sábado , 21 dezembro , 2024

Retcon ou planejamento? | As mudanças que a Marvel tentou fazer na franquia ‘Guardiões da Galáxia’

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[ANTES DE COMEÇAR A MATÉRIA, FIQUE CIENTE QUE ELA CONTÉM SPOILERS] 

Se você ainda não assistiu aos filmes da franquia Guardiões da Galáxia, incluindo Guardiões da Galáxia Vol.3, talvez seja melhor evitar esta matéria, pois ela contém spoilers.



James Gunn dirige uma cena do grupo em ‘Guardiões da Galáxia Vol.3’. Foto: Jessica Miglio. © 2023 MARVEL.

Agora que a franquia principal dos Guardiões da Galáxia chegou ao fim, é interessante ver como a saga avançou e como os personagens evoluíram ao longo dos filmes e especiais. No entanto, por se tratar de um universo compartilhado, criando crossovers com outras franquias, como visto em Vingadores: Guerra Infinita (2018), Vingadores: Ultimato (2019) e Thor: Amor e Trovão (2022), nem sempre há uma coesão de pensamentos entre seus diretores e roteiristas. Pensando nisso, selecionamos algumas dúvidas que rondaram os fãs na franquia, sendo algumas delas tentativas de retcons que a Marvel tentou fazer com esses personagens fora da saga principal de cada um – e que o James Gunn parece não ter dado muita bola, porque ignorou a grande maioria delas. Confira!

Ressuscitou ou foi pai?

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Talvez a polêmica mais antiga da franquia seja essa sobre o Groot (Vin Diesel) original. No filme de 2014, ele é introduzido como uma criatura repleta de amor e com a capacidade de dizimar um corredor de capangas com apenas um braço, exibindo um sorrisão enquanto acaba com a vida deles. Ao fim de sua jornada, ele decide se sacrificar para salvar seus novos amigos. Porém, o Rocket (Bradley Cooper) guarda uma parte dele e replanta em um vasinho, o que faz nascer o Bebê Groot.

Desde então, parte dos fãs ficou em dúvida se o Bebê Groot era o mesmo Groot renascido ou se era um personagem novo. E essa pergunta foi feita tantas vezes em entrevistas e nas redes sociais, que o diretor e roteirista James Gunn fez um pronunciamento para acabar com todas as dúvidas de uma vez por todas: o Groot do primeiro filme morreu, e o Bebê Groot, que vimos crescer até o Vol.3, é um outro personagem, que pode ser considerado o filho do Groot que se sacrificou.

Em uma tradução mais literal, foi isso aqui que ele escreveu em 2017, alguns meses depois de Guardiões da Galáxia Vol.2 ser lançado em mídia física:

“SOBRE OS PERSONAGENS QUE VOLTARAM DA MORTE E COMO GROOT ESTÁ MORTO, ontem eu tuitei:
‘Personagens constantemente morrendo e sendo trazidos de volta em quadrinhos, filmes e TV fazem com que a morte/perigo não tenha peso em toda a história – eu odeio isso’.
Embora o tweet tenha sido bastante retuitado, eu também tive os exemplos de Groot, Deadpool e Jesus Cristo sendo jogados contra mim.
Expliquei em um tweet complementar que não estava falando sobre o que aconteceu na própria estrutura da história. Não se trata de mitos de ressurreição (como Groot ou Jesus) ou de diversão, mortes falsas como o que acontece com Deadpool.
O que me incomoda é quando um personagem recebe uma morte bonita ou poderosa na cultura popular, que preenche o arco do personagem… E então é trazido de volta no filme, quadrinho ou episódio seguinte, porque, você sabe… ele é muito popular [para morrer]. Isso se tornou tão comum na TV, filmes e (especialmente) quadrinhos que qualquer morte significativa, pelo menos em franquias, perde seu impacto emocional. E, por extensão, toda morte e perigo perdem seu poder nessas histórias.
Se “Um Estranho no Ninho” virasse Um Estranho no Ninho 2, 3 e 4, e em todas as sequências Randall Patrick MacMurphy fosse trazido de volta por algum procedimento médico de ponta no início do filme e sacrificasse por outro paciente em busca de redenção no final – bem, essa história meio que perderia o efeito. E até mesmo Um Estranho no Ninho original poderia deixar de ser um dos meus filmes favoritos de todos os tempos.
Minha postagem original não foi direcionada a nenhuma empresa ou franquia – Marvel, DC e Days of Our Lives, que são rotineiramente apontados como culpados disso. Foi simplesmente em resposta a um tweet que me pedia para

