quinta-feira , 21 novembro , 2024

Sexo, desejo e puritanismo: Iago Xavier e Nataly Rocha falam sobre a IMPORTÂNCIA de ‘Motel Destino’ [EXCLUSIVO]

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No dia de hoje, 22 de agosto, chega aos cinemas nacionais o aguardado e já aclamado longa-metragem Motel Destino, novo longa-metragem de Karim Aïnouz que foi exibido no Festival de Cannes e que recebeu nada menos que doze minutos de aplausos.

Na trama, o local numa beira de estrada do litoral cearense que dá nome ao filme é palco de jogos perigosos de desejo, poder e violência. Uma noite, a chegada do jovem Heraldo transforma em definitivo o cotidiano do motel. O rapaz em fuga totalmente vulnerável cruza seu caminho com o de uma mulher aprisionada pelas dinâmicas de um casamento abusivo.



Funcionando como um thriller erótico, a produção conta com a supervisão da Gullane Entretenimento e da Cinema Inflamável e explora temas como a bestialidade humana e seus respectivos instintos primitivos, bem como uma análise sobre as impulsividades sexuais primordiais que confluem em um cenário quase beligerante e abandonado.

Recentemente, tivemos a oportunidade de conversar com os astros Iago Xavier, que interpreta o protagonista Heraldo em sua estreia no circuito de longas-metragens, e com Nataly Rocha, que vive Dayana, esposa de Elias (Fábio Assunção) e co-proprietária do motel titular.

Durante a conversa, os atores comentaram sobre o que o público pode esperar da produção:

“É um misto de sensações, um misto de gêneros”, Xavier comentou. “O Karim dá uma brincada com os gêneros, com o suspense, o noir, o melodrama, uma pornochanchada – ele ama essas brincadeiras. O público pode esperar um misto dessas sensações. E o público pode esperar personagens reais, personagens baseados em pessoas reais, personagens reais dentro da trama também. Muito humor, uma parte da característica do povo cearense. Muita paixão, muito desejo e um calor avassalador do Ceará. Com certeza esse calor vai invadir as salas de cinema”.

Rocha acrescenta: “é uma vontade que nós temos de falar sobre desejo, entusiasmo pela vida, juventude… Enfim, o filme fala muito sobre isso”.

No longa, Heraldo e Dayana funcionam como uma espécie de complemento um com o outro, ambos encarcerados em uma prisão sem grades que encontram um consolo breve e fugaz no sexo e numa relação autodestrutiva que se alimenta do perigo e das mentiras. Heraldo, fugindo de um grupo de assassinos após um trabalho dar errado, se refugia no Motel – enquanto Dayana é forçada a viver em um relacionamento abusivo com o marido, sem chances de escapar.

Nesse tocante, os atores também comentaram sobre como funcionou a dinâmica no set de filmagens e de que forma eles construíram laços para levar às telonas.

“Nós já convivíamos bastante durante os ensaios, na mesma pousada, nas horas vagas íamos à praia, ou ouvindo música no gramado do jardim da pousada, fazendo nada juntos…”, Rocha afirma. “Acho que isso, ouvindo e conversando e conhecendo mais um a vida do outro, tivemos esse momento de lazer juntos que foi muito importante para criar uma sintonia e uma vivência dos dois. Sempre que vamos fazer um personagem, tem muito de nós ali. Tem muito do que eu sou ali e tem muito do Iago, porque, querendo não, são os nossos gestos, o nosso jeito de falar – obviamente, tentamos mudar um pouco, mas […] é a nossa vida. A gente que está naquela vida ali. E, trabalhando com o Karim, temos muita liberdade para criar, opinar, ensaiar bastante e improvisar bastante. Ele gosta muito dessas duas coisas – parece contraditório, mas elas coexistiram e foi muito bom entender o modus operandi dele dentro do processo criativo”.

