A crítica abaixo discorre sobre os dois primeiros episódios da série.
‘Teen Wolf’ se tornou uma das séries mais adoradas dos anos 2010 e ajudou a impulsionar a carreira de diversos atores, como Tyler Posey, Crystal Reed e Dylan O’Brien. Com o término da série em 2017, vários fãs sentiram falta de revisitar o universo arquitetado pelo showrunner Jeff Davis e pelos criadores Jeph Loeb e Matthew Weisman. Não demorou muito até que Davis resolvesse retornar ao cosmos da série com duas produções – incluindo a série de mistério e fantasia ‘Wolf Pack’, que introduz um elenco novo e uma narrativa que se atrela à da produção original ao mesmo tempo que funciona independentemente. Entretanto, apesar das boas intenções e de uma interessante premissa, há algo que falta na estrutura do spin-off que nos permite compreendê-la e apreciá-la como prometido.
A história se inicia de forma bem interessante e curiosa: um devastador incêndio toma conta de uma pequena cidade e acarreta uma série de eventos bizarros que envolve dois jovens. O primeiro deles é Everett Lang (Armani Jackson), um menino solitário que vive à sombra dos pais e que, tentando fugir do caos que se instaura por causa do fogo, é mordido por uma criatura estranha. A mesma coisa acontece com Blake Navarro (Bella Shepard), uma garota que não acredita pertencer a nenhum lugar e que tem vergonha do próprio corpo. Ambos, tendo passado pela mesma coisa, percebem que algo está errado e que uma força obscura se esconde nas sombras e está caçando-os para terminar o trabalho.
E é claro que isso não seria tudo. Temos também a presença de Sarah Michelle Gellar como a detetive Kristin Ramsey, marcando seu retorno ao escopo televisivo depois de emprestar a voz para a animação ‘Mestres do Univeros’. Kristin é responsável por investigar o incêndio, que acredita ser criminoso e que tem provável relação com um dos adolescentes locais. Aliada a outros detetives, ela cruza caminho com Everett e Blake, crendo que um dos dois esconde informações valiosas que podem ajudá-la a compreender o caso. Nos dois capítulos assistidos, a própria Kristin parece estar omitindo informações, lançando dúvidas sobre seu caráter e arrancando uma ótima performance de Gellar – que rouba os holofotes sempre que aparece.
Para além do grupo supracitado, os irmãos Luna (Chloe Rose Robertson) e Gray (Tyler Lawrence) se envolvem com a tensa atmosfera desenhada; os dois são lobisomens e foram resgatados pelo guarda florestal Garrett Briggs (Rodrigo Santoro), que cuidou deles e garantiu que ninguém descobrisse quem realmente eram. E, considerando que eles têm plena ciência de quem são, seria apenas questão de tempo que Luna e Gray se tornassem parte importante da trama e da aparição de dois recém-transformados que estão sendo perseguidos por uma criatura amedrontadora.
Como já mencionado, a premissa da produção é sólida o suficiente para nos envolver nas cenas iniciais, levando-nos a pensar o que pode acontecer. Porém, essa angústia cultivada pela equipe técnica e criativa não é forte o suficiente para ofuscar diversos deslizes que se sobrepõe. O roteiro é o principal problema, por não saber de que forma conduzir a história sem conclusões precipitadas e resoluções frenéticas, criando várias pontas soltas apenas para criar uma efêmera sensação de ritmo. Por exemplo, Everett e Blake aceitam muito rápido o fato de terem sido transformados em lobisomens – por mais que os fracos diálogos mostrem o contrário; além disso, o desenvolvimento dos personagens, sejam eles protagonistas ou coadjuvantes, não foge muito da obviedade e nem pensa em se aprofundar nas relações. O que existe é uma preferência cansativa de emular os clichês adolescentes para destituir a série de algo apetitoso ou ao menos surpreendente.
De qualquer forma, é notável como o elenco faz o melhor que pode em meio a tantos limites. Gellar pode não ter tanto tempo de cena, mas tem uma presença forte e marcante que causa arrepios, como já falado nos parágrafos acima; Santoro também está muito bem, ainda que passe dois episódios inteiros correndo em uma floresta em chamas e procurando escapar sem muito sucesso; e os atores e atrizes jovens conseguem delinear diferenças e similaridades que se encaixam conforme o enredo se desenrola, mesmo esbarrando em momentos previsíveis.
O início de ‘Wolf Pack’ fica no meio do caminho, acertando e errando em quantidades quase exatas. Por enquanto, há um cru potencial que se esconde atrás das fórmulas e que tem todos os elementos necessários para explodir em cena; o que precisamos é apenas um pouco mais de ousadia das mentes por trás da série e que eles deixem de lado o medo de tentar.