domingo , 22 dezembro , 2024

‘Scarface’ – Épico Mafioso de Brian De Palma com Al Pacino e Michelle Pfeiffer completa 40 Anos em 2023!

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Ainda hoje grande parte do público torce o nariz para as refilmagens. Verdade seja dita, como tudo na vida, depende de seu ponto de vista. Afinal, os famosos remakes podem ser de fato algo bom ou ruim, dependendo de seu propósito e confecção. O melhor motivo para refazer uma obra, seja no cinema ou na TV, é reimaginá-la dentro das adequações sociais da época em que está sendo produzida – ao mesmo tempo em que, é claro, a apresenta para toda uma nova geração, que talvez nunca tenha ouvido falar no título.

Veja, por exemplo, o que a TV Globo tem feito com suas nova versões de novelas clássicas, como ‘Pantanal’ e ‘Elas por Elas’, inserindo temas muito pertinentes como o lugar da mulher e questões raciais (ao mudar a etnia de alguns personagens – já que no passado os negros possuíam menos espaço ainda). Em termos de cinema Hollywoodiano, somente nos anos 80, podemos citar três exemplos de remakes que conseguiram superar seus originais, acrescentando muitos elementos novos, mais em harmonia com a nova década: ‘O Enigma de Outro Mundo’ (1982), ‘A Mosca’ (1986) e este ‘Scarface’ (1983).



Embora muitos não saibam, o clássico ‘Scarface’, com Al Pacino, é na verdade uma refilmagem de uma obra dos anos 30.

Sim, ‘Scarface’, o ícone criminal com Al Pacino dizendo “Say Hello to My Little Friend”, é na verdade, uma reimaginação do clássico ‘Scarface – A Vergonha de uma Nação’, de 1932, com Paul Muni, dirigido por Howard Hawks. Com o passar de cinquenta anos, que separam o clássico dos primórdios do cinema e o adorado filme dos anos 80, apenas os cinéfilos raiz e os estudiosos da sétima arte tinham recordação do longa original – afinal é um enorme lapso de muitas gerações.

Outro fator a se levar em conta é que o ‘Scarface’ original, assim como ‘A Mosca da Cabeça Branca’ e ‘O Monstro do Ártico’ foram produções do cinema B, que não ecoaram ao longo da história, digamos como um ‘O Mágico de Oz’, ‘Casablanca’ ou ‘E o Vento Levou’, por exemplo. Sendo assim, ficam mais fácil de serem reimaginados, por não existir uma memória afetiva destas obras na mente do grande público.

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O roteirista Oliver Stone moderniza a trama típica dos mafiosos italianos para um problema da época: a droga vinda da America Central e do Sul.

Falando no contexto da época, ‘Scarface’ (1983) conta com roteiro de Oliver Stone, que três anos depois faria seu nome também como realizador, ao dirigir ‘Platoon’, ainda considerado um dos melhores relatos sobre a Guerra do Vietnã de todos os tempos – e que levou o Oscar de melhor filme e mais três, incluindo melhor diretor para Stone. Baseado no livro de Armitage Trail e no filme clássico de Howard Hawks, Stone traz a história para os anos 80 e deixa os gângsteres italianos de lado, para focar no problema das drogas de países da América do Sul e da América Central que invadiam os EUA na época e deixavam o presidente Ronald Regan louco.

Sendo assim, o mafioso ítalo-americano Tony Camonte se tornava um legítimo imigrante cubano, que chegava a Miami de forma ilegal, chamado agora Tony Montana. Essa mudança étnica ajudaria o preconceito que os chefões teriam dele, o impedindo de ascender na organização. De outro lado, o deixaria mais sedento para demonstrar todo o seu potencial e mostrar sua capacidade, esfregando na cara dos xenofóbicos.

O grande Al Pacino já tinha cinco indicações ao Oscar quando estrelou ‘Scarface’, filme que viria a ser um dos favoritos de sua carreira.

