domingo , 24 novembro , 2024

Streaming | 2020, o ano em que a novidade foi ver séries à moda antiga

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Quando ainda tentava se firmar no mercado mundial, a Netflix precisou encontrar meios de popularizar seu serviço de streaming. Com o passar dos anos, eles investiram em diversas produções originais que logo fizeram o público associar o logo “Original Netflix” a qualidade. Porém, com o tempo, eles passaram a apostar mais na quantidade do que na qualidade dos conteúdos que eram adicionados ao catálogo. No entanto, se tem uma coisa que não mudou até hoje foi o formato de lançamento de séries. Bem, não mudou ainda. Isso porque a empresa do “N vermelho” foi a pioneira em incentivar as maratonas. E que maneira melhor de chamar atenção do público do que liberando temporadas inteiras de uma vez só? O esquema deu tão certo que o “Binge-Watching” – o “Maratonar” em inglês –  entrou como verbete no Dicionário Oxford, lá em 2014.

Esse formato de consumo compulsório foi incentivado por anos pela empresa, que chegou até mesmo a lançar um site para a personalização de cartões para todos os “Maratonistas” de plantão. A questão foi tão legitimada pela Netflix, que, em 2011, o CEO da empresa, Reed Hastings, chegou a afirmar que: “A marca Netflix para programas de TV é realmente sobre a compulsão […] É viciante, é emocionante, é diferente”. O problema é que um monte de estudos psicológicos passou a atribuir essa vontade de maratonar a um série de transtornos, como depressão, ansiedade e insônia. E qual marca quer ter sua imagem atrelada a isso? Então, de 2018 para cá, os incentivos a maratonar as produções pararam de ser tão frequentes como antes. Vez ou outra eles indicam uma série ou outra que “vale a maratona”, mas nem perto do que fazia antes.



O site não existe mais. Foto: Reprodução/ TechTudo

Mas vamos ser sinceros, a verdade é que o formato de lançamento da Netflix foi uma jogada genial pra época e criou um novo segmento no ramo do entretenimento que foram as “séries para maratonar”, como o fenômeno mundial Stranger Things.

Com episódios curtos e conectados, Stranger Things surfou na onda das maratonas e se tornou fenômeno da Cultura Pop.

Aí veio 2020, chegou a pandemia, a quarentena e de uma hora para a outra, bilhões de pessoas se viram trancadas em casa sem poder sair para qualquer tipo de lazer. Logo de cara, as plataformas streaming tiveram um verdadeiro boom nas inscrições. Afinal, era isso ou ter que lidar com solidão assistindo a programação carente da TV ou da programação repetitiva da TV por assinatura. Então, com novos conteúdos sendo adicionados mensalmente, Netflix e Amazon Prime Video começaram a guerrear pela audiência dos assinantes. Uma apostava em suas produções originais, enquanto a outra apostava em um catálogo mais diversificado. Nesses primeiros meses de pandemia, porém, um problema ficou claro: não tem data para a quarentena acabar. Até quando o pessoal iria aguentar assistir a uma série toda de uma vez só sem saber se demoraria muito para o isolamento terminar? E foi aí que surgiram duas séries que colocaram em conflito o formato das maratonas: Arremesso Final e The Boys.

Realizada em parceria com a ESPN, Arremesso Final é uma série que conta a trajetória vitoriosa do Chicago Bulls nos anos 1990 paralelamente ao surgimento do maior jogador de basquete da história, Michael Jordan. Os primeiros dois episódios foram exibidos simultaneamente na ESPN americana e na Netflix. Depois disso, cada semana contava com o lançamento de dois novos episódios. Como o esporte havia sido paralisado no mundo inteiro, o público esportivo virou audiência fiel da série documental. E como o nível da produção é altíssimo, Arremesso Final passou a repercutir semanalmente nas redes sociais do mundo. O sucesso foi tão grande que além de Michael Jordan, Chicago Bulls e The Last Dance (nome da série em inglês) fossem presença certa nos Trending Topics a cada novo episódio lançado. No Brasil, o efeito da série influenciou diretamente nas vendas de itens relacionados ao Chicago Bulls. Segundo a loja de materiais esportivos Netshoes, a procura por itens do time da NBA cresceu em 650% durante o mês de exibição da série. Ao fim da série, a Netflix revelou que o conteúdo foi assistido por quase 24 milhões de pessoas ao redor do mundo. Um fenômeno.

A repercussão positiva, que crescia e gerava engajamento semanalmente foi um sinal de que talvez o formato de “maratonas” estivesse começando a cansar. Mas, como era uma série muito de nicho, podia ser só coincidência.