— VOL. 2 SPOILER ABAIXO, GALERA —

“por favor, traga Yondu de volta.”
Embora seja sempre possível ver Yondu em flashbacks ou prequels, eu pessoalmente nunca o trarei de volta à vida porque isso anularia seu sacrifício e o amor de pai para filho que tanto me afeta pessoalmente, assim como a todos os fãs ao redor do mundo. Uma das razões pelas quais Yondu é o personagem mais popular do segundo filme é POR CAUSA desse sacrifício, e a ideia de trazê-lo de volta no Vol. 3 ou 4 ou numa série do Yondu na Netflix porque vende muitos Pop Funko me horroriza e me enjoa. Como eu disse, eu odeio isso. E eu nunca vou fazer isso.
Também mencionei que há exceções para a maioria das regras e, às vezes, a estrutura da história não precisa ocorrer em um filme – por exemplo, às vezes pode acontecer uma revelação que foi planejada o tempo todo, e às vezes essa revelação funcionará. A palavra “constantemente” no meu tweet original era importante – se os personagens fossem ocasionalmente revividos de maneiras interessantes que não diminuíssem a morte original, mas realmente melhorassem a história geral, eu não me importaria.
Eu também mencionei para as pessoas que não entenderam o tweet original e que não leram o tweet seguinte, e que continuaram jogando o renascimento do Groot na minha cara, que esse exemplo realmente não funciona porque Groot está morto.
Embora eu não pense necessariamente que é óbvio no Vol. 1, é importante dizer que se você explodisse e um pequeno pedaço de você começasse a se transformar em um bebê, eu não presumiria que esse bebê fosse você.
Eu acho que é mais óbvio no Vol. 2, já que Baby Groot tem uma personalidade diferente de Groot, não guarda nenhuma de suas memórias e é muito, muito mais burro.
E, claro, embora eu tenha dito tudo isso dezenas de vezes antes, é sobre isso que o tópico se tornou, com pessoas fazendo um “Grootsplaining” para me explicar por que eu estava errado e por que os personagens que criei para a tela não são o que penso que eles são. Desculpe, pessoal, não funciona assim. O sacrifício de Groot também teve peso e verdade.
De qualquer forma, espero que todos tenham um ótimo final de semana. Estou aqui na bela St. Louis com minha família, feliz por estar de volta à minha cidade natal.”

James confirmou que o Bebê Groot não é o mesmo Groot do primeiro filme, mas um “filho” dele

Por um tempo, essa questão parecia ter sido resolvida, com os fãs aceitando que o Bebê Groot não era o mesmo personagem, até porque ele foi retratado com uma personalidade bem distinta em suas aparições posteriores, até mesmo quando cresceu e virou um Groot Adolescente. E agora, como um Groot adulto parrudo, ele lembra um pouco mais aquele personagem do primeiro filme, apesar disso refletir muito na criação que ele teve dos Guardiões, que conheceram o “Groot Pai” e certamente tentaram ensinar valores parecidos.

Mas essa polêmica voltou à tona em 2022, quando a Disney lançou a série de curtas Eu Sou Groot, que traz o bebê descobrindo o mundo assim que sai do vasinho. Os filminhos contam com o Groot fazendo coisas padrões dos bebês, como dando os primeiros passos, tomando o primeiro banho, dizimando a primeira população inteligente… E coisas do tipo. Porém, no último episódio, o Bebê Groot faz um desenho para dar de presente ao Rocket e aí que os fãs apontaram para uma tentativa de retcon.

Isso porque o Bebê Groot desenhou a cena do primeiro filme em que seu pai envolve os Guardiões com seu corpo para salvá-los, consumando assim o sacrifício que encerrou sua vida. Um dos argumentos trazidos na época era que a série foi a primeira produção envolvendo os Guardiões que não foi escrita e dirigida por James Gunn.

Porém, Gunn supervisionou o projeto e até mesmo emprestou sua voz a um relógio que aparece na série. Ou seja, ele sabia o que estava acontecendo ali. Então, o mais provável é que o Bebê Groot tenha apenas desenhado a despedida do pai baseado nas histórias que os Guardiões contaram para ele. Inclusive, se for comparar o desenho com a cena em questão, os personagens não estão na mesma posição, corroborando para que seja apenas a forma como o bebê imaginou a cena por meio das histórias que ouviu. Até porque o desenvolvimento do personagem se deu como uma figura completamente nova, o que teria ignorado esse suposto “retcon”.

