sexta-feira , 22 novembro , 2024

Tempo de Matar | O Melhor Filme de Sandra Bullock completa 25 anos em 2021 e está na Amazon

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Tudo bem. Para ser justo com o título, Tempo de Matar não é um filme “de” Sandra Bullock. É um filme “com” Sandra Bullock. E uma Sandra Bullock que dava os primeiros passos em seu estrelato, ainda não consolidada como a “namoradinha da América” ou rainha das comédias românticas que viria a se tornar. Uma Sandra Bullock ainda sem autoconsciência de quem seria na indústria do cinema. Sua revelação havia sido dois anos antes com Velocidade Máxima (1994), e com o sucesso do filme de ação, Bullock pôde protagonizar seus próprios filmes badalados. Os primeiros foram a comédia romântica Enquanto Você Dormia e o suspense A Rede, ambos lançados em 1995.

Com Tempo de Matar, lançado em 1996, Sandra Bullock dava um passo importante rumo ao topo da cadeia alimentar de Hollywood, onde permanece até hoje: aceitava um papel coadjuvante dentro de seu primeiro drama sério e em larga escala. A manobra foi acertadíssima e ajudou a cimentar sua carreira. Mas não apenas a sua, como a de todos os envolvidos neste projeto. Na humilde opinião deste amigo que vos fala, Tempo de Matar ainda paira sobre as demais obras na filmografia desta talentosa artista. E 25 anos depois de seu lançamento, permanece mais atual e urgente do que nunca.



Tempo de Matar, como dito, completa 25 anos de seu lançamento em 2021, e se encontra neste momento disponível na plataforma Amazon Prime Video para todos que quiserem conhecer este grande filme, ou os fãs que quiserem revisitá-lo depois de todo esse tempo.

O filme é baseado no livro do autor John Grisham, advogado e sumidade quando se trata de obras literárias de ficção com temática do direito. São  dele, por exemplo, os textos que originaram produções como A Firma (1993), O Dossiê Pelicano (1993), O Cliente (1994), O Segredo (1996), O Homem que Fazia Chover (1997) e O Júri (2003). A ideia por trás da história é falar sobre preconceito racial, sobre justiça e encontrar brechas dentro da lei para fazer o que é certo, mesmo que isso varie muito de acordo com o pensamento de cada indivíduo.

Aqui, por exemplo, o mote e o que dá o pontapé inicial na história é: até que ponto fazer justiça com as próprias mãos e executar pessoas seria permito ou tolerável? Bem, essa é fácil. Qualquer um diria nunca, certo? Mas e se contextualizarmos com um homem negro fazendo justiça contra brancos que sequestraram, estupraram e tentaram matar sua filha criança, os quais ele sabia que seriam soltos devido às mesmas brechas e ao acobertamento deste tipo de ato por uma sociedade sulista norte-americana ainda muito racista. E isso voltando apenas 25 anos no passado. Grisham em seus livros nunca foi tão fervoroso, questionador e instigante. O autor cria um verdadeiro barril de pólvora com Tempo de Matar, o qual ele acendeu e continua a ver explodir ao longo dos anos – sem perder sua pungência de debate.

Na trama, como dito, dois caipiras brancos sulistas da cidade de Canton, Mississipi, se orgulham muito de seu racismo contra os negros. O local por si só é uma verdadeira panela de pressão segregada esperando para explodir. Em sua mais nova atrocidade pegam pelo caminho uma menina de 10 anos negra chamada Tonya, que havia saído para comprar mantimentos para a família. Eles a pegam, surram, estupram e a penduram numa árvore enforcada. O galho quebra e a garota sobrevive. Hospitalizada entre a vida e a morte, ela jamais poderá ter filhos devido aos danos causados durante o estupro. Os criminosos então são presos. Esse poderia ser o fim de uma história trágica, mas mesmo num país evoluído como os EUA, a justiça muitas vezes pode ser cega.

Acredito que em 25 anos muita coisa tenha mudado, mas Tempo de Matar apenas reforça a importância de movimentos como o black lives matter, e embora absurdos como a morte de George Floyd sigam acontecendo, não passam e não devem passar impunes. No filme, no entanto, dada a época, os algozes eram garantidos de sair impunes. É então que o pai da menina, Carl Lee Hailey (papel de Samuel L. Jackson em estado de graça), decide agir por conta própria, fazendo valer sua justiça para que o esfacelamento de sua filha não fique sem castigo. Ele se arma e escolhe ser juiz, júri e carrasco. Ao matar a dupla de delinquentes, a trama sofre sua grande virada. Este não será um conto sobre o julgamento de vilões, será o julgamento de um pai desesperado que embora atraia a simpatia e compaixão de muitos, principalmente dado o contexto racial, ainda assim cometeu o mesmo mal que lhe foi infligido.

