sábado , 2 novembro , 2024

‘Random Access Memories’ | Os 10 anos do álbum mais influente da última década

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Lançado em 17 de maio de 2013, o álbum Random Access Memories, da dupla francesa Daft Punk, completou uma década de existência, comemorada com o lançamento de uma reedição que trouxe nada menos que nove faixas novas. O CD já está disponível nas lojas e contou com uma ação publicitária muito legal, que colocou coordenadas em plataformas musicais na música Instant Crush. Cada região teve uma coordenada própria, levando a um “GIF vivo” no local indicado. No Brasil, a ação ocorreu no Parque Ibirapuera, em São Paulo, mas acabou sendo abafada pelo falecimento da lendária Rita Lee, cujo velório aconteceu no Planetário do Ibirapuera no mesmo dia.

O mais interessante é que 2023 também marca o aniversário de 30 anos da dupla, que começou em 1993 e anunciou a separação em 2021. E apesar deles terem adentrado os anos 2000 como um dos nomes mais importantes da música eletrônica, fazendo combinações ousadas e popularizando o gênero pelo planeta, foi em 2013, com o lançamento de Random Access Memories, que eles atingiram seu auge e mudaram de uma vez por todas as tendências da cena da música internacional. No início dos anos 2010, as Divas Pops dominavam as paradas do mundo com músicas influenciadas fortemente pelo R&B e o Hip-Hop, enquanto a Dance Music, que marcou a década anterior, dava seus últimos respiros.

Então, o Daft Punk, que havia adentrado a década de 2010 com um Grammy conquistado e com a composição da trilha sonora de Tron: O Legado (2010), decidiu ousar mais uma vez, realizando um álbum de estúdio completamente experimental que mudaria a cena da indústria. O Random Access Memories nasce da exaustão da dupla com o tempo dedicado à Tron. Mas não era um cansaço exclusivamente físico, era criativo. Tudo que eles faziam não os agradava mais, era como se eles tivessem chegado ao limite, realizando agora apenas cópias do que fizeram no passado, principalmente com os samplers. Então, eles chegaram à conclusão de que seu próximo trabalho deveria ser disruptivo, abandonando os samplers digitais e seria todo feito com os músicos em estúdios.

O Daft Punk compôs a celebrada trilha sonora de Tron: O Legado

Isso foi revolucionário, porque eles enxergaram o futuro da música na simplicidade do passado. Assim, eles se cercaram da nata da engenharia de som para produzir um álbum de estúdio, todo gravado em fita, com sintetizadores analógicos e com participações de cantores e produtores experientes na composição do álbum, variando entre cinco estúdios de três cidades: Paris, Califórnia e Nova York. E ter a possibilidade de usar um equipamento analógico abriu novos horizontes para a dupla, cujo trabalho era limitado pela tecnologia digital. Agora imagine que você é um músico talentoso com um horizonte inexplorado à frente querendo fazer boas composições. É de se esperar que você queira ousar e testar o máximo de possibilidades. O problema é que por estar sendo gravado em fita, em que teoricamente não pode haver erros, esse processo de criação seria muito caro. Mas o Daft Punk se encantou tanto com o projeto de criar nesse mundo analógico, que para não ser limitado pelas reclamações de custa da gravadora – e evitar vazamentos, decidiu bancar do próprio bolso essa aventura que custou mais de um milhão de dólares.

A inspiração que mudaria foram as batidas do Funk, o Soft Rock e o Soul que embalaram as décadas de 70 e 80, e a aproximação à humanização da música, fugindo da tendência do AutoTune, que dominava as paradas Pop da época. Em entrevista à Rolling Stone, Thomas Bangalter (o do capacete prateado) revelou o objetivo da dupla com o álbum: “Existe essa coisa hoje em que a voz humana gravada é processada para tentar parecer robótica. Neste álbum, tentamos fazer com que as vozes robóticas soassem da forma mais humana possível, em termos de expressividade e emoção”, explicou.

Para ajudar no processo, eles contaram com as participações brilhantes do produtor Paul Williams e do guitarrista Nile Rodgers, da banda Chic, que colaborou na composição de Give Life Back To Music e tocou guitarra no hit Get Lucky. Este último, inclusive, contou com vocais de Pharrell Williams, que ajudou na composição dessa canção e de Lose Yourself to Dance. A parceria com Pharrell foi fundamental para que o álbum explodisse, já que suas músicas foram muito bem aceitas pelo público em geral, assim como Instant Crush, feita com vocais e colaboração de Julian Casablanca, vocalista da banda The Strokes. O mais interessante dessas colaborações é que elas mostraram não apenas ao público, mas às gravadoras, que a música eletrônica poderia, sim, ser combinada com outros estilos para criar verdadeiros hits. E mesmo que parecesse ousado, esse álbum já teria aberto portas para a aceitação do público.

