domingo , 22 dezembro , 2024

‘Segredos de Um Escândalo’ | Conheça a complexa história real que inspirou o filme

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Indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original, Segredos de Um Escândalo chegou aos cinemas brasileiros na última semana com uma trama tragicômica, que usa dos exageros para contar uma história bizarra sobre pedofilia e a sede humana por espetacularizar a vida alheia. A trama acompanha uma atriz (Natalie Portman) que vai interpretar uma ex-presidiária (Juliane Moore) nos cinemas, então passa a conviver com ela para entender melhor sobre tudo que aconteceu em sua vida. O problema é que a mulher em questão é uma professora que foi presa há mais de duas décadas por começar a se relacionar com um aluno de 13 anos. Mais do que isso, ela ficou grávida dele e manteve o relacionamento mesmo por trás das grades. Agora, o pobre menino (Charles Melton), já adulto, vive diariamente como marido dela, em meio às pressões da moça e ao julgamento social.

O filme é sensacional ao inserir o público no meio dessa trama complexa, principalmente enquanto desenvolve o conflito interno entre a atriz e sua ‘personagem’, enquanto propõe uma reflexão sobre o papel da mídia e da indústria cinematográfica, que ama pegar as tragédias pessoais das pessoas e tratá-las apenas como ‘histórias’, ignorando que existe um ser humano, com dores e sentimentos, por trás de todo o espetáculo montado ao redor de seus traumas. E o mais incrível – e doloroso – desse filme é como ele aborda a vida do rapaz abusado, cuja infância foi roubada por uma predadora sexual, fazendo dele uma vítima que é impedida de avaliar a própria vida, já que compartilha os dias com sua estupradora. Em meio a diversas analogias sobre a inocência roubada e a um mistério para entender o que a personagem de Moore fez, o longa flerta com o humor do exagero para prender o público no início, mas vai lentamente transformando a comédia em angústia.



No fim do longa, o público termina com a sensação de que o diretor Todd Haynes enfiou as mãos em seus respectivos estômagos e apertou com toda a força possível, de tanta angústia construída. É um filme sufocante que se desenvolve com muita competência. Para complicar ainda mais a situação, o roteiro é brevemente inspirado em um caso que aconteceu de verdade, deixando esse desconforto ainda maior.

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Na década de 1990, em Seattle, nos Estados Unidos, a professora Mary Kay Letourneau começou a dar aula na segunda série do ensino fundamental para o pequeno Vili Fualaau. Em 1996, quando o menino estava na sexta série, Mary Kay voltou a dar aula para Vili e desenvolveu fascínio pela criança. Na época, ela tinha 34 anos, enquanto o menino tinha apenas 12. Com isso, ela começou a mandar indiretas sexuais para o garoto, até consumar o ato no verão daquele ano. Eles foram flagrados pela polícia tendo relações em um carro. A mulher mentiu sobre a idade do menino, dizendo que ele tinha 18 anos, e o caso só foi terminar em março de 1997, quando Letourneau foi condenada por estupro de vulnerável em segundo grau.

Só que a situação passa longe de terminar por aí. Ela foi condenada a seis anos e meio de prisão, mas teve sua pena reduzida para apenas seis meses de prisão – sendo que ela só cumpriria três meses, já que estava grávida do aluno e deu a luz ao primeiro filho deles em maio de 1997. Com apenas 14 anos de idade, Vili Fualaau já era pai. Porém, segundo o acordo feito por Mary Kay com a justiça, ela não poderia mais ter contato com o pai de seu bebê recém-nascido.

Obviamente, a criminosa não respeitou o acordo e seguiu se relacionando com o menino. Nesse tempo, o caso chegou à imprensa e passou a definir o modus operandi dos principais tabloides norte-americanos na década seguinte. Houve uma superexposição das famílias envolvidas, aconteceram diversas faltas de respeito à vítima e o caso foi bombardeado para a sociedade. Vale lembrar que Letourneau já era casada e mãe de quatro filhos quando começou a cometer o crime. Para evitar maiores exposições, o marido traído pediu divórcio e se mudou com os filhos para o Alasca.

Em 1998, Letourneau voltaria a ser flagrada mantendo relações com Fualaau em um carro. Diante do desrespeito ao acordo feito com a Justiça, o juiz do caso restabeleceu sua prisão. Na cadeia, ela teve outro bebê com Vili. Ela foi liberada em 2004, mas manteve o relacionamento com o menino, com quem trocou cartas e juras de amor. Assim que Vili completou 21 anos, em 2005, eles se casaram e passaram a viver juntos desde então.

O casal se separou em 2019. Mary Kay Letourneau faleceu em 2020, vítima de um câncer colorretal. Além das inúmeras reportagens de tabloides na época, o caso ganhou atenção do público norte-americano por ter sido adaptado pela USA Network em um telefilme extremamente popular, que ajudou a consolidar o True Crime, nos anos 2000: Mais Que uma Lição (All-American Girl: The Mary Kay Letourneau Story).

Questionado sobre o que achou do filme por diversos veículos da imprensa norte-americana, Vili Fualaau disse não ter concordado com o que foi retratado e que não foi consultado pela equipe do longa em momento algum. Em contrapartida, a equipe criativa disse que a história de vida do rapaz serviu apenas como um tipo de ‘pontapé inicial’ para a trama do longa, apesar das diversas ‘coincidências’.