Sabia ou não?

Em Guardiões da Galáxia (2014), a Gamora (Zoe Saldana) é enviada por Thanos (Josh Brolin) para ajudar na captura do Orbe. Durante o filme, ela planeja trair o “pai” e vender o objeto para o Colecionador (Benicio Del Toro), que explica para o grupo – surpreso – que aquilo é uma Joia do Infinito extremamente poderosa. Então, quando a assistente do Colecionador pega a joia com as mãos e explode tudo, os Guardiões decidem deixá-la com a Tropa Nova, em Xandar.

Só que em Vingadores: Guerra Infinita, Gamora diz que já sabia do plano de Thanos desde sempre e que sabia onde estava a única joia cujo paradeiro era desconhecido. Para complicar mais, em Vingadores: Ultimato, a Gamora de 2014 de outra linha do tempo sequer chegou a conhecer e formar os Guardiões, mas sabia sobre as Joias, então é um retcon, certo? Não necessariamente.

Primeiro porque, como visto em Guardiões da Galáxia Vol.3, apesar dessa Gamora de outra realidade ter outras vivências e uma personalidade distante da Gamora que morreu em 2018, quando Thanos a jogou do penhasco em Vormir, ela pode ter um desenvolvimento parecido com a da Gamora que acompanhamos por mais tempo. Ela mesma diz em Guerra Infinita que sua missão era encontrar a Joia da Alma, não as outras (não por acaso, Thanos tinha diversos filhos e aliados para isso). Mas, fora isso, o plano da Gamora do primeiro filme teoricamente já supõe que ela sabe do risco que o Orbe representa se cair nas mãos de Thanos, por isso que ela o leva para o Colecionador, uma entidade cósmica cujo propósito de vida é colecionar coisas e criaturas, mantendo-as protegidas em um porto repleto de capangas.

O Colecionador foi introduzido na cena pós-créditos de Thor: O Mundo Sombrio (2013).

A prova de que o plano da Gamora seguia a lógica de quem tinha conhecimento da letalidade das Joias do Infinito é que os Asgardianos, a mando de Odin, levaram o Éter, a Joia da Realidade, para ficar guardado com o Colecionador por não ser considerado seguro manter duas Joias do Infinito no mesmo lugar, como visto na cena pós-créditos de Thor: O Mundo Sombrio (2013), já que eles mantinham o Tesseract nos cofres de Odin. Neste caso, Gamora provavelmente não sabia que ele já tinha uma Joia em suas posses, mas deixar a Joia com o Colecionador não parecia ser uma ideia ruim para esses dois núcleos. E o próprio Colecionador, fazendo valer seu nome, confiava em seu poder de defesa para tentar ele mesmo manter as Joias em seus cofres.

Em outras palavras, por mais que pareça inicialmente um retcon, quando se para pra pensar, não se encaixa no conceito.

A última Gamora?

No primeiro filme, quando os Guardiões são capturados em Xandar, eles são fichados pela Tropa Nova e algumas informações são mostradas em seus registros. No de Gamora, sua origem indica que ela é a última sobrevivente de seu povo. O problema é que Guerra Infinita mostra o momento em que Thanos chegou ao planeta natal de Gamora e matou metade do povo, como ele queria fazer com o universo, enquanto usa um punhal para explicar suas ideias para a menina e manipulá-la para se juntar a ele em sua missão supostamente em busca do equilíbrio perfeito para todos.

A situação complica ainda mais quando Thanos sequestra a Gamora adulta e eles conversam sobre os conceitos deturpados de salvação que o Titã quer pôr em prática. Durante a conversa, ele diz a ela que as pessoas de seu planeta natal não conhecem mais a fome e pobreza, que as crianças de lá estão felizes e bem alimentadas. Nesse ponto, a produção de Guerra Infinita provavelmente não se atentou para a informação colocada no canto da tela do primeiro Guardiões e tomou essa liberdade.

Também existe a possibilidade do Thanos apenas ter mentido para a Gamora. Afinal, ele diz que nunca ensinou a filha a mentir, por isso que ela mente tão mal. E isso faria de Thanos um grande mentiroso? Pode ser, mas principalmente sua versão de Guerra Infinita não parece se apoiar em mentiras, apenas em conceitos deturpados. Pode ser também que os registros da Tropa Nova, lá no primeiro filme, estivessem errados. Mas considerando que eles são uma grande força policial da galáxia, não parece ser o caso. Então, é bem provável que isso seja mesmo um retcon não proposital.