Para o papel protagonista o escalado foi o lendário Al Pacino. Então com 43 anos, Pacino já tinha nada menos que cinco indicações ao Oscar quando aceitou o papel de Tony Montana, com direito a um sotaque latino carregadíssimo e exagerado. É claro que o papel mais memorável do ator era o de Michael Corleone nos dois primeiros ‘O Poderoso Chefão’, de Francis Ford Coppola (o terceiro só viria a ser lançado em 1990) – que retratam a ascensão e queda de uma família criminosa em Nova York nos anos 30. ‘Scarface’ também se concentra na mesma estrutura de subida e descida no poder de seu protagonista.

Al Pacino na época entregava um papel suculento em um filme elogiado atrás do outro. Falando apenas de suas nomeações ao Oscar, além de os dois ‘O Poderoso Chefão’ (1972 e 1974), temos ainda ‘Serpico’ (1973), ‘Um Dia de Cão’ (1975) e ‘Justiça para Todos’ (1979). Tony chega como imigrante, ao lado do amigo Many (Steven Bauer), em Miami, e após um breve período trabalhando em lanchonetes, logo começa a fazer servicinhos ilegais para criminosos. Em um destes “corres”, quase termina picotado por uma motosserra em uma das cenas mais impactantes do longa.

A loirinha Michelle Pfeiffer fisgou o papel de Elvira, e o filme a levaria para o estrelato sendo seu primeiro grande destaque.

Tony Montana deveria ter morrido em sua primeira investida na área, mas o destino tinha planos diferentes para ele. Assim, sobrevivendo, ele caiu nas graças do chefão Frank Lopez (Robert Loggia), e foi ganhando cada vez mais respeito e espaço dentro da organização. Tony Montana não era um qualquer, era ambicioso e tinha grandes aspirações. Ele queria se tornar o dono do mundo, e como diz uma frase em um globo que decora a sua casa e em um dirigível flutuante – “The World is Your” (“O Mundo é Seu”). Mas o protagonista não deseja apenas o negócio do chefe, um dos itens que mais almeja é a namorada desprezível e racista do poderoso, a dondoca loira Elvira, que é uma versão da “Barbie Gangster”. É dito que para o papel, Al Pacino queria Glenn Close, porém, os produtores não a achavam sexy o suficiente.

Inúmeras atrizes foram testadas para atuar lado a lado a um dos grandes nomes de Hollywood na época (talvez o maior), dono de cinco nomeações ao maior prêmio do cinema. E a atriz que abocanhou a vaga era uma então ilustre desconhecida chamada Michelle Pfeiffer. A loirinha não tinha, por assim dizer, o currículo mais expressivo, sem um destaque na época para chamar de seu. Para termos uma ideia, o filme mais relevante do qual havia participado, foi a sequência ‘Grease 2’, para a Paramount, lançada no ano anterior, na qual Pfeiffer viveu a protagonista Stephanie.

O sonho de conquistar os EUA não estaria completo para o imigrante cubano, sem uma loira dondoca para chamar de sua.

Mesmo assim, Michelle Pfeiffer foi testar ao lado de Al Pacino, ou seja, havia passado de muitas etapas na escalação para chegar a este ponto. Em diversas entrevistas, Pfeiffer recorda do momento, e do fato de ter ficado tão nervosa ao ter que atuar ao lado de uma lenda, que terminou em uma cena cortando a mão de Al Pacino, ao jogar o copo de vidro de cima da mesa em uma briga (a relação entre os personagens é muito turbulenta o filme todo). “Pensei que seria dispensada na hora”, releva Pfeiffer. Porém, saindo dos anos 70, e de técnicas mais realistas na atuação, o chamado “método” (de Stanislavsky), Pacino simplesmente adorou o “fogo” na interpretação da jovem, e se apaixonou pelo que trazia.

Na trama, desde o momento em que bate os olhos em Elvira, Tony sabe que precisa tê-la, e faz de sua meta conquista-la. Talvez em partes isso o motive a subir até o mais alto lugar na hierarquia de sua quadrilha. Ou seja, saber o que virá implícito com esta conquista territorial. E dito e feito, como uma espécie de bibelô brinde, a partir do momento em que Frank sai de cena e Tony domina, o criminoso ganha seu prêmio, uma esposa branca e loira, cem por cento americana. É a legitimação do “sonho americano” para o imigrante.