Como já mencionado, um dos temas tratados na produção é o sexo como forma de escape, como objeto de prazer e como base para desconstruir tabus que até hoje existem no cenário artístico. E, em meio a uma onda puritanista e retrógrada que vem se apoderando do escopo nacional, é notável como o filme emerge como um título polêmico e, por essa razão, de importância considerável.

“Eu não entendo esse discurso que está rolando hoje, sendo que o Brasil é o país que mais consome pornografia, inclusive de pessoas trans – e é o que mais mata pessoas trans. A conta não fecha”, Rocha disse. “É um discurso muito moralista, de um lugar hipócrita, porque nós olhamos para esses números e não faz sentido sermos um país que tem esse lado conservador, com esse perfil, e olhar para o cinema de forma tão conservadora, como se fosse um boicote. Não falar sobre, não existir educação sexual nas escolas, não existir esse diálogo de prevenção de doenças… Fica esse discurso que é um desserviço. A gente precisa ter uma formação que discuta sobre essas questões, sobre esse corpus. E quando a gente para ver, a gente pensa: ‘meu Deus, que retrocesso, que desserviço'”.

Xavier acrescenta: “eu fico me perguntando: ‘a quem interessa deixar o sexo na obscuridade?’. A quem interessa não conversar sobre isso e não trazer isso para a normalidade, que é uma coisa que o ser humano faz desde que é ser humano – e nós não estaríamos aqui se não fosse o sexo. Eu fico me perguntando a quem interessa não debater sobre isso e deixar o sexo nesse lugar que essas mesmas pessoas que criticam são as que, provavelmente, tenham as piores coisas na cabeça relacionada a sexo. Acredito que a gente tenha que reverter essa chave e trazer essa normalidade ao nosso cotidiano. Essas pessoas que querem deixar isso na obscuridade são as que vão usar o sexo de maneira errada. Vão usar o sexo para fazer mal para outras pessoas, e a gente não pode deixar isso acontecer. E quem fala que cena de sexo não faz sentido… Bom, nunca viu um filme sequer do Karim, porque essas cenas têm contexto, querem dizer alguma coisa sobre algum dos personagens naquele momento. Então, é extremamente importante”.

Lembrando que o filme está em exibição nos cinemas nacionais.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Na trama, o local numa beira de estrada do litoral cearense que dá nome ao filme é palco de jogos perigosos de desejo, poder e violência. Uma noite, a chegada do jovem Heraldo transforma em definitivo o cotidiano do motel. O rapaz em fuga totalmente vulnerável cruza seu caminho com o de uma mulher aprisionada pelas dinâmicas de um casamento abusivo.

Funcionando como um thriller erótico, a produção conta com a supervisão da Gullane Entretenimento e da Cinema Inflamável e explora temas como a bestialidade humana e seus respectivos instintos primitivos, bem como uma análise sobre as impulsividades sexuais primordiais que confluem em um cenário quase beligerante e abandonado.

Recentemente, tivemos a oportunidade de conversar com os astros Iago Xavier, que interpreta o protagonista Heraldo em sua estreia no circuito de longas-metragens, e com Nataly Rocha, que vive Dayana, esposa de Elias (Fábio Assunção) e co-proprietária do motel titular.

Durante a conversa, os atores comentaram sobre o que o público pode esperar da produção:

“É um misto de sensações, um misto de gêneros”, Xavier comentou. “O Karim dá uma brincada com os gêneros, com o suspense, o noir, o melodrama, uma pornochanchada – ele ama essas brincadeiras. O público pode esperar um misto dessas sensações. E o público pode esperar personagens reais, personagens baseados em pessoas reais, personagens reais dentro da trama também. Muito humor, uma parte da característica do povo cearense. Muita paixão, muito desejo e um calor avassalador do Ceará. Com certeza esse calor vai invadir as salas de cinema”.

Rocha acrescenta: “é uma vontade que nós temos de falar sobre desejo, entusiasmo pela vida, juventude… Enfim, o filme fala muito sobre isso”.