Vingadores poliglotas?

A comunicação entre os heróis espaciais é uma grande polêmica no MCU. Porém, nos filmes dirigidos por James Gunn, ele explica que os Guardiões se entendem e entendem outros aliens por conta dos tradutores intergalácticos implantados em seus corpos. Inclusive, em Guardiões da Galáxia Vol.3, a Mantis (Pom Klementieff) diz que não consegue entender o que dizem as crianças presas na nave porque a língua delas não constava em seu tradutor, mostrando todo um cuidado do diretor com esses detalhes.

Em 2020, em uma sessão de perguntas e respostas no Twitter, Gunn foi questionado sobre a comunicação dos heróis em Guerra Infinita, principalmente porque o Thor (Chris Hemsworth) surpreende o Rocket ao supostamente entender o que o Groot adolescente fala. O Deus do Trovão, então, diz que aprendeu a falar “Groot” em Asgard. No Tweet, James Gunn disse que tudo não passou de uma brincadeira do asgardiano, que conseguia entendê-lo pela pureza.

Thor estava fazendo uma de suas tradicionais piadas quando disse que ‘Groot’ era uma aula [lecionada em Asgard]. Meio que sendo um deus, ele não tem a mesma dificuldade que os Guardiões possuem para entender o Groot, disse James Gunn.

Em outro Tweet, que questionou como Thor o entendeu de primeira e Peter Quill (Chris Pratt), que tinha um tradutor universal, não, James enfim explicou como funciona o tradutor de Quill e a linguagem do Groot:

“Ele não possui um tradutor universal. Ele possui um tradutor. E ele não possui todas as línguas nele (não tinha a linguagem de Sakaaran no primeiro filme, por exemplo) e as pessoas não aprendem Groot através da linguagem – eles aprendem isso se conectando com o Groot, completou Gunn.

Em outras palavras, o Groot tem uma linguagem empática e isso gera um dos momentos mais bonitos do Vol.3, que é quando a Gamora e o público enfim se conectam ao Groot e pela primeira vez na saga, todos entendem o que ele diz: “Eu amo vocês”. Mas fora o Groot, os outros Vingadores entendem perfeitamente o que os Guardiões dizem, como o Bucky (Sebastian Stan), que entende o Rocket perguntando sobre o preço de seu braço metálico ou o Homem-Aranha (Tom Holland) entendendo a Mantis e o Drax (Dave Bautista) mesmo sem ter tradutor implantado. Isso não chega a ser um retcon, porque James segue com o conceito desse tradutor no último filme, então é só um grande erro/ descuido dos Irmãos Russo, que deixaram passar esse detalhe importante.

Sem capacete

Em Guerra Infinita e em Ultimato, Peter Quill aparece usando seu icônico capacete durante as cenas de batalha. No entanto, em Guardiões da Galáxia Vol.2, o Ego (Kurt Russell) quebra não apenas o capacete do Senhor das Estrelas, mas também seu precioso Walkman, com o Awesome Mix Vol.2 lá dentro. E no contexto do filme, essas quebras têm uma importância narrativa muito grande, porque é o momento em que seu pai, Ego, destrói contra a vontade de Peter os dois objetos que representam seus vínculos com sua persona da Terra (Walkman) e sua persona espacial (capacete), forçando o rapaz a se aceitar um Celestial e servir ao pai como uma bateria para A Expansão.

Essa quebra é tão importante para o desenvolvimento do Peter, que durante a luta final, em que ele consuma sua vingança contra o pai, ele cita que ele não deveria ter matado sua mãe e destruído suas coisas. E como James Gunn disse no caso do Groot, ele não é adepto de trazer de volta elementos narrativos que já serviram ao seu propósito e deixaram a cena. No entanto, os Irmãos Russo não parecem ter entendido o personagem da mesma forma e só trouxeram o capacete de volta para os filmes. Até mesmo por uma questão de conveniência, para poder usar o Senhor das Estrelas em cenas espaciais sem precisar justificar uma troca de roupa para um traje espacial.

Foto: Jessica Miglio. © 2023 MARVEL.

Bom, fato é que novamente James ignorou o que os Russo fizeram nos filmes dos Vingadores e manteve-se fiel a seu próprio planejamento para seus personagens. Por isso, no Especial de Festas (2022) e em Guardiões da Galáxia Vol.3 (2023), vemos Peter perambular por aí sem seu famoso capacete, que poderia, inclusive, tê-lo salvo ao final do último filme, sem precisar da ajuda de Adam Warlock (Will Poulter). Foi tipo um retcon do retcon.

