Nos últimos anos as produções brasileiras têm voltado seus olhos com mais atenção para o interior do país, mas de uma forma diferente – não com aquele olhar cheio de preconceitos e estereotipado, mas sim com interesse de retratar os outros Brasis que existem no Brasil para além do eixo Rio-SP. E desse olhar mais atento tem saído produções maravilhosas, como a série da Globoplay ‘Rensga Hits’, cuja primeira temporada arrebatou os espectadores tanto do streaming quanto da tv aberta, quando posteriormente foi exibida. Assim, uma segunda temporada não era nenhuma surpresa, e ela chegou justamente essa semana na plataforma de streaming da Globo.
Depois de muita briga, Raíssa (Alice Wegmann) e Gláucia (Lorena Comparato) resolveram dar um basta na dupla e seguir carreiras solo, separadas. Mas a real é que, sozinhas, não estão conseguindo nada, apesar dos esforços de suas empresárias Marlene (Deborah Secco) e Helena (Fabiana Karla). A chegada de um novo produtor musical (Leonardo Bittencourt) abala as estruturas de Raíssa, que está determinada a não se apaixonar mais depois do término com Enzzo (Maurício Destri). Enquanto suas vidas pessoais e amorosas estão uma bagunça, Raíssa e Gláucia explodem nas rádios com um novo sucesso, “Detox de Macho”, e agora o tão almejado sonho se torna uma realidade. Mas será que a amizade entre as irmãs irá resistir a tanto sucesso?
A segunda temporada começa com quatro episódios disponibilizados na Globoplay de uma vez só, sendo que nas próximas duas semanas mais dois episódios serão liberados a cada quinta-feira. A estratégia de dividir a disponibilidade dessa forma ajuda a manter o engajamento do espectador até a metade da temporada, pois, com menos de quarenta minutos cada episódio, fica fácil querer continuar assistindo porque toda a narrativa é muito leve e envolvente.
O roteiro encabeçado por Renata Corrêa e com colaboração de Bia Crespo insere novos personagens no tempo certo da trama e deixa disfarçadamente evidente todos os tropes que costumam conquistar os espectadores, como o enimies-to-lovers e o slow-burn de algumas relações. Soma-se a isso o equilíbrio certo entre o desenvolvimento do enredo com as tramas pessoais, a inserção de músicas para equilibrar o ritmo e um pouquinho de passado do núcleo gerenciador e pronto, temos uma história que passa a sensação de que conhecemos todo mundo ali, embora tudo seja ficção.
A direção geral de Natalia Warth sabe exatamente como extrair o melhor não só do roteiro, mas principalmente do encontro do seu elenco com a câmera. Com firmeza, Natalia transita bem entre a gravação de uma série ficcional com a gravação de um videoclipe (que têm técnicas diferentes) e ainda imprime ares de cinema para forjar sua própria assinatura em ‘Rensga Hits’.
Do feminejo sofrência ao feminejo empoderado, fato é que as mulheres do interior goianense estão colocando suas vozes nos microfones e isso também está se refletindo na ficção. Ao expor o caminho mais dificultoso para mulheres do que para homens e também o cenário homofóbico que a indústria fonográfica desse tipo de música possui, ‘Rensga Hits’ traça um panorama bastante real de como funciona a ascensão e queda das celebridades do rodeio musical.
Com diálogos super naturais e um sotaquezinho interiorano que gruda na nossa cabeça que nem massa de pão de queijo, ‘Rensga Hits’ se mantém como uma deliciosa e maratonável série de amor, de música e, acima de tudo, de mulheres conquistando seus sonhos. Que venha já a terceira temporada!