Então chegou setembro e o Amazon Prime Video estreou a segunda temporada de The Boys, que já tinha feito um sucesso considerável na primeira temporada. Dessa vez, o formato de lançamento foi diferente. Em vez de lançar tudo de uma vez, a empresa lançou os três primeiros episódios juntos e passou a soltar um novo episódio por semana. O resultado foi estrondoso. The Boys definitivamente entrou no cenário da Cultura Pop e atingiu públicos que passaram longe da primeira temporada. Assim como Arremesso Final, semanalmente personagens da série entravam nos assuntos mais comentados do mundo, enquanto os fãs discutiam virtualmente sobre o que iria acontecer na próxima semana. Em outras palavras: lembra quando você assistia um programa na TV e ia pra escola comentar com seus amigos no dia seguinte? Isso voltou a acontecer, mas pela internet. E a cada novo episódio, mais exposição gratuita na mídia a produção conseguia, o que ajudou a transformá-la no produto consolidado que é hoje.

Por fim, com a chegada do Disney+ no Brasil com um ano de atraso e sem contar ainda com as grandes produções Marvel e Lucasfilm prometidas pela empresa, coube a Disney escalonar os lançamentos dos episódios nesse formato de um por semana para evitar que o conteúdo desgastasse muito rápido. O resultado positivo disso se deu principalmente pela primeira série original do universo Star Wars, The Mandalorian. Como a primeira temporada foi lançada em 2019 nos Estados Unidos, muitos brasileiros já haviam assistido a primeira temporada por meios ilegais. Então, a Disney carregou essa temporada completa e passou a lançar os episódios da nova temporada simultaneamente com os EUA. Um por semana. Assim como as outras séries citadas nesta matéria, a repercussão foi extremamente positiva, gerando memes, discussões, teorias… Engajamento semanal gratuito. Hoje, com o lançamento do season finale, os spoilers do episódio estão dominando os Trending Topics mundiais. O Bebê Yoda voltou a ser um fenômeno na internet há mais de um mês. É o tipo de publicidade que não se compra sem gastar milhões de dólares. E agora está acontecendo de forma gratuita e por tempo prolongado.

Essa duplinha já mostrou que não precisa de personagens famosos, apenas de uma boa história toda semana

O streaming mudou o jeito que o mundo consome séries e está a um passo de mudar a forma como consumimos cinema. No início, as “Maratonas” inovaram, fazendo com que as pessoas pudessem assistir as séries como se fossem grandes filmes. Depois de um tempo, entretanto, o formato começou a passar uma sensação de que as produções poderiam ser descartadas quando lançassem a próxima “grande série da semana”. Criando conteúdos com tramas e formatos que incentivavam a maratona. Com a volta da antiga tendência de um novo episódio por semana, o mercado passa a exigir ainda mais qualidade nos episódios individuais porque, além de terem que se sustentar como episódio em si, ainda precisam deixar o público ansioso pelo próximo capítulo. É uma nova velha forma de assistir a séries que deve se tornar a próxima grande tendência do mercado.

E você, qual formato prefere? Maratona ou um por semana? Diga nos comentários!

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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Quando ainda tentava se firmar no mercado mundial, a Netflix precisou encontrar meios de popularizar seu serviço de streaming. Com o passar dos anos, eles investiram em diversas produções originais que logo fizeram o público associar o logo “Original Netflix” a qualidade. Porém, com o tempo, eles passaram a apostar mais na quantidade do que na qualidade dos conteúdos que eram adicionados ao catálogo. No entanto, se tem uma coisa que não mudou até hoje foi o formato de lançamento de séries. Bem, não mudou ainda. Isso porque a empresa do “N vermelho” foi a pioneira em incentivar as maratonas. E que maneira melhor de chamar atenção do público do que liberando temporadas inteiras de uma vez só? O esquema deu tão certo que o “Binge-Watching” – o “Maratonar” em inglês –  entrou como verbete no Dicionário Oxford, lá em 2014.

Esse formato de consumo compulsório foi incentivado por anos pela empresa, que chegou até mesmo a lançar um site para a personalização de cartões para todos os “Maratonistas” de plantão. A questão foi tão legitimada pela Netflix, que, em 2011, o CEO da empresa, Reed Hastings, chegou a afirmar que: “A marca Netflix para programas de TV é realmente sobre a compulsão […] É viciante, é emocionante, é diferente”. O problema é que um monte de estudos psicológicos passou a atribuir essa vontade de maratonar a um série de transtornos, como depressão, ansiedade e insônia. E qual marca quer ter sua imagem atrelada a isso? Então, de 2018 para cá, os incentivos a maratonar as produções pararam de ser tão frequentes como antes. Vez ou outra eles indicam uma série ou outra que “vale a maratona”, mas nem perto do que fazia antes.

O site não existe mais. Foto: Reprodução/ TechTudo

Mas vamos ser sinceros, a verdade é que o formato de lançamento da Netflix foi uma jogada genial pra época e criou um novo segmento no ramo do entretenimento que foram as “séries para maratonar”, como o fenômeno mundial Stranger Things.

Com episódios curtos e conectados, Stranger Things surfou na onda das maratonas e se tornou fenômeno da Cultura Pop.