Guardiões da Galáxia Vol.3 está em cartaz nos cinemas.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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Se você ainda não assistiu aos filmes da franquia Guardiões da Galáxia, incluindo Guardiões da Galáxia Vol.3, talvez seja melhor evitar esta matéria, pois ela contém spoilers.

James Gunn dirige uma cena do grupo em ‘Guardiões da Galáxia Vol.3’. Foto: Jessica Miglio. © 2023 MARVEL.

Agora que a franquia principal dos Guardiões da Galáxia chegou ao fim, é interessante ver como a saga avançou e como os personagens evoluíram ao longo dos filmes e especiais. No entanto, por se tratar de um universo compartilhado, criando crossovers com outras franquias, como visto em Vingadores: Guerra Infinita (2018), Vingadores: Ultimato (2019) e Thor: Amor e Trovão (2022), nem sempre há uma coesão de pensamentos entre seus diretores e roteiristas. Pensando nisso, selecionamos algumas dúvidas que rondaram os fãs na franquia, sendo algumas delas tentativas de retcons que a Marvel tentou fazer com esses personagens fora da saga principal de cada um – e que o James Gunn parece não ter dado muita bola, porque ignorou a grande maioria delas. Confira!

Ressuscitou ou foi pai?

Talvez a polêmica mais antiga da franquia seja essa sobre o Groot (Vin Diesel) original. No filme de 2014, ele é introduzido como uma criatura repleta de amor e com a capacidade de dizimar um corredor de capangas com apenas um braço, exibindo um sorrisão enquanto acaba com a vida deles. Ao fim de sua jornada, ele decide se sacrificar para salvar seus novos amigos. Porém, o Rocket (Bradley Cooper) guarda uma parte dele e replanta em um vasinho, o que faz nascer o Bebê Groot.

Desde então, parte dos fãs ficou em dúvida se o Bebê Groot era o mesmo Groot renascido ou se era um personagem novo. E essa pergunta foi feita tantas vezes em entrevistas e nas redes sociais, que o diretor e roteirista James Gunn fez um pronunciamento para acabar com todas as dúvidas de uma vez por todas: o Groot do primeiro filme morreu, e o Bebê Groot, que vimos crescer até o Vol.3, é um outro personagem, que pode ser considerado o filho do Groot que se sacrificou.

Em uma tradução mais literal, foi isso aqui que ele escreveu em 2017, alguns meses depois de Guardiões da Galáxia Vol.2 ser lançado em mídia física:

“SOBRE OS PERSONAGENS QUE VOLTARAM DA MORTE E COMO GROOT ESTÁ MORTO, ontem eu tuitei:
‘Personagens constantemente morrendo e sendo trazidos de volta em quadrinhos, filmes e TV fazem com que a morte/perigo não tenha peso em toda a história – eu odeio isso’.
Embora o tweet tenha sido bastante retuitado, eu também tive os exemplos de Groot, Deadpool e Jesus Cristo sendo jogados contra mim.
Expliquei em um tweet complementar que não estava falando sobre o que aconteceu na própria estrutura da história. Não se trata de mitos de ressurreição (como Groot ou Jesus) ou de diversão, mortes falsas como o que acontece com Deadpool.
O que me incomoda é quando um personagem recebe uma morte bonita ou poderosa na cultura popular, que preenche o arco do personagem… E então é trazido de volta no filme, quadrinho ou episódio seguinte, porque, você sabe… ele é muito popular [para morrer]. Isso se tornou tão comum na TV, filmes e (especialmente) quadrinhos que qualquer morte significativa, pelo menos em franquias, perde seu impacto emocional. E, por extensão, toda morte e perigo perdem seu poder nessas histórias.
Se “Um Estranho no Ninho” virasse Um Estranho no Ninho 2, 3 e 4, e em todas as sequências Randall Patrick MacMurphy fosse trazido de volta por algum procedimento médico de ponta no início do filme e sacrificasse por outro paciente em busca de redenção no final – bem, essa história meio que perderia o efeito. E até mesmo Um Estranho no Ninho original poderia deixar de ser um dos meus filmes favoritos de todos os tempos.
Minha postagem original não foi direcionada a nenhuma empresa ou franquia – Marvel, DC e Days of Our Lives, que são rotineiramente apontados como culpados disso. Foi simplesmente em resposta a um tweet que me pedia para

