Muitos apontam Joaquin Phoenix como um dos atores mais versáteis e talentosos da atualidade. E estão certos. Mas o que a maioria pode não saber é que antes dele, outro membro de sua família havia chamado muita atenção no cinema. Filhos de pais hippies, River (ou Rio) era o filho mais velho de um total de cinco irmãos, e o primeiro a se destacar como ator em filmes – Rain (chuva), Joaquin (antes batizado Leaf, ou folha), Liberty (Liberdade) e Summer (Verão) são os outros irmãos (sendo Joaquin o único outro homem), respectivamente por ordem de nascimento.
River começou a carreira ainda criança e em pouco tempo imprimiu presença com seu carisma. Na fase adulta, dava novos passos ao trabalhar ao lado de nomes de peso, fosse na direção ou na frente das câmeras. Infelizmente, quando estava começando em sua escalada, Phoenix faleceu. Uma carreira interrompida aos 23 anos, com 25 créditos como ator, entre filmes, produções para a TV e séries, e uma indicação ao Oscar de coadjuvante aos 19 anos, pelo filme O Peso de um Passado (1988), River Phoenix marcou Hollywood de tal forma a vir se tornar uma verdadeira lenda – muito comparado a James Dean.
Como forma de homenagem a esta estrela brilhante que se apagou muito rápido – e que completaria hoje 48 anos de idade – trazemos alguns detalhes sobre a vida e carreira deste ator icônico da história recente de Hollywood. Vem conhecer.
Ator Mirim
River começou a carreira aos 12 anos no programa televisivo Seven Brides for Seven Brothers, baseado no clássico musical Sete Noivas para Sete Irmãos (1954). O destaque no cinema, no entanto, aconteceria em 1985, com a aventura de ficção infantil Viagem ao Mundo dos Sonhos (Explorers), de Joe Dante, filme que marcou a infância de muitas crianças na época. No longa, ele contracena com um Ethan Hawke ainda menino.
Nesta fase de sua carreira mirim, nenhum outro trabalho marcaria tanto como Conta Comigo (1985). Baseado no livro de Stephen King – que surpreendentemente não é um terror – e dirigido por Rob Reiner, o longa se tornou quintessencial quando o assunto é amizade juvenil levada para a vida. Na trama, quatro amigos ainda na infância decidem encontrar o corpo de outro menino morto na linha do trem e protagonizam a maior aventura de suas vidas, lembrada ainda na fase adulta. O filme foi indicado para o Oscar de roteiro adaptado e figura na lista das 250 melhores produções na opinião do grande púbico.
Em A Costa do Mosquito, lançado no ano seguinte, o jovem ator teve a chance de contracenar com o astro Harrison Ford, que reprisava a parceria com o diretor Peter Weir – os dois haviam trabalhado juntos no ano anterior no indicado ao Oscar A Testemunha.
Amadurecimento
Saindo da fase infantil para a adolescência, River Phoenix começou a chamar atenção do público e críticos com suas atuações mais maduras. Uma das primeiras veio com Espiões Sem Rosto (Little Nikita, 1988), no qual contracenou ao lado do lendário Sidney Poitier. O longa pegava carona no latente medo da guerra fria, com um agente do FBI (Poitier) investigando uma família encabeçada por espiões russos no coração dos EUA. Phoenix interpreta o filho dos espiões, que nunca desconfiou da verdadeira identidade dos pais. No mesmo ano, o ator estreava O Peso de um Passado, filme que lhe renderia sua primeira e única indicação ao Oscar. No longa, ele vive o filho mais velho de uma família de fugitivos, que deseja independência dos pais.
Em 1989, viria a participação de River em seu filme mais famoso – mesmo que sua aparição na obra seja bem curta. Em Indiana Jones e a Última Cruzada, de Steven Spielberg, o ator interpretou o jovem Indy, na cena de abertura que envolve um trem de animais do circo e que explica a cicatriz no queixo de Harrison Ford. De tal ideia, surgiu a premissa para o seriado O Jovem Indiana Jones, produzido por George Lucas, que infelizmente só durou duas temporadas (1992-1993). No ano seguinte, Phoenix foi dirigido por Lawrence Kasdan na comédia criminal Te Amarei Até te Matar (I Love You to Death), protagonizado por Kevin Kline.