Foto: Dave J. Hogan/Getty Images

Essa pegada mais humanizada da música, apelando para batidas à moda antiga que soassem feitas por humanos e não ferramentas digitais, acabou acertando em cheio uma ferramenta narrativa que redefiniria não apenas a música, mas a Cultura Pop em geral dali para frente: a nostalgia. “Estávamos traçando um paralelo entre o cérebro e o disco rígido – a maneira aleatória como as memórias são armazenadas”, completou Thomas ao definir o conceito de Random Access Memories.

Com as batidas nostálgicas, o Daft Punk lançou tendência na cena, já que os produtores e outros músicos da época entenderam que a sensação de “reencontrar um velho conhecido” causada pela nostalgia seria a chave para conquistar diferentes públicos. E não deu outra! Mais recentemente, álbuns celebrados internacionalmente, como Future Nostalgia, da Dua Lipa, e After Hours, do The Weeknd, ambos lançados em 2020, fizeram um sucesso incomensurável seguindo essa mesma linha de produção, mostrando que quase uma década depois, a tendência iniciada pelo Daft Punk segue ditando os rumos dos sucessos atuais.

O sucesso foi tanto, que Random Access Memories levou os três Grammys aos que foi indicado em 2014, incluindo Álbum do Ano. Já o single Get Lucky conquistou Gravação do Ano e Melhor Performance de pop em duo ou grupo. Além disso, atingiu o topo das paradas em países como Estados Unidos, França, Alemanha, Espanha, México, Canadá, Reino Unido, Austrália, Itália e muitos outros. Suas conquistas foram surreais internacionalmente, com 2 Discos de Diamante na França, 4 Discos de Platina e um de Ouro no México, 2 Discos de Platina nos EUA, Itália, Austrália, Canadá e Polônia, e muitos outros números ridiculamente expressivos de venda ao redor do mundo.

Nile Rodgers, Thomas Bangalter, Paul Williams, Pharrell Williams e Guy-Manuel De Homem-Christo recebem o prêmio de Álbum do Ano por ‘Random Access Memories’ no 56th Grammy Awards. Foto: Kevork Djansezian/Getty Images.

Dez anos depois, aquelas 13 faixas de um álbum composto por uma dupla cansada da repetição e da mesmice se mostram cada vez mais relevantes para a indústria musical, por ter pavimentado, com seus grandes sucessos, alguns dos maiores sucessos da última década, abrindo as portas para praticamente todas as canções populares da atualidade.

 

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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O mais interessante é que 2023 também marca o aniversário de 30 anos da dupla, que começou em 1993 e anunciou a separação em 2021. E apesar deles terem adentrado os anos 2000 como um dos nomes mais importantes da música eletrônica, fazendo combinações ousadas e popularizando o gênero pelo planeta, foi em 2013, com o lançamento de Random Access Memories, que eles atingiram seu auge e mudaram de uma vez por todas as tendências da cena da música internacional. No início dos anos 2010, as Divas Pops dominavam as paradas do mundo com músicas influenciadas fortemente pelo R&B e o Hip-Hop, enquanto a Dance Music, que marcou a década anterior, dava seus últimos respiros.

Então, o Daft Punk, que havia adentrado a década de 2010 com um Grammy conquistado e com a composição da trilha sonora de Tron: O Legado (2010), decidiu ousar mais uma vez, realizando um álbum de estúdio completamente experimental que mudaria a cena da indústria. O Random Access Memories nasce da exaustão da dupla com o tempo dedicado à Tron. Mas não era um cansaço exclusivamente físico, era criativo. Tudo que eles faziam não os agradava mais, era como se eles tivessem chegado ao limite, realizando agora apenas cópias do que fizeram no passado, principalmente com os samplers. Então, eles chegaram à conclusão de que seu próximo trabalho deveria ser disruptivo, abandonando os samplers digitais e seria todo feito com os músicos em estúdios.