— VOL. 2 SPOILER ABAIXO, GALERA —

“por favor, traga Yondu de volta.”
Embora seja sempre possível ver Yondu em flashbacks ou prequels, eu pessoalmente nunca o trarei de volta à vida porque isso anularia seu sacrifício e o amor de pai para filho que tanto me afeta pessoalmente, assim como a todos os fãs ao redor do mundo. Uma das razões pelas quais Yondu é o personagem mais popular do segundo filme é POR CAUSA desse sacrifício, e a ideia de trazê-lo de volta no Vol. 3 ou 4 ou numa série do Yondu na Netflix porque vende muitos Pop Funko me horroriza e me enjoa. Como eu disse, eu odeio isso. E eu nunca vou fazer isso.
Também mencionei que há exceções para a maioria das regras e, às vezes, a estrutura da história não precisa ocorrer em um filme – por exemplo, às vezes pode acontecer uma revelação que foi planejada o tempo todo, e às vezes essa revelação funcionará. A palavra “constantemente” no meu tweet original era importante – se os personagens fossem ocasionalmente revividos de maneiras interessantes que não diminuíssem a morte original, mas realmente melhorassem a história geral, eu não me importaria.
Eu também mencionei para as pessoas que não entenderam o tweet original e que não leram o tweet seguinte, e que continuaram jogando o renascimento do Groot na minha cara, que esse exemplo realmente não funciona porque Groot está morto.
Embora eu não pense necessariamente que é óbvio no Vol. 1, é importante dizer que se você explodisse e um pequeno pedaço de você começasse a se transformar em um bebê, eu não presumiria que esse bebê fosse você.
Eu acho que é mais óbvio no Vol. 2, já que Baby Groot tem uma personalidade diferente de Groot, não guarda nenhuma de suas memórias e é muito, muito mais burro.
E, claro, embora eu tenha dito tudo isso dezenas de vezes antes, é sobre isso que o tópico se tornou, com pessoas fazendo um “Grootsplaining” para me explicar por que eu estava errado e por que os personagens que criei para a tela não são o que penso que eles são. Desculpe, pessoal, não funciona assim. O sacrifício de Groot também teve peso e verdade.
De qualquer forma, espero que todos tenham um ótimo final de semana. Estou aqui na bela St. Louis com minha família, feliz por estar de volta à minha cidade natal.”

James confirmou que o Bebê Groot não é o mesmo Groot do primeiro filme, mas um “filho” dele

Por um tempo, essa questão parecia ter sido resolvida, com os fãs aceitando que o Bebê Groot não era o mesmo personagem, até porque ele foi retratado com uma personalidade bem distinta em suas aparições posteriores, até mesmo quando cresceu e virou um Groot Adolescente. E agora, como um Groot adulto parrudo, ele lembra um pouco mais aquele personagem do primeiro filme, apesar disso refletir muito na criação que ele teve dos Guardiões, que conheceram o “Groot Pai” e certamente tentaram ensinar valores parecidos.

Mas essa polêmica voltou à tona em 2022, quando a Disney lançou a série de curtas Eu Sou Groot, que traz o bebê descobrindo o mundo assim que sai do vasinho. Os filminhos contam com o Groot fazendo coisas padrões dos bebês, como dando os primeiros passos, tomando o primeiro banho, dizimando a primeira população inteligente… E coisas do tipo. Porém, no último episódio, o Bebê Groot faz um desenho para dar de presente ao Rocket e aí que os fãs apontaram para uma tentativa de retcon.

Isso porque o Bebê Groot desenhou a cena do primeiro filme em que seu pai envolve os Guardiões com seu corpo para salvá-los, consumando assim o sacrifício que encerrou sua vida. Um dos argumentos trazidos na época era que a série foi a primeira produção envolvendo os Guardiões que não foi escrita e dirigida por James Gunn.

Porém, Gunn supervisionou o projeto e até mesmo emprestou sua voz a um relógio que aparece na série. Ou seja, ele sabia o que estava acontecendo ali. Então, o mais provável é que o Bebê Groot tenha apenas desenhado a despedida do pai baseado nas histórias que os Guardiões contaram para ele. Inclusive, se for comparar o desenho com a cena em questão, os personagens não estão na mesma posição, corroborando para que seja apenas a forma como o bebê imaginou a cena por meio das histórias que ouviu. Até porque o desenvolvimento do personagem se deu como uma figura completamente nova, o que teria ignorado esse suposto “retcon”.

Sabia ou não?

