sábado , 21 dezembro , 2024

Relembramos o clássico ‘Halloween – A Noite do Terror’ (1978), de John Carpenter

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Uma história simples, com execução de baixo orçamento, mas que se tornou uma das grandes referências do cinema. Assim é Halloween: A Noite do Terror. O filme estabeleceu os elementos finais para a formação da linguagem do subgênero slasher, uma ramificação que se tornou febre nos anos seguintes, passeando pela década de 1980, desgastando-se até a renovação com Pânico, em 1996, perdendo-se de novo pelo excesso, num retorno marcado com as refilmagens dos clássicos na década de 2000 e atualmente turbinado em nossa era politizada de narrativas politizadas em diversos segmentos da sociedade, em especial, questões raciais e de gênero. Fase também marcada pelo tom autorreferencial dos filmes deste subgênero. O mote geralmente é básico. Uma situação no passado desencadeia uma série de acontecimentos no tempo presente da narrativa, com personagens acossados por uma (ou mais) figuras psicóticas em busca de vingança. Geralmente mascarado, os antagonistas destas narrativas atacam num período de reencontro/aniversário/feriado, ocasião onde as vítimas desejáveis estarão reunidas.

Depois de Halloween, tivemos uma longa tradição de filmes inspirados em feriados. A produção, que fique destacado, não foi o primeiro feriado slasher, haja vista Natal Negro, de 1974. Há, no entanto, discussões sobre o antecessor ser um proto-slasher, base para a transformação do subgênero após a trajetória de Michael Myers no dia 31 de outubro. Dirigido e escrito por John Carpenter, com participação efetiva de Debra Hill ao longo de todo o projeto, o filme em questão retrata os horrores de duas noites do Dia das Bruxas. A primeira é logo na abertura. Michael, o assassino ainda criança, desfere golpes de faca e mata a sua irmã após um encontro da garota com o namorado. Os pais, ausentes, chegam após o crime. O destino de Michael, encontrado vestindo uma roupa de palhaço, é o sanatório de Smith Groove, local onde permanecerá internado por 15 anos, recebendo o acompanhamento de seu psiquiatra, o Dr. Samuel Loomis (Donald Pleasence), figura que se repetirá na franquia até o sexto filme. Então, Michael consegue fugir do local.



Ao chegar em Haddonfield, Michael Myers, corretamente interpretado por Nick Castle como um monstro enigmático e perigoso, perambula pelas ruas da cidade, tornando-se o perseguidor de Laurie Strode (Jamie Lee Curtis), a final girl que o enfrentará no embate ao longo do desfecho da narrativa de intensos 91 minutos de duração. Curiosa com a presença do homem misterioso que parece a perseguir sem motivo aparente, Strode tem uma série de surpresas reservadas para a noite do dia 31 de outubro. Ao tomar conta de Lindsey (Kyle Richards) e Tommy (Brian Andrews), ela é a protagonista que menos se diverte, diferente de suas amigas Annie (Nancy Kyes) e Lynda (P. J. Soles), garotas envolvidas com seus namorados e muita badalação, figuras ficcionais que fornecem base para as discussões sobre misoginia e moral cristã, constantemente associados aos arquétipos do slasher, tópicos temáticos que John Carpenter rejeita, mas que, convenhamos, tem bastante pertinência quando pensamos na interpretação fílmica dentro do sistema que engloba espectador, autor e obra, um feixe mais complexo para análise.

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Com direção de fotografia de Dean Cundey, Halloween: A Noite do Terror é uma narrativa conduzida com muito esmero pela equipe de realizadores gerenciada por Carpenter e Hill: o uso do ponto de vista é devidamente aplicado, a captação de imagens em steadicam ajuda no desenvolvimento da construção de várias cenas em plano-sequência, além do design de produção simples, assinado por Tommy Lee Wallace, cuidadoso ao evitar excesso de informações e dispersões. É na simplicidade que o filme se estrutura, por isso, tornou-se uma referência cinematográfica de condução do suspense/terror por meio de estratégias sutis, mas assertivas. Não seria leviano em dizer que a produção é desprovida de problemas. Em alguns trechos há um certo marasmo. Ademais, os personagens, com exceção do antagonista, da final girl e do psiquiatra, são desenvolvidos razoavelmente. A produção, por sua vez, criou um clima de mistério e se tornou objeto de culto, mantendo-se como uma referência de classe ao evitar sangue em excesso e a vulgarização do antagonista, criatura que é um misto de humanidade e entidade, de volta na trilogia recente, dirigida por David Gordon Green, com parte do elenco original, isto é, Laurie, Lindsey, Tommy e a enfermeira Marion Chambers (Nancy Stephens).

