terça-feira , 5 novembro , 2024

Retro Dance #02 | ‘Hounds of Love’ e a genial mente de Kate Bush

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Na segunda edição do especial Retro Dance, voltamos novamente para os anos 1980 – dessa vez para relembrar um dos álbuns mais icônicos da lendária Kate BushHounds of Love.

Kate Bush não se consagrou como um dos maiores nomes da história da música por qualquer razão: além da percepção da imperfeição de si mesma e da própria carreira, a cantora e compositora britânica tornou-se precursora de uma espécie de levante da música alternativa no cenário mainstream, influenciando, através deu um estilo marcado pela multiplicidade de gêneros e uma expressão vocal impecável, desde nomes como Björk a atos contemporâneos como Charli XCX e A.G. Cook.

Começando sua carreira no final dos anos 1970, Bush ascendeu a uma carreira meteórica, marcada por inúmeros sucessos de crítica e de público – ora, ela até mesmo se tornou o primeiro ato feminino solo a atingir as paradas do Reino Unido. E seria em 1985 que a artista, de fato, deixaria um legado marcado no cenário fonográfico; afinal, esse foi o ano em que deu vida à sua magnum opus – e a uma das grandes pérolas de todos os tempos: Hounds of Love.

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A produção do álbum começou dois anos antes de seu lançamento: Bush isolou-se na própria casa e, munida de uma LinnDrum, um Fairlight e um piano clássico, gestou uma sensorial e versátil jornada regada a incursões alternativas e experimentais que caíram no gosto público e, até hoje, são redescobertas. E o carro-chefe da obra viria com a impecável “Running Up That Hill (A Deal with God)”, uma track alicerçada no synth-pop e no new wave, discorrendo sobre como um homem e uma mulher não podem entender um ao outro justamente por serem quem são (“se eu pudesse, eu faria um acordo com Deus, e eu faria com que ele trocasse nossos lugares”). Ainda que a faixa não tenha feito sucesso considerável à própria época, conquistou os holofotes do ano passado ao ser redescoberta pela geração atual, que a permitiu viralizar nas redes sociais e alavancar-se nas paradas de todo o mundo mais uma vez.

É claro que, considerando a magnanimidade de Bush, ela continua sem ter o reconhecimento que merece – mesmo sendo constantemente relembrada pelos especialistas ao redor do planeta. Hounds of Love é apenas uma pequena amostra do que ela nos entregou em sua carreira: a faixa-título, por exemplo, se alinha com as pulsões do art rock e do rock alternativo em um enredo que fala sobre o medo de se apaixonar em virtude de possíveis decepções e frustrações. Cada elemento é arquitetado com cautela pela artista, motivo pelo qual a faixa se mostra extremamente íntima e declamatória, guarnecida pelo impacto de violoncelos que explodem no refrão. “Cloudbusting” revela a mente de Bush para construções mais mercadológicas, por assim dizer, que funciona com perfeição dentro da estética do álbum. Aqui, art rock e baroque pop se aglutinam em uma história que analisa o relacionamento entre o filósofo e psiquiatra Wilhelm Reich e seu filho, Peter. Cada elemento vem acompanhado de uma continuidade majestosa, cortesia do uso certeiro dos sutis sintetizadores e da urgência dos cellos.

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As investidas conceituais são constantes no álbum – o que não é nenhuma surpresa. Entretanto, o que nos chama a atenção e nos atiça a curiosidade é como Bush trabalha com os maleáveis componentes à sua frente. Em “Mother Stands for Comfort” é um ótimo exemplo disso. Na faixa, de quase cinco minutos de duração, somos engolfados por um saboroso synth-rock pincelado com incursões eletrônicas e um quebra-cabeças que esconde mensagens nas entrelinhas e que convida o ouvinte a se tornar um agente dentro da história que cria. “The Big Sky” retorna ao art rock e serve como uma tela em branco para que a performer possa amalgamar técnicas irretocáveis e experimentações bem-vindas em uma narrativa que fala sobre os simples prazeres da infância e que crescer é doloroso e nos desperta uma nostalgia angustiante.

“Watching You Without Me” continua a demonstrar a versatilidade artística de Bush, levando-a para um encontro entre Ocidente e Oriente em incursões arab-pop e art-pop que puxam elementos de flautas sintéticas e uma tecedura de tirar o fôlego e que solidifica um suntuoso caminho de sons. À medida que permite que duas culturas distintas se choquem em um mesmo cosmos, ela não deixa de lado sua identidade única. “Jig Of Life”, por sua vez, reflete esse “globalismo” defendido por Bush ao nos arremessar de volta para a Idade Média em uma celebração da música celta – uma ótima surpresa do disco. “Hello Earth”, um espetáculo quase operático de seis minutos, a artista começa a fechar a jornada, criando paralelos com as faixas iniciais e garantindo que seus vocais angelicais se mesclem com a opressão poética do piano e, pouco depois, deem espaço para uma antêmica teatralidade.