A bela Mary Elizabeth Mastrantonio exibe seu cabelão enrolado como Gina, a irmã de Tony, em momento tenso.

Existe também todo um capítulo dedicado à família de Tony, que manda trazer de seu país de origem para sua mansão e nova vida em Miami, a mãe (Miriam Colon) e a irmã Gina (papel de Mary Elizabeth Mastrantonio). A segunda, de origem italiana, marcou os anos 80 e 90. Mastrantonio, assim como Michelle Pfeiffer, foi revelada em ‘Scarface’, e seguiria para filmes como ‘A Cor do Dinheiro’ (pelo qual foi indicada ao Oscar), ‘O Segredo do Abismo’, ‘Robin Hood – O Príncipe dos Ladrões’ e ‘Mar em Fúria’. No papel de Gina, a atriz brilha e traz uma crise de consciência no protagonista. Ele vê o envolvimento da irmã em seus negócios, e um envolvimento amoroso dela com seu braço direito e melhor amigo Manny. A situação termina em tragédia.

No comando da obra, Brian De Palma é um dos diretores que fez parte do movimento conhecido como “Nova Hollywood”, no qual na década de 1970, jovens diretores cheios de ideias e energia, mudavam de vez a cara da maior indústria de cinema do mundo, adicionando muito frescor e contracultura à mistura. Nomes como Martin Scorsese e seu ‘Taxi Driver’, Steven Spielberg e seus ‘Tubarão’ e ‘Contatos Imediatos do Terceiro Grau’, George Lucas e seu ‘Star Wars’ e Francis Ford Coppola e seu ‘O Poderoso Chefão’ mudariam para sempre as coisas. De Palma foi o quinto elo dessa engrenagem.

Scarface’ se tornou mais uma das obras cultuadas de um dos maiores nomes dos anos 70/80 e 90 em Hollywood: Brian De Palma.

Brian De Palma tinha os sucessos cult ‘Carrie – A Estranha’, ‘Vestida para Matar’ e ‘Um Tiro na Noite’ no currículo (os dois últimos, grandes homenagens ao cinema de Alfred Hitchcock) quando foi contratado para comandar ‘Scarface’. É dito que De Palma gostou tanto do roteiro, que abandonou o projeto no qual estava trabalhando para seguir para este. Qual era, você pergunta? Um certo ‘Flashdance’ – outro ícone da década, lançado no mesmo ano.

Muito se fala em Martin Scorsese e Francis Ford Coppola como expoentes do cinema criminal e de máfia. Porém, é injusto deixar o nome de Brian De Palma de fora desta conversa, e tudo começou com ‘Scarface’. Depois seguiriam ‘Os Intocáveis’ e ‘O Pagamento Final’ – este último uma espécie de “sequência espiritual” de ‘Scarface, lançado 10 anos depois.

Scarface’ não foi um sucesso de crítica ou bilheteria em sua estreia, mas viveu para se tornar um dos filmes mais queridos do cinema, 40 anos depois.

Por incrível que pareça, ‘Scarface’ não fez o sucesso estrondoso que podemos imaginar hoje. Pelo contrário, o filme recebeu críticas duras pelo excesso de violência, e o recorde de palavrões proferidos (que entrou no livro dos recordes). Pacino também foi criticado pelo retrato caricato de cubanos. Com o passar dos anos, o filme foi encontrando sua audiência, fazendo sucesso logo no mercado de vídeo, e crescendo cada vez mais com o passar do tempo. Hoje, se tornou um cult absoluto e uma ópera criminal muito reverenciada. Com o nome cravado na cultura pop mundial, seja em camisetas ou videogames, ‘Scarface’ é sem dúvidas um dos grandes títulos do gênero e marca como número 106 dos melhores de todos os tempos no IMDB. E essa ressonância através dos tempos é o maior prêmio que uma obra pode receber verdadeiramente. É o testa da imortalidade.