Dentre os pontos positivos de Halloween: A Noite do Terror, podemos destacar o tom minimalista, mas efusivo, da trilha sonora composta por John Carpenter, textura percussiva que acompanha a franquia toda, parte integrante da cultura pop e do nosso imaginário coletivo. Com locações em ruas calmas, de arquitetura estadunidense simples, os envolvidos na empreitada trouxeram para uma zona urbana conhecida pela calmaria, os horrores da violência perpetrada por Michael Myers, figura que tira a paz e o sossego do que antes era tido como idílico, o espaço ideal para se viver plenamente o american way of life. Indo na contramão do que se produzia tradicionalmente nos meandros do terror, seara discursiva geralmente conhecida por seus casarões assombrados e atmosfera gótica, Carpenter, Hill e os produtores saíram dos clichês e conduziram o filme para um patamar diferenciado do esperado de algo com o título em questão. Seus diálogos, sempre interativos, também merecem destaque, juntamente com a construção do suspense em camadas: a sensação de medo e angústia aproxima-se parcimoniosamente.

Como fez sucesso e se tornou a base para o que viria mais adiante no slasher, Halloween: A Noite do Terror ganhou novas empreitadas, algumas empolgantes, outras deprimentes. No final, como sabemos, Michael Myers pode estar em qualquer lugar. A ideia era transmitir ao espectador a sensação de que o perigo tinha se dissipado, podia ser entranhar em qualquer local de Haddonfield. A sequência de planos de pontos distintos da cidade demonstra isso. Em 1981, o mascarado retornou para perseguir Laurie no hospital, após os acontecimentos de 1978. Vinculado ao que se fazia no slasher desta época, a contagem de corpos aumentou. Conta-se agora que Myers perseguiu Strode por ela ser sua irmã. Quando o filme acaba, o corpo desaparece e ninguém tem notícia do antagonista. O reencontro digno ocorre em 1998, com o intenso Halloween H20: Vinte Anos Depois, retorno de Jamie Lee Curtis para a franquia, num embate que parecia encerrar a história, mas resultou no horroroso Halloween: Ressurreição.

Antes disso, no entanto, tivemos Halloween 3, desconectado da história de Michael Myers, figura que só retorna em Halloween 4: O Retorno de Michael Myers e Halloween 5: A Vingança de Michael Myers, ambos com a filha de Laurie, a pequena Jamie, interpretada por Danielle Harris. Ela é perseguida pelo tio periculoso, tornando-se mentalmente conectada com o monstro no quinto filme, o mais errôneo dos dois. A saga da jovem é finalizada no aborrecido Halloween 6: A Última Vingança. Morta logo na abertura, a personagem interpretada por outra atriz acaba perdendo a batalha contra o tio, figura que retorna aleatoriamente para Haddonfield, interessado em dizimar mais algumas pessoas, antes de sumir por alguns anos e voltar em H20, história que toma como ponto de partida apenas os dois primeiros filmes. Além desses exemplares, o roqueiro Rob Zombie cometeu os seus excessos com a refilmagem Halloween: O Início, exuberante e excessivo, mas eficiente, seguido do pavoroso Halloween 2, o pior momento da franquia.

Para revitalizar a jornada, a Blumhouse trouxe o mascarado de volta, desta vez, com tom mais maduro e crítico, esteticamente concebido para se tornar uma trilogia de ponta. David Gordon Green assumiu a direção de Halloween, Halloween Kills: O Terror Continua e do vindouro Halloween Ends, desfecho da saga de Laurie Strode e Michael Myers. “Quanto mais ele mata, mais ele transcende”: o trecho de uma breve, mas complexa fala da protagonista interpretada com garra por Jamie Lee Curtis resume o tom da presença mais recente deste universo slasher, isto é, a ideia da incapacidade de extermínio do mal e a manutenção do clima de incerteza diante de cenários que parecem esperançosos, mas que angustiam com a penumbra ameaçadora constante. Halloween, alegoricamente interpretado, pode ser uma leitura de questões políticas e sociais que andam cotidianamente acirradas em nossa existência ainda muito conflituosa. A própria intérprete de Laurie Strode associou o filme de 2018 com desdobramentos do #metoo e, nos anos 1980, foi temas das discussões de Carol Clover, teórica feminista que relacionou o patriarcado com algumas questões desenvolvidas no argumento e desenvolvimento de Halloween: A Noite do Terror, uma pequena e valiosa obra-prima do cinema.

