quarta-feira , 18 dezembro , 2024

Sex Tape – Perdido na Nuvem

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Ao assistir Sex Tape – Perdido na Nuvem, filme que se gaba de trazer Cameron Diaz em cenas de nudez, pela primeira vez, um misto de sensações foram surgindo, algo entre o asco e a decepção: por que algumas comédias hollywoodianas (brasileiras, europeias e de outras nacionalidades também) insistem em fazer do espectador um mero tolo? Com um argumento desperdiçado e uma trama extensa demais para o que se propõe, o filme é apenas mais uma pouco divertida comédia estadunidense.

A relação entre cinema e novas mídias não é nova, mas na genealogia dos filmes sobre os perigos da internet (um dos focos do filme, pois se trata de um vídeo que vaza através de um sabotador mirim) A Rede, com Sandra Bullock, é um dos pioneiros, numa época em que eu nem imaginava sequer ter meu primeiro computador. De lá pra cá, várias narrativas trataram do assunto, algumas com bastante falta de compromisso reflexivo, como o brasileiro Cilada.com e o terror Smiley, outras com uma agenda dramática mais bem tratada, como Confiar, com Clive Owen. A questão é que os produtores acham que por ser uma comédia, o filme não precisa se preocupar com certas questões fundamentais: assim como nas comédias da época de Shakespeare nas encenações na Grécia e em trechos da chamada Idade Média, o gênero criticava, através do “ridículo” e do riso, questões da sua época.  Em Sex Tape- Perdido na Nuvem, há espaço apenas para piadas sobre órgãos sexuais e cenas que já vimos antes, com os mesmos artistas, mas bem mais elaboradas.



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Na sinopse oficial, somos informados que um casal (Cameron Diaz, acima da média e dando um pouco de dignidade ao seu sofrível personagem, e Jason Segel, asqueroso e pouco inspirado, no chamado “piloto automático”) vive um longo relacionamento que começa a esfriar. O filme começa com a personagem de Diaz postando em seu blog, em meio a uma montagem alternada que apresenta divertidas cenas de sexo do casal no começo da relação. A sua tese, no geral, é afirmar que depois dos filhos e do casamento, as relações sexuais entre os casais pode esfriar ou se tornar nula. No interesse de esquentar as coisas, eles decidem se gravar fazendo sexo. Acham um livro em casa, com posições sexuais e começam a pratica-las diante da câmera do Ipad. O problema é que o vídeo fica arquivado, cai nas mãos erradas e a dupla passa uma “noite de crime” tentando recuperar o material.

Confusões para todos os lados e você, assistindo, provavelmente esperando o momento que a trama vai apresentar alguma reflexão sobre um assunto tão contemporâneo: a exposição das pessoas no mundo virtual, seja através de vídeos, fotos ou postagens, e, muito pior, a exposição por parte de terceiros, como no caso famoso da atriz brasileira Carolina Dieckmann, que teve as suas fotos vazadas por parte de um profissional de informática ou o flagra da apresentadora Daniela Cicarelli numa praia espanhola (lembra?). Pamela Anderson, citada o filme, por sinal, e sua famosa cena de sexo oral e Paris Hilton, também já foram alvo desta situação, mas nestes dois últimos casos, ambas as celebridades provocaram o tumulto para chamar a atenção, haja vista que a falta de talento é algo gritante. Em Sex Tape – Perdido na Nuvem, portanto, não espere isso: caso seja um fã de Cameron Diaz e um admirador do seu corpo, delicie-se com as suas primeiras cenas de nudez no cinema. Divirta-se, talvez, com algumas piadas (realmente divertidas) relacionando filmes e séries, mas que de tão rápidas e pouco aproveitadas, passam de forma rasteira pelo roteiro. A música não traz nada de sensacional, a montagem e a direção de arte são parte do mais do mesmo hollywoodiano.

sextape_3

O leitor pode achar que a minha opinião está querendo demais de um filme deste tipo, mas o grande problema é além de não tratar o assunto com o grau merecido de reflexão, o filme diverte muito pouco. Os personagens coadjuvantes não ajudam os protagonistas em nada, as falas do núcleo infantil são forçadas e tudo parece muito apressado. A direção de Jake Kasdan é agonizante, tão ruim quanto a primeira parceria com Cameron Diaz, no fraco Professora sem Classe, de 2011. Responsável pelo recente Vizinhos, outra trama fraca e sem um bom roteiro, talvez até pior que Sex Tape, resta a Kasdan repensar melhor seus projetos. E para a Sony Pictures, fica o pedido de melhor avaliação dos projetos aprovados para produção.

