É só olhar pra trás pra entender o sucesso de determinadas novelas brasileiras: o que têm em comum ‘Avenida Brasil’, ‘Celebridades’, ‘Rei do Gado’, ‘Renascer’ e ‘Império’, por exemplo? Todas elas são histórias cujo núcleo principal é um núcleo familiar – pessoas que convivem juntas por conta de um negócio que é passado de geração em geração. A motivação do negócio varia, e é o centro das disputas, mas, entre os membros, moram os irmãos (mais de um), o patriarca/matriarca, um tio/tia meio duas caras, os referentes cônjuges, e, geralmente, um avô/avó, que pode ainda estar no cargo ou não, mas que foi quem começara o negócio. Essa estrutura, somada às intrigas interpessoais que os membros irão cometer, foram o que alimentaram o sucesso dessas e outras novelas televisivas. E é exatamente a estrutura de ‘Rainha das Lágrimas’, nova minissérie sul-coreana da Netflix que chegou há pouco tempo e se mantém forte no Top 10 da plataforma.
Baek Hyeon-woo (Kim Soo-hyun) trabalhava no escritório de advocacia do conglomerado de shoppings Queens, em Seul, quando conheceu e se apaixonou por Hong Hae-in (Kim Ji-won), estagiária que, mais tarde se revelou ser a fria e calculista herdeira do conglomerado e com quem se casou. Três anos se passaram, Hyeon-woo e Hae-in hoje não se suportam. Mesmo vivendo na mesma casa da família Hong, os dois dormem em quartos separados, mas mantêm as aparências para a imprensa. Porém, Hyeon sente-se sufocado com essa família, que lhe trata mal e só lhe dá ordens, como se fosse somente um funcionário da empresa, não um membro do clã. Decidido a pedir o divórcio, Hyeon chega a redigir o documento, mas, então, algo terrível acontece, e faz com que Hyeon e Hae-in voltem a passar mais tempo juntos, reacendendo a chama do amor que um dia sentiram um pelo outro.
Dividida em dezesseis episódios longuíssimos, em média de uma hora e vinte de duração cada (quase a duração de um filme!), a Netflix já disponibilizou metade da série, oito episódios, em sua plataforma, com previsão de lançamento de mais dois a cada sábado. A estrutura episódica, com o tempo, dá uma gastura, pois sempre terminam com um epílogo (que geralmente contem spoilers) e começam com uma recapitulação que dura em torno de dez minutos, fazendo um gancho de toda a cena final anterior. Para os mais ansiosos, essa repetição cansa.
Em sua essência, ‘Rainha das Lágrimas’ é uma minissérie que é puro sumo dos doramas coreanos – inclusive, frequentemente faz piada a respeito disso. O protagonista Hyeon é bem mocinho mesmo, bem típico, desses que sempre aparecem para amparar antes da mocinha cair, que sempre tem um guarda-chuva na hora da tempestade e nunca briga, guardando as motivações para si para que os personagens descubram depois que foram injustos com ele.
Escrito por Ji Eun Park, o arco geral vai do romance ao drama (onde estaciona por um bom tempo), pincelando para a comédia para, no meio, enveredar para o suspense policial e (supõe-se, pelo andar das coisas) se encaminhar novamente para o drama e para o final feliz. Contemplando todos os gêneros e sempre salpicando humor, a minissérie prende a atenção com protagonistas que têm uma boa química e uma história de intriga familiar previsível, mas que até mesmo por isso instiga o espectador a continuar a assistir, tal qual as novelas brasileiras.
‘Rainha das Lágrimas’ é um delicioso passatempo, bom de assistir tanto na língua original quanto dublado (que, aliás, inclui uns palavrões que na tradução do original não tem, o que torna os personagens mais divertidos até). Um bom entretenimento para quem curte um novelão recheado de clichês dos bons.