sábado , 21 dezembro , 2024

Retro Dance #17 | ‘Delirium’ e os delírios amorosos de Ellie Goulding

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Delirium começa justamente como promete: uma aventura mística, longínqua, que nos abstrai da dura realidade em que vivemos e abre portas para um mundo novo. E é com a Intro” que mergulhamos no que podemos considerar como uma das melhores entradas da cantora Ellie Goulding, que alcança um amadurecimento impressionante e faz um ótimo uso de sua incrível voz com músicas envolventes e emocionantes, ainda que tangencie a falta de originalidade em certas composições. De qualquer forma, é um erro muito grande tirar os méritos da artista em, depois de alguns anos tomada pela cruel indústria musical, entregar um álbum seu e apenas seu. Sua terceira obra é, por falta de outro adjetivo que lhe faça jus, aplaudível nos sentidos mais óbvios e mais inesperados.

A expressiva identidade de Goulding já insurge na transição para a segunda track: o mágico prelúdio parece aterrissar no nosso mundo com Aftertaste”, uma dançante iteração que nos lembra dos momentos finais de uma festa regada a pop e a bebida, e que termina no ápice do aproveitamento. A priori, a construção pode parecer estranha aos ouvidos despreparados, mas é essa negação das fórmulas que a torna interessante até demais. E mais que isso, a música é um preparo interessante para o delicioso R&B de Something in the Way You Move”. Talvez o único aspecto negativo aqui seja sua previsibilidade que, no final das contas, acaba não emergindo como um iminente problema e mantém um ritmo dinâmico que busca uma unidimensionalidade proposital de sua adorável voz.



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A breve falta de ousadia praticamente deixa de existir conforme seguimos o álbum, reinventando-se com Keep on Dancin’”, dentro de uma inesperada irreverência para o synth-pop que começam com a preparação do pré-coro e culminam em um divertido chorus. O refrão é pautado em assovios próprios dos primórdios do eletrônico, reimaginados com as inconfundíveis notas do teclado eletrônico. E mais: Goulding redescobre a si mesma com On My Mind”, que se mostra além de seu tempo e respalda-se quase inteiramente no R&B e no eletro-pop, buscando afastar-se da dominância dos acordes sintéticos próprios daquele ano e até mesmo do gênero pop em si.

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É claro que Delirium não fica livre de seus deslizes, por mais ínfimos que sejam. Porém, algumas tracks insistem em preencher buracos e pecar no quesito da originalidade ou no do envolvimento – não é à toa que se configuram como as mais fracas dentro de uma imensidão de pontos positivos. A primeira delas é Around U”, cuja arquitetura é forçada e infantilizada demais para a proposta de Goulding para seu terceiro disco. Aqui, ela se vale de uma declaração bem clara sobre como se sente sobre seu “correspondente romântico”, dizendo repetidas vezes que deseja estar ao lado dele. Porém, os acordes monótonos e alegres ao extremo eventualmente a transformam em algo genérico – talvez uma reciclagem aproveitada de outras produções, até mesmo Codes”.

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Esta canção, inclusive, pode até ser um pouco melhor, mas não atira muito longe por um simples motivo: o escopo rítmico é praticamente arrancado e reaproveitado de Taylor Swift, que faria o que a artista fez aqui em músicas como Style” e Blank Space” (1989′, 2014). Porém, a popularidade gigantesca de Swift é fruto de sua incrível e empreendedora mente para criar discos comerciais – e é por essa razão que Codes” não encontra um espaço adequado dentro da pessoalidade e intimismo oferecidos por Goulding. Ao contrário, é quase bizarro ouvir o quão diferente ela é em comparação às outras – mas não se engane: ela tem seu mérito de praticidade e de “fofura”, por assim dizer.

Esse suave declínio se repetiria novamente com We Can’t Move to This” e Army”; todavia, esse novo duo traz uma competência muito maior dentro do mote que move o álbum, além de servirem como um preparo interessante para a trinca que fecha a jornada da cantora, começando com a tocante Lost and Found”, a qual, através de uma construção que usa e abusa de fórmulas a seu favor, iniciando com uma mesura sutil ao country-rock antes de adentrar de forma completa no melhor do pop – isso tudo fazendo um ótimo uso de sua voz. A melódica balada Scream It Out”, entretanto, já busca por algo mais expressivo e novo cujas referências datam dos corais religiosos revestidos em uma contemporaneidade apaixonante.

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E com isso, é ímpar falar da tríade carro-chefe da obra, que envolve já com a teatral Holding On For Life”, um hino que reflete uma delirante Goulding fugindo com o amor da sua vida para seu próprio paraíso. É justamente aqui que as fantasias românticas da artista ganham vida, acompanhadas por uma batida bem orquestrada e dançante. Logo depois, o dinamismo dá lugar ao desconstruído soneto Love Me Like You Do”, cuja performance é uma épica e sedutora rendição onírica – e, com isso, chegamos à irreverente e bruta Don’t Need Nobody”, cuja descrição dispensa muitos adjetivos além de perfeita, seja pelo retorno ao R&B, seja por sua mescla equilibrada com o eletro-pop novamente (que só se repetiria com Devotion”, a penúltima canção. Também é aqui que a lead singer prova sua habilidosa capacidade de estruturar seu disco, criando composições em um crescendo honrável e que mantém a fidelidade de seu público.

