Entre a imponente e esvoaçante capa vermelha de Superman e o tradicional traje de Clark Kent, existe uma série de pequenas grandes histórias de Christopher Reeve que jamais foram compartilhadas. Seu sucesso como o belo herói de Krypton é inegável. Sua fascinante jornada de superação como tetraplégico também. Mas e o extenso hiato que engloba esses dois marcos sacramentados? Quem foi o homem, o pai de família, o ator de poucos sucessos de bilheteria e o galã amado pelas mulheres? De forma intimista e sensível, Super/Man: A História de Christopher Reeve chega para preencher essas lacunas. Como uma experiência catártica, que finalmente publiciza os minuciosos detalhes de uma família completamente afetada por uma tragédia, o documentário dirigido por Ian Bonhôte e Peter Ettedgui é um retrato definitivo e delicado sobre como a perda também pode ser o início de uma nova vida.
Expressando todas as fragilidades de Reeve com o objetivo de fazê-lo ser conhecido e genuinamente amado por seus erros e acertos, tanto como companheiro amoroso, bem como um pai um tanto ausente, o longa da HBO e da CNN é uma simbólica jornada sobre esperança, família, redenção e redescoberta. Reunindo depoimentos emocionantes e genuinamente honestos de seus filhos, colegas de profissão e amigos da indústria, a produção não é tanto sobre as dores que acompanharam a trágica queda do cavalo que deixou Reeve na cadeira de rodas, mas sim sobre o florido jardim que o ator cultivou a partir disso.
Daquilo que mais lhe custou, nasceu também um novo homem, com propósitos de vida diferentes e com o objetivo de transformar a realidade ao seu redor. Essa beleza em enxergar novas cores em meio às sombras é o que nos fascina quando estamos diante das telas redescobrindo a história de Christopher Reeve. À medida em que somos tomados pelas mãos em direção a uma experiência tão intimista e particular, somos também confrontados com a pequeneza da existência humana, dos nossos reclames e desgostos tão pífios e insignificantes. E diante das entrevistas tão bem conduzidas pelos cineasta Ian Bonhôte e Peter Ettedgui e pelo corroteirista Otto Burnham, passamos a nos tornar parte dessa família. Sua dor vira um aperto no nosso peito, seu vigor inesgotável, um sopro de fôlego em nós.
Se comunicando com pessoas que podem ter vivido experiências similares em seus lares e alertando aqueles que sequer entendem a dimensão de tais dificuldades, Super/Man é também um dos documentários mais didáticos sobre a vida no contexto da deficiência. Bem roteirizado e cirúrgico nos momentos mais técnicos, o longa ainda detalha a importância da luta de Reeve e de sua família através de sua fundação, direcionando os holofotes para uma questão tão pouco abordada em Hollywood. Por meio de uma plataforma tão poderosa, a HBO faz da jornada do ator um convite à conscientização da dura realidade de pessoas deficientes e de seus familiares, tantas vezes relegados pelo Estado.
E sob uma estética linda, que recompõe o Homem de Aço de maneira tão simbólica e imagética, o vindouro documentário é muito mais do que qualquer um poderia esperar. Marcado por uma coletânea valiosa de vídeos caseiros, recortes de entrevistas e fragmentos de coberturas midiáticas, o filme navega pelos principais momentos da trajetória de Christopher Reeve, costurando uma narrativa não linear com precisão – trazendo todos os lados dessa família tão fascinante. Uma sessão de terapia avassaladora, que fará qualquer adulto formado chorar copiosamente, Super/Man: A História de Christopher Reeve é mais do que um filme, é uma lição de vida que promete inspirar gerações inteiras de fãs.