quarta-feira , 20 novembro , 2024

The Celebration Tour in Rio | Madonna reitera seu legado em apoteótico e poderoso grand finale

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“Talvez a coisa mais controversa que eu já fiz foi ter ficado por aqui”.

Sob um sol escaldante, uma noite igualmente abafada e uma espera angustiante, uma legião de espectadores se aglomerava na Praia de Copacabana neste último dia 04 de maio para um evento histórico: a The Celebration Tour in Rio, a grande despedida da rainha do pop Madonna.



Não existe sequer uma pessoa ao redor do planeta que nunca tenha ouvido falar do nome de um dos maiores nomes da música. Desde sua estreia oficial em 1983 com seu álbum homônimo até seu último compilado de originais com o subestimado Madame X, em 2019, Madonna driblou os diversos obstáculos em sua carreira de nada menos que quatro décadas para se manter firme em uma longevidade irrestrita e que continua a inspirar diversos artistas até os dias de hoje.

A cantora, compositora e produtora já havia nos agraciado com sua presença inúmeras vezes, incluindo com a memorável e aplaudida ‘Blonde Ambition Tour’ nos anos 1990 e, mais de duas décadas depois, com a ‘MDNA Tour’ em uma performance espetacular. Mas nada poderia nos preparar para o anúncio de um show gratuito como despedida de seu momento no show business da melhor maneira possível – entregando-se de corpo e alma a um público de 1,5 milhão de pessoas, que trouxe fãs de longa data ou recém-descobertos do poder performático de Madonna. Não é surpresa que, considerando a personalidade irrefreável e indesculpável da artista, a apresentação se desenrolasse em uma comemoração testamentária de cada um de seus capítulos.

Seguindo os passos dos outros shows da turnê, Bob The Drag Queen deu as caras em um breve prólogo, vestida com uma emulação do figurino de Maria Antonieta que Madonna utilizou no MTV Awards em 1990 ao cantar “Vogue”. Emergindo como a MC de um compilado de blocos fantásticos e enérgicos, Bob logo deu espaço para que a atração principal erguesse aplausos e urros com “Nothing Really Matters”, um dos singles de Ray of Light, migrando para “Everybody” e “Into the Groove” antes de conversar com a plateia sobre o que tudo aquilo significava – um convite para conhecer todas as fases de sua carreira e de que forma cada acontecimento de sua vida, profissional e pessoal, culminou na eterna lenda que posa diante de nós sem medo de ser quem é.

Parece redundante e idiótico dizer que ninguém conhece Madonna melhor do que ela mesma – mas, considerando os constantes ataques que a cantora sofreu desde seu début e que perpassaram acusações como heresia, libertinagem e uma normatização assustadora do etarismo, é sempre bom deixar claro que ninguém além dela consegue contar sua narrativa. Não é por qualquer motivo que Madonna tenha dominado os palcos após a breve introdução supracitada para se apossar de uma guitarra elétrica e apresentar uma versão irretocável de “Burning Up”, facilmente um dos pontos altos da noite – ou até mesmo ao reiterar seu apoio e sua defesa da comunidade LGBTQIA+, ainda mais durante a avassaladora epidemia de AIDS nos anos 1980 e 1990, com uma rendição tocante de “Live to Tell” e uma homenagem às vítimas da doença – que arrancaram lágrimas de qualquer um ali.

Mais do que isso, a performer não pensa duas vezes antes de “jogar sal em uma ferida” que nunca foi cicatrizada por completo, mostrando que não se importa com a dor de ser taxada como rebelde – ora, ela nunca viveu de acordo com as normas, por que faria isso agora? É a partir daí que temos uma profunda e gloriosa montagem de Like a Prayer, reunindo-a com a imagética religiosa e uma interpolação magnífica de “Unholy”. Em contraste com sua afeição a quebrar tabus, ela também nos convidou a uma sensual performance de Eroticae Fever, exaltando a necessidade dos debates sobre corpos e sexo com uma versão estilizada de “Hung Up” e, por fim, unindo-se à filha Mercy James no piano para “Bad Girl”.

Se cada álbum de Madonna converge para o outro em um organismo complexo e intrincado, era apenas de se esperar que ela misturasse as setlists a seu bel-prazer. Um dos blocos mais interessantes e que chamou a atenção de inúmeros internautas foi o segmento do Ballroom, em que ela amalgama “Vogue” à faixa “Break My Soul – The Queens Remix”, de Beyoncé, para celebrar essa contracultura setentista que está fazendo seu retorno ao mainstream de modo ímpar e poderoso. Mais do que isso, ela convida Anitta, com quem colaborou na faixa “Faz Gostoso” cinco anos atrás, para uma sequência divertida e despojada.

Dentre os outros ápices do espetáculo, tivemos a versão country-pop acústica de “Express Yourself”, a solene aparição de ritmistas de bateria para uma modalidade electro­-samba de Music – e ao lado de ninguém menos que Pabllo Vittar, a drag queen mais conhecida do planeta -, o remix de Ray of Light que trouxe Madonna com um traje futurista, uma reverência ao saudosos Michael Jackson, e, é claro, uma conclusão que não poderia ter sido construída sem a track “Celebration”.

