A reclusão social imposta pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em virtude da pandemia do coronavírus, tem acarretado em uma sucessão de adiamentos e cancelamentos de eventos, estreias aguardadas de filmes e de voos ao redor do mundo.
E em meio a esse inconstante e volátil quadro, será que a San Diego Comic-Con ainda pode acontecer no primeiro semestre de 2020? O evento, considerado o maior da cultura POP no mundo, está agendado para começar no dia 23 de julho, data tecnicamente ainda distante do contexto global atual.
Mas especialistas do ramo médico indicam que o impacto do coronavírus na qualidade de vida da população mundial ainda pode se estender pelos próximos três meses. Tal receio foi inclusive admitido pelo Comitê Olímpico, que em uma decisão história, decidiu cancelar a realização das Olimpíadas de 2020, anteriormente agendas para começar no dia 24 de julho, data que marcaria a cerimônia de abertura em Tóquio.
Em se tratando da Comic-Con, ainda que o cancelamento não exerça o mesmo impacto que a suspensão do Jogos Olímpicos, a não realização do evento terá – inevitavelmente – um efeito dominó na indústria do entretenimento. Sendo o palco principal dos grandes lançamentos dos próximos meses em âmbito televisivo e cinematográfico, a convenção reúne anualmente mais de 160 mil pessoas na cidade de San Diego, além de ser um dos principais impulsionadores da economia do estado da Califórnia.
Tendo apresentado mais de mil convidados especiais do ramo do entretenimento desde seu ano inaugural, em 1970, a convenção é o âmago mundial onde são projetados os próximos meses e anos do universo da cultura POP. Sendo a principal escolha dos maiores estúdios de cinema, o evento é a porta principal na introdução dos mais novos e aguardados projetos, sagas, séries de TV, filmes e demais aspectos que pautarão a indústria do consumo sociocultural no futuro a médio e longo prazo.
Seu cancelamento não afeta apenas a divulgação e distribuição de conteúdos artísticos, mas abrange um universo muito mais complexo em caráter econômico, impactando ainda a comercialização de produtos licenciados e colecionáveis, que anualmente possuem sua estreia triunfal cautelosamente planejada para o evento – gerando anualmente não apenas o instinto de urgência nos fãs, como também proporciona o sentimento de exclusividade, uma das engrenagens propulsoras que fazem da Comic-Con um dos eventos mais desejados pelos consumidores de cultura POP.
Segundo a Associação Brasileira de Licenciamento (Abral), o mercado geek movimenta cerca de R$18 bilhões e as expectativas para 2020 eram de que o cenário de filmes de heróis tivesse um faturamento em torno de U$48 bilhões ao redor do mundo. No entanto, o quadro atual desenhado pelo coronavírus redefiniu as projeções de formas inimagináveis, com a própria plataforma Box Office – que mede as bilheterias ao redor do mundo – registrando a histórica marca de zero arrecadação na América do Norte, em virtude do fechamento das redes de cinema, devido à reclusão social determinada por governantes.
Até o momento, or organizadores da San Diego Comic-Con seguem em silêncio quanto à possibilidade de um adiamento ou cancelamento, com os planos de execução do evento seguindo em conformidade – segundo pontuado pela revista EW. De acordo com a publicação, os estúdios participantes estão em espera, aguardando um posicionamento oficial do evento, para que então possam decidir qual será o próximo passo.
Vale ressaltar que o presidente Donald Trump sugeriu um afrouxamento no período de reclusão social até a Páscoa (12 de abril), contrariando a orientação dos próprios experts do ramo médico, que avaliariam que retomar o convívio social poderia acarretar em reflexos desastrosos no controle do coronavírus. No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro se pronunciou na mesma direção do Chefe de Estado norte-americano, induzindo a população brasileira a retomar suas atividades publicamente. Isso tudo em um quadro que de constante aumento no número de casos de infectados.
Já para o governador da Califórnia – estado da San Diego Comic-Con, a medida é perigosa. “Eu creio que representar isso seria enganoso, pelo menos para o caso da Califórnia. O mês de abril está mais próximo do que os experts com quem conversei acreditam ser possível”, pontou o gestor Gavin Newson na última terça-feira (24). Ainda é incerto saber qual a extensão que o coronavírus terá a longo prazo. Mas reunir, em breve, quase 160 mil pessoas em um único centro de convenções para celebrar a cultura POP – em tempos de pandemia, talvez tenha o reflexo reverso. É uma escolha amarga e sem precedentes a ser feita, mas pode ser a resposta certeira para ajudar a abreviar o pandêmico filme terror que o mundo todo tem sido forçado a assistir dia após dia.