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Ainda hoje grande parte do público torce o nariz para as refilmagens. Verdade seja dita, como tudo na vida, depende de seu ponto de vista. Afinal, os famosos remakes podem ser de fato algo bom ou ruim, dependendo de seu propósito e confecção. O melhor motivo para refazer uma obra, seja no cinema ou na TV, é reimaginá-la dentro das adequações sociais da época em que está sendo produzida – ao mesmo tempo em que, é claro, a apresenta para toda uma nova geração, que talvez nunca tenha ouvido falar no título.

Veja, por exemplo, o que a TV Globo tem feito com suas nova versões de novelas clássicas, como ‘Pantanal’ e ‘Elas por Elas’, inserindo temas muito pertinentes como o lugar da mulher e questões raciais (ao mudar a etnia de alguns personagens – já que no passado os negros possuíam menos espaço ainda). Em termos de cinema Hollywoodiano, somente nos anos 80, podemos citar três exemplos de remakes que conseguiram superar seus originais, acrescentando muitos elementos novos, mais em harmonia com a nova década: ‘O Enigma de Outro Mundo’ (1982), ‘A Mosca’ (1986) e este ‘Scarface’ (1983).

Embora muitos não saibam, o clássico ‘Scarface’, com Al Pacino, é na verdade uma refilmagem de uma obra dos anos 30.

Sim, ‘Scarface’, o ícone criminal com Al Pacino dizendo “Say Hello to My Little Friend”, é na verdade, uma reimaginação do clássico ‘Scarface – A Vergonha de uma Nação’, de 1932, com Paul Muni, dirigido por Howard Hawks. Com o passar de cinquenta anos, que separam o clássico dos primórdios do cinema e o adorado filme dos anos 80, apenas os cinéfilos raiz e os estudiosos da sétima arte tinham recordação do longa original – afinal é um enorme lapso de muitas gerações.

Outro fator a se levar em conta é que o ‘Scarface’ original, assim como ‘A Mosca da Cabeça Branca’ e ‘O Monstro do Ártico’ foram produções do cinema B, que não ecoaram ao longo da história, digamos como um ‘O Mágico de Oz’, ‘Casablanca’ ou ‘E o Vento Levou’, por exemplo. Sendo assim, ficam mais fácil de serem reimaginados, por não existir uma memória afetiva destas obras na mente do grande público.

O roteirista Oliver Stone moderniza a trama típica dos mafiosos italianos para um problema da época: a droga vinda da America Central e do Sul.

Falando no contexto da época, ‘Scarface’ (1983) conta com roteiro de Oliver Stone, que três anos depois faria seu nome também como realizador, ao dirigir ‘Platoon’, ainda considerado um dos melhores relatos sobre a Guerra do Vietnã de todos os tempos – e que levou o Oscar de melhor filme e mais três, incluindo melhor diretor para Stone. Baseado no livro de Armitage Trail e no filme clássico de Howard Hawks, Stone traz a história para os anos 80 e deixa os gângsteres italianos de lado, para focar no problema das drogas de países da América do Sul e da América Central que invadiam os EUA na época e deixavam o presidente Ronald Regan louco.

Sendo assim, o mafioso ítalo-americano Tony Camonte se tornava um legítimo imigrante cubano, que chegava a Miami de forma ilegal, chamado agora Tony Montana. Essa mudança étnica ajudaria o preconceito que os chefões teriam dele, o impedindo de ascender na organização. De outro lado, o deixaria mais sedento para demonstrar todo o seu potencial e mostrar sua capacidade, esfregando na cara dos xenofóbicos.

O grande Al Pacino já tinha cinco indicações ao Oscar quando estrelou ‘Scarface’, filme que viria a ser um dos favoritos de sua carreira.