Essa discussão é longa, mas é muito bom perceber que Tempo de Matar continua fazendo tais perguntas e desafiando o seu público. O que podemos afirmar é que um sistema judicial falho, regido por homens corruptos e preconceituosos empurra Lee Hailey ao ato, caso contrário ele poderia contar que os homens que atacaram sua filha seriam devidamente punidos pelo Estado. Indignação semelhante os cinéfilos puderam sentir em Os 7 de Chicago, da Netflix, um dos filmes recentes e mais comentados sobre julgamentos injustos.

É claro que cada um terá sua visão do que é “certo” e “errado”, do emocional versus o racional, mas a proposta do filme é justamente o debate. Em determinado momento, num dos melhores diálogos de Tempo de Matar, o personagem Lucien Wilbanks (Donald Sutherland), um grande advogado caído em desgraça devido à bebida, diz: “esse é um caso estranho, se ele ganhar a justiça será feita, mas se ele perder a justiça igualmente será feita”. É através desta frase que o autor John Grisham expõe suas intenções, contradizendo os detratores do livro e do filme, ambos lançados sob muita controvérsia, ao os acusar de fazer apologia ao assassinato.

O que mais gosto em Tempo de Matar é que, assim como os espectadores, os personagens da história possuem pontos de vista diferentes sobre o caso, além de vivências e experiências distintas, todos visando o seu próprio lado desta causa. O personagem de Samuel L. Jackson (indicado ao Globo de Ouro por sua atuação), por exemplo, fez o que achava certo e tudo o que espera é que entendam sua visão o considerando inocente, mesmo correndo sério risco de ser condenado à pena de morte. O verdadeiro protagonista aqui, no entanto, é Jake Brigance (Matthew McConaughey), advogado branco que herdou de seu mentor (Lucien Wilbanks) um escritório de advocacia falido e luta para sair do vermelho e pagar as contas – mesmo que se veja “quebrado” na maior parte do tempo. Devido a seu histórico em causas do tipo, ele é o escolhido por Lee Hailey para defende-lo no julgamento da vida de ambos – a diferença é que só um deles corre o risco de ser executado caso percam.

Dentre os jogadores principais temos ainda Ellen Roark (Sandra Bullock), uma estudante de direito riquinha que deseja se provar e acumular experiência, disposta a um trabalho pro bono já que, segundo a própria, não precisa receber um salário por sua família ter muito dinheiro. Ela definitivamente é uma das personagens mais espertas e eficientes da obra. Rex Vonner (Oliver Platt) é o advogado rico, melhor amigo de Jake, especializado em casos fúteis e muito rentáveis de divórcio – que levanta por si só toda uma discussão sobre a profissão. O promotor Rufus Buckley (Kevin Spacey), candidato a Governador, o sujeito deseja apenas aparecer na mídia de forma vistosa defendendo que ninguém está acima da lei e que atos como estes não serão tolerados. Ele é o vilão de colarinho branco do filme. Já o vilão proletário é Freddie Lee Cobb (Kieffer Sutherland), irmão de um dos estuprados que, inconformado com morte do irmão pelas mãos de um negro, deixa exalar todo o seu ódio e racismo ao invocar a Ku Klux Klan do condado, cometendo atos criminosos terríveis a fim de prejudicar os envolvidos com a defesa de Carl Lee. Ele é o retrato odioso da imbecilidade conhecida como supremacia branca.

O diretor Joel Schumacher já havia adaptado um livro de John Grisham dois anos antes com O Cliente (1994), que contou com roteiro do mesmo Akiva Goldsman. Assim, ambos estavam confortáveis no segundo round, e conseguem criar uma obra ainda mais marcante e atemporal. É curioso notar que mesmo tendo um grande estúdio por trás (a Warner) e um orçamento de superprodução para a época (US$40 milhões), muitos astros se recusaram a aceitar papeis no filme devido à sua polêmica. Paul Newman, por exemplo, um dos maiores no panteão de Hollywood, não aceitou o papel do mentor Lucien Wilbanks, fazendo coro com uma parte dos detratores, por considerar a mensagem do filme de “mau gosto”.

