É interessante analisar como certos filmes ganham popularidade com o público ao longo dos anos, assim como muitos podem perder sua fama caindo no ostracismo. Mesmo algumas produções que fizeram muito sucesso e estavam na boca de todos em sua época de lançamento, podem acabar não sendo mais mencionados uma ou duas décadas depois. Já outros, que ninguém ligou muito, ou não fizeram o devido sucesso em sua época de estreia, podem vir a ser redescobertos, caindo no boca a boca, gerando burburinho até finalmente encontrar o seu público – mesmo que anos depois.
É justamente sobre esse fenômeno curioso que iremos falar nessa matéria, apresentando mais alguns filmes imperdíveis de vinte anos atrás. Confira abaixo.
Leia também: 10 Filmes Imperdíveis que Completam 20 Anos em 2024 – Segundo a Opinião dos Próprios Fãs!
Sideways – Entre umas e Outras
Muitos consideram ‘Sideways’ o melhor filme de vinte anos atrás. Ou seja, não é pouca coisa. Um filme simples, mas encantador, que demonstra todo o potencial de Alexander Payne como contador de histórias. Paul Giamatti entrou para o primeiro escalão de Hollywood graças ao seu retrato de um escritor, que resolve sair pelas vinícolas da Califórnia em uma viagem de despedida de solteiro para seu melhor amigo. E sim, ‘Sideways’ foi indicado ao Oscar de melhor filme. Porém, o que muitos podem presumir graças ao “efeito Mandela” é que Giamatti foi indicado ao Oscar por esse filme, coisa que não ocorreu. Mas das cinco indicações que o filme recebeu, venceu a de melhor roteiro.
Crash – No Limite
Somente estando vivo para compreender o sucesso que foi ‘Crash’ na época. Um drama que usa várias histórias para falar de preconceito e intolerância racial. Um pouco depois o filme chegou até a ser considerado piegas e melodramático demais, porém, nos tempos atuais sombrios em que vivemos, o longa voltou a ser mais relevante do que nunca. Numa das histórias Sandra Bullock (em um de seus melhores papeis) vive uma dondoca desconfiada de um funcionário mexicano. Em outra história, Matt Dillon vive um policial racista. ‘Crash’ levou três Oscar dos seis aos quais estava indicado, incluindo melhor filme e roteiro. A curiosidade é que foi no Oscar de 2006, porque o longa entrou mesmo em circuito no ano de 2005 – apesar de sua estreia em festivais em 2004.
O Aviador
Por falar em sucesso nas premiações, ‘O Aviador’ foi a maior superprodução a figurar no Oscar de vinte anos atrás. Estamos falando de mais uma ambiciosa produção de Martin Scorsese – que é “absolute cinema”. Aqui, o consagrado cineasta resolve contar a história do milionário Howard Hughes, que fez fortuna na área da aviação, mas também se arriscou no mundo do cinema – com um dos primeiros blockbusters da história com o ambicioso ‘Anjos do Inferno’ (1930), no qual gastou fortunas para ter uma batalha realista nos céus. É claro que o filme homenageia a era de ouro do cinema, e traz Leonardo DiCaprio como Hughes, Cate Blanchett como Katharine Hepburn, Kate Beckinsale como Ava Gardner e Jude Law como Errol Flynn. Foi indicado para 11 Oscar, incluindo melhor filme, diretor e ator, e levou 5 prêmios, incluindo coadjuvante para Blanchett.
Closer – Perto Demais
Talvez um dos filmes românticos mais esquecidos dos últimos 20 anos, ‘Closer’ fez um imenso barulho em sua época de lançamento. O público feminino da época se derretia pela história de dois casais trocando de parceiros, muito como a atual novela das nove da rede Globo. Aqui, no entanto, os casais eram formados por Julia Roberts e Clive Owen, e Jude Law e Natalie Portman. Nos últimos tempos, no entanto, parece que ‘Closer’ não tem sido passado para as gerações mais novas como deveria. Ah sim, e quem poderia esquecer a canção de ‘The Blower’s Daughter’, que tocou até não poder mais. O filme rendeu indicações de coadjuvantes para Owen e Portman.