Delirium é uma ode aos sonhadores e aos românticos e, mais que isso, configura-se como uma ótima entrada para a discografia de Ellie Goulding, uma voz cujo potencial definitivamente não foi explorado ao máximo. E, como se não bastasse, o álbum beira a perfeição com o encontro impagável de diversos gêneros musicais, provando sua versatilidade performática e identitária.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Delirium começa justamente como promete: uma aventura mística, longínqua, que nos abstrai da dura realidade em que vivemos e abre portas para um mundo novo. E é com a Intro” que mergulhamos no que podemos considerar como uma das melhores entradas da cantora Ellie Goulding, que alcança um amadurecimento impressionante e faz um ótimo uso de sua incrível voz com músicas envolventes e emocionantes, ainda que tangencie a falta de originalidade em certas composições. De qualquer forma, é um erro muito grande tirar os méritos da artista em, depois de alguns anos tomada pela cruel indústria musical, entregar um álbum seu e apenas seu. Sua terceira obra é, por falta de outro adjetivo que lhe faça jus, aplaudível nos sentidos mais óbvios e mais inesperados.

A expressiva identidade de Goulding já insurge na transição para a segunda track: o mágico prelúdio parece aterrissar no nosso mundo com Aftertaste”, uma dançante iteração que nos lembra dos momentos finais de uma festa regada a pop e a bebida, e que termina no ápice do aproveitamento. A priori, a construção pode parecer estranha aos ouvidos despreparados, mas é essa negação das fórmulas que a torna interessante até demais. E mais que isso, a música é um preparo interessante para o delicioso R&B de Something in the Way You Move”. Talvez o único aspecto negativo aqui seja sua previsibilidade que, no final das contas, acaba não emergindo como um iminente problema e mantém um ritmo dinâmico que busca uma unidimensionalidade proposital de sua adorável voz.

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A breve falta de ousadia praticamente deixa de existir conforme seguimos o álbum, reinventando-se com Keep on Dancin’”, dentro de uma inesperada irreverência para o synth-pop que começam com a preparação do pré-coro e culminam em um divertido chorus. O refrão é pautado em assovios próprios dos primórdios do eletrônico, reimaginados com as inconfundíveis notas do teclado eletrônico. E mais: Goulding redescobre a si mesma com On My Mind”, que se mostra além de seu tempo e respalda-se quase inteiramente no R&B e no eletro-pop, buscando afastar-se da dominância dos acordes sintéticos próprios daquele ano e até mesmo do gênero pop em si.

É claro que Delirium não fica livre de seus deslizes, por mais ínfimos que sejam. Porém, algumas tracks insistem em preencher buracos e pecar no quesito da originalidade ou no do envolvimento – não é à toa que se configuram como as mais fracas dentro de uma imensidão de pontos positivos. A primeira delas é Around U”, cuja arquitetura é forçada e infantilizada demais para a proposta de Goulding para seu terceiro disco. Aqui, ela se vale de uma declaração bem clara sobre como se sente sobre seu “correspondente romântico”, dizendo repetidas vezes que deseja estar ao lado dele. Porém, os acordes monótonos e alegres ao extremo eventualmente a transformam em algo genérico – talvez uma reciclagem aproveitada de outras produções, até mesmo Codes”.

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Esta canção, inclusive, pode até ser um pouco melhor, mas não atira muito longe por um simples motivo: o escopo rítmico é praticamente arrancado e reaproveitado de Taylor Swift, que faria o que a artista fez aqui em músicas como Style” e Blank Space” (1989′, 2014). Porém, a popularidade gigantesca de Swift é fruto de sua incrível e empreendedora mente para criar discos comerciais – e é por essa razão que Codes” não encontra um espaço adequado dentro da pessoalidade e intimismo oferecidos por Goulding. Ao contrário, é quase bizarro ouvir o quão diferente ela é em comparação às outras – mas não se engane: ela tem seu mérito de praticidade e de “fofura”, por assim dizer.

Esse suave declínio se repetiria novamente com We Can’t Move to This” e Army”; todavia, esse novo duo traz uma competência muito maior dentro do mote que move o álbum, além de servirem como um preparo interessante para a trinca que fecha a jornada da cantora, começando com a tocante Lost and Found”, a qual, através de uma construção que usa e abusa de fórmulas a seu favor, iniciando com uma mesura sutil ao country-rock antes de adentrar de forma completa no melhor do pop – isso tudo fazendo um ótimo uso de sua voz. A melódica balada Scream It Out”, entretanto, já busca por algo mais expressivo e novo cujas referências datam dos corais religiosos revestidos em uma contemporaneidade apaixonante.

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E com isso, é ímpar falar da tríade carro-chefe da obra, que envolve já com a teatral Holding On For Life”, um hino que reflete uma delirante Goulding fugindo com o amor da sua vida para seu próprio paraíso. É justamente aqui que as fantasias românticas da artista ganham vida, acompanhadas por uma batida bem orquestrada e dançante. Logo depois, o dinamismo dá lugar ao desconstruído soneto Love Me Like You Do”, cuja performance é uma épica e sedutora rendição onírica – e, com isso, chegamos à irreverente e bruta Don’t Need Nobody”, cuja descrição dispensa muitos adjetivos além de perfeita, seja pelo retorno ao R&B, seja por sua mescla equilibrada com o eletro-pop novamente (que só se repetiria com Devotion”, a penúltima canção. Também é aqui que a lead singer prova sua habilidosa capacidade de estruturar seu disco, criando composições em um crescendo honrável e que mantém a fidelidade de seu público.

Delirium é uma ode aos sonhadores e aos românticos e, mais que isso, configura-se como uma ótima entrada para a discografia de Ellie Goulding, uma voz cujo potencial definitivamente não foi explorado ao máximo. E, como se não bastasse, o álbum beira a perfeição com o encontro impagável de diversos gêneros musicais, provando sua versatilidade performática e identitária.

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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