Porém, na época, uma das maiores dúvidas na produção era sobre quem iria interpretar o personagem principal do advogado Jake Brigance. Supostamente, Schumacher teria oferecido o papel para Val Kilmer, com quem trabalhou em Batman Eternamente (1995), mesmo que a relação dos dois não tenha sido das melhores no set de tal filme. Kilmer recusou. Woody Harrelson estava muito interessado, mas John Grisham, pela primeira vez produzindo uma de suas adaptações, vetou. Brad Pitt, Alec Baldwin, Ralph Fiennes e Bill Paxton foram considerados. O que chegou mais perto foi Kevin Costner, que exigia controle total sobre a obra (na época, saído dos sucessos consecutivos de Dança com Lobos, JFK – A Pergunta que Não quer Calar, Robin Hood – O Príncipe dos Ladrões e O Guarda-Costas, Costner tinha esse poder). Grisham novamente negou, e o astro seguiu seu caminho.

Assim, de forma inusitada, o papel foi parar no colo de um novato sem muita experiência para um filme deste porte. Matthew McConaughey tinha 27 anos e nenhum trabalho verdadeiramente significativo na bagagem para mostrar (isto é, antes de Jovens, Loucos e Rebeldes, 1993, virar um cult celebrado muitos anos depois de seu lançamento). Mesmo assim, terminou fisgando o cobiçado personagem, que viria a ser o divisor de águas em sua carreira e ironicamente o rendeu o título de “novo Paul Newman” do cinema. Às vezes tudo o que um bom ator precisa é de uma chance para demonstrar seu potencial.

Tempo de Matar chegou aos cinemas dos EUA no dia 24 de julho de 1996, enfrentando a pesada concorrência do fenômeno Independence Day – que havia estreado no início do mês e permanecido em primeiro lugar das bilheterias por três semanas consecutivas desde então. Tempo de Matar, mesmo sendo um filme de drama adulto teve força suficiente para tirar o titã do trono e nele sentar por duas semanas. No Brasil, o filme deu as caras no dia 9 de agosto do mesmo ano.

Em sua jornada nas salas de cinema norte-americanas, Tempo de Matar fez três vezes mais o valor de seu orçamento. Mundialmente, numa época em que o mercado estrangeiro não tinha o peso de hoje para produções Hollywoodianas, o filme subiu um nível terminando por quadriplicar seu orçamento. Com forte inspiração no clássico O Sol é para Todos (1962), segundo o próprio autor do livro, Tempo de Matar pode vir a ser ressignificado em breve em tempos de revisionismos históricos, porém, em seus 25 anos segue ecoando forte o seu legado.

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Com Tempo de Matar, lançado em 1996, Sandra Bullock dava um passo importante rumo ao topo da cadeia alimentar de Hollywood, onde permanece até hoje: aceitava um papel coadjuvante dentro de seu primeiro drama sério e em larga escala. A manobra foi acertadíssima e ajudou a cimentar sua carreira. Mas não apenas a sua, como a de todos os envolvidos neste projeto. Na humilde opinião deste amigo que vos fala, Tempo de Matar ainda paira sobre as demais obras na filmografia desta talentosa artista. E 25 anos depois de seu lançamento, permanece mais atual e urgente do que nunca.

Tempo de Matar, como dito, completa 25 anos de seu lançamento em 2021, e se encontra neste momento disponível na plataforma Amazon Prime Video para todos que quiserem conhecer este grande filme, ou os fãs que quiserem revisitá-lo depois de todo esse tempo.

O filme é baseado no livro do autor John Grisham, advogado e sumidade quando se trata de obras literárias de ficção com temática do direito. São  dele, por exemplo, os textos que originaram produções como A Firma (1993), O Dossiê Pelicano (1993), O Cliente (1994), O Segredo (1996), O Homem que Fazia Chover (1997) e O Júri (2003). A ideia por trás da história é falar sobre preconceito racial, sobre justiça e encontrar brechas dentro da lei para fazer o que é certo, mesmo que isso varie muito de acordo com o pensamento de cada indivíduo.