Colateral
Esse filme é recomendado para aqueles que acreditam que o astro Tom Cruise interpreta sempre o mesmo tipo de papel e se recusa a correr riscos em sua carreira. Para estes dizemos apenas: “sabe de nada jovem, inocente. Faça a sua lição de casa”. Esse é um dos melhores e mais desafiadores papeis da carreira de Cruise, que escolhe um vilão de primeira, frio e calculista, na pele de Vincent. Na época, como forma de brincadeira, o comentário foi a caracterização do ator a la Richard Gere, ou seja, cabelos grisalhos. Ele pega um motorista de táxi assustado, papel de Jamie Foxx, e vara a noite para completar sua missão, eliminar uma série de testemunhas, chegando até a advogada vivida por Jada Pinkett Smith. Um dos melhores thrillers de ação dos últimos vinte anos, que rendeu indicação ao Oscar de coadjuvante para Foxx, além de edição.
Diário de uma Paixão
Um dos filmes românticos cult mais adorados dos últimos 20 anos, acredite se quiser, mas ‘Diário de uma Paixão’ não foi um sucesso de público quando estreou nos cinemas em junho de 2004. Talvez o motivo tenha sido justamente a data, sempre repleta de competição no verão norte-americano. Porém, um tempo depois quando foi lançado em vídeo, a história do amor impossível entre uma jovem herdeira (Rachel McAdams) e um rapaz humilde (Ryan Gosling) apaixonou mais e mais pessoas até se tornar um sucesso com um novo público. Ajudou bastante o fato de na vida real os atores também terem se apaixonado, apesar de o relacionamento não ter durado tanto – mas rendeu um dos momentos mais legais na história do MTV Movie Awards.
O Terminal
Quando em um ano temos um novo trabalho do diretor Steven Spielberg, dificilmente este filme não será citado como um dos pontos altos de tais doze meses. E aqui temos um que embora possua uma história simples, caiu nas graças do público por sua leveza e positivismo, se tornando sucesso de reprises na TV aberta – incluindo no Brasil – entre outras coisas por não precisar de cortes em sua projeção. Aqui temos quase o “Forrest Gump” preso em um aeroporto, na história real de um expatriado preso no aeroporto dos EUA, sem poder adentrar o país e tampouco retornar ao seu lar.
A Paixão de Cristo
Um dos maiores sucessos financeiros de 20 anos atrás, esse filme religioso deu o que falar em sua época de lançamento. Isso porque na direção temos Mel Gibson, que havia impressionado com ‘Coração Valente’, nove anos antes. Assim como Martin Scorsese, o diretor quis dar sua visão impactante dos últimos dias de Jesus Cristo, colocando o dedo na ferida. E se ‘A Última Tentação de Cristo’, de Scorsese, gerou comoção e boicote em 1988, ‘A Paixão de Cristo’ foi acusado de anti-semitismo e chocou com suas cenas ultra-violentas da punição física de Jesus. O filme foi indicado a três Oscar técnicos. Ano que vem Gibson promete voltar aos holofotes com uma anunciada sequência para o filme.
Jogos Mortais
O interessante destas listas de filmes imperdíveis é diversificar ao máximo os gêneros nela presente. Assim, indicamos um pouco para cada gosto. Essa é uma pedida para os aficionados por suspense e terror, e recomendamos que mesmo que essa não seja muito a sua praia, assista a este longa. Primeiro, esqueça as intermináveis continuações que jogaram esse título na lama. O filme original é o que conta. Herdeiro de ‘Seven’ e ‘O Silêncio dos Inocentes’, o longa fez os nomes de James Wan e Leigh Whannell, ainda hoje duas potências em Hollywood – mesmo fora do gênero. Aqui a dupla demonstrava toda a sua genialidade com uma trama macabra, inteligente e repleta de reviravoltas (até o último minuto). Duas pessoas aprisionadas e um cadáver, é tudo o que se precisa para realizar um dos melhores filmes do gênero nos últimos 20 anos.
A Vila
No último item temos uma escolha polêmica, que pode gerar controvérsia. Mas bem, como esta é uma lista minha, você pode concordar ou quem saber descartar por completo, não tem problema. Acontece que para este que vos escreve, ‘A Vila’ permanece como um dos melhores, quiçá o melhor, trabalho de M. Night Shyamalan. Porém, reconheço também que foi a partir daqui que as coisas começaram a desandar na carreira do cineasta e ele entraria na sua pior fase. O que conta em ‘A Vila’ é a mensagem por trás da ideia, da busca por um mundo melhor e mais simples, e como isso pode dar terrivelmente errado, pois o tempo não volta. Fora isso, ‘A Vila’ guarda o maior exercício do medo já criado pelo diretor, de criar uma atmosfera tensa, sem que sequer saibamos o que nos espera.