Em Guardiões da Galáxia (2014), a Gamora (Zoe Saldana) é enviada por Thanos (Josh Brolin) para ajudar na captura do Orbe. Durante o filme, ela planeja trair o “pai” e vender o objeto para o Colecionador (Benicio Del Toro), que explica para o grupo – surpreso – que aquilo é uma Joia do Infinito extremamente poderosa. Então, quando a assistente do Colecionador pega a joia com as mãos e explode tudo, os Guardiões decidem deixá-la com a Tropa Nova, em Xandar.

Só que em Vingadores: Guerra Infinita, Gamora diz que já sabia do plano de Thanos desde sempre e que sabia onde estava a única joia cujo paradeiro era desconhecido. Para complicar mais, em Vingadores: Ultimato, a Gamora de 2014 de outra linha do tempo sequer chegou a conhecer e formar os Guardiões, mas sabia sobre as Joias, então é um retcon, certo? Não necessariamente.

Primeiro porque, como visto em Guardiões da Galáxia Vol.3, apesar dessa Gamora de outra realidade ter outras vivências e uma personalidade distante da Gamora que morreu em 2018, quando Thanos a jogou do penhasco em Vormir, ela pode ter um desenvolvimento parecido com a da Gamora que acompanhamos por mais tempo. Ela mesma diz em Guerra Infinita que sua missão era encontrar a Joia da Alma, não as outras (não por acaso, Thanos tinha diversos filhos e aliados para isso). Mas, fora isso, o plano da Gamora do primeiro filme teoricamente já supõe que ela sabe do risco que o Orbe representa se cair nas mãos de Thanos, por isso que ela o leva para o Colecionador, uma entidade cósmica cujo propósito de vida é colecionar coisas e criaturas, mantendo-as protegidas em um porto repleto de capangas.

O Colecionador foi introduzido na cena pós-créditos de Thor: O Mundo Sombrio (2013).

A prova de que o plano da Gamora seguia a lógica de quem tinha conhecimento da letalidade das Joias do Infinito é que os Asgardianos, a mando de Odin, levaram o Éter, a Joia da Realidade, para ficar guardado com o Colecionador por não ser considerado seguro manter duas Joias do Infinito no mesmo lugar, como visto na cena pós-créditos de Thor: O Mundo Sombrio (2013), já que eles mantinham o Tesseract nos cofres de Odin. Neste caso, Gamora provavelmente não sabia que ele já tinha uma Joia em suas posses, mas deixar a Joia com o Colecionador não parecia ser uma ideia ruim para esses dois núcleos. E o próprio Colecionador, fazendo valer seu nome, confiava em seu poder de defesa para tentar ele mesmo manter as Joias em seus cofres.

Em outras palavras, por mais que pareça inicialmente um retcon, quando se para pra pensar, não se encaixa no conceito.

A última Gamora?

No primeiro filme, quando os Guardiões são capturados em Xandar, eles são fichados pela Tropa Nova e algumas informações são mostradas em seus registros. No de Gamora, sua origem indica que ela é a última sobrevivente de seu povo. O problema é que Guerra Infinita mostra o momento em que Thanos chegou ao planeta natal de Gamora e matou metade do povo, como ele queria fazer com o universo, enquanto usa um punhal para explicar suas ideias para a menina e manipulá-la para se juntar a ele em sua missão supostamente em busca do equilíbrio perfeito para todos.

A situação complica ainda mais quando Thanos sequestra a Gamora adulta e eles conversam sobre os conceitos deturpados de salvação que o Titã quer pôr em prática. Durante a conversa, ele diz a ela que as pessoas de seu planeta natal não conhecem mais a fome e pobreza, que as crianças de lá estão felizes e bem alimentadas. Nesse ponto, a produção de Guerra Infinita provavelmente não se atentou para a informação colocada no canto da tela do primeiro Guardiões e tomou essa liberdade.

Também existe a possibilidade do Thanos apenas ter mentido para a Gamora. Afinal, ele diz que nunca ensinou a filha a mentir, por isso que ela mente tão mal. E isso faria de Thanos um grande mentiroso? Pode ser, mas principalmente sua versão de Guerra Infinita não parece se apoiar em mentiras, apenas em conceitos deturpados. Pode ser também que os registros da Tropa Nova, lá no primeiro filme, estivessem errados. Mas considerando que eles são uma grande força policial da galáxia, não parece ser o caso. Então, é bem provável que isso seja mesmo um retcon não proposital.

Vingadores poliglotas?