Segredos de Um Escândalo está em cartaz nos cinemas.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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Indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original, Segredos de Um Escândalo chegou aos cinemas brasileiros na última semana com uma trama tragicômica, que usa dos exageros para contar uma história bizarra sobre pedofilia e a sede humana por espetacularizar a vida alheia. A trama acompanha uma atriz (Natalie Portman) que vai interpretar uma ex-presidiária (Juliane Moore) nos cinemas, então passa a conviver com ela para entender melhor sobre tudo que aconteceu em sua vida. O problema é que a mulher em questão é uma professora que foi presa há mais de duas décadas por começar a se relacionar com um aluno de 13 anos. Mais do que isso, ela ficou grávida dele e manteve o relacionamento mesmo por trás das grades. Agora, o pobre menino (Charles Melton), já adulto, vive diariamente como marido dela, em meio às pressões da moça e ao julgamento social.

O filme é sensacional ao inserir o público no meio dessa trama complexa, principalmente enquanto desenvolve o conflito interno entre a atriz e sua ‘personagem’, enquanto propõe uma reflexão sobre o papel da mídia e da indústria cinematográfica, que ama pegar as tragédias pessoais das pessoas e tratá-las apenas como ‘histórias’, ignorando que existe um ser humano, com dores e sentimentos, por trás de todo o espetáculo montado ao redor de seus traumas. E o mais incrível – e doloroso – desse filme é como ele aborda a vida do rapaz abusado, cuja infância foi roubada por uma predadora sexual, fazendo dele uma vítima que é impedida de avaliar a própria vida, já que compartilha os dias com sua estupradora. Em meio a diversas analogias sobre a inocência roubada e a um mistério para entender o que a personagem de Moore fez, o longa flerta com o humor do exagero para prender o público no início, mas vai lentamente transformando a comédia em angústia.

No fim do longa, o público termina com a sensação de que o diretor Todd Haynes enfiou as mãos em seus respectivos estômagos e apertou com toda a força possível, de tanta angústia construída. É um filme sufocante que se desenvolve com muita competência. Para complicar ainda mais a situação, o roteiro é brevemente inspirado em um caso que aconteceu de verdade, deixando esse desconforto ainda maior.

Na década de 1990, em Seattle, nos Estados Unidos, a professora Mary Kay Letourneau começou a dar aula na segunda série do ensino fundamental para o pequeno Vili Fualaau. Em 1996, quando o menino estava na sexta série, Mary Kay voltou a dar aula para Vili e desenvolveu fascínio pela criança. Na época, ela tinha 34 anos, enquanto o menino tinha apenas 12. Com isso, ela começou a mandar indiretas sexuais para o garoto, até consumar o ato no verão daquele ano. Eles foram flagrados pela polícia tendo relações em um carro. A mulher mentiu sobre a idade do menino, dizendo que ele tinha 18 anos, e o caso só foi terminar em março de 1997, quando Letourneau foi condenada por estupro de vulnerável em segundo grau.

Só que a situação passa longe de terminar por aí. Ela foi condenada a seis anos e meio de prisão, mas teve sua pena reduzida para apenas seis meses de prisão – sendo que ela só cumpriria três meses, já que estava grávida do aluno e deu a luz ao primeiro filho deles em maio de 1997. Com apenas 14 anos de idade, Vili Fualaau já era pai. Porém, segundo o acordo feito por Mary Kay com a justiça, ela não poderia mais ter contato com o pai de seu bebê recém-nascido.

Obviamente, a criminosa não respeitou o acordo e seguiu se relacionando com o menino. Nesse tempo, o caso chegou à imprensa e passou a definir o modus operandi dos principais tabloides norte-americanos na década seguinte. Houve uma superexposição das famílias envolvidas, aconteceram diversas faltas de respeito à vítima e o caso foi bombardeado para a sociedade. Vale lembrar que Letourneau já era casada e mãe de quatro filhos quando começou a cometer o crime. Para evitar maiores exposições, o marido traído pediu divórcio e se mudou com os filhos para o Alasca.

Em 1998, Letourneau voltaria a ser flagrada mantendo relações com Fualaau em um carro. Diante do desrespeito ao acordo feito com a Justiça, o juiz do caso restabeleceu sua prisão. Na cadeia, ela teve outro bebê com Vili. Ela foi liberada em 2004, mas manteve o relacionamento com o menino, com quem trocou cartas e juras de amor. Assim que Vili completou 21 anos, em 2005, eles se casaram e passaram a viver juntos desde então.

O casal se separou em 2019. Mary Kay Letourneau faleceu em 2020, vítima de um câncer colorretal. Além das inúmeras reportagens de tabloides na época, o caso ganhou atenção do público norte-americano por ter sido adaptado pela USA Network em um telefilme extremamente popular, que ajudou a consolidar o True Crime, nos anos 2000: Mais Que uma Lição (All-American Girl: The Mary Kay Letourneau Story).

Questionado sobre o que achou do filme por diversos veículos da imprensa norte-americana, Vili Fualaau disse não ter concordado com o que foi retratado e que não foi consultado pela equipe do longa em momento algum. Em contrapartida, a equipe criativa disse que a história de vida do rapaz serviu apenas como um tipo de ‘pontapé inicial’ para a trama do longa, apesar das diversas ‘coincidências’.

Segredos de Um Escândalo está em cartaz nos cinemas.

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