sexta-feira , 22 novembro , 2024

Primeiras Impressões | ‘Operação: Lioness’ é um compilado de clichês cansativos que não oferece nada de novo

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Taylor Sheridan ganhou aclame mundial por seu incrível trabalho como roteirista em ‘Sicario’ e ‘A Qualquer Custo’ – este último lhe rendendo uma indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Original; pouco depois, ele dominou o mundo televisivo com o “universo compartilhado” de ‘Yellowstone’ e séries adjacentes, promovendo potentes narrativas que conquistariam o público e que alavancariam ainda mais sua fama. Agora, ele está de volta com a antecipada ‘Operação: Lioness, thriller de espionagem que chega ao catálogo da Paramount+ no próximo dia 23 de julho.

A trama é centrada na operação da CIA que empresta seu nome ao título do show – um esquema de espionagem que tem como principal objetivo localizar as namoradas, esposas e filhas de terroristas e fazer, de forma inconsciente, que elas levem os agentes a encontrá-los e a eliminar os respectivos alvos. Nesse complexo jogo, a jovem Cruz Manuelos (Laysla De Oliveira), uma jovem que resolveu entrar para a Marinha após sofrer constantes abusos e ameaças de morte por seu tóxico namorado e, demonstrando uma aptidão nada para o exército, ela é escalada por Joe (Zoë Saldaña), líder da Operação Lioness, para se infiltrar na elite árabe e garantir que os planos se concretizem.



A série parte de uma premissa muito similar a qualquer outra do gênero que já tenhamos visto nas últimas três ou quatro décadas – e, por essa razão, é um título totalmente esquecível, ao menos em seu capítulo de estreia. Alternando entre o arco de Cruz e de Joe, o enredo se estende por pouco mais de quarenta minutos e se vale de tantas fórmulas que é impossível contá-las nos dedos. Cruz é fruto de um sistema falho em que compreende que não será salva a não ser por si própria; após ser ajudada por um oficial, ela percebe que pode sair daquela vida e, ao menos, encontrar algum sentido. Joe, por sua vez, começa a narrativa culpando-se pelas drásticas medidas obrigadas a tomar após uma de suas parceiras cair nas mãos dos terroristas, além de posar como uma soldada fria e calculista que não tem tempo para amigos e que lida com uma família que não compreende suas ações e que se desmantela dia após dia.

Já vimos isso antes – assim como toda a estrutura técnica e artista da série soa familiar até mesmo a incursões de que Sheridan participou no passado. O cenário no Oriente Médio é marcado pelo cansativo filtro amarelado e, em pleno século XXI, as inflexões orientalistas continuam, infelizmente, mais fortes do que nunca. Não há qualquer desenvolvimento que apresente os dois lados, e sim um apreço pelo complexo neoimperialista norte-americano em se mostrar como o benevolente e o salvador, enquanto os então chamados “terroristas” são arrastados para o maniqueísmo vilanesco que existe desde sempre no cenário audiovisual mainstream. Ademais, todos os personagens são unidimensionais e não oferecem nada de novo a um gênero que, mais e mais, mostra-se saturado e exaurível.

De qualquer forma, o elenco dá o seu melhor e tenta burlar as restrições autoimpostas. Saldaña pega elementos de produções anteriores em que trabalhou, como ‘Avatar’ e ‘Colombiana’, trazendo o que pode para humanizar Joe e deixar claro que os traumas carregados em tantos anos de serviço refletem sua incapacidade de ter uma vida “normal”, por assim dizer; Oliveira, por sua vez, entrega uma performance definitiva em sua carreira, depois de nos ter conquistado com atuações sólidas em ‘Campo do Medo’ e ‘Locke & Key’, consagrando-se como um dos poucos ápices da série e, assim como Saldaña, marcada por fantasmas que ela teme alcançá-la mesmo do outro lado do mundo.

Temos também a presença pontual de Nicole Kidman e Michael Kelly como dirigentes da CIA que são desperdiçados (ao menos no primeiro episódio) em uma cena ínfima que, de fato, não muda muito o andamento da história e que poderiam ser muito mais bem explorados – talvez apresentando críticas ao complexo patriótico adotado por Sheridan e afastando a construção engessada da obra. Mas isso não acontece e, no final das contas, somos fadados a observar um panfletarismo utilitário que morre na praia e se afoga nas próprias pretensões (com exceção de um fraco espectro feminista que não consegue alçar voo).