Para o papel protagonista o escalado foi o lendário Al Pacino. Então com 43 anos, Pacino já tinha nada menos que cinco indicações ao Oscar quando aceitou o papel de Tony Montana, com direito a um sotaque latino carregadíssimo e exagerado. É claro que o papel mais memorável do ator era o de Michael Corleone nos dois primeiros ‘O Poderoso Chefão’, de Francis Ford Coppola (o terceiro só viria a ser lançado em 1990) – que retratam a ascensão e queda de uma família criminosa em Nova York nos anos 30. ‘Scarface’ também se concentra na mesma estrutura de subida e descida no poder de seu protagonista.

Al Pacino na época entregava um papel suculento em um filme elogiado atrás do outro. Falando apenas de suas nomeações ao Oscar, além de os dois ‘O Poderoso Chefão’ (1972 e 1974), temos ainda ‘Serpico’ (1973), ‘Um Dia de Cão’ (1975) e ‘Justiça para Todos’ (1979). Tony chega como imigrante, ao lado do amigo Many (Steven Bauer), em Miami, e após um breve período trabalhando em lanchonetes, logo começa a fazer servicinhos ilegais para criminosos. Em um destes “corres”, quase termina picotado por uma motosserra em uma das cenas mais impactantes do longa.

A loirinha Michelle Pfeiffer fisgou o papel de Elvira, e o filme a levaria para o estrelato sendo seu primeiro grande destaque.

Tony Montana deveria ter morrido em sua primeira investida na área, mas o destino tinha planos diferentes para ele. Assim, sobrevivendo, ele caiu nas graças do chefão Frank Lopez (Robert Loggia), e foi ganhando cada vez mais respeito e espaço dentro da organização. Tony Montana não era um qualquer, era ambicioso e tinha grandes aspirações. Ele queria se tornar o dono do mundo, e como diz uma frase em um globo que decora a sua casa e em um dirigível flutuante – “The World is Your” (“O Mundo é Seu”). Mas o protagonista não deseja apenas o negócio do chefe, um dos itens que mais almeja é a namorada desprezível e racista do poderoso, a dondoca loira Elvira, que é uma versão da “Barbie Gangster”. É dito que para o papel, Al Pacino queria Glenn Close, porém, os produtores não a achavam sexy o suficiente.

Inúmeras atrizes foram testadas para atuar lado a lado a um dos grandes nomes de Hollywood na época (talvez o maior), dono de cinco nomeações ao maior prêmio do cinema. E a atriz que abocanhou a vaga era uma então ilustre desconhecida chamada Michelle Pfeiffer. A loirinha não tinha, por assim dizer, o currículo mais expressivo, sem um destaque na época para chamar de seu. Para termos uma ideia, o filme mais relevante do qual havia participado, foi a sequência ‘Grease 2’, para a Paramount, lançada no ano anterior, na qual Pfeiffer viveu a protagonista Stephanie.

O sonho de conquistar os EUA não estaria completo para o imigrante cubano, sem uma loira dondoca para chamar de sua.

Mesmo assim, Michelle Pfeiffer foi testar ao lado de Al Pacino, ou seja, havia passado de muitas etapas na escalação para chegar a este ponto. Em diversas entrevistas, Pfeiffer recorda do momento, e do fato de ter ficado tão nervosa ao ter que atuar ao lado de uma lenda, que terminou em uma cena cortando a mão de Al Pacino, ao jogar o copo de vidro de cima da mesa em uma briga (a relação entre os personagens é muito turbulenta o filme todo). “Pensei que seria dispensada na hora”, releva Pfeiffer. Porém, saindo dos anos 70, e de técnicas mais realistas na atuação, o chamado “método” (de Stanislavsky), Pacino simplesmente adorou o “fogo” na interpretação da jovem, e se apaixonou pelo que trazia.

Na trama, desde o momento em que bate os olhos em Elvira, Tony sabe que precisa tê-la, e faz de sua meta conquista-la. Talvez em partes isso o motive a subir até o mais alto lugar na hierarquia de sua quadrilha. Ou seja, saber o que virá implícito com esta conquista territorial. E dito e feito, como uma espécie de bibelô brinde, a partir do momento em que Frank sai de cena e Tony domina, o criminoso ganha seu prêmio, uma esposa branca e loira, cem por cento americana. É a legitimação do “sonho americano” para o imigrante.