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Hounds of Love não é apenas um álbum, mas sim um evento fonográfico que ultrapassa as barreiras da música e exalta todas as artes. A obra-prima de Kate Bush é um presente que merece ser apreciado do começo ao fim e que se configura como uma jornada envolvente e vibrante, apresentando-nos coisas novas toda vez que damos o play.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Kate Bush não se consagrou como um dos maiores nomes da história da música por qualquer razão: além da percepção da imperfeição de si mesma e da própria carreira, a cantora e compositora britânica tornou-se precursora de uma espécie de levante da música alternativa no cenário mainstream, influenciando, através deu um estilo marcado pela multiplicidade de gêneros e uma expressão vocal impecável, desde nomes como Björk a atos contemporâneos como Charli XCX e A.G. Cook.

Começando sua carreira no final dos anos 1970, Bush ascendeu a uma carreira meteórica, marcada por inúmeros sucessos de crítica e de público – ora, ela até mesmo se tornou o primeiro ato feminino solo a atingir as paradas do Reino Unido. E seria em 1985 que a artista, de fato, deixaria um legado marcado no cenário fonográfico; afinal, esse foi o ano em que deu vida à sua magnum opus – e a uma das grandes pérolas de todos os tempos: Hounds of Love.

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A produção do álbum começou dois anos antes de seu lançamento: Bush isolou-se na própria casa e, munida de uma LinnDrum, um Fairlight e um piano clássico, gestou uma sensorial e versátil jornada regada a incursões alternativas e experimentais que caíram no gosto público e, até hoje, são redescobertas. E o carro-chefe da obra viria com a impecável “Running Up That Hill (A Deal with God)”, uma track alicerçada no synth-pop e no new wave, discorrendo sobre como um homem e uma mulher não podem entender um ao outro justamente por serem quem são (“se eu pudesse, eu faria um acordo com Deus, e eu faria com que ele trocasse nossos lugares”). Ainda que a faixa não tenha feito sucesso considerável à própria época, conquistou os holofotes do ano passado ao ser redescoberta pela geração atual, que a permitiu viralizar nas redes sociais e alavancar-se nas paradas de todo o mundo mais uma vez.

É claro que, considerando a magnanimidade de Bush, ela continua sem ter o reconhecimento que merece – mesmo sendo constantemente relembrada pelos especialistas ao redor do planeta. Hounds of Love é apenas uma pequena amostra do que ela nos entregou em sua carreira: a faixa-título, por exemplo, se alinha com as pulsões do art rock e do rock alternativo em um enredo que fala sobre o medo de se apaixonar em virtude de possíveis decepções e frustrações. Cada elemento é arquitetado com cautela pela artista, motivo pelo qual a faixa se mostra extremamente íntima e declamatória, guarnecida pelo impacto de violoncelos que explodem no refrão. “Cloudbusting” revela a mente de Bush para construções mais mercadológicas, por assim dizer, que funciona com perfeição dentro da estética do álbum. Aqui, art rock e baroque pop se aglutinam em uma história que analisa o relacionamento entre o filósofo e psiquiatra Wilhelm Reich e seu filho, Peter. Cada elemento vem acompanhado de uma continuidade majestosa, cortesia do uso certeiro dos sutis sintetizadores e da urgência dos cellos.

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As investidas conceituais são constantes no álbum – o que não é nenhuma surpresa. Entretanto, o que nos chama a atenção e nos atiça a curiosidade é como Bush trabalha com os maleáveis componentes à sua frente. Em “Mother Stands for Comfort” é um ótimo exemplo disso. Na faixa, de quase cinco minutos de duração, somos engolfados por um saboroso synth-rock pincelado com incursões eletrônicas e um quebra-cabeças que esconde mensagens nas entrelinhas e que convida o ouvinte a se tornar um agente dentro da história que cria. “The Big Sky” retorna ao art rock e serve como uma tela em branco para que a performer possa amalgamar técnicas irretocáveis e experimentações bem-vindas em uma narrativa que fala sobre os simples prazeres da infância e que crescer é doloroso e nos desperta uma nostalgia angustiante.

“Watching You Without Me” continua a demonstrar a versatilidade artística de Bush, levando-a para um encontro entre Ocidente e Oriente em incursões arab-pop e art-pop que puxam elementos de flautas sintéticas e uma tecedura de tirar o fôlego e que solidifica um suntuoso caminho de sons. À medida que permite que duas culturas distintas se choquem em um mesmo cosmos, ela não deixa de lado sua identidade única. “Jig Of Life”, por sua vez, reflete esse “globalismo” defendido por Bush ao nos arremessar de volta para a Idade Média em uma celebração da música celta – uma ótima surpresa do disco. “Hello Earth”, um espetáculo quase operático de seis minutos, a artista começa a fechar a jornada, criando paralelos com as faixas iniciais e garantindo que seus vocais angelicais se mesclem com a opressão poética do piano e, pouco depois, deem espaço para uma antêmica teatralidade.

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Hounds of Love não é apenas um álbum, mas sim um evento fonográfico que ultrapassa as barreiras da música e exalta todas as artes. A obra-prima de Kate Bush é um presente que merece ser apreciado do começo ao fim e que se configura como uma jornada envolvente e vibrante, apresentando-nos coisas novas toda vez que damos o play.

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