quinta-feira , 14 novembro , 2024

Crítica Netflix | A Ganha-Pão – animação indicada ao Oscar tem produção de Angelina Jolie

Por Letícia Alassë – direto de Toronto.

Ferramenta de conexão entre culturas distantes

Os traços gráficos e as pinceladas coloridas no papel muitas vezes contam histórias mais pesadas e reais do que poderíamos conceber em uma encenação entre seres humanos. Adaptado da obra infanto-juvenil, de Deborah Ellis, The Breadwinner (sem tradução oficial para o português – mas possui o sentido da pessoa que trabalha para sustentar a família, ou seja, o “ganha-pão” ) transporta para as telas a parte do mundo assolada pela ditadura islâmica, a qual o ocidente não quer ver e muito menos os espectadores.

Para nos lembrar que animação não é apenas para crianças e fazer as pessoas enxergarem essa história, a produção ganha cores fortes e traços simples, mas uma narrativa crescente e arrebatadora. O encanto da obra se deve à perspectiva da história, isto é, a narração se desencadeia pelo olhar de Parvana (Saara Chaudry), uma menina de 11 anos que cresce sob o regime do Talibã no Afeganistão no período de guerra em 2001.



Partindo do particular para o geral, ou seja, do centro familiar da protagonista para o que ocorre em toda a região do Afeganistão, a diretora Nora Twomey nos envolve emocionalmente com os acontecimentos e os personagens. Embora seja uma menina comum, Parvana aprendeu com o seu pai um valioso talento, o de contar histórias e levar as pessoas para longe da realidade, ou melhor, fazê-las perceber a realidade de outra forma. É assim que ela e toda a sua família seguem em frente ainda que com muito sofrimento.

Obrigada a deixar a escola, pois as meninas não tinham mais o direito de estudar, Parvana passa a acompanhar o pai à feira da cidade para vender alguns pertences da família. Após lutar pelo seu país na guerra, o progenitor encontra-se aleijado e precisa abaixar a cabeça para aqueles que antes foram seus semelhantes. Por causa de sua condição e a soberba de um soltado, o ex-professor é preso e deixa a família sem um representante masculino para ir às ruas.

Desta forma começa o disfarce de Parvana, sem opção para sobreviver sem comida, a menina, ainda longe do corpo de mulher, corta os cabelos, troca os lenços por uma túnica e passa a trabalhar duro para conseguir o sustento da mãe, a irmã e o irmãozinho. Como nada é tão simples assim, a menina passa por provocações, trabalho duro, mas segue a esperança de libertar seu pai da prisão e tentar fugir das tristezas que assolaram sua família.

Quanto mais aprofundamos no mundo de Parvana, mais aterrorizante soam as condições de vidas tão díspares para os mesmos habitantes deste planeta. Com interpretações que transmitem a dor e a doçura quando necessárias, a animação pesa aos olhos quando há um momento de espancamento de uma mulher pela patrulha local porque ela está na rua desacompanhada de um homem.

Cada dia que Parvana sai para carregar peso, quebrar pedras, limpar garimpos e mais uma dúzia de trabalhos braçais, ela se arrisca a ser descoberta. Seu consolo é o encontro com a antiga amiga de escola Shauzia (Soma Chhaya), que também se passa por um menino. Juntas elas descobrem a liberdade de poder caminhar por qualquer lugar e fazer o que quiserem apenas por mudarem de gênero. Os diálogos entre meninas são pérolas preciosas para um entendimento sobre o que seria o sentimento na pele de um regime misógino do islamismo.

Com a produção de Angelina Jolie, The Breadwinner possui todos os elementos das grandes obras cinematográficas: um roteiro perfeitamente amarrado, personagens cativantes, o suspense crescente, revelações estarrecedoras e as aspirações juvenis de meninas aprisionadas por terem apenas nascido em um determinado local neste vasto mundo.

Através dos contos de Parvana e a sua esperança em meio a escuridão, o filme nos quebra emocionalmente. E é por este e outros densos detalhes que esta história não poderia ser encenada, apenas desenhada como os grandes olhos de esmeralda de Parvana a mirar um destino longe daquele lugar.

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Para nos lembrar que animação não é apenas para crianças e fazer as pessoas enxergarem essa história, a produção ganha cores fortes e traços simples, mas uma narrativa crescente e arrebatadora. O encanto da obra se deve à perspectiva da história, isto é, a narração se desencadeia pelo olhar de Parvana (Saara Chaudry), uma menina de 11 anos que cresce sob o regime do Talibã no Afeganistão no período de guerra em 2001.

Partindo do particular para o geral, ou seja, do centro familiar da protagonista para o que ocorre em toda a região do Afeganistão, a diretora Nora Twomey nos envolve emocionalmente com os acontecimentos e os personagens. Embora seja uma menina comum, Parvana aprendeu com o seu pai um valioso talento, o de contar histórias e levar as pessoas para longe da realidade, ou melhor, fazê-las perceber a realidade de outra forma. É assim que ela e toda a sua família seguem em frente ainda que com muito sofrimento.

Obrigada a deixar a escola, pois as meninas não tinham mais o direito de estudar, Parvana passa a acompanhar o pai à feira da cidade para vender alguns pertences da família. Após lutar pelo seu país na guerra, o progenitor encontra-se aleijado e precisa abaixar a cabeça para aqueles que antes foram seus semelhantes. Por causa de sua condição e a soberba de um soltado, o ex-professor é preso e deixa a família sem um representante masculino para ir às ruas.

Desta forma começa o disfarce de Parvana, sem opção para sobreviver sem comida, a menina, ainda longe do corpo de mulher, corta os cabelos, troca os lenços por uma túnica e passa a trabalhar duro para conseguir o sustento da mãe, a irmã e o irmãozinho. Como nada é tão simples assim, a menina passa por provocações, trabalho duro, mas segue a esperança de libertar seu pai da prisão e tentar fugir das tristezas que assolaram sua família.

Quanto mais aprofundamos no mundo de Parvana, mais aterrorizante soam as condições de vidas tão díspares para os mesmos habitantes deste planeta. Com interpretações que transmitem a dor e a doçura quando necessárias, a animação pesa aos olhos quando há um momento de espancamento de uma mulher pela patrulha local porque ela está na rua desacompanhada de um homem.

Cada dia que Parvana sai para carregar peso, quebrar pedras, limpar garimpos e mais uma dúzia de trabalhos braçais, ela se arrisca a ser descoberta. Seu consolo é o encontro com a antiga amiga de escola Shauzia (Soma Chhaya), que também se passa por um menino. Juntas elas descobrem a liberdade de poder caminhar por qualquer lugar e fazer o que quiserem apenas por mudarem de gênero. Os diálogos entre meninas são pérolas preciosas para um entendimento sobre o que seria o sentimento na pele de um regime misógino do islamismo.

Com a produção de Angelina Jolie, The Breadwinner possui todos os elementos das grandes obras cinematográficas: um roteiro perfeitamente amarrado, personagens cativantes, o suspense crescente, revelações estarrecedoras e as aspirações juvenis de meninas aprisionadas por terem apenas nascido em um determinado local neste vasto mundo.

Através dos contos de Parvana e a sua esperança em meio a escuridão, o filme nos quebra emocionalmente. E é por este e outros densos detalhes que esta história não poderia ser encenada, apenas desenhada como os grandes olhos de esmeralda de Parvana a mirar um destino longe daquele lugar.

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