Explorando a natureza selvagem do ser humano, com relações frágeis, destrutivas, em um planeta cada vez mais impaciente, 10 anos atrás chegava ao cinemas um filme que chocaria a todos por conseguir adaptar para a ficção o caos das emoções de uma sociedade doente. Escrito e dirigido pelo cineasta Damián Szifron, Relatos Selvagens derrama na tela de forma brilhante seis histórias que refletem sobre o comportamento humano em situações caóticas.
Na trama, acompanhamos pessoas em situações de desequilíbrios emocionais. Um homem perturbado reúne desafetos em um avião com desenrolares inimagináveis; uma garçonete enxerga uma oportunidade quando seu destino se cruza novamente com um agiota inescrupuloso e arrogante que destruiu sua família; uma briga de trânsito toma enormes proporções em uma estrada isolada; um engenheiro, perito em demolição e dominado pelo estresse do cotidiano, vai até as últimas consequências com o Detran argentino; um empresário ricaço precisa lidar com as consequências de um ato trágico feito pelo filho; uma mulher descobre que foi traída em meio a comemoração de sua união.
Quando o ser humano se sente acuado em algum contexto uma interrogação surge entre ações e possíveis inconsequências. Partindo desse ponto, esse maravilhoso roteiro consegue costurar histórias de pessoas comuns, talvez até imperceptíveis no dia a dia, e transformar isso em observações sobre a incapacidade de lidar com determinadas situações extremas. A narrativa une os pontos entre as histórias, deixando os rastros dessas interseções de forma bem objetiva, transformando os seis episódios em elementos complementares.
São várias as leituras que podem existir a partir de tudo que acompanhamos ao longo das duas horas de projeção. O campo de reflexões é amplo! Preconceitos, desequilíbrios emocionais, traições, o sistema e suas burocracias, é um projeto com rápidas associações com o cotidiano que usa muitas vezes do tragicômico – mas completamente possível – para fisgar a atenção do público. E parece que deu certo, não é? Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro – perdeu a estatueta para o também ótimo IDA – até hoje é um dos filmes mais lembrados do cinema argentino, inclusive com uma nota altíssima no IMDB.
E claro que toda boa história precisa de bons artistas para ajudar na imersão. Relatos Selvagens não deixou isso de lado e reuniu logo uma constelação de astros argentinos! Oscar Martínez, Erica Rivas, Nancy Dupláa, Rita Cortese, Darío Grandinetti, Leonardo Sbaraglia, além do mais famoso ator do cinema dos nossos hermanos, o excepcional Ricardo Darín. Esse último inclusive está numa das histórias mais lembradas desse filme, seu personagem, ‘bombita’ é um enorme sucesso até hoje.
Vale mencionar que esse longa-metragem de antologia com histórias bem simples, rodado em apenas oito semanas, é uma reunião de ideias de filmes isolados do próprio diretor. Ele não poderia ter sido mais certeiro, botou tudo num pacote só e realizou uma obra-prima! Se você ainda não, faz o seguinte: liga agora na MAX e corre pra ver! Você não vai se arrepender!