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Relembramos o clássico ‘Halloween – A Noite do Terror’ (1978), de John Carpenter

Uma história simples, com execução de baixo orçamento, mas que se tornou uma das grandes referências do cinema. Assim é Halloween: A Noite do Terror. O filme estabeleceu os elementos finais para a formação da linguagem do subgênero slasher, uma ramificação que se tornou febre nos anos seguintes, passeando pela década de 1980, desgastando-se até a renovação com Pânico, em 1996, perdendo-se de novo pelo excesso, num retorno marcado com as refilmagens dos clássicos na década de 2000 e atualmente turbinado em nossa era politizada de narrativas politizadas em diversos segmentos da sociedade, em especial, questões raciais e de gênero. Fase também marcada pelo tom autorreferencial dos filmes deste subgênero. O mote geralmente é básico. Uma situação no passado desencadeia uma série de acontecimentos no tempo presente da narrativa, com personagens acossados por uma (ou mais) figuras psicóticas em busca de vingança. Geralmente mascarado, os antagonistas destas narrativas atacam num período de reencontro/aniversário/feriado, ocasião onde as vítimas desejáveis estarão reunidas.

Depois de Halloween, tivemos uma longa tradição de filmes inspirados em feriados. A produção, que fique destacado, não foi o primeiro feriado slasher, haja vista Natal Negro, de 1974. Há, no entanto, discussões sobre o antecessor ser um proto-slasher, base para a transformação do subgênero após a trajetória de Michael Myers no dia 31 de outubro. Dirigido e escrito por John Carpenter, com participação efetiva de Debra Hill ao longo de todo o projeto, o filme em questão retrata os horrores de duas noites do Dia das Bruxas. A primeira é logo na abertura. Michael, o assassino ainda criança, desfere golpes de faca e mata a sua irmã após um encontro da garota com o namorado. Os pais, ausentes, chegam após o crime. O destino de Michael, encontrado vestindo uma roupa de palhaço, é o sanatório de Smith Groove, local onde permanecerá internado por 15 anos, recebendo o acompanhamento de seu psiquiatra, o Dr. Samuel Loomis (Donald Pleasence), figura que se repetirá na franquia até o sexto filme. Então, Michael consegue fugir do local.

Ao chegar em Haddonfield, Michael Myers, corretamente interpretado por Nick Castle como um monstro enigmático e perigoso, perambula pelas ruas da cidade, tornando-se o perseguidor de Laurie Strode (Jamie Lee Curtis), a final girl que o enfrentará no embate ao longo do desfecho da narrativa de intensos 91 minutos de duração. Curiosa com a presença do homem misterioso que parece a perseguir sem motivo aparente, Strode tem uma série de surpresas reservadas para a noite do dia 31 de outubro. Ao tomar conta de Lindsey (Kyle Richards) e Tommy (Brian Andrews), ela é a protagonista que menos se diverte, diferente de suas amigas Annie (Nancy Kyes) e Lynda (P. J. Soles), garotas envolvidas com seus namorados e muita badalação, figuras ficcionais que fornecem base para as discussões sobre misoginia e moral cristã, constantemente associados aos arquétipos do slasher, tópicos temáticos que John Carpenter rejeita, mas que, convenhamos, tem bastante pertinência quando pensamos na interpretação fílmica dentro do sistema que engloba espectador, autor e obra, um feixe mais complexo para análise.

Com direção de fotografia de Dean Cundey, Halloween: A Noite do Terror é uma narrativa conduzida com muito esmero pela equipe de realizadores gerenciada por Carpenter e Hill: o uso do ponto de vista é devidamente aplicado, a captação de imagens em steadicam ajuda no desenvolvimento da construção de várias cenas em plano-sequência, além do design de produção simples, assinado por Tommy Lee Wallace, cuidadoso ao evitar excesso de informações e dispersões. É na simplicidade que o filme se estrutura, por isso, tornou-se uma referência cinematográfica de condução do suspense/terror por meio de estratégias sutis, mas assertivas. Não seria leviano em dizer que a produção é desprovida de problemas. Em alguns trechos há um certo marasmo. Ademais, os personagens, com exceção do antagonista, da final girl e do psiquiatra, são desenvolvidos razoavelmente. A produção, por sua vez, criou um clima de mistério e se tornou objeto de culto, mantendo-se como uma referência de classe ao evitar sangue em excesso e a vulgarização do antagonista, criatura que é um misto de humanidade e entidade, de volta na trilogia recente, dirigida por David Gordon Green, com parte do elenco original, isto é, Laurie, Lindsey, Tommy e a enfermeira Marion Chambers (Nancy Stephens).