A comunicação entre os heróis espaciais é uma grande polêmica no MCU. Porém, nos filmes dirigidos por James Gunn, ele explica que os Guardiões se entendem e entendem outros aliens por conta dos tradutores intergalácticos implantados em seus corpos. Inclusive, em Guardiões da Galáxia Vol.3, a Mantis (Pom Klementieff) diz que não consegue entender o que dizem as crianças presas na nave porque a língua delas não constava em seu tradutor, mostrando todo um cuidado do diretor com esses detalhes.

Em 2020, em uma sessão de perguntas e respostas no Twitter, Gunn foi questionado sobre a comunicação dos heróis em Guerra Infinita, principalmente porque o Thor (Chris Hemsworth) surpreende o Rocket ao supostamente entender o que o Groot adolescente fala. O Deus do Trovão, então, diz que aprendeu a falar “Groot” em Asgard. No Tweet, James Gunn disse que tudo não passou de uma brincadeira do asgardiano, que conseguia entendê-lo pela pureza.

Thor estava fazendo uma de suas tradicionais piadas quando disse que ‘Groot’ era uma aula [lecionada em Asgard]. Meio que sendo um deus, ele não tem a mesma dificuldade que os Guardiões possuem para entender o Groot, disse James Gunn.

Em outro Tweet, que questionou como Thor o entendeu de primeira e Peter Quill (Chris Pratt), que tinha um tradutor universal, não, James enfim explicou como funciona o tradutor de Quill e a linguagem do Groot:

“Ele não possui um tradutor universal. Ele possui um tradutor. E ele não possui todas as línguas nele (não tinha a linguagem de Sakaaran no primeiro filme, por exemplo) e as pessoas não aprendem Groot através da linguagem – eles aprendem isso se conectando com o Groot, completou Gunn.

Em outras palavras, o Groot tem uma linguagem empática e isso gera um dos momentos mais bonitos do Vol.3, que é quando a Gamora e o público enfim se conectam ao Groot e pela primeira vez na saga, todos entendem o que ele diz: “Eu amo vocês”. Mas fora o Groot, os outros Vingadores entendem perfeitamente o que os Guardiões dizem, como o Bucky (Sebastian Stan), que entende o Rocket perguntando sobre o preço de seu braço metálico ou o Homem-Aranha (Tom Holland) entendendo a Mantis e o Drax (Dave Bautista) mesmo sem ter tradutor implantado. Isso não chega a ser um retcon, porque James segue com o conceito desse tradutor no último filme, então é só um grande erro/ descuido dos Irmãos Russo, que deixaram passar esse detalhe importante.

Sem capacete

Em Guerra Infinita e em Ultimato, Peter Quill aparece usando seu icônico capacete durante as cenas de batalha. No entanto, em Guardiões da Galáxia Vol.2, o Ego (Kurt Russell) quebra não apenas o capacete do Senhor das Estrelas, mas também seu precioso Walkman, com o Awesome Mix Vol.2 lá dentro. E no contexto do filme, essas quebras têm uma importância narrativa muito grande, porque é o momento em que seu pai, Ego, destrói contra a vontade de Peter os dois objetos que representam seus vínculos com sua persona da Terra (Walkman) e sua persona espacial (capacete), forçando o rapaz a se aceitar um Celestial e servir ao pai como uma bateria para A Expansão.

Essa quebra é tão importante para o desenvolvimento do Peter, que durante a luta final, em que ele consuma sua vingança contra o pai, ele cita que ele não deveria ter matado sua mãe e destruído suas coisas. E como James Gunn disse no caso do Groot, ele não é adepto de trazer de volta elementos narrativos que já serviram ao seu propósito e deixaram a cena. No entanto, os Irmãos Russo não parecem ter entendido o personagem da mesma forma e só trouxeram o capacete de volta para os filmes. Até mesmo por uma questão de conveniência, para poder usar o Senhor das Estrelas em cenas espaciais sem precisar justificar uma troca de roupa para um traje espacial.

Foto: Jessica Miglio. © 2023 MARVEL.

Bom, fato é que novamente James ignorou o que os Russo fizeram nos filmes dos Vingadores e manteve-se fiel a seu próprio planejamento para seus personagens. Por isso, no Especial de Festas (2022) e em Guardiões da Galáxia Vol.3 (2023), vemos Peter perambular por aí sem seu famoso capacete, que poderia, inclusive, tê-lo salvo ao final do último filme, sem precisar da ajuda de Adam Warlock (Will Poulter). Foi tipo um retcon do retcon.

Guardiões da Galáxia Vol.3 está em cartaz nos cinemas.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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