2014, somos introduzidos à trama como espectadores quase oniscientes, que percebem as lacunas na apuração dos crimes, testemunha a intimidade dos corruptos delatores e observa aquilo que os personagens ainda descobrirão.

o mecanismo 1


Em uma direção que explora os planos abertos, as imagens panorâmicas que seriam os cartões postais de cidades como São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e Curitiba, e o contraste entre a luz e as sombras, temos um elenco poderoso e real, liderado por Selton Mello. Com uma atuação que realça os olhos cansados, um par de olheiras profundas e um corpo arrastado pelas circunstâncias que testemunha, o astro brasileiro encanta os olhos e nos surpreende por sua narrativa particular ser tão chocante em tão pouco tempo. Em apenas três episódios é possível ver um dos melhores trabalhos do ator e ficamos atordoados com o desenrolar do seu arco. Com um grande ponto de interrogação sobre o que Padilha quer fazer com ele, os primeiros episódios geram uma ansiedade tremenda pelo que vem por aí. E ao lado de Mello, Caroline Abras é aquela mulher forte que se posiciona facilmente. Fictícia como a própria atriz disse, ela é cativante e inspiradora como tantas mulheres reais.

o mecanismo

Chegando a 190 países na próxima sexta-feira (23), ‘O Mecanismo’ vai destacar o Brasil no mapa com uma produção de calibre internacional, que valoriza a produção de entretenimento em solo nacional, projetando-na a outros mercados de grande porte. Ironicamente, à medida que ela já se torna um orgulho por sua qualidade fílmica, ela também nos envergonha pela essência da trama muito bem narrada, incrustada em verdades que ainda doem e são sentidas pelo brasileiro, em virtude da corrupção. Mas honestamente, tem que ser assim. Em terra onde um crime hediondo desses é vangloriado a portas fechadas de gabinetes suntuosos, que o cinema e a TV sejam os porta-vozes dessa verdade inconveniente. A série vai incomodar, provavelmente chocará e vai também estimular uma discussão mundial sobre um problema que atravessa décadas, políticos e bolsos das mais diversas classes sociais. E com o assunto nas mãos de Padilha, não espere menos do que ele já nos entregou no passado.


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A câmera passeia por uma pilha de papéis em uma mesa de madeira, um cinzeiro de vidro reflete uma série incontável de bitucas que evidenciam o acalento de um vício. A densa fumaça de mais um cigarro se desenha no ar, enquanto um maço é amassado e jogado ao lixo. As primeiras imagens da mais nova série brasileira da Netflix, ‘O Mecanismo’, destacam aquela bela assinatura de José Padilha à frente da direção. Abrindo o episódio de estreia com um Selton Mello que não mostra seu rosto, mas deixa sua voz ecoar de maneira pesada e exausta, a produção já anuncia o peso pago por todos os brasileiros com a corrupção enraizada. Sistêmica e categórica, ela é também social. Seus reflexos são destilados por Ruffo, um policial federal cansado demais para medir suas palavras e ações.

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É sempre delicado tentar dimensionar uma temporada inteira em apenas três episódios. Como uma narrativa que é progressiva, ela se revela em camadas e deixa no ar algumas perguntas iniciais que não poderiam ser respondidas em apenas três horas assistidas. Mas é inerente o seu valor. Nos apresentando logo de cara os personagens essenciais que traçam a rota da corrupção e aqueles que a combaterão, ‘O Mecanismo’ tenta fazer um raio X do maior problema existente no Brasil, trocando nomes, mas buscando manter as características visuais. Em um país onde se perde a conta de quantos bilhões são roubados e quais são todos os nomes vinculados, são esses maneirismos que entregam os seus autores. Respeitando a integridade dos algozes dos crimes ainda em julgamento, revemos aquelas figurinhas carimbadas dos telejornais com os mesmos comportamentos. O nomes podem até ser diferentes, mas a identidade é clara e inevitável.

Baseado no livro Lava Jato: O juiz Sergio Moro e os bastidores da operação que abalou o Brasil, de Vladimir Netto, a série tem uma rota de eventos reais a seguir e lhe confere o direito à liberdade de criação para dramatizar os fatos quando necessário. Fazendo o uso deste formato docu-drama, a produção criada por José Padilha e Elena Soares já garante que não medirá as palavras, tratando a corrupção de forma escrachada e impetuosa. Remontando os acontecimentos e desdobramentos da Operação Lava-Jato, que temos absorvido desde 2014, somos introduzidos à trama como espectadores quase oniscientes, que percebem as lacunas na apuração dos crimes, testemunha a intimidade dos corruptos delatores e observa aquilo que os personagens ainda descobrirão.

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Em uma direção que explora os planos abertos, as imagens panorâmicas que seriam os cartões postais de cidades como São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e Curitiba, e o contraste entre a luz e as sombras, temos um elenco poderoso e real, liderado por Selton Mello. Com uma atuação que realça os olhos cansados, um par de olheiras profundas e um corpo arrastado pelas circunstâncias que testemunha, o astro brasileiro encanta os olhos e nos surpreende por sua narrativa particular ser tão chocante em tão pouco tempo. Em apenas três episódios é possível ver um dos melhores trabalhos do ator e ficamos atordoados com o desenrolar do seu arco. Com um grande ponto de interrogação sobre o que Padilha quer fazer com ele, os primeiros episódios geram uma ansiedade tremenda pelo que vem por aí. E ao lado de Mello, Caroline Abras é aquela mulher forte que se posiciona facilmente. Fictícia como a própria atriz disse, ela é cativante e inspiradora como tantas mulheres reais.

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Chegando a 190 países na próxima sexta-feira (23), ‘O Mecanismo’ vai destacar o Brasil no mapa com uma produção de calibre internacional, que valoriza a produção de entretenimento em solo nacional, projetando-na a outros mercados de grande porte. Ironicamente, à medida que ela já se torna um orgulho por sua qualidade fílmica, ela também nos envergonha pela essência da trama muito bem narrada, incrustada em verdades que ainda doem e são sentidas pelo brasileiro, em virtude da corrupção. Mas honestamente, tem que ser assim. Em terra onde um crime hediondo desses é vangloriado a portas fechadas de gabinetes suntuosos, que o cinema e a TV sejam os porta-vozes dessa verdade inconveniente. A série vai incomodar, provavelmente chocará e vai também estimular uma discussão mundial sobre um problema que atravessa décadas, políticos e bolsos das mais diversas classes sociais. E com o assunto nas mãos de Padilha, não espere menos do que ele já nos entregou no passado.

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