Aí veio 2020, chegou a pandemia, a quarentena e de uma hora para a outra, bilhões de pessoas se viram trancadas em casa sem poder sair para qualquer tipo de lazer. Logo de cara, as plataformas streaming tiveram um verdadeiro boom nas inscrições. Afinal, era isso ou ter que lidar com solidão assistindo a programação carente da TV ou da programação repetitiva da TV por assinatura. Então, com novos conteúdos sendo adicionados mensalmente, Netflix e Amazon Prime Video começaram a guerrear pela audiência dos assinantes. Uma apostava em suas produções originais, enquanto a outra apostava em um catálogo mais diversificado. Nesses primeiros meses de pandemia, porém, um problema ficou claro: não tem data para a quarentena acabar. Até quando o pessoal iria aguentar assistir a uma série toda de uma vez só sem saber se demoraria muito para o isolamento terminar? E foi aí que surgiram duas séries que colocaram em conflito o formato das maratonas: Arremesso Final e The Boys.

Realizada em parceria com a ESPN, Arremesso Final é uma série que conta a trajetória vitoriosa do Chicago Bulls nos anos 1990 paralelamente ao surgimento do maior jogador de basquete da história, Michael Jordan. Os primeiros dois episódios foram exibidos simultaneamente na ESPN americana e na Netflix. Depois disso, cada semana contava com o lançamento de dois novos episódios. Como o esporte havia sido paralisado no mundo inteiro, o público esportivo virou audiência fiel da série documental. E como o nível da produção é altíssimo, Arremesso Final passou a repercutir semanalmente nas redes sociais do mundo. O sucesso foi tão grande que além de Michael Jordan, Chicago Bulls e The Last Dance (nome da série em inglês) fossem presença certa nos Trending Topics a cada novo episódio lançado. No Brasil, o efeito da série influenciou diretamente nas vendas de itens relacionados ao Chicago Bulls. Segundo a loja de materiais esportivos Netshoes, a procura por itens do time da NBA cresceu em 650% durante o mês de exibição da série. Ao fim da série, a Netflix revelou que o conteúdo foi assistido por quase 24 milhões de pessoas ao redor do mundo. Um fenômeno.

A repercussão positiva, que crescia e gerava engajamento semanalmente foi um sinal de que talvez o formato de “maratonas” estivesse começando a cansar. Mas, como era uma série muito de nicho, podia ser só coincidência.

Então chegou setembro e o Amazon Prime Video estreou a segunda temporada de The Boys, que já tinha feito um sucesso considerável na primeira temporada. Dessa vez, o formato de lançamento foi diferente. Em vez de lançar tudo de uma vez, a empresa lançou os três primeiros episódios juntos e passou a soltar um novo episódio por semana. O resultado foi estrondoso. The Boys definitivamente entrou no cenário da Cultura Pop e atingiu públicos que passaram longe da primeira temporada. Assim como Arremesso Final, semanalmente personagens da série entravam nos assuntos mais comentados do mundo, enquanto os fãs discutiam virtualmente sobre o que iria acontecer na próxima semana. Em outras palavras: lembra quando você assistia um programa na TV e ia pra escola comentar com seus amigos no dia seguinte? Isso voltou a acontecer, mas pela internet. E a cada novo episódio, mais exposição gratuita na mídia a produção conseguia, o que ajudou a transformá-la no produto consolidado que é hoje.

Por fim, com a chegada do Disney+ no Brasil com um ano de atraso e sem contar ainda com as grandes produções Marvel e Lucasfilm prometidas pela empresa, coube a Disney escalonar os lançamentos dos episódios nesse formato de um por semana para evitar que o conteúdo desgastasse muito rápido. O resultado positivo disso se deu principalmente pela primeira série original do universo Star Wars, The Mandalorian. Como a primeira temporada foi lançada em 2019 nos Estados Unidos, muitos brasileiros já haviam assistido a primeira temporada por meios ilegais. Então, a Disney carregou essa temporada completa e passou a lançar os episódios da nova temporada simultaneamente com os EUA. Um por semana. Assim como as outras séries citadas nesta matéria, a repercussão foi extremamente positiva, gerando memes, discussões, teorias… Engajamento semanal gratuito. Hoje, com o lançamento do season finale, os spoilers do episódio estão dominando os Trending Topics mundiais. O Bebê Yoda voltou a ser um fenômeno na internet há mais de um mês. É o tipo de publicidade que não se compra sem gastar milhões de dólares. E agora está acontecendo de forma gratuita e por tempo prolongado.

Essa duplinha já mostrou que não precisa de personagens famosos, apenas de uma boa história toda semana

O streaming mudou o jeito que o mundo consome séries e está a um passo de mudar a forma como consumimos cinema. No início, as “Maratonas” inovaram, fazendo com que as pessoas pudessem assistir as séries como se fossem grandes filmes. Depois de um tempo, entretanto, o formato começou a passar uma sensação de que as produções poderiam ser descartadas quando lançassem a próxima “grande série da semana”. Criando conteúdos com tramas e formatos que incentivavam a maratona. Com a volta da antiga tendência de um novo episódio por semana, o mercado passa a exigir ainda mais qualidade nos episódios individuais porque, além de terem que se sustentar como episódio em si, ainda precisam deixar o público ansioso pelo próximo capítulo. É uma nova velha forma de assistir a séries que deve se tornar a próxima grande tendência do mercado.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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