Disposição para nova empreitada já foi ventilada pelo roteirista Aaron Sorkin
Por volta de 2010 o diretor David Fincher, em parceria com o roteirista Aaron Sorkin, alcançaram algo verdadeiramente especial quando lançaram o filme A Rede Social. A produção, com ótica biográfica sobre o processo de criação do Facebook por Mark Zuckerberg, apresentou uma narrativa coesa que soube explorar muito bem como a vontade de pertencer a um grupo incentivou o jovem programador no processo de desenvolvimento.
A despeito de estar alinhado ou não com a realidade, ainda mais na forma negativa como Mark foi retratado, o filme apresentou um valor de produção muito alto em vários aspectos. Não só pela direção e diálogos, como também pela fotografia tradicionalmente sombria de Jeff Cronenweth e pela composição musical assinada por Trent Reznor e Atticus Ross.
Como resultado ele figurou dentre os favoritos nas principais categorias do Oscar 2011, se tornando uma das obras mais adoradas na filmografia de Fincher; entretanto, a história não acaba aí. Evidentemente a vida do bilionário seguiu colecionando novos momentos polêmicos no período posterior ao abordado no filme (que não foi só a criação do Facebook mas de seu rompimento com o sócio e amigo Eduardo Saverin).
É então que Aaron Sorkin, em tempos recentes, voltou a ventilar sempre que possível o desejo de realizar uma sequência. O roteirista tem realizado incursões no campo da direção, sendo que seu projeto mais recente, Os 7 de Chicago, concorreu ao Oscar 2021, logo surge a indagação se ele estaria disposto a escrever e dirigir essa ideia.
O realizador, em resposta, sempre a mantém a ideia de que seu desejo para uma sequência de A Rede Social envolve o retorno de David Fincher à direção, consequentemente de Jesse Eisenberg no papel principal, para assim manter uma unidade qualitativa com a obra original.
Em meio ao exercício de teorizar quais momentos podem influenciar na decisão criativa da sequência, é o depoimento prestado por Zuckerberg no congresso norte-americano que mais sugere um apelo dramático. Por volta de 2019 o empresário foi convocado para depor perante o corpo legislativo do país sobre as políticas de segurança do Facebook.
A intenção era determinar o quão seguras eram os mecanismos do serviço frente interferência externas, mais especificamente a pressão russa. Tal temor remonta ao período das investigações federais sobre supostas manipulações estrangeiras nas eleições de 2016, quando o republicano Donald Trump derrotou a democrata Hillary Clinton.
Visando a manutenção das, até então, vindouras eleições de 2020 os senadores questionaram Zuckerberg por quase 10 horas a respeito de como os dados de 87 milhões de usuários, em tese motivo de sigilo, foram vendidos para a Cambridge Analytica. Contratada pela equipe de campanha de Donald Trump, a companhia de dados se utilizou de tais informações para montar um perfil do eleitor e planejar uma campanha agressiva de arrecadação dos votos.
A informação veio em 17 de março de 2018, quando o funcionário da própria Cambridge Analytica, Christopher Wylie, denunciou a operação para veículos de imprensa como o New York Times e o Guardian. Rapidamente, o escândalo se tornou uma bola de neve, que se afastou da ameaça à integridade do processo eleitoral e entrou no território do quanto as empresas recolhem informações dos usuários e, eventualmente, repassam para terceiros.
A mencionada sabatina de Zuckerberg no senado contou com situações curiosas, como as esquivas do bilionário sobre o repasse de informações dos usuários e mecanismos para garantir a privacidade, bem como as esquivas quanto a respostas para outras perguntas a mais.
Ao mesmo tempo, conforme levantado por Andrew Rossow no artigo Mr. Zuckerberg Goes To Washington: The Climb Up To Capitol Hill para a Forbes, muitos dos senadores que realizaram as indagações demonstraram limitado conhecimento sobre como uma rede social, e a internet no geral, opera; levantando a ideia de que os questionamentos tinham ligações muito mais próximas com um choque entre gerações do que questões de segurança.
Tal debate fornece um solo muito fértil para Sorkin, possivelmente junto com Fincher, examinar sobre como os dados de privacidade dos usuários se tornou uma mercadoria extremamente valiosa na era da informação; sobre como eles podem prejudicar processos democráticos e as negociações nebulosas com empresas tais como a Cambridge Analytica.