A verdade é que The Celebration Tour in Rio’ foi apenas a cereja do bolo de uma carreira espetacular, apoteótica e inapagável da rainha do pop – e o número inacreditável de espectadores que se reuniram nas areias de Copacabana para prestigiá-la confirmam o contínuo impacto dessa zeitgeist e de como seu legado está mais vivo do que nunca. De fato, Madonna não poderia ter escolhido um lugar melhor para um grand finale que ficará marcado para a história como nenhum outro.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Sob um sol escaldante, uma noite igualmente abafada e uma espera angustiante, uma legião de espectadores se aglomerava na Praia de Copacabana neste último dia 04 de maio para um evento histórico: a The Celebration Tour in Rio, a grande despedida da rainha do pop Madonna.

Não existe sequer uma pessoa ao redor do planeta que nunca tenha ouvido falar do nome de um dos maiores nomes da música. Desde sua estreia oficial em 1983 com seu álbum homônimo até seu último compilado de originais com o subestimado Madame X, em 2019, Madonna driblou os diversos obstáculos em sua carreira de nada menos que quatro décadas para se manter firme em uma longevidade irrestrita e que continua a inspirar diversos artistas até os dias de hoje.

A cantora, compositora e produtora já havia nos agraciado com sua presença inúmeras vezes, incluindo com a memorável e aplaudida ‘Blonde Ambition Tour’ nos anos 1990 e, mais de duas décadas depois, com a ‘MDNA Tour’ em uma performance espetacular. Mas nada poderia nos preparar para o anúncio de um show gratuito como despedida de seu momento no show business da melhor maneira possível – entregando-se de corpo e alma a um público de 1,5 milhão de pessoas, que trouxe fãs de longa data ou recém-descobertos do poder performático de Madonna. Não é surpresa que, considerando a personalidade irrefreável e indesculpável da artista, a apresentação se desenrolasse em uma comemoração testamentária de cada um de seus capítulos.

Seguindo os passos dos outros shows da turnê, Bob The Drag Queen deu as caras em um breve prólogo, vestida com uma emulação do figurino de Maria Antonieta que Madonna utilizou no MTV Awards em 1990 ao cantar “Vogue”. Emergindo como a MC de um compilado de blocos fantásticos e enérgicos, Bob logo deu espaço para que a atração principal erguesse aplausos e urros com “Nothing Really Matters”, um dos singles de Ray of Light, migrando para “Everybody” e “Into the Groove” antes de conversar com a plateia sobre o que tudo aquilo significava – um convite para conhecer todas as fases de sua carreira e de que forma cada acontecimento de sua vida, profissional e pessoal, culminou na eterna lenda que posa diante de nós sem medo de ser quem é.

Parece redundante e idiótico dizer que ninguém conhece Madonna melhor do que ela mesma – mas, considerando os constantes ataques que a cantora sofreu desde seu début e que perpassaram acusações como heresia, libertinagem e uma normatização assustadora do etarismo, é sempre bom deixar claro que ninguém além dela consegue contar sua narrativa. Não é por qualquer motivo que Madonna tenha dominado os palcos após a breve introdução supracitada para se apossar de uma guitarra elétrica e apresentar uma versão irretocável de “Burning Up”, facilmente um dos pontos altos da noite – ou até mesmo ao reiterar seu apoio e sua defesa da comunidade LGBTQIA+, ainda mais durante a avassaladora epidemia de AIDS nos anos 1980 e 1990, com uma rendição tocante de “Live to Tell” e uma homenagem às vítimas da doença – que arrancaram lágrimas de qualquer um ali.

Mais do que isso, a performer não pensa duas vezes antes de “jogar sal em uma ferida” que nunca foi cicatrizada por completo, mostrando que não se importa com a dor de ser taxada como rebelde – ora, ela nunca viveu de acordo com as normas, por que faria isso agora? É a partir daí que temos uma profunda e gloriosa montagem de Like a Prayer, reunindo-a com a imagética religiosa e uma interpolação magnífica de “Unholy”. Em contraste com sua afeição a quebrar tabus, ela também nos convidou a uma sensual performance de Eroticae Fever, exaltando a necessidade dos debates sobre corpos e sexo com uma versão estilizada de “Hung Up” e, por fim, unindo-se à filha Mercy James no piano para “Bad Girl”.

Se cada álbum de Madonna converge para o outro em um organismo complexo e intrincado, era apenas de se esperar que ela misturasse as setlists a seu bel-prazer. Um dos blocos mais interessantes e que chamou a atenção de inúmeros internautas foi o segmento do Ballroom, em que ela amalgama “Vogue” à faixa “Break My Soul – The Queens Remix”, de Beyoncé, para celebrar essa contracultura setentista que está fazendo seu retorno ao mainstream de modo ímpar e poderoso. Mais do que isso, ela convida Anitta, com quem colaborou na faixa “Faz Gostoso” cinco anos atrás, para uma sequência divertida e despojada.

Dentre os outros ápices do espetáculo, tivemos a versão country-pop acústica de “Express Yourself”, a solene aparição de ritmistas de bateria para uma modalidade electro­-samba de Music – e ao lado de ninguém menos que Pabllo Vittar, a drag queen mais conhecida do planeta -, o remix de Ray of Light que trouxe Madonna com um traje futurista, uma reverência ao saudosos Michael Jackson, e, é claro, uma conclusão que não poderia ter sido construída sem a track “Celebration”.

A verdade é que The Celebration Tour in Rio’ foi apenas a cereja do bolo de uma carreira espetacular, apoteótica e inapagável da rainha do pop – e o número inacreditável de espectadores que se reuniram nas areias de Copacabana para prestigiá-la confirmam o contínuo impacto dessa zeitgeist e de como seu legado está mais vivo do que nunca. De fato, Madonna não poderia ter escolhido um lugar melhor para um grand finale que ficará marcado para a história como nenhum outro.

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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