Para quem ainda não está familiarizado com os filmes de antologia, tratam-se de produções formadas por pequenos trechos, considerados curtas-metragens, montados ao longo do todo. Geralmente tais obras possuem um tema específico, que serve de ligação entre os contos.
Os de terror têm se mostrado muito populares na atualidade, vide séries como VHS (2012, 2013 e 2014) e ABCs da Morte (2012 e 2014).
Dois recentes exemplares do subgênero utilizam como mote datas específicas do ano, que têm tudo a ver com horror. Tales of Halloween (2015) e Holidays (2016) estão disponíveis no acervo Netflix e vamos comentá-los para você, aficionado por sustos e medo.
Tales of Halloween (2015)
Como diz seu título, o dia das bruxas norte-americano, também conhecido como Halloween, é o foco desta antologia. Considerado o melhor exemplar do gênero desde Contos do Dia das Bruxas (Trick´r Treat, 2007), pelo site especializado Fangoria, Tales of Halloween traz dez contos assombrados para os fãs celebrarem a data em grande estilo. Assim como os melhores exemplares do gênero, o filme utiliza um forte teor satírico em alguns de seus trechos, podendo ser considerados comédia de humor negro.
Como de costume também, cada trecho é dirigido por um cineasta diferente, dando sua visão única ao tema. Em Tales of Halloween destacam-se Darren Lynn Bousman (Jogos Mortais 2, 3 e 4) e Neil Marshall (Abismo do Medo). Além disso, existem muitas homenagens implícitas, vide participações especiais de verdadeiras lendas do gênero nos contos, como, por exemplo, Adrienne Barbeau, ex-mulher do diretor John Carpenter e estrela de seus filmes (Fuga de Nova York ,1981, é um deles). Aqui, Barbeau interpreta a voz no rádio de uma DJ ligando as histórias, remetendo instantaneamente a sua personagem de Fog- A Bruma Assassina (1980), clássico de fantasmas, dirigido por Carpenter.
‘Sweet Tooth’ ou Dente Doce – a melhor tradução seria o termo ‘formiga’ – apresenta uma baby-sitter, figura emblemática de filmes de terror, e seu namorado, ‘fazendo a limpa’ nos doces da pobre criança sob seus cuidados. Neste primeiro conto, a dupla recebe o que merece como pagamento. E não se trata de uma simples dor de barriga. Na segunda história, ‘The Night Billy Raised Hell’, um garotinho endiabrado atormenta a vizinhança. Como retribuição, um dos vizinhos, que se revela o próprio diabo em pessoa, o leva para passear forçando-o a cometer os mais terríveis atos. Este é um dos mais divertidos segmentos do longa, dirigido por Bousman.
‘Trick’, ou Truque / Travessura, o terceiro conto, fala sobre um grupo de casais, na casa dos 30 anos de idade, celebrando o Halloween juntos. É quando em sua porta aparecem crianças em busca de doces ou travessuras, e algo mais! O desfecho guarda uma interessante reviravolta. O quarto episódio, ‘The Week and the Wicked’,ou ‘O fraco e o perverso’, apresenta um jovem que sofreu um terrível bullying, resultando na morte de seus pais. Anos depois, já mais velho, o rapaz conjura um demônio a fim de se vingar dos mesmos valentões responsáveis.
Em ‘Grim Grinning Ghost’, ou ‘o fantasma macabro e risonho’, uma jovem é assombrada por uma entidade maligna. O que chama atenção neste trecho não é tanto o roteiro simplista e sem muita coerência, mas os atores. Ele é protagonizado pela talentosa Alex Essoe, do ótimo Starry Eyes (2014), também presente no acervo Netflix, e traz as participações de Lin Shaye (da trilogia Sobrenatural), Barbara Crampton (protagonista do cult Re-Animator, 1985), Lisa Marie (ex-mulher de Tim Burton), Mick Garris (diretor de Criaturas 2 e A Mosca 2) e Stuart Gordon (diretor de Re-Animator).
‘Ding Dong’ mostra que nem sempre conhecemos a pessoa com quem nos casamos. Neste conto, um pacato marido descobre da pior maneira possível que sua esposa na realidade é uma bruxa devoradora de crianças. O que você faria? ‘This Means War’, ou ‘isto significa guerra’, talvez seja um dos pontos mais fracos do filme e o que utiliza menos elementos clássicos de terror. Além de ser o único sem uma pegada sobrenatural. Na trama, que lembra bastante o bobinho Um Natal Brilhante (Deck the Halls, 2006), comédia natalina com Danny DeVito e Matthew Broderick, dois vizinhos lutam até as últimas consequências pela melhor decoração de Halloween do quarteirão.
‘Friday the 31st’, ou Sexta-feira 31. Grande tiração de sarro com o clássico Sexta-feira 13, mudando a data para o Halloween, 31 de outubro. Este é sem dúvidas um dos contos mais criativos e divertidos do pacote. Imagine um filme de terror aonde o maníaco slasher se torna a vítima. Além disso, o segmento mistura filmes de serial killer com invasão alienígena. E isso é tudo o que irei dizer para não estragar a experiência.