Dentre os pontos positivos de Halloween: A Noite do Terror, podemos destacar o tom minimalista, mas efusivo, da trilha sonora composta por John Carpenter, textura percussiva que acompanha a franquia toda, parte integrante da cultura pop e do nosso imaginário coletivo. Com locações em ruas calmas, de arquitetura estadunidense simples, os envolvidos na empreitada trouxeram para uma zona urbana conhecida pela calmaria, os horrores da violência perpetrada por Michael Myers, figura que tira a paz e o sossego do que antes era tido como idílico, o espaço ideal para se viver plenamente o american way of life. Indo na contramão do que se produzia tradicionalmente nos meandros do terror, seara discursiva geralmente conhecida por seus casarões assombrados e atmosfera gótica, Carpenter, Hill e os produtores saíram dos clichês e conduziram o filme para um patamar diferenciado do esperado de algo com o título em questão. Seus diálogos, sempre interativos, também merecem destaque, juntamente com a construção do suspense em camadas: a sensação de medo e angústia aproxima-se parcimoniosamente.

Como fez sucesso e se tornou a base para o que viria mais adiante no slasher, Halloween: A Noite do Terror ganhou novas empreitadas, algumas empolgantes, outras deprimentes. No final, como sabemos, Michael Myers pode estar em qualquer lugar. A ideia era transmitir ao espectador a sensação de que o perigo tinha se dissipado, podia ser entranhar em qualquer local de Haddonfield. A sequência de planos de pontos distintos da cidade demonstra isso. Em 1981, o mascarado retornou para perseguir Laurie no hospital, após os acontecimentos de 1978. Vinculado ao que se fazia no slasher desta época, a contagem de corpos aumentou. Conta-se agora que Myers perseguiu Strode por ela ser sua irmã. Quando o filme acaba, o corpo desaparece e ninguém tem notícia do antagonista. O reencontro digno ocorre em 1998, com o intenso Halloween H20: Vinte Anos Depois, retorno de Jamie Lee Curtis para a franquia, num embate que parecia encerrar a história, mas resultou no horroroso Halloween: Ressurreição.

Antes disso, no entanto, tivemos Halloween 3, desconectado da história de Michael Myers, figura que só retorna em Halloween 4: O Retorno de Michael Myers e Halloween 5: A Vingança de Michael Myers, ambos com a filha de Laurie, a pequena Jamie, interpretada por Danielle Harris. Ela é perseguida pelo tio periculoso, tornando-se mentalmente conectada com o monstro no quinto filme, o mais errôneo dos dois. A saga da jovem é finalizada no aborrecido Halloween 6: A Última Vingança. Morta logo na abertura, a personagem interpretada por outra atriz acaba perdendo a batalha contra o tio, figura que retorna aleatoriamente para Haddonfield, interessado em dizimar mais algumas pessoas, antes de sumir por alguns anos e voltar em H20, história que toma como ponto de partida apenas os dois primeiros filmes. Além desses exemplares, o roqueiro Rob Zombie cometeu os seus excessos com a refilmagem Halloween: O Início, exuberante e excessivo, mas eficiente, seguido do pavoroso Halloween 2, o pior momento da franquia.

Para revitalizar a jornada, a Blumhouse trouxe o mascarado de volta, desta vez, com tom mais maduro e crítico, esteticamente concebido para se tornar uma trilogia de ponta. David Gordon Green assumiu a direção de Halloween, Halloween Kills: O Terror Continua e do vindouro Halloween Ends, desfecho da saga de Laurie Strode e Michael Myers. “Quanto mais ele mata, mais ele transcende”: o trecho de uma breve, mas complexa fala da protagonista interpretada com garra por Jamie Lee Curtis resume o tom da presença mais recente deste universo slasher, isto é, a ideia da incapacidade de extermínio do mal e a manutenção do clima de incerteza diante de cenários que parecem esperançosos, mas que angustiam com a penumbra ameaçadora constante. Halloween, alegoricamente interpretado, pode ser uma leitura de questões políticas e sociais que andam cotidianamente acirradas em nossa existência ainda muito conflituosa. A própria intérprete de Laurie Strode associou o filme de 2018 com desdobramentos do #metoo e, nos anos 1980, foi temas das discussões de Carol Clover, teórica feminista que relacionou o patriarcado com algumas questões desenvolvidas no argumento e desenvolvimento de Halloween: A Noite do Terror, uma pequena e valiosa obra-prima do cinema.

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