A bela Mary Elizabeth Mastrantonio exibe seu cabelão enrolado como Gina, a irmã de Tony, em momento tenso.

Existe também todo um capítulo dedicado à família de Tony, que manda trazer de seu país de origem para sua mansão e nova vida em Miami, a mãe (Miriam Colon) e a irmã Gina (papel de Mary Elizabeth Mastrantonio). A segunda, de origem italiana, marcou os anos 80 e 90. Mastrantonio, assim como Michelle Pfeiffer, foi revelada em ‘Scarface’, e seguiria para filmes como ‘A Cor do Dinheiro’ (pelo qual foi indicada ao Oscar), ‘O Segredo do Abismo’, ‘Robin Hood – O Príncipe dos Ladrões’ e ‘Mar em Fúria’. No papel de Gina, a atriz brilha e traz uma crise de consciência no protagonista. Ele vê o envolvimento da irmã em seus negócios, e um envolvimento amoroso dela com seu braço direito e melhor amigo Manny. A situação termina em tragédia.

No comando da obra, Brian De Palma é um dos diretores que fez parte do movimento conhecido como “Nova Hollywood”, no qual na década de 1970, jovens diretores cheios de ideias e energia, mudavam de vez a cara da maior indústria de cinema do mundo, adicionando muito frescor e contracultura à mistura. Nomes como Martin Scorsese e seu ‘Taxi Driver’, Steven Spielberg e seus ‘Tubarão’ e ‘Contatos Imediatos do Terceiro Grau’, George Lucas e seu ‘Star Wars’ e Francis Ford Coppola e seu ‘O Poderoso Chefão’ mudariam para sempre as coisas. De Palma foi o quinto elo dessa engrenagem.

Scarface’ se tornou mais uma das obras cultuadas de um dos maiores nomes dos anos 70/80 e 90 em Hollywood: Brian De Palma.

Brian De Palma tinha os sucessos cult ‘Carrie – A Estranha’, ‘Vestida para Matar’ e ‘Um Tiro na Noite’ no currículo (os dois últimos, grandes homenagens ao cinema de Alfred Hitchcock) quando foi contratado para comandar ‘Scarface’. É dito que De Palma gostou tanto do roteiro, que abandonou o projeto no qual estava trabalhando para seguir para este. Qual era, você pergunta? Um certo ‘Flashdance’ – outro ícone da década, lançado no mesmo ano.

Muito se fala em Martin Scorsese e Francis Ford Coppola como expoentes do cinema criminal e de máfia. Porém, é injusto deixar o nome de Brian De Palma de fora desta conversa, e tudo começou com ‘Scarface’. Depois seguiriam ‘Os Intocáveis’ e ‘O Pagamento Final’ – este último uma espécie de “sequência espiritual” de ‘Scarface, lançado 10 anos depois.

Scarface’ não foi um sucesso de crítica ou bilheteria em sua estreia, mas viveu para se tornar um dos filmes mais queridos do cinema, 40 anos depois.

Por incrível que pareça, ‘Scarface’ não fez o sucesso estrondoso que podemos imaginar hoje. Pelo contrário, o filme recebeu críticas duras pelo excesso de violência, e o recorde de palavrões proferidos (que entrou no livro dos recordes). Pacino também foi criticado pelo retrato caricato de cubanos. Com o passar dos anos, o filme foi encontrando sua audiência, fazendo sucesso logo no mercado de vídeo, e crescendo cada vez mais com o passar do tempo. Hoje, se tornou um cult absoluto e uma ópera criminal muito reverenciada. Com o nome cravado na cultura pop mundial, seja em camisetas ou videogames, ‘Scarface’ é sem dúvidas um dos grandes títulos do gênero e marca como número 106 dos melhores de todos os tempos no IMDB. E essa ressonância através dos tempos é o maior prêmio que uma obra pode receber verdadeiramente. É o testa da imortalidade.

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