Aqui, por exemplo, o mote e o que dá o pontapé inicial na história é: até que ponto fazer justiça com as próprias mãos e executar pessoas seria permito ou tolerável? Bem, essa é fácil. Qualquer um diria nunca, certo? Mas e se contextualizarmos com um homem negro fazendo justiça contra brancos que sequestraram, estupraram e tentaram matar sua filha criança, os quais ele sabia que seriam soltos devido às mesmas brechas e ao acobertamento deste tipo de ato por uma sociedade sulista norte-americana ainda muito racista. E isso voltando apenas 25 anos no passado. Grisham em seus livros nunca foi tão fervoroso, questionador e instigante. O autor cria um verdadeiro barril de pólvora com Tempo de Matar, o qual ele acendeu e continua a ver explodir ao longo dos anos – sem perder sua pungência de debate.

Na trama, como dito, dois caipiras brancos sulistas da cidade de Canton, Mississipi, se orgulham muito de seu racismo contra os negros. O local por si só é uma verdadeira panela de pressão segregada esperando para explodir. Em sua mais nova atrocidade pegam pelo caminho uma menina de 10 anos negra chamada Tonya, que havia saído para comprar mantimentos para a família. Eles a pegam, surram, estupram e a penduram numa árvore enforcada. O galho quebra e a garota sobrevive. Hospitalizada entre a vida e a morte, ela jamais poderá ter filhos devido aos danos causados durante o estupro. Os criminosos então são presos. Esse poderia ser o fim de uma história trágica, mas mesmo num país evoluído como os EUA, a justiça muitas vezes pode ser cega.

Acredito que em 25 anos muita coisa tenha mudado, mas Tempo de Matar apenas reforça a importância de movimentos como o black lives matter, e embora absurdos como a morte de George Floyd sigam acontecendo, não passam e não devem passar impunes. No filme, no entanto, dada a época, os algozes eram garantidos de sair impunes. É então que o pai da menina, Carl Lee Hailey (papel de Samuel L. Jackson em estado de graça), decide agir por conta própria, fazendo valer sua justiça para que o esfacelamento de sua filha não fique sem castigo. Ele se arma e escolhe ser juiz, júri e carrasco. Ao matar a dupla de delinquentes, a trama sofre sua grande virada. Este não será um conto sobre o julgamento de vilões, será o julgamento de um pai desesperado que embora atraia a simpatia e compaixão de muitos, principalmente dado o contexto racial, ainda assim cometeu o mesmo mal que lhe foi infligido.

Essa discussão é longa, mas é muito bom perceber que Tempo de Matar continua fazendo tais perguntas e desafiando o seu público. O que podemos afirmar é que um sistema judicial falho, regido por homens corruptos e preconceituosos empurra Lee Hailey ao ato, caso contrário ele poderia contar que os homens que atacaram sua filha seriam devidamente punidos pelo Estado. Indignação semelhante os cinéfilos puderam sentir em Os 7 de Chicago, da Netflix, um dos filmes recentes e mais comentados sobre julgamentos injustos.

É claro que cada um terá sua visão do que é “certo” e “errado”, do emocional versus o racional, mas a proposta do filme é justamente o debate. Em determinado momento, num dos melhores diálogos de Tempo de Matar, o personagem Lucien Wilbanks (Donald Sutherland), um grande advogado caído em desgraça devido à bebida, diz: “esse é um caso estranho, se ele ganhar a justiça será feita, mas se ele perder a justiça igualmente será feita”. É através desta frase que o autor John Grisham expõe suas intenções, contradizendo os detratores do livro e do filme, ambos lançados sob muita controvérsia, ao os acusar de fazer apologia ao assassinato.

O que mais gosto em Tempo de Matar é que, assim como os espectadores, os personagens da história possuem pontos de vista diferentes sobre o caso, além de vivências e experiências distintas, todos visando o seu próprio lado desta causa. O personagem de Samuel L. Jackson (indicado ao Globo de Ouro por sua atuação), por exemplo, fez o que achava certo e tudo o que espera é que entendam sua visão o considerando inocente, mesmo correndo sério risco de ser condenado à pena de morte. O verdadeiro protagonista aqui, no entanto, é Jake Brigance (Matthew McConaughey), advogado branco que herdou de seu mentor (Lucien Wilbanks) um escritório de advocacia falido e luta para sair do vermelho e pagar as contas – mesmo que se veja “quebrado” na maior parte do tempo. Devido a seu histórico em causas do tipo, ele é o escolhido por Lee Hailey para defende-lo no julgamento da vida de ambos – a diferença é que só um deles corre o risco de ser executado caso percam.

