quinta-feira , 21 novembro , 2024

Robin Hood – A Origem | Um dos PIORES filmes do século faz 5 anos em 2023

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Parece ser de praxe, em determinada época, que os estúdios mergulhem nos clássicos e atemporais contos-de-fada e fábulas irretocáveis e transformem-nos (ou ao menos tentem transformar) em versões cinematográficas. Claro, a perspectiva mercadológica normalmente fala mais alto, mas também faz-se necessário entender que a principal ideia é revestir as histórias contadas a nós desde crianças com tramas nunca antes exploradas, subversões dos maniqueísmos literários e uma distorção enlouquecidamente sedutora que volta e meia é remexida pelos artistas. Entretanto, poucos retellings alcançaram sucesso; grande parte rendeu-se ao total vazio fílmico – ou seja, uma construção narrativa que saiu do nada e voltou para o mesmo lugar. 

Podemos nos lembrar com tristeza de João e Maria: Caçadores de Bruxas’, na qual a Paramount trouxe o famoso casal de irmãos para uma jornada mortal e muito mais perigosa do que enfrentaram quando crianças, fadado ao estupendo fracasso mesmo com um elenco de ponta. O mesmo pode ser dito quanto a Pan’, cuja direção de Joe Wright não consegue salvar o longa de render-se a uma total falta de lógica e nexo. Com um histórico desses, foi quase automático sentir um pouco de receio com o anúncio de mais uma adaptação do lendário Robin Hood, príncipe dos ladrões – e considerando, além disso, que a obra de 2010 não foi lá aquelas coisas. Talvez depositar a confiança em um nome como Otto Bathurst, responsável por séries como Black Mirror’ e Peaky Blinders’, fosse tranquilizante, mas infelizmente o resultado não poderia ser pior.



A trama traz um pano de fundo histórico, situado na Inglaterra da Idade Média à época da Guerra Santa, cujas batalhas centravam-se na oposição religiosa entre mouros e cristãos. Robin of Loxley (Taron Egerton), um conhecido Lorde da cidade de Nottingham, é convocado para a guerra e é obrigado a deixar sua esposa Marian (Eve Hewson) e todas as suas posses para trás. Após quatro anos em combate, ele volta-se contra seus companheiros soldados, impondo-se contra o massacre dos prisioneiros e sendo obrigado a retornar para a Inglaterra em um navio caindo aos pedaços. Assim que chega à sua casa, descobre que o Xerife (Ben Mendelsohn) – cujo nome desconhecemos – anunciou seu nome na lista de falecidos da guerra e ofertou todos os seus bens em nome da Igreja e da manutenção do exército anglicano nas terras arábicas. E mais: Marian, crente de que seu marido morrera, casou-se com Will Scarlet (Jamie Dornan em um inexplicável sotaque escocês) e agora vive nas minas, exilada do centro comercial. 

Basicamente tudo vai de mal a pior, e não digo apenas em termos cosmológicos para o protagonista. A cronologia e a preocupação quanto ao espaço-tempo narrativo são jogados para o alto de uma forma tão absurda que chega a doer os olhos e os ouvidos. Primeiro: Robin, num passe de mágica, se cura das feridas da guerra e já está apto a lançar-se em busca de sua antiga esposa. Segundo: caso voltasse mais cedo da guerra, seria tachado como traidor ou covarde, sendo banido para qualquer lugar que não fosse Nottingham. Terceiro: os figurinos dos personagens, principalmente de Marion, simplesmente não fazem sentido algum. A construção emblemática de uma Bretanha medieval é renegada até a última gota no momento em que o público põe olhos na tela e se depara com escolhas artísticas contemporâneas – no máximo kitsch. 

