Com o fim dos anos 80, os filmes de serial killers entraram em franca decadência. Após várias seqüências risíveis de ‘Sexta-Feira 13’, ‘A Hora do pesadelo‘ e ‘Halloween‘, os filmes de terror tiveram uma queda de qualidade, e o gênero foi limado das telas do cinema.
Em meados dos anos 90, eis que surge um novo terror, citado pela Variety antes de sua estreia como ‘D.O.A’ (Dead on Arrival, gíria para ‘futuro fracasso nas bilheterias’). Era ‘Pânico‘ (Scream, 1996), dirigido pelo mestre do terror Wes Craven (‘A Hora do Pesadelo’) em parceria com o roteirista Kevin Williamson, até então desconhecido.
‘Pânico’ não obteve grande sucesso em sua estreia, mas o boca a boca positivo fez o filme crescer nas semanas seguintes, e arrecadar US$ 103 milhões nos EUA. Era um fenômeno de bilheterias, e o começo de uma nova era para o terror, que rendeu vários frutos e um novo subgênero. Vieram duas sequências do original, e derivados como ‘Eu sei o que vocês fizeram no verão passado 1 e 2‘, ‘Prova Final‘, ‘Lenda Urbana‘, entre outros.
Como na década de 80, o subgênero começou a esgotar, e após algumas bombas, os filmes de terror encontraram outras fórmulas e franquias (‘Jogos Mortais’, ‘O Chamado’) para seguir adiante.
‘Pânico 4’ estreia com a promessa de se auto-renovar em uma nova década, fazendo paródia com o subgênero que ele mesmo criou. E conseguiu. O roteirista Kevin Williamson adicionou tudo que funcionou nos anteriores, e renova a franquia para uma nova audiência. Misturando terror e comédia de maneira sensacional, o longa um novo recomeço para a franquia que era dada como morta.
Porém, o esforço não deu certo e o filme acabou afundando nas bilheterias (faturou US$ 38,1 milhões – US$ 97 milhões mundialmente – com orçamento de US$ 40 milhões) e matando a franquia nos cinemas.
Seguindo uma tendência atual (vide ‘Hannibal‘ e ‘Bates Motel‘), a franquia encontrou sua sobrevida nas telinhas. Convenhamos que é difícil adaptar um filme de terror em série: os habituais 90 minutos são o tempo suficiente para criar suspense, trabalhar os personagens, matar quase todo o elenco e encerrar com uma virada na trama que brilhantemente prende o espectador do começo ao fim.
Na TV, a história precisa ser esticada de uma maneira que prejudica o caminhar da história, e tal suspense pode acabar esgotando o espectador que precisará de 10 episódios de 45 minutos para saber quem é tal assassino (ou até mais, como a incansável série ‘Pretty Little Liars‘ que engana seu público há seis temporadas sem contar quem é a maldita “-A”).
Há paralelos bastante claro para o primeiro filme, com os queridos Sidney, Billy, Stu, Randy e Tatum. Na série, temos Emma (Willa Fitzgerald), Will (Conner Weil), Jake (Tom Maden) e Brooke (Carlson Young), os garotos populares de Lakewood.
Por mais que Emma se apresente como a “final girl“, a personagem mais interessante do episódio piloto é Audrey (Taylor-Bex Klaus), ex-melhor amiga da protagonista que foi vítima de cyber bullying por beijar uma garota.
Mas o grande querido do público definitivamente será Noah Foster (John Karna), o Randy Meeks da série, que já nos explica porque um filme de terror nunca tentou a sorte como série de TV:
“A garota e seu namorado chegam no baile em uma casa de campo deserta. O assassino mata-os um por um. Noventa minutos mais tarde, o sol aparece e a menina sobrevivente senta-se na ambulância assistindo os corpos de seus amigos passando em macas. Filmes de psicopata passam muito rápido. Na TV é preciso esticar as coisas. Quando o primeiro corpo é encontrado, é só questão de tempo até o banho de sangue começar”, afirma.
Uma autocritica? Não, é a metalinguagem da franquia sendo transportada para a TV de maneira brilhante, e já transformando o garoto nerd apaixonado por filmes de terror em um dos preferidos do público – e é claro – um dos principais suspeitos.
Como fã insaciável da franquia ‘Pânico‘, gostei bastante desse episódio piloto pela nostalgia que ele nos traz. A seqüência de abertura, com a bela Bella Thorne, é bastante explícita a tem a intenção de evocar visualmente a seqüência de Drew Barrymore em ‘Pânico‘, como uma colegial sozinha em casa que é perseguida por um assassino de maneira assustadora dando início ao banho de sangue. Só por essa cena, que não chega a ser brilhante como a do filme mas consegue reproduzi-la de maneira bastante satisfatória, já vale a pena assistir ao episódio.
Além da metalinguagem, toda a referência à cultura pop está aqui: ‘American Horror History‘, ‘Bates Motel‘, ‘Hannibal‘, Taylor Swift, etc…
O único problema do episódio piloto é o excesso de personagens: somos apresentados a mais de dez, sem conseguirmos nos identificarmos com quase nenhum deles – algo extremamente importante no gênero terror, afinal, você tem que sentir dó daqueles jovens que estão morrendo, como Noah também adianta.
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Devido aos caros direitos autorais, a máscara do Ghostface foi alterada, assim como sua voz. Mas isso não atrapalha a trama e pelo comercial dos próximos episódios podemos perceber que a máscara será alterada ao longo da trama, dando liberdade criativa aos produtores.
No final, a vibe da franquia ‘Pânico‘ está ali, assim também como a da franquia ‘Sexta-Feira 13‘. O episódio começa em um lago (Jason, é você?), como duas histórias paralelas: Além do grupo de jovens nos dias de hoje sendo perseguidos pelo serial killer, a mãe da protagonista enfrentou o mesmo tipo de situação há anos atrás, quando um menino com o rosto deformado a perseguiu e matou vários de seus amigos.
A história paralela pode até ser meio desnecessária, mas obviamente não foi o garoto deformado que matou os adolescentes, aumentando a lista de suspeitos da atual matança.
O piloto é interessante e saudosista, mas ainda não conseguiu captar a vibração divertida e inteligente dos filmes. Porém, a MTV mostra que não tem medo de entregar cenas sangrentas e obscuras, e promete uma temporada bastante interessante e com grande potencial.
Merece ser assistido!
Assista a prévia do segundo episódio, intitulado ‘Hello Emma‘, com o episódio piloto:
‘Scream‘ começa com um vídeo que foi parar no YouTube e se tornou viral. Ele causa problemas para a protagonista Audrey, que se vê em meio a um assassinado e uma cidade com um passado conturbado.
A dupla Jay Beattie e Dan Dworkin (das séries ‘Revenge’ e ‘Criminal Minds’) escreveram o primeiro episódio. Jill Blotevogel (‘Ravenswood’, ‘Harper’s Island’, ‘Eureka’) servirá como produtor principal de ‘Scream‘.