Dentre os jogadores principais temos ainda Ellen Roark (Sandra Bullock), uma estudante de direito riquinha que deseja se provar e acumular experiência, disposta a um trabalho pro bono já que, segundo a própria, não precisa receber um salário por sua família ter muito dinheiro. Ela definitivamente é uma das personagens mais espertas e eficientes da obra. Rex Vonner (Oliver Platt) é o advogado rico, melhor amigo de Jake, especializado em casos fúteis e muito rentáveis de divórcio – que levanta por si só toda uma discussão sobre a profissão. O promotor Rufus Buckley (Kevin Spacey), candidato a Governador, o sujeito deseja apenas aparecer na mídia de forma vistosa defendendo que ninguém está acima da lei e que atos como estes não serão tolerados. Ele é o vilão de colarinho branco do filme. Já o vilão proletário é Freddie Lee Cobb (Kieffer Sutherland), irmão de um dos estuprados que, inconformado com morte do irmão pelas mãos de um negro, deixa exalar todo o seu ódio e racismo ao invocar a Ku Klux Klan do condado, cometendo atos criminosos terríveis a fim de prejudicar os envolvidos com a defesa de Carl Lee. Ele é o retrato odioso da imbecilidade conhecida como supremacia branca.

O diretor Joel Schumacher já havia adaptado um livro de John Grisham dois anos antes com O Cliente (1994), que contou com roteiro do mesmo Akiva Goldsman. Assim, ambos estavam confortáveis no segundo round, e conseguem criar uma obra ainda mais marcante e atemporal. É curioso notar que mesmo tendo um grande estúdio por trás (a Warner) e um orçamento de superprodução para a época (US$40 milhões), muitos astros se recusaram a aceitar papeis no filme devido à sua polêmica. Paul Newman, por exemplo, um dos maiores no panteão de Hollywood, não aceitou o papel do mentor Lucien Wilbanks, fazendo coro com uma parte dos detratores, por considerar a mensagem do filme de “mau gosto”.

Porém, na época, uma das maiores dúvidas na produção era sobre quem iria interpretar o personagem principal do advogado Jake Brigance. Supostamente, Schumacher teria oferecido o papel para Val Kilmer, com quem trabalhou em Batman Eternamente (1995), mesmo que a relação dos dois não tenha sido das melhores no set de tal filme. Kilmer recusou. Woody Harrelson estava muito interessado, mas John Grisham, pela primeira vez produzindo uma de suas adaptações, vetou. Brad Pitt, Alec Baldwin, Ralph Fiennes e Bill Paxton foram considerados. O que chegou mais perto foi Kevin Costner, que exigia controle total sobre a obra (na época, saído dos sucessos consecutivos de Dança com Lobos, JFK – A Pergunta que Não quer Calar, Robin Hood – O Príncipe dos Ladrões e O Guarda-Costas, Costner tinha esse poder). Grisham novamente negou, e o astro seguiu seu caminho.

Assim, de forma inusitada, o papel foi parar no colo de um novato sem muita experiência para um filme deste porte. Matthew McConaughey tinha 27 anos e nenhum trabalho verdadeiramente significativo na bagagem para mostrar (isto é, antes de Jovens, Loucos e Rebeldes, 1993, virar um cult celebrado muitos anos depois de seu lançamento). Mesmo assim, terminou fisgando o cobiçado personagem, que viria a ser o divisor de águas em sua carreira e ironicamente o rendeu o título de “novo Paul Newman” do cinema. Às vezes tudo o que um bom ator precisa é de uma chance para demonstrar seu potencial.

Tempo de Matar chegou aos cinemas dos EUA no dia 24 de julho de 1996, enfrentando a pesada concorrência do fenômeno Independence Day – que havia estreado no início do mês e permanecido em primeiro lugar das bilheterias por três semanas consecutivas desde então. Tempo de Matar, mesmo sendo um filme de drama adulto teve força suficiente para tirar o titã do trono e nele sentar por duas semanas. No Brasil, o filme deu as caras no dia 9 de agosto do mesmo ano.

Em sua jornada nas salas de cinema norte-americanas, Tempo de Matar fez três vezes mais o valor de seu orçamento. Mundialmente, numa época em que o mercado estrangeiro não tinha o peso de hoje para produções Hollywoodianas, o filme subiu um nível terminando por quadriplicar seu orçamento. Com forte inspiração no clássico O Sol é para Todos (1962), segundo o próprio autor do livro, Tempo de Matar pode vir a ser ressignificado em breve em tempos de revisionismos históricos, porém, em seus 25 anos segue ecoando forte o seu legado.

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