O Daft Punk compôs a celebrada trilha sonora de Tron: O Legado

Isso foi revolucionário, porque eles enxergaram o futuro da música na simplicidade do passado. Assim, eles se cercaram da nata da engenharia de som para produzir um álbum de estúdio, todo gravado em fita, com sintetizadores analógicos e com participações de cantores e produtores experientes na composição do álbum, variando entre cinco estúdios de três cidades: Paris, Califórnia e Nova York. E ter a possibilidade de usar um equipamento analógico abriu novos horizontes para a dupla, cujo trabalho era limitado pela tecnologia digital. Agora imagine que você é um músico talentoso com um horizonte inexplorado à frente querendo fazer boas composições. É de se esperar que você queira ousar e testar o máximo de possibilidades. O problema é que por estar sendo gravado em fita, em que teoricamente não pode haver erros, esse processo de criação seria muito caro. Mas o Daft Punk se encantou tanto com o projeto de criar nesse mundo analógico, que para não ser limitado pelas reclamações de custa da gravadora – e evitar vazamentos, decidiu bancar do próprio bolso essa aventura que custou mais de um milhão de dólares.

A inspiração que mudaria foram as batidas do Funk, o Soft Rock e o Soul que embalaram as décadas de 70 e 80, e a aproximação à humanização da música, fugindo da tendência do AutoTune, que dominava as paradas Pop da época. Em entrevista à Rolling Stone, Thomas Bangalter (o do capacete prateado) revelou o objetivo da dupla com o álbum: “Existe essa coisa hoje em que a voz humana gravada é processada para tentar parecer robótica. Neste álbum, tentamos fazer com que as vozes robóticas soassem da forma mais humana possível, em termos de expressividade e emoção”, explicou.

Para ajudar no processo, eles contaram com as participações brilhantes do produtor Paul Williams e do guitarrista Nile Rodgers, da banda Chic, que colaborou na composição de Give Life Back To Music e tocou guitarra no hit Get Lucky. Este último, inclusive, contou com vocais de Pharrell Williams, que ajudou na composição dessa canção e de Lose Yourself to Dance. A parceria com Pharrell foi fundamental para que o álbum explodisse, já que suas músicas foram muito bem aceitas pelo público em geral, assim como Instant Crush, feita com vocais e colaboração de Julian Casablanca, vocalista da banda The Strokes. O mais interessante dessas colaborações é que elas mostraram não apenas ao público, mas às gravadoras, que a música eletrônica poderia, sim, ser combinada com outros estilos para criar verdadeiros hits. E mesmo que parecesse ousado, esse álbum já teria aberto portas para a aceitação do público.

Foto: Dave J. Hogan/Getty Images

Essa pegada mais humanizada da música, apelando para batidas à moda antiga que soassem feitas por humanos e não ferramentas digitais, acabou acertando em cheio uma ferramenta narrativa que redefiniria não apenas a música, mas a Cultura Pop em geral dali para frente: a nostalgia. “Estávamos traçando um paralelo entre o cérebro e o disco rígido – a maneira aleatória como as memórias são armazenadas”, completou Thomas ao definir o conceito de Random Access Memories.

Com as batidas nostálgicas, o Daft Punk lançou tendência na cena, já que os produtores e outros músicos da época entenderam que a sensação de “reencontrar um velho conhecido” causada pela nostalgia seria a chave para conquistar diferentes públicos. E não deu outra! Mais recentemente, álbuns celebrados internacionalmente, como Future Nostalgia, da Dua Lipa, e After Hours, do The Weeknd, ambos lançados em 2020, fizeram um sucesso incomensurável seguindo essa mesma linha de produção, mostrando que quase uma década depois, a tendência iniciada pelo Daft Punk segue ditando os rumos dos sucessos atuais.

O sucesso foi tanto, que Random Access Memories levou os três Grammys aos que foi indicado em 2014, incluindo Álbum do Ano. Já o single Get Lucky conquistou Gravação do Ano e Melhor Performance de pop em duo ou grupo. Além disso, atingiu o topo das paradas em países como Estados Unidos, França, Alemanha, Espanha, México, Canadá, Reino Unido, Austrália, Itália e muitos outros. Suas conquistas foram surreais internacionalmente, com 2 Discos de Diamante na França, 4 Discos de Platina e um de Ouro no México, 2 Discos de Platina nos EUA, Itália, Austrália, Canadá e Polônia, e muitos outros números ridiculamente expressivos de venda ao redor do mundo.

Nile Rodgers, Thomas Bangalter, Paul Williams, Pharrell Williams e Guy-Manuel De Homem-Christo recebem o prêmio de Álbum do Ano por ‘Random Access Memories’ no 56th Grammy Awards. Foto: Kevork Djansezian/Getty Images.

Dez anos depois, aquelas 13 faixas de um álbum composto por uma dupla cansada da repetição e da mesmice se mostram cada vez mais relevantes para a indústria musical, por ter pavimentado, com seus grandes sucessos, alguns dos maiores sucessos da última década, abrindo as portas para praticamente todas as canções populares da atualidade.

 

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