Egerton e Hewson (ou até Hewson e Dornan) alcançam um nível inesperado de falta de química. Em nenhum momento é-nos possível acreditar num romance entre Robin e Marion, ou que ela ainda pensa no ex-marido considerado assassinado. Dornan encarna uma versão inutilizável de Will, com trejeitos estranhos que sofrem uma brusca mudança conforme nos aproximamos das viradas e das primeiras resoluções. E talvez isso nem seja culpa dos atores, mas sim de um pífio roteiro assinado por Ben Chandler e David James Kelly. A dupla parece não ligar muito para repaginar a clássica lenda com brincadeiras inusitadas, deturpações interessantes ou conclusões inteligentes; muito pelo contrário, a constante fórmula da jornada do herói mostra-se mais uma vez irrelevante – e pior: mal usada. À medida que a história se desenrola, fica clara a falta de preocupação dialógica, visto que optar por frases prontas selecionadas insurge como “técnica indispensável” para qualquer que seja a ideia aqui. 

É de se pensar que, para um filme de época, ao menos o escopo artístico conseguiria comover ou procurar uma catarse iminente. Porém, Robin Hood’ passa muito longe disso. Tanto a plebe quanto a nobreza estão inseridas em uma zona de conforto angustiante, por assim dizer: enquanto esta reluz em meio a um luxo escondido e a construções imponentes, aquela é obrigada a viver em meio a casebres em ruínas, convulsionados por condições de vida subumanas. O problema é: a falta de nexo. A paleta de cores, os cenários e até mesmo os efeitos especiais se engessam num patamar incômodo, no qual a magia que nos transporta para as obras cinematográficas é quebrada sem piedade. Há uma sequência de perseguição, por exemplo, em que conseguimos enxergar a falta de minúcia da pós-produção – sim, é possível ver até mesmo a tela verde ao fundo. 

A jornada do herói também preza pela presença de um antagonista e de um fiel escudeiro. Aqui, o vilão é representado pelo Xerife, representando as instâncias religiosas que desejam depor o poder do rei ao financiar os mouros e exterminar os nobres de seu encalço; o companheiro vem na figura de uma construção bizarra de Pequeno John (Jamie Foxx), prisioneiro de guerra que se alia a Robin para conseguir vingança e justiça. Todavia, nenhum deles se encontra de fato: a performance de Mendelsohn tenta ao menos tangenciar o nível diabólico de Jeremy Irons em Os Bórgias’, mas nos entrega uma performance risível perscrutada por estranhos maneirismos gestuais e de fala. Foxx não fica muito atrás, não conseguindo sair de uma extensão de si mesmo e de um esquecível retrato sobre um personagem icônico. 

Robin Hood: A Origemé uma decepcionante, mas não surpreendente falha em atualizar contos seculares. Sem sombra de dúvida, tornou-se uma das piores produções não só de 2018, mas talvez do século, capaz de deixar o remake protagonizado por Gerard Butler parecer uma obra-prima. 

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Podemos nos lembrar com tristeza de João e Maria: Caçadores de Bruxas’, na qual a Paramount trouxe o famoso casal de irmãos para uma jornada mortal e muito mais perigosa do que enfrentaram quando crianças, fadado ao estupendo fracasso mesmo com um elenco de ponta. O mesmo pode ser dito quanto a Pan’, cuja direção de Joe Wright não consegue salvar o longa de render-se a uma total falta de lógica e nexo. Com um histórico desses, foi quase automático sentir um pouco de receio com o anúncio de mais uma adaptação do lendário Robin Hood, príncipe dos ladrões – e considerando, além disso, que a obra de 2010 não foi lá aquelas coisas. Talvez depositar a confiança em um nome como Otto Bathurst, responsável por séries como Black Mirror’ e Peaky Blinders’, fosse tranquilizante, mas infelizmente o resultado não poderia ser pior.

A trama traz um pano de fundo histórico, situado na Inglaterra da Idade Média à época da Guerra Santa, cujas batalhas centravam-se na oposição religiosa entre mouros e cristãos. Robin of Loxley (Taron Egerton), um conhecido Lorde da cidade de Nottingham, é convocado para a guerra e é obrigado a deixar sua esposa Marian (Eve Hewson) e todas as suas posses para trás. Após quatro anos em combate, ele volta-se contra seus companheiros soldados, impondo-se contra o massacre dos prisioneiros e sendo obrigado a retornar para a Inglaterra em um navio caindo aos pedaços. Assim que chega à sua casa, descobre que o Xerife (Ben Mendelsohn) – cujo nome desconhecemos – anunciou seu nome na lista de falecidos da guerra e ofertou todos os seus bens em nome da Igreja e da manutenção do exército anglicano nas terras arábicas. E mais: Marian, crente de que seu marido morrera, casou-se com Will Scarlet (Jamie Dornan em um inexplicável sotaque escocês) e agora vive nas minas, exilada do centro comercial. 