‘Operação: Lioness tinha todos os elementos necessários para se aventurar além do óbvio; porém, o resultado até aqui é frustrante e decepcionante, apostando fichas em escolhas estéticas, como a trilha sonora e a montagem frenética, para causar qualquer tipo de emoção no público. Em suma, o tiro sai pela culatra e, no final das contas, a série é esquecível em boa parte dos seus aspectos e nos faz pensar que poderíamos ter escolhido algo bem melhor para assistir.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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A trama é centrada na operação da CIA que empresta seu nome ao título do show – um esquema de espionagem que tem como principal objetivo localizar as namoradas, esposas e filhas de terroristas e fazer, de forma inconsciente, que elas levem os agentes a encontrá-los e a eliminar os respectivos alvos. Nesse complexo jogo, a jovem Cruz Manuelos (Laysla De Oliveira), uma jovem que resolveu entrar para a Marinha após sofrer constantes abusos e ameaças de morte por seu tóxico namorado e, demonstrando uma aptidão nada para o exército, ela é escalada por Joe (Zoë Saldaña), líder da Operação Lioness, para se infiltrar na elite árabe e garantir que os planos se concretizem.

A série parte de uma premissa muito similar a qualquer outra do gênero que já tenhamos visto nas últimas três ou quatro décadas – e, por essa razão, é um título totalmente esquecível, ao menos em seu capítulo de estreia. Alternando entre o arco de Cruz e de Joe, o enredo se estende por pouco mais de quarenta minutos e se vale de tantas fórmulas que é impossível contá-las nos dedos. Cruz é fruto de um sistema falho em que compreende que não será salva a não ser por si própria; após ser ajudada por um oficial, ela percebe que pode sair daquela vida e, ao menos, encontrar algum sentido. Joe, por sua vez, começa a narrativa culpando-se pelas drásticas medidas obrigadas a tomar após uma de suas parceiras cair nas mãos dos terroristas, além de posar como uma soldada fria e calculista que não tem tempo para amigos e que lida com uma família que não compreende suas ações e que se desmantela dia após dia.

Já vimos isso antes – assim como toda a estrutura técnica e artista da série soa familiar até mesmo a incursões de que Sheridan participou no passado. O cenário no Oriente Médio é marcado pelo cansativo filtro amarelado e, em pleno século XXI, as inflexões orientalistas continuam, infelizmente, mais fortes do que nunca. Não há qualquer desenvolvimento que apresente os dois lados, e sim um apreço pelo complexo neoimperialista norte-americano em se mostrar como o benevolente e o salvador, enquanto os então chamados “terroristas” são arrastados para o maniqueísmo vilanesco que existe desde sempre no cenário audiovisual mainstream. Ademais, todos os personagens são unidimensionais e não oferecem nada de novo a um gênero que, mais e mais, mostra-se saturado e exaurível.

De qualquer forma, o elenco dá o seu melhor e tenta burlar as restrições autoimpostas. Saldaña pega elementos de produções anteriores em que trabalhou, como ‘Avatar’ e ‘Colombiana’, trazendo o que pode para humanizar Joe e deixar claro que os traumas carregados em tantos anos de serviço refletem sua incapacidade de ter uma vida “normal”, por assim dizer; Oliveira, por sua vez, entrega uma performance definitiva em sua carreira, depois de nos ter conquistado com atuações sólidas em ‘Campo do Medo’ e ‘Locke & Key’, consagrando-se como um dos poucos ápices da série e, assim como Saldaña, marcada por fantasmas que ela teme alcançá-la mesmo do outro lado do mundo.

Temos também a presença pontual de Nicole Kidman e Michael Kelly como dirigentes da CIA que são desperdiçados (ao menos no primeiro episódio) em uma cena ínfima que, de fato, não muda muito o andamento da história e que poderiam ser muito mais bem explorados – talvez apresentando críticas ao complexo patriótico adotado por Sheridan e afastando a construção engessada da obra. Mas isso não acontece e, no final das contas, somos fadados a observar um panfletarismo utilitário que morre na praia e se afoga nas próprias pretensões (com exceção de um fraco espectro feminista que não consegue alçar voo).

‘Operação: Lioness tinha todos os elementos necessários para se aventurar além do óbvio; porém, o resultado até aqui é frustrante e decepcionante, apostando fichas em escolhas estéticas, como a trilha sonora e a montagem frenética, para causar qualquer tipo de emoção no público. Em suma, o tiro sai pela culatra e, no final das contas, a série é esquecível em boa parte dos seus aspectos e nos faz pensar que poderíamos ter escolhido algo bem melhor para assistir.

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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