Apesar da fama de Indiana Jones e do prestígio de sua indicação ao Oscar, talvez o filme mais lembrado na filmografia de Phoenix por sua atuação e que gera motivo de culto até hoje seja Garotos de Programa (My Own Private Idaho, 1991), de Gus Van Sant. No filme, Phoenix e Keanu Reeves interpretam jovens perdidos em busca de um sentido na vida, que terminam se tornando joguete nas mãos de inescrupuloso sujeito que os coloca para trabalhar como gigolôs. Aqui, nasceu a forte amizade entre os atores protagonistas. Em 2012, partes do filme foram recontextualizadas no documentário My Own Private River, homenagem de James Franco ao ator, codirigida pelo próprio Van Sant.
Outra grande produção da qual River Phoenix fez parte foi este drama criminal tecnológico de 1992, capitaneado pela Universal. Quebra de Sigilo trazia um grande elenco, com Robert Redford, Sidney Poitier, Dan Aykroyd e Ben Kingsley, e abordava o perigo tecnológico crescente que computadores apresentavam na época. Seu último filme lançado foi Um Sonho, Dois Amores (The Thing Called Love, 1993), do diretor Peter Bogdanovich, que fala sobre o universo de aspirantes a artistas da música country – tema que era muito querido pelo ator. O longa, que apresenta um dos primeiros papeis da carreira de uma então desconhecida Sandra Bullock (coadjuvante aqui), foi a única parceria nas telas de River Phoenix com sua companheira na vida real, a namorada Samantha Mathis (A Última Ameaça, 1996).
Morte
Um Sonho, Dois Amores (1993) foi o último filme de River Phoenix lançado antes de sua morte. O ator viria a falecer no dia 31 de outubro de 1993, por overdose de drogas que pararam seu coração. O abuso de substâncias tóxicas por parte do ator era notório. Em seus últimos trabalhos, as equipes de tais produções mostravam preocupação com o desempenho do ator, e seu comprometimento. Fato que demonstra que apesar de muito querido pela indústria e por todos que com ele trabalharam, o ator estava exibindo comportamento e aparência diferentes.
Foi na boate do colega Johnny Depp (30 anos na época) que River Phoenix viria a falecer após a overdose. O ator foi levado às pressas para o hospital, mas não resistiu. Na fatídica noite, Phoenix estava ao lado da namorada, a também atriz Samantha Mathis. Os dois haviam lançado o primeiro trabalho juntos, o filme citado no parágrafo acima, um mês antes de sua morte. Até hoje, Hollywood chora a perda do ator, que serve de conto cautelar contra o abuso de drogas e exemplo de uma carreira promissora interrompida por uma fatalidade idiota.
Obras Inacabadas
Filmes são gravados às vezes com anos de antecedência. Em média, as filmagens ocorrem um ano antes de seu lançamento, levando em conta a fase de pós-produção e o tamanho da obra. Então, é muito comum que após a morte súbita de um ator, seus filmes continuem a ser lançados meses – e até anos – depois. Com River Phoenix, no entanto, o fato só ocorreu uma vez.
Trata-se de Dark Blood, suspense country, cujas gravações foram interrompidas após o falecimento do jovem ator. Só 80% de suas cenas haviam sido completadas por ele e o longa terminou arquivado pelos produtores, que guardaram a cópia não finalizada em um cofre. Algum tempo depois, o diretor George Sluizer conseguiu ter acesso ao material e decidiu terminar a obra. Dark Blood finalmente pôde ser mostrado ao público em 2012, quando estreou no Festival de Cinema da Holanda. Nos EUA, foi exibido em março de 2013 no Festival de Miami e em maio no Festival de Seattle.
Apesar do pouco material sobressalente após sua morte, três filmes muito conhecidos poderiam ter contado com o ator. O primeiro e mais notório é Entrevista com o Vampiro (1994), de Neil Jordan, terror dramático no qual Phoenix já estava contratado para atuar. O ator faria o papel que terminou nas mãos de Christian Slater às pressas. Já por Diário de um Adolescente (1995) – filme que fez a carreira de Leonardo DiCaprio dar o start -, Phoenix havia demonstrado grande interesse. E por fim, quando trabalhou ao lado de Gus Van Sant em Garotos de Programa, o diretor, que já vislumbrava o filme Milk – A Voz da Igualdade (2008), pensava no ator para o papel de Cleve Jones, que terminou nas mãos de Emile Hirsch.
Fica aqui nossa homenagem a este precoce astro da sétima arte.