Basicamente tudo vai de mal a pior, e não digo apenas em termos cosmológicos para o protagonista. A cronologia e a preocupação quanto ao espaço-tempo narrativo são jogados para o alto de uma forma tão absurda que chega a doer os olhos e os ouvidos. Primeiro: Robin, num passe de mágica, se cura das feridas da guerra e já está apto a lançar-se em busca de sua antiga esposa. Segundo: caso voltasse mais cedo da guerra, seria tachado como traidor ou covarde, sendo banido para qualquer lugar que não fosse Nottingham. Terceiro: os figurinos dos personagens, principalmente de Marion, simplesmente não fazem sentido algum. A construção emblemática de uma Bretanha medieval é renegada até a última gota no momento em que o público põe olhos na tela e se depara com escolhas artísticas contemporâneas – no máximo kitsch. 

Egerton e Hewson (ou até Hewson e Dornan) alcançam um nível inesperado de falta de química. Em nenhum momento é-nos possível acreditar num romance entre Robin e Marion, ou que ela ainda pensa no ex-marido considerado assassinado. Dornan encarna uma versão inutilizável de Will, com trejeitos estranhos que sofrem uma brusca mudança conforme nos aproximamos das viradas e das primeiras resoluções. E talvez isso nem seja culpa dos atores, mas sim de um pífio roteiro assinado por Ben Chandler e David James Kelly. A dupla parece não ligar muito para repaginar a clássica lenda com brincadeiras inusitadas, deturpações interessantes ou conclusões inteligentes; muito pelo contrário, a constante fórmula da jornada do herói mostra-se mais uma vez irrelevante – e pior: mal usada. À medida que a história se desenrola, fica clara a falta de preocupação dialógica, visto que optar por frases prontas selecionadas insurge como “técnica indispensável” para qualquer que seja a ideia aqui. 

É de se pensar que, para um filme de época, ao menos o escopo artístico conseguiria comover ou procurar uma catarse iminente. Porém, Robin Hood’ passa muito longe disso. Tanto a plebe quanto a nobreza estão inseridas em uma zona de conforto angustiante, por assim dizer: enquanto esta reluz em meio a um luxo escondido e a construções imponentes, aquela é obrigada a viver em meio a casebres em ruínas, convulsionados por condições de vida subumanas. O problema é: a falta de nexo. A paleta de cores, os cenários e até mesmo os efeitos especiais se engessam num patamar incômodo, no qual a magia que nos transporta para as obras cinematográficas é quebrada sem piedade. Há uma sequência de perseguição, por exemplo, em que conseguimos enxergar a falta de minúcia da pós-produção – sim, é possível ver até mesmo a tela verde ao fundo. 

A jornada do herói também preza pela presença de um antagonista e de um fiel escudeiro. Aqui, o vilão é representado pelo Xerife, representando as instâncias religiosas que desejam depor o poder do rei ao financiar os mouros e exterminar os nobres de seu encalço; o companheiro vem na figura de uma construção bizarra de Pequeno John (Jamie Foxx), prisioneiro de guerra que se alia a Robin para conseguir vingança e justiça. Todavia, nenhum deles se encontra de fato: a performance de Mendelsohn tenta ao menos tangenciar o nível diabólico de Jeremy Irons em Os Bórgias’, mas nos entrega uma performance risível perscrutada por estranhos maneirismos gestuais e de fala. Foxx não fica muito atrás, não conseguindo sair de uma extensão de si mesmo e de um esquecível retrato sobre um personagem icônico. 

Robin Hood: A Origemé uma decepcionante, mas não surpreendente falha em atualizar contos seculares. Sem sombra de dúvida, tornou-se uma das piores produções não só de 2018, mas talvez do século, capaz de deixar o remake protagonizado por Gerard Butler parecer uma obra-prima. 

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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