No longa, Heraldo e Dayana funcionam como uma espécie de complemento um com o outro, ambos encarcerados em uma prisão sem grades que encontram um consolo breve e fugaz no sexo e numa relação autodestrutiva que se alimenta do perigo e das mentiras. Heraldo, fugindo de um grupo de assassinos após um trabalho dar errado, se refugia no Motel – enquanto Dayana é forçada a viver em um relacionamento abusivo com o marido, sem chances de escapar.

Nesse tocante, os atores também comentaram sobre como funcionou a dinâmica no set de filmagens e de que forma eles construíram laços para levar às telonas.

“Nós já convivíamos bastante durante os ensaios, na mesma pousada, nas horas vagas íamos à praia, ou ouvindo música no gramado do jardim da pousada, fazendo nada juntos…”, Rocha afirma. “Acho que isso, ouvindo e conversando e conhecendo mais um a vida do outro, tivemos esse momento de lazer juntos que foi muito importante para criar uma sintonia e uma vivência dos dois. Sempre que vamos fazer um personagem, tem muito de nós ali. Tem muito do que eu sou ali e tem muito do Iago, porque, querendo não, são os nossos gestos, o nosso jeito de falar – obviamente, tentamos mudar um pouco, mas […] é a nossa vida. A gente que está naquela vida ali. E, trabalhando com o Karim, temos muita liberdade para criar, opinar, ensaiar bastante e improvisar bastante. Ele gosta muito dessas duas coisas – parece contraditório, mas elas coexistiram e foi muito bom entender o modus operandi dele dentro do processo criativo”.

Como já mencionado, um dos temas tratados na produção é o sexo como forma de escape, como objeto de prazer e como base para desconstruir tabus que até hoje existem no cenário artístico. E, em meio a uma onda puritanista e retrógrada que vem se apoderando do escopo nacional, é notável como o filme emerge como um título polêmico e, por essa razão, de importância considerável.

“Eu não entendo esse discurso que está rolando hoje, sendo que o Brasil é o país que mais consome pornografia, inclusive de pessoas trans – e é o que mais mata pessoas trans. A conta não fecha”, Rocha disse. “É um discurso muito moralista, de um lugar hipócrita, porque nós olhamos para esses números e não faz sentido sermos um país que tem esse lado conservador, com esse perfil, e olhar para o cinema de forma tão conservadora, como se fosse um boicote. Não falar sobre, não existir educação sexual nas escolas, não existir esse diálogo de prevenção de doenças… Fica esse discurso que é um desserviço. A gente precisa ter uma formação que discuta sobre essas questões, sobre esse corpus. E quando a gente para ver, a gente pensa: ‘meu Deus, que retrocesso, que desserviço'”.

Xavier acrescenta: “eu fico me perguntando: ‘a quem interessa deixar o sexo na obscuridade?’. A quem interessa não conversar sobre isso e não trazer isso para a normalidade, que é uma coisa que o ser humano faz desde que é ser humano – e nós não estaríamos aqui se não fosse o sexo. Eu fico me perguntando a quem interessa não debater sobre isso e deixar o sexo nesse lugar que essas mesmas pessoas que criticam são as que, provavelmente, tenham as piores coisas na cabeça relacionada a sexo. Acredito que a gente tenha que reverter essa chave e trazer essa normalidade ao nosso cotidiano. Essas pessoas que querem deixar isso na obscuridade são as que vão usar o sexo de maneira errada. Vão usar o sexo para fazer mal para outras pessoas, e a gente não pode deixar isso acontecer. E quem fala que cena de sexo não faz sentido… Bom, nunca viu um filme sequer do Karim, porque essas cenas têm contexto, querem dizer alguma coisa sobre algum dos personagens naquele momento. Então, é extremamente importante”.

Lembrando que o filme está em exibição nos cinemas nacionais.

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