Outro ponto alto do filme, ‘The Ramson of Rusty Rex’, ou ‘O Resgate de Rusty Rex’, o conto traz a participação do lendário cineasta John Landis, de Um Lobisomem Americano em Londres (1981). Landis interpreta um sujeito rico que tem seu pequeno filho sequestrado por dois criminosos em busca do resgate. No entanto, o ato terá a consequência mais inusitada e impactante do longa. É ver para crer. Finalizando Tales of Halloween, finalmente temos o curta dirigido por Neil Marshall. Trata-se de ‘Bad Seed’, ou ‘Semente do Mal’, e o resultado é provavelmente o trecho mais non sense do filme. Na trama, um detetive tenta impedir a onda de matança de uma abóbora geneticamente modificada. É claro que se trata de uma brincadeira tanto com os filmes slasher, como Halloween (1978), quanto os filmes trash de animais assassinos. No último conto, destaca-se a presença do cineasta Joe Dante (Gremlins, 1984).
Holidays (2016)
Mais recente e sem a mesma harmonia entre as histórias, Holidays aborda não apenas o dia das bruxas, mas diversos feriados, se utilizando do enfoque assustador para representa-los. Como de costume, diversos cineastas se revezam no comando dos segmentos, entre eles o nome de destaque é o de Kevin Smith (O Balconista e Procura-se Amy). Holidays é composto por um total de oito contos em seu repertório. Vamos a eles.
Valentine´s Day
O dia dos namorados ganha sua subversão a la Carrie – A Estranha (1976), quando uma menininha é constantemente hostilizada pelas colegas de classe, devido ao comportamento incomum. Em sua defesa está sempre o professor de educação física, fato que faz com que a pequena deslocada se apaixone pelo sujeito muito mais velho. O conto mostra que o amor nem sempre é lindo. Ele pode ser perturbador também.
St. Patrick´s Day
O dia de São Patrício começou a ser celebrado no Brasil também, e sempre foi sinônimo de se beber muito álcool. Aqui, neste conto, a lenda por trás do feriado vem à tona de forma intensa. São Patrício é conhecido por ter expulsado as cobras da Irlanda. Assim, uma professora colegial se afeiçoa a sua introvertida aluna, e esta como retribuição lhe dá a chance de realizar seu maior sonho, ser mãe. O que segue… Bem, é melhor você assistir para saber.
Easter
O feriado da Páscoa entre no topo da lista como um dos contos mais perturbadores aqui. Uma menininha é visitada pelo Coelho da Páscoa. No entanto, ele não se parece nada com a forma que ela sempre conheceu. Existe ainda um subtexto pseudo religioso, ao misturar a criatura com a figura de Jesus Cristo.
Mother´s Day
O conto do dia das mães, que muito bem poderia ter sido o segundo conto deste filme, fala sobre uma mulher que engravida constantemente, porém, nunca consegue manter o bebê, abortando de forma natural. Então, ela descobre uma clínica, como um spa, no qual é anunciada uma possível cura para seu caso. Chegando lá, as coisas não saem exatamente como ela espera.
Father´s Day
Agora é a vez do dia dos pais. O conto rende um dos segmentos que mais despertam interesse, porém, cujo resultado se torna um dos menos satisfatórios. Uma jovem rebelde, que nunca soube quem de fato era seu pai, recebe uma encomenda com a proposta de revela-la este segredo. A jovem então começa a ouvir umas fitas e a seguir as instruções da voz de seu possível pai, até o inevitável encontro.
Halloween
Aqui também temos um conto do dia das bruxas. Não por acaso, o feriado suculento é o trecho dirigido pelo cineasta mais famoso do longa, Kevin Smith. Provando também que isso não quer dizer nada, Smith entrega um dos segmentos mais aborrecidos e sem graça. Para começar, nada tem a ver com a data selecionada, podendo ter se passado em qualquer outra data. Na trama, duas jovens exibicionistas gravam sua nudez em sites de pornografia. Seu cafetão não as deixa descansar nem mesmo no dia das bruxas. É então que elas decidem se vingar. Este conto traz a filha de Smith, Harley Quinn Smith (sim, ele fez isso com ela) e Ashley Greene (da franquia Crepúsuclo) como as moçoilas vingativas.
Christmas
O Natal traz uma das melhores histórias do longa, quando um sujeito (papel de Seth Green, o filho do Dr. Evil de Austin Powers) se vê desesperado atrás de um presente para seu filho. A trama, que até parece reciclada de Um Herói de Brinquedo (1996), com Schwarzenegger, guarda algumas guinadas macabras. Acontece que o tal presente é um simulador de realidade virtual, que tecnicamente mostra os desejos ou ações passadas de seus usuários. Como só havia um restante, o protagonista perde a chance de comprar o item. No entanto, o destino bate à sua porta, quando o proprietário do artefato passa mal na sua frente e morre de ataque cardíaco no estacionamento, bem a tempo para o protagonista sutilmente levar o produto para sua casa, sem nenhum mal feito. Ou será?
New Year´s Eve
A noite de ano novo é outra das histórias proeminentes aqui nesta antologia. Uma noite de muita alegria, mas que também pode ser o fundo do poço da tristeza para os solitários. Conhecemos um sujeito pra lá de estranho, que costuma sempre marcar encontros com resultados, digamos, inusitados, em especial para a outra pessoa. Desta vez, ele resolve marcar um no dia do réveillon, com uma jovem tão solitária quanto ele, papel da gracinha Lorenza Izzo (de Canibais e Bata Antes de Entrar), esposa do diretor Eli Roth. Os dois se mostrarão almas gêmeas definitivas, se o encontro não fosse tão ‘quente’.