O Nó do Diabo
Não é só porque um filme foi baseado em fatos reais que ele automaticamente se torna bom. Não é só porque foi baseado em um caso intrigante, interessante e que despertou nossa curiosidade, que sua adaptação para o cinema irá corresponder com os mesmos adjetivos. Filmes são arte, uma narrativa, o saber contar uma história. Em casos assim é sempre fácil argumentar, dizendo que seria preferível ler a matéria no jornal, o livro, ou assistir a um documentário sobre. Não que Sem Evidências seja completamente descartável.
Baseado no livro de Mara Leveritt, que relata o chocante caso conhecido como West Menphis Three, o filme igualmente aborda os assassinatos de três meninos de oito anos ocorridos em West Menhpis, Arkansas, em 1993. Os principais suspeitos são outros três jovens, acusados de participarem de cultos satânicos. Porém, as coisas não se encaixam como deveriam, e a suspeita de que eles podem estar sendo vítimas de preconceito devido a gostos pessoais e comportamento, se faz intensa.
Apesar do assunto fonte interessante, o roteiro escrito pela dupla Scott Derrickson e Paul Harris Boardman (A Entidade e Livrai-nos do Mal) é sem brilho e não cria grandes cenas. É interessante percebermos que as raízes dos roteiristas estão nos filmes de terror, porque em determinado momento de Sem Evidências eles conseguem espremer uma cena típica do gênero, na qual um personagem tem um pesadelo tenebroso. Este é seu filme mais sério.
A vencedora do Oscar Reese Witherspoon vive a protagonista Pam Hobbs, mãe de um dos meninos mortos. Grávida durante as filmagens, Witherspoon tenta esconder o fato com os figurinos, mas nota-se seu sobrepeso. A atriz não tem muito o que fazer dentro da personagem, apenas sofrer lembrando do filho e ocasionalmente discutir com o marido, vivido pelo ator Alessandro Nivola, com quem havia atuado em Planos Quase Perfeitos (1999). Suas cenas são básicas, a não ser por uma.
Na cena em questão, Witherspoon, que vive uma mulher humilde de classe baixa, confronta a polícia na delegacia sobre não estarem fazendo todo o possível para encontrar sua cria. É uma cena chamativa, na qual precisa se descompor, e que poderia sair dos trilhos no terreno de sua performance. No entanto, ela consegue o domínio do momento, provando que é uma boa atriz. O elenco é renomado, formado por gente como Amy Ryan (indicada ao Oscar por Medo da Verdade), Bruce Greenwood, Dane DeHaan e Mireille Enos.
Outro que merece destaque é o igualmente vencedor do Oscar, Colin Firth. O ator, que levou o maior prêmio do cinema por O Discurso do Rei, interpreta Ron Lax, o investigador particular do caso. Ele não está cem por cento convencido da culpa dos jovens e começa a procurar novas possibilidades. O ator britânico esconde bem seu sotaque na pele de um americano. Os personagens aqui são deixados de lado em nome de se colocar nos holofotes o caso.
A direção é de Atom Egoyan, cineasta indicado ao Oscar por seu melhor trabalho, O Doce Amanhã (nas categorias de diretor e roteiro). Apesar de ter começado a carreira com estilo promissor e artístico, Egoyan tem entregue trabalhos genéricos e pouco inspirados ultimamente. Mais uma vez, Sem Evidências não é um produto ruim, apenas correto. Como já dizia o grande Roger Ebert, “melhor do que um filme baseado em fatos reais, é um filme ficcional que seja bom.”