O submundo da indústria do entretenimento sempre foi fascinante aos olhos aquém deste pequeno grande universo. Distante da nossa realidade, mas suficiente e brutalmente sórdido e doentio o bastante para nos impressionar e preocupar, Hollywood e suas duas principais frentes – o cinema e a música – são naturalmente um imã de público. A quem torça o nariz, mas a curiosidade leiga de espiar pela fenda da fechadura é o que ainda faz de séries como The Idol grandes promessas de audiência. Mas nem sua polêmica proposta, conduzida por Sam Levinson, é suficiente para tornar a primeira uma hora da produção remotamente interessante e empolgante. Entre takes excessivos de mamilos, cartelas infindáveis de cigarro e olhares vazios – sem qualquer expressão sequer -, a nova original da HBO é uma falida tentativa que jamais deveria ter sido verbalizada publicamente.
Beira a incoerência cogitar que a mesma gigante por trás de The Wire, Succession, A Sete Palmos e Família Soprano seria a mesma a assinar o surto doentio de Levinson. Se apropriando do conceito neo-noir para entregar uma pornografia barata e vulgar, o showrunner e co-criador de The Idol nos impressiona por sua falta de noção e bom senso. Uma vez mais usando a licença poética da arte para justificar seu próprio e problemático fetiche sexual, o também criador de Euphoria promete um exposed da indústria fonográfica, para em cinco minutos de série glamourizar os inúmeros abusos permissivos e permitidos dentro deste cenário.
Com o discurso barato de que hoje “doença mental é sexy”, ele solta tantas outras falas soltas e vazias que – na teoria – deveriam soar como confrontos e críticas à indústria. Mas se esvaindo no ar, em meio à desnecessária hipersexualização do corpo feminino, essa e tantas outras frases de efeito se transformam em uma validação constrangedora de um contexto profissional absolutamente negligente e tóxico. E fazendo do sexo sua arma “secreta” para garantir a atenção do público, Levinson e The Weeknd (que além de estrelar, também assina a criação e a produção) subestimam nossa inteligência, supondo que o jargão “sex sells” seria a garantia de qualidade que eles precisam para sustentar a produção para mais de uma temporada.
Com um roteiro tomado por fotografias belas, que tentam desviar a atenção do espectador da falta de substância da trama, The Idol é um desperdício de recursos. Apresentando uma premissa vaga, amplamente abordada em diversas outras produções como Vinyl, Empire e Quase Famosos, a série da HBO replica as mesmas fórmulas sem criatividade, é sem propósito, sem foco e ainda peca pela falta de carisma de seus protagonistas. Trazendo The Weeknd e Lily-Rose Depp como o duo de estrelas, a nova empreitada do canal para o verão norte-americano de 2023 flerta com o ridículo, justamente por suas atuações.
Tão rasas como seu próprio roteiro, ambas as performances são claras evidências de que nepotismo e popularidade valem mais que talento em Hollywood. Sem a sombra de seu pai, Johnny Depp, Rose jamais ocuparia o papel de Jocelyn. E sem sua carreira musical, Abel nunca estrelaria o horário nobre da HBO. E em meio às obsessões sexuais de Sam Levinson, maquiadas como suposta televisão de qualidade, e um show de horrores de atuações baratas e sem profundidade, The Idol é uma constrangedora experiência com um belíssimo visual, que nos faz sentir invadindo a mais absoluta intimidade alheia. Sem o vigor espalhafatoso e viciante de Empire e sem a enérgica identidade criativa de Vinyl, a grandiosa promessa de uma das mais prolíficas emissoras dos EUA é como uma pipoca adormecida: sem graça e descartável.