Ao assistir ao filme, lembrei-me da exibição de Anaconda 2, lançado nos cinemas em 2004. Enquanto assistia a abertura do filme, li que o roteiro tinha sido elaborado por, pasmem, quatro pessoas, e mesmo assim, o filme conseguiu ser pior que o primeiro. Em Sex Tape, a situação é a mesma. Quatro roteiristas para elaborar falas pífias e pouco inspiradas, nada além de palavrões que ilustram o léxico vulgar para pênis e vagina.  A trama, que podia aproveitar melhor a temática sexting, termo derivado do inglês que indica a junção de palavras sex (sexo) e o sufixo ting (da palavra texting, que significa troca de mensagens eletrônicas de texto), não consegue ir  além, culminando num epílogo que se prolonga demais e cansa.

sextape_1

Certa vez, uma professora de roteiro cinematográfico me disse que o crítico é um reconstrutor do discurso fílmico. Concordo em partes: geralmente queremos ver o filme que nos interessa e guiar a trama ao nosso modo. Espero que o leitor não tome a minha opinião como arrogante, mas mesmo antes de assistir, estava cheio de ideias para o filme, pensando como um argumento tão interessante poderia se tornar um filme divertido, cheio de ironia, figura de linguagem que os roteiristas e produtores de Sex Tape parecem não ter conhecido durante o período escolar. Infelizmente, não estamos em A Rosa Púrpura do Cairo, de Woody Allen, para adentrar na narrativa e fazer as coisas soarem diferentes. Espero, com muita ansiedade e gastrite atacada, que o filme não ganhe uma continuação. Há roteiros maravilhosos por aí, esperando um sinal verde para produção, não acredito que seja interessante investir algo em torno de U$40 milhões novamente em uma continuação para esta comédia boba e sem densidade.

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Sex Tape – Perdido na Nuvem

Ao assistir Sex Tape – Perdido na Nuvem, filme que se gaba de trazer Cameron Diaz em cenas de nudez, pela primeira vez, um misto de sensações foram surgindo, algo entre o asco e a decepção: por que algumas comédias hollywoodianas (brasileiras, europeias e de outras nacionalidades também) insistem em fazer do espectador um mero tolo? Com um argumento desperdiçado e uma trama extensa demais para o que se propõe, o filme é apenas mais uma pouco divertida comédia estadunidense.

A relação entre cinema e novas mídias não é nova, mas na genealogia dos filmes sobre os perigos da internet (um dos focos do filme, pois se trata de um vídeo que vaza através de um sabotador mirim) A Rede, com Sandra Bullock, é um dos pioneiros, numa época em que eu nem imaginava sequer ter meu primeiro computador. De lá pra cá, várias narrativas trataram do assunto, algumas com bastante falta de compromisso reflexivo, como o brasileiro Cilada.com e o terror Smiley, outras com uma agenda dramática mais bem tratada, como Confiar, com Clive Owen. A questão é que os produtores acham que por ser uma comédia, o filme não precisa se preocupar com certas questões fundamentais: assim como nas comédias da época de Shakespeare nas encenações na Grécia e em trechos da chamada Idade Média, o gênero criticava, através do “ridículo” e do riso, questões da sua época.  Em Sex Tape- Perdido na Nuvem, há espaço apenas para piadas sobre órgãos sexuais e cenas que já vimos antes, com os mesmos artistas, mas bem mais elaboradas.

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Na sinopse oficial, somos informados que um casal (Cameron Diaz, acima da média e dando um pouco de dignidade ao seu sofrível personagem, e Jason Segel, asqueroso e pouco inspirado, no chamado “piloto automático”) vive um longo relacionamento que começa a esfriar. O filme começa com a personagem de Diaz postando em seu blog, em meio a uma montagem alternada que apresenta divertidas cenas de sexo do casal no começo da relação. A sua tese, no geral, é afirmar que depois dos filhos e do casamento, as relações sexuais entre os casais pode esfriar ou se tornar nula. No interesse de esquentar as coisas, eles decidem se gravar fazendo sexo. Acham um livro em casa, com posições sexuais e começam a pratica-las diante da câmera do Ipad. O problema é que o vídeo fica arquivado, cai nas mãos erradas e a dupla passa uma “noite de crime” tentando recuperar o material.

Confusões para todos os lados e você, assistindo, provavelmente esperando o momento que a trama vai apresentar alguma reflexão sobre um assunto tão contemporâneo: a exposição das pessoas no mundo virtual, seja através de vídeos, fotos ou postagens, e, muito pior, a exposição por parte de terceiros, como no caso famoso da atriz brasileira Carolina Dieckmann, que teve as suas fotos vazadas por parte de um profissional de informática ou o flagra da apresentadora Daniela Cicarelli numa praia espanhola (lembra?). Pamela Anderson, citada o filme, por sinal, e sua famosa cena de sexo oral e Paris Hilton, também já foram alvo desta situação, mas nestes dois últimos casos, ambas as celebridades provocaram o tumulto para chamar a atenção, haja vista que a falta de talento é algo gritante. Em Sex Tape – Perdido na Nuvem, portanto, não espere isso: caso seja um fã de Cameron Diaz e um admirador do seu corpo, delicie-se com as suas primeiras cenas de nudez no cinema. Divirta-se, talvez, com algumas piadas (realmente divertidas) relacionando filmes e séries, mas que de tão rápidas e pouco aproveitadas, passam de forma rasteira pelo roteiro. A música não traz nada de sensacional, a montagem e a direção de arte são parte do mais do mesmo hollywoodiano.

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O leitor pode achar que a minha opinião está querendo demais de um filme deste tipo, mas o grande problema é além de não tratar o assunto com o grau merecido de reflexão, o filme diverte muito pouco. Os personagens coadjuvantes não ajudam os protagonistas em nada, as falas do núcleo infantil são forçadas e tudo parece muito apressado. A direção de Jake Kasdan é agonizante, tão ruim quanto a primeira parceria com Cameron Diaz, no fraco Professora sem Classe, de 2011. Responsável pelo recente Vizinhos, outra trama fraca e sem um bom roteiro, talvez até pior que Sex Tape, resta a Kasdan repensar melhor seus projetos. E para a Sony Pictures, fica o pedido de melhor avaliação dos projetos aprovados para produção.

Ao assistir ao filme, lembrei-me da exibição de Anaconda 2, lançado nos cinemas em 2004. Enquanto assistia a abertura do filme, li que o roteiro tinha sido elaborado por, pasmem, quatro pessoas, e mesmo assim, o filme conseguiu ser pior que o primeiro. Em Sex Tape, a situação é a mesma. Quatro roteiristas para elaborar falas pífias e pouco inspiradas, nada além de palavrões que ilustram o léxico vulgar para pênis e vagina.  A trama, que podia aproveitar melhor a temática sexting, termo derivado do inglês que indica a junção de palavras sex (sexo) e o sufixo ting (da palavra texting, que significa troca de mensagens eletrônicas de texto), não consegue ir  além, culminando num epílogo que se prolonga demais e cansa.

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Certa vez, uma professora de roteiro cinematográfico me disse que o crítico é um reconstrutor do discurso fílmico. Concordo em partes: geralmente queremos ver o filme que nos interessa e guiar a trama ao nosso modo. Espero que o leitor não tome a minha opinião como arrogante, mas mesmo antes de assistir, estava cheio de ideias para o filme, pensando como um argumento tão interessante poderia se tornar um filme divertido, cheio de ironia, figura de linguagem que os roteiristas e produtores de Sex Tape parecem não ter conhecido durante o período escolar. Infelizmente, não estamos em A Rosa Púrpura do Cairo, de Woody Allen, para adentrar na narrativa e fazer as coisas soarem diferentes. Espero, com muita ansiedade e gastrite atacada, que o filme não ganhe uma continuação. Há roteiros maravilhosos por aí, esperando um sinal verde para produção, não acredito que seja interessante investir algo em torno de U$40 milhões novamente em uma continuação